The Violin escrita por Hika-chan_16


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

One-shot
Aproveitem ^^



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                             The violin

 

 

 O sol já estava se pondo, anunciando o fim de mais um dia cansativo. Porém, as ruas da movimentada cidade de Yukin ainda estavam cheias e o barulho era insuportável. A circulação de pessoas era constante, tornando difícil caminhar por entre as vielas sem esbarrar em alguém. O comércio por ali era bem ativo, e sempre um ou outro curioso atrapalhava a passagem ao parar para observar a vitrine de alguma loja. Contudo, nem sempre as paradas deviam-se por causa da curiosidade de um consumidor compulsivo. Às vezes, era apenas por mero impulso humano.

 Tenshi Tsuyori era um estudante colegial exemplar na academia em que estudava, embora não fosse muito popular. Era um rapaz atraente, de curtos e desalinhados cabelos azuis, e olhos castanhos. Muitas garotas desejavam sair com ele, mas seu jeito frio e rude sempre as afastava. Ele preferia passar a maior parte do tempo sozinho, por isso dispensava a companhia de qualquer um. Já fazia parte de sua rotina enfrentar aquela movimentação infernal toda vez que voltava para casa. Não tinha preocupação em olhar nada, apenas seguia seu caminho como sempre fazia. Porém, naquele dia algo chamou sua atenção.

 Ao tomar um caminho diferente, deparou-se com uma loja de instrumentos musicais. Não era um estabelecimento muito grande, mas sua vitrine chamava a atenção dos transeuntes devido ao seu conteúdo – belos e bem polidos instrumentos estavam expostos, como trompetes, flautas, clarinetes, um violoncelo e um... Violino.

 Ele repousou sua mão sobre a fria vitrine, olhando um tanto desiludido para aquele magnífico violino. A lembrança de sua última tentativa de tocar um instrumento ainda estava fresca em sua mente, e aquilo o machucava muito. Sentia-se incapaz de tocar algo outra vez.

 Suspirou. De que adiantava sonhar? Sonhos... Não valem a pena....

 -Tenshiiii-san! - exclamou uma garota, abraçando o pescoço dele.

 -O que foi agora, Mio? - colocou suas mãos nos bolsos da calça e encarou a garota. Ela era quase da mesma altura que ele; tinha cabelos loiros e ondulados, e um belo par de olhos verdes. Vestia o tradicional uniforme escolar estilo marinheiro – saia e blusa preta com uma gravata branca. Era muito atraente.

 -Vamos sair, Tenshi-san? Eu acabei de voltar da minha aula de piano e realmente estou ente... Onde você vai? - Mio piscou um pouco confusa. Sem mais nem menos, o rapaz afastou-se dela e começou a caminhar, misturando-se à multidão. -Oras, se não queria, bastava me dizer não! - ela cruzou os braços, zangada. Tenshi simplesmente a ignorou e continuou seu caminho. Não estava afim de perder tempo com garotas supérfluas como Mio, que só pensava nela mesma e em sua maldita popularidade. Por que garotas só pensam em se exibir?

 O rapaz de cabelos azulados andava distraído pela rua. Não tinha pressa para chegar em casa; era muito mais conveniente ficar sozinho. Estava pensando em ficar vagando pela rua por algumas horas até que o cansaço tomasse conta de seu corpo, mas algo o fez mudar de idéia – um som.

 Ao passar pelo parque principal da cidade, ele ouviu uma suave melodia. Uma doce, porém triste, melodia. Não sabia porque, mas... De alguma forma, ele sentiu-se atraído por aquela música. Era como se cada nota emitida tocasse seu coração, destruindo a forte barreira que havia em torno dele. Como não havia nada melhor para fazer mesmo, ele resolveu descobrir a origem daquela melodia.

 Andou por alguns minutos. Em um ponto mais afastado do parque, próximo a um riacho e a um imenso campo de flores, ele finalmente achou a responsável por tão bela música. Uma garota, que aparentava ter uns dezessete anos como ele, estava em pé na beirada do riacho, tocando violino. A água banhava gentilmente seus pés, e a brisa daquele início de noite balançava seus longos cabelos negros. Ela usava um longo vestido branco, cujas bordas haviam sido dobradas para não molharem. Aquela garota... Não era tão bonita quanto a maioria das garotas do colégio de Tenshi, mas ainda sim... Tinha realmente uma beleza incomparável.

 Tenshi permaneceu ali, a alguns metros dela, vendo-a tocar. Ele estava realmente maravilhado. Porém, a música logo terminou, trazendo ao mundo real a violinista e seu ouvinte. O rapaz achou melhor ir embora antes que ela notasse sua presença e brigasse com ele por ouvi-la sem permissão, mas já era tarde demais.

 -Quem é você? - ela perguntou, curiosa. Ele a encarou, surpreso por vê-la sorrindo. Os olhos dela eram tão negros quantos seus cabelos, e o brilho deles lembrava o momento do crepúsculo.

 -Tsuyori Tenshi... - sua voz era baixa e um pouco indiferente.

 -Muito prazer, Tsuyori-san. Meu nome é Koharu Ayumu. - sorridente, a garota saiu de perto da água e sentou-se em um banco um pouco a frente. - Então, o que você faz por aqui?

 -Não preciso lhe dar satisfação do que faço ou deixo de fazer. Se estou aqui, é porque quero, não acha?

 Ayumu riu baixo. Não se intimidara com o jeito dele; ao contrário, sentia-se feliz, pois sabia que ele havia gostado de ouvi-la tocar.

 -Você... Estava tocando Tristesse*, de Chopin, estou certo? - um pouco hesitante, ele se aproximou dela, sentando-se no mesmo banco. - É uma bela melodia, mas que eu saiba Chopin é para piano.

 -Uhum, mas felizmente existe a versão para o violino. É uma de minhas músicas favoritas. - Ayumu o fitou, sorrindo com doçura. Tenshi corou levemente e logo olhou para o outro lado. Ele nem se lembrava qual foi a última vez que corara, e agora... Como ela havia conseguido tão facilmente? - Ne*, você toca algum instrumento?

 -Não... É perda de tempo. - O rapaz se levantou, fechando seus punhos. - Eu não levo jeito para a música, e as outras pessoas só zombam de mim e destroem meus sonhos. Já estou cansado disso. Eu apenas quero esquecer e viver a minha vida. - Seu semblante era sério, como se ele estivesse perdido em pensamentos. Estava prestes a sair dali quando sentiu a mão da garota segurar sua camisa. Ele se virou lentamente e a encarou. Ao perceber o que acabara de fazer, Ayumu arregalou levemente os olhos, corando.

 -G-Gomen*... Etto*... Não acho que seja perda de tempo. - ela o soltou, sentindo-se envergonhada. - Se você ama algo, você precisa lutar por ele. Eu amo a música, por isso mesmo que me digam para desistir dela, eu não o farei. - a garota de cabelos negros olhou para seu violino, pensativa. - Gosto muito de tocar violino, mas a minha verdadeira paixão é cantar.

 -Então por que você perde o seu tempo tocando isso ao invés de praticar seu canto?

 -Porque minha voz... Está me deixando... - ela sorriu tristemente, passando o dedo indicador em uma das cordas do violino.

 -Como assim? - Tenshi voltou a se sentar, surpreso com o que acabara de ouvir.

 -Eu tenho um tumor na garganta que está crescendo cada vez mais. - Ayumu levou uma mão à garganta, enquanto olhava um ponto qualquer no chão. - Logo ela se alastrará de tal forma, que ceifará minha vida.

 O rapaz arregalou os olhos. As palavras dela eram tristes, mas soavam tão duras.

 -E não há nada que você possa fazer?

 -Há uma cirurgia. Ela pode me salvar, contudo... Perderia minha voz para sempre. E perder minha voz, é perder minha música.

 -Idiota! E daí? Você toca violino muito bem! Mesmo que não possa mais cantar, poderá continuar sua música através dele.

 Um silêncio profundo tomou conta de Ayumu. Era a primeira vez que alguém a “confortava”. Todos os outros – parentes e amigos – apenas disseram para ela fazer a cirurgia e esquecer o resto. Os sentimentos dela pareciam não ter valor para eles. Viver sem poder ter o que você ama não tem sentido. Ela logo sorriu e se levantou.

 -Meu nome, Ayumu, significa “aquela que escolhe o seu próprio caminho”. Eu já escolhi o meu, mas talvez, há sempre um outro que podemos usar. Não é mesmo, anjo? - ela disse, sem encará-lo. Tenshi a fitou um tanto confuso e assombrado.

 A garota deu alguns passos a frente e posicionou seu queixo cuidadosamente sobre o violino.

 -Tsuyori-san, por favor, escute essa música. - ela deslizou o arco pelas cordas do instrumento com graciosidade, iniciando uma bela melodia. Ave Maria*, de Schubert.

 Tenshi fechou seus olhos instintivamente. Sentiu como se fosse envolto por uma manta quente. As notas soavam com harmonia, delicadas, gentis. Era uma sensação prazerosa e única. Após alguns minutos, a canção finalizou.

 -Quando um sonho morre, logo outro nascerá. Mais forte e mais encorajador. - disse Ayumu, olhando para o céu estrelado, ainda de costas para o rapaz. - Se você sempre ceder ao que os outros dizem, você só acabará perdendo o seu caminho. Não deixe que as pessoas te derrotem, e não tenha medo dos obstáculos que você terá que enfrentar. Pois um dia, mesmo que leve meses ou anos, você alcançará aquilo que tanto desejou. Aquilo que você ama e quer para si. - ela voltou-se para ele, sorrindo docemente. - Seja forte, Tsuyori-san.

 O rapaz de cabelos azulados levantou-se ao ouvir aquelas palavras. Por alguma razão, sentia seu coração mais tranqüilo agora, mais vivo.

 

 Quatro meses se passaram desde então. Tenshi pôde juntar dinheiro o suficiente para comprar aquele violino que ele havia visto na vitrine de uma loja de música. As palavras de Ayumu deram-lhe forças para que ele pudesse mais uma vez enfrentar as pessoas e pudesse tocar livremente. Muitos foram contra, mas ele já não se importava mais. Treinava todos os dias, dando o seu melhor, e estava ficando muito bom.

 -E agora? Acertei o tom da composição? - ele perguntou para uma certa amiga muito especial. Ayumu afirmou com a cabeça, sorrindo. De alguma forma, ela também foi encorajada por Tenshi, e aceitou fazer a cirurgia que salvaria sua vida. Agora ela não podia mais falar, perdera a voz, mas isso não a tornava menos especial ou cativante. Ela também não estava sentindo o vazio que sempre tivera medo de sentir se perdesse sua voz. Aquele vazio... Fora logo preenchido com o carinho de seu amigo, que a protegeu mais do que qualquer outro. Ele a protegia de tudo e todos, como um verdadeiro anjo. Tenshi...

 A garota de cabelos negros pegou uma caderneta preta e apontou um nome para o rapaz.

 -Ah, Canon em Ré Maior*. Não é essa a melodia daquela caixinha de música que eu lhe dei?

 Ela afirmou novamente com a cabeça, sorrindo gentilmente. Desde o dia que se encontraram pela primeira vez, criaram um laço especial, forte. Tenshi acompanhou Ayumu durante sua operação e recuperação no hospital, e depois disso eles nunca mais se separaram. Ela não era como as garotas hipócritas de seu colégio que só pensavam em si mesmas. Ela era diferente. É verdade que ela não pode mais cantar, mas sua música não havia se perdido por completo. A verdadeira música encontra-se dentro do coração, e depende de nós expressá-la da melhor forma possível. Depois de conhecê-la, Tenshi nunca mais temeu enfrentar aqueles que o reprimiam, principalmente porque agora ele tinha algo valioso, algo em que ele podia se inspirar sempre: o sorriso caloroso de Ayumu - o sorriso que ele jurou a si próprio que iria proteger, custe o que custar.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

*Tristesse, composição também conhecida como Estudo nº3 em Mi Maior (http://www.youtube.com/watch?v=y3fRre_8N0E)
*Ne – Ei
*Gomen – Desculpa/Perdão
*Etto – Ahn.../Bem...
*Ave Maria, composição muito famosa de Schubert (http://www.youtube.com/watch?v=_NDpRaTu2ig&feature=related)
*Canon em Ré Maior, composição de Pachelbel. Melodia comum em caixinhas de música, como aquelas que tem uma bailarina dançando. (http://www.youtube.com/watch?v=l0z5-EltNQ8)