O dia começou estranho. Esquisito falar uma coisa dessas de um belo domingo de sol, sem ensaios ou compromissos, mas eu me sentia vazio. Meus problemas desapareceram do nada, desde que a maluca pulou minha janela.

Estranho ela estar tão certa assim. Meus problemas realmente se foram, mas uma coisa eu ainda não enguli, essa história do acidente. Como ela pode ter causado uma coisa fora de seu alcance? 

Adivinha só, YongBae, seus amigos se mandaram pra praia e você ficou no dormitório, que lindo. Bando de amigo da onça, nem pra me acordar! 

Revirei a cozinha procurando algo de interessante para o café da manhã. Nada de interessante, DaeSung esqueceu de fazer compras ou o SeungRi comeu tudo? Aquele moleque e sua bendita fase de crescimento!

Falando no poço sem fundo, me vem o maknae vestindo uma roupa esquisita.

-Bom dia, Hyung.

-Bom dia nada! Cadê a comida desse lugar? 

-O TOP resolveu trancar no outro armário quando eu disse que não ia pra praia com eles.

-E levou a chave?

-Levou.

-Droga. SeungRi, que roupa maluca é essa?

-Eu estava meditando antes de você resolver destruir a cozinha. Pra que tanto ódio no coração Hyung? Venha meditar comigo e livre-se disso.

 Ok, isso foi bizarro! SeungRi meditando? Por essa eu não esperava.Ódio no coração? Eu? Que isso, sou da paz, esse menino que é maléfico! 

Sem me dar a chance de responder, o maknae me arrastou até a sala e se posicionou em cima do tapete. 

-Senta essa bunda gorda aí - mandou.

-Bunda gorda? Olha quem fala, o mais popozudo da banda! - reclamei.

-Shiiii! Quieto! Se concentre nessa raiva, nesse ódio no coração e deixe-se dominar pela paz.

GD do céu, porque você não está aqui pra ver isso e internar logo esse menino numa clínica?, pensei.

Como diz o ditado, ajoelhou tem que rezar né? Aproveitei que já estava ali e segui as intruções bizarras do maknae. O problema é que eu não conseguia me concentrar em nada e no que eu queria me concentrar não podia.

Começei a me sentir muito estranho, parece até que aquela ligação sumiu, só que eu tenho certeza que não, deve estar em algum lugar aí. O difícil é conseguir achar. Cara, isso parece até uma piada de mau gosto, quando eu queria me livrar, a entidade incomodava, agora que eu quero ela, a pirua some! Sacanagem!

-Eu disse pra deixar a paz entrar, e não o ódio no coração - SeungRi mandou, vendo minha cara de raiva.

-Mas eu estou tentando, só não consigo!

-Está tendo algum tipo de bloqueio mental? Vamos lá, YongBae, seja forte, encare e vença essa barreira!

Por um momento, me senti personagem de desenho animado. Sabe quando aparece uma lâmpada acesa em cima da cabeça? Me senti assim mesmo. Não é que as maluquices do SeugRi me deram uma ideia?

Bem, loucura é o que menos me importa agora, até porque essa história está longe de ser normal, então que se dane o normal e vamos ao que interessa. Eu pensei assim, a doida disse o óbvio, somos ligados. E como funciona esse troço? Eu não sei e acho que nem quero saber, mas isso está diretamente relacionado com as vozes estranhas e os fellings malucos. 

Se o SeungRi estivesse certo, eu estaria tendo um tipo de bloqueio mental, por isso não conseguia achar, baixar, invocar, emfim, fazer contato com a tal entidade. E a ideia maluca é simples, seguir os conselhos do maknae e tentar vencer esse boqueio, nem que eu precise fazer as mesmas posições estranhas e desconfortáveis do maknae.

-SeungRi, estou tendo dificuldades, ainda existe ódio nesse meu coração - disse tentando não rir do absurdo da frase.

-Calma, meu jovem, começe com as pequenas coisas, como por exemplo, sua respiração. Concentre-se nela, sinta o ar invadindo-lhe os pulmões, perceba esse mesmo ar circulando em seu corpo e vá aos poucos mergulhando mais e mais na calma e tranquilidade do seu biorrítimo. 

Eu devia ter posto uma tecla SAP nele! Mas que negócio é esse de ar, pulmão, biorrítimo? Daqui a pouco ele vai mandar eu perceber quem? Meu DNA? Aff, sabia que era papo de maluco, mas vamos ver no que isso dá.

Obedeci, mesmo achando ser loucura. Aos poucos fui me concentrando na respiração, acalmando-a. Naturalmente segui para o próximo passo e daí em diante. Parece que as instruções de SeungRi não são tão absurdas quanto pensei, eu me senti muito bem, quase em estado de transe.

Meus pensamentos estavam como um mar sem ondas, numa infinitude de pensamentos silenciados. Depois de finalmente encerrar a tempestade, pude prestar mais atenção ao leve movimento das águas. Existia mesmo algo dentro de meus pensamentos, aquela subconsciência desvairada. Só que dessa vez estava tão minima e imperceptível que precisei me esforçar para captar algo além das suaves ondas. 

E agora? Como fazer para trazê-la de volta? Como cutucar minha subconsciência se ela não tem facebook? Um leve tremular na água desviou minha atenção. Percebi risos, bem sutis, vindos dela. Mesmo me evitando, sabia que ela nunca perdera a ligação comigo, seja por preocupação ou curiosidade, e como sempre, sabia o que se passava comigo.

Isso quase me tirou do transe. Eu ficaria com raiva pelo pensamento anterior se esse meu estado de abstração não dependesse disso, afinal, se ela sabia que eu a estava procurando, porque não me ajudava?

-Meus parabéns, mandou a raiva e a falta de amor pro espaço! - SeungRi elogiou, interrompendo meu estado abstrato - Você chegou num estágio de meditação até acima do que eu consigo alcançar, fiquei impressinado, TaeYang! Você realmente levou a coisa à sério.

-É mesmo?

-É! E por ter se livrado do ódio no coração, eu destranco a despensa pra você.

-Como assim você destranca? - fuzilei-o com os olhos.

-Bem, essa é uma história um pouco engraçada né, hyung? Eu meio que fiz uma cópia da chave original e...

-EU TE MATO SEUNGRI!

-AI, MEU KARMA! -saiu voado com um TaeYang fulo da vida no encalço.

-MALDITO, DESNATURADO, QUER ME MATAR DE FOME?

-AAAHH, HYUNG, ESSE ÓDIO NO CORAÇÃO...

-DANE-SE O ÓDIO, EU TÔ COM FOME SEU MISERÁVEL!

-HYUNG, OLHA O KARMA, ÓDIO NÃO FAZ BEM PRO KARMA!

-VOLTA AQUI! EU TÔ COM FOME!