Back To December. escrita por Jones


Capítulo 1
All the time.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/192599/chapter/1

I'm so glad you made time to see me. How's life? Tell me, how's your family? I haven't seen them in a while…

Gina estava estonteante. Tinha que reconhecer.

Equilibrava-se naquelas botas de cano alto com saltos altíssimos que sempre alimentaram minhas mais pervertidas fantasias; seu quadril mexia-se levemente, sendo destacado pela saia justa que marcava sua cintura. Parecia apenas incrivelmente sexy, com a camisa abotoada até perto do colar que eu tinha a dado. Um colar dourado com um pingente de um mini pomo de ouro, simbolizando o pomo que ela pegou no dia que a beijei pela primeira vez. Ela nunca tirava aquele colar.

Carregava uma caixa com coisas que pareciam meus pertences que estavam no nosso apartamento. Quis dizer, apartamento dela.

– Harry. – Ela acenou com a cabeça, praticamente jogando a caixa em meu colo.
– Gina. – Eu disse segurando a caixa por reflexo antes de cumprimentá-la com a cabeça.
– Traidor. – Ela disse com um sorriso cordial.
– Maluca. – Sorri sarcasticamente, mas disse no mesmo tom.


Ela tinha colocado na cabeça que eu estava tendo um caso com uma moça do meu departamento, só porque a moça era gentil e me fazia fornadas de brownies que cheiravam como os que minha tia fazia para Duda quando eu era criança, mas que não me deixava comer nem as migalhas.

Gina me examinou silenciosamente, eu tentei me arrumar mais do que estava me arrumando nas ultimas semanas. Bom, pelo menos tinha feito a barba.

Nos primeiros dias eu considerei o término um alívio: poderia tomar minhas cervejas amanteigadas onde quisesse, com quem quisesse e quando quisesse; poderia dormir até tarde nos meus dias de folga e não teria que perseguir Gina quando achava que ela estava mais bonita ainda que o normal, porque eu fazia isso. Nos dias seguintes, tomar cerveja amanteigada era algo que me entediava, assim como comer ou fazer a barba; então fiquei bêbado na maioria dos dias enquanto comia algumas besteiras no quarto de hotel em que estava vivendo.

O serviço de quarto me odiava.
Mas eu também me odiava, então não fazia diferença.

– Como está... Todo mundo? – Perguntei tomando um gole de café forte, os trouxas dizem que cura ressaca. – Eu não os vejo há um tempo.
– Estão da mesma maneira como estavam há três semanas. – Ela respondeu inflexível, sentando-se na cadeira em frente a minha. – Bem.
– Ótimo. – Respondi seco.

You've been good; busier than ever, small talk, work and the weather. Your guard is up and I know why.


– Acho que eu era o atraso da sua vida mesmo, não é? – Eu disse mais amargurado do que gostaria. – Fiquei sabendo que você ganhou uma coluna no Profeta Diário, te liguei para te dar parabéns, mas acredito que você esteja com algum problema no seu celular...
– Não quis atender mesmo. – Ela disse de braços cruzados. – Ou retornar. Ou ouvir os recados na caixa de mensagens. Ou ler os pergaminhos.
– Que deselegante. – Brinquei. Tentei fazer meu café parecer mais interessante e coloquei uma dose de whisky de fogo nele.
– Você está bebendo às duas da tarde? – Gina me censurou com o olhar.
– Não sou alcoólatra. – Eu girei os olhos e ela chamou o garçom, fazendo-o levar minha xícara. Meu olhar furioso se dirigia a ela. – Quem te deu a autorização para isso? Você não está mais comigo, como você fez questão de deixar claro.
– Só porque não estou mais com você não significa que eu deixei de me preocupar ou que vou deixá-lo se transformar em um bêbado degenerado. – Ela disse arrogante, e eu a conhecia bem demais, sabia que ela estava me xingando mentalmente.
– Bem, você não quer ter nada a ver com o que eu faço ou deixo de fazer não é mesmo? – Eu perguntei irritado. – Pelo menos foi o que eu entendi com o ‘Morra!’ despejado em mim com minhas roupas.
– Quer saber, se você quer ficar bêbado, fique. – Gina disse impaciente. – Adquira uma doença, morra de verdade. Menos uma preocupação.
– Nunca te pedi para se preocupar comigo. – Finalizei encolhendo os ombros.

Era uma mentira deslavada. E eu costumava ser um adulto mais evoluído que essa versão infantil que encarava Gina como se ela fosse aquela menina de quinze anos que namorei quando tinha dezesseis e não a mulher de vinte e três anos que tinha evoluído de tantas maneiras que eu não sabia como numerar e nem era efeito do álcool. Ela só não tinha amadurecido no quesito ciúmes. O ciúme dela amadureceu, cresceu firme e forte em graça e sabedoria. Eu era ciumento, mas Gina era setenta e sete multiplicado por sete vezes mais que eu. Ou talvez estivéssemos no mesmo barco.

Mas eu sabia que eu tinha certa culpa nos acontecimentos recentes.
Lindsay Shortwrist era uma nova auror do meu departamento e ela desenvolveu uma certa queda por mim, ela sabia que eu era comprometido, um cara quase casado, mas continuava me olhando com certa adoração. Nunca soube recusar as pessoas ou coisas assim. E ela continuava a me presentear com doces e comidas, aquela menina cozinha bem e Gina não. Não mesmo.


Numa síndrome Ronald Weasley de dizer coisas inapropriadas em horas mais inapropriadas ainda, eu deixei escapar que a menina do meu departamento fazia uns cookies muito bons e ela tomou como ofensa particular– gostaria de declarar que eu não disse nada nesse aspecto, nem comparei as pedras que minha namorada chamava de biscoitos com os biscoitos da Lindsay. E o diacho da menina ainda resolveu me dar um abraço apertado eterno – uns dois minutos – na festa de fim de ano do Ministério, bem na frente do monstro verde de ciúmes chamado Ginevra Weasley.

Para piorar, os que estão familiares com o meu temperamento dócil e calmo sabem que minha reação natural a um “ah é, então vai lá e fica com a idiota de cabelo de palha maltratado pelo sol, pelo menos ela cozinha melhor que eu e deve ser mais carinhosa e atenciosa também, qualquer coisa pra compensar aquela cara de diabrete da cornuália dela” foi um “talvez eu vá mesmo”.

Então não me surpreendia sua tensão no maxilar ou a cara de poucos amigos, muito menos a postura irredutível.

Ela estava na defensiva e eu sabia o porquê.

Because the last time you saw me still burns in the back of your mind, you gave me roses and I left them there to die…

– Suas coisas estão aqui, eu separei as roupas em uma pilha e os objetos em uma caixa menor dentro dessa caixa. – Gina disse formalmente.
– Eu nunca tive muitas coisas mesmo, não é. – Eu encolhi os ombros e sorri tristemente.
– É. – Ela respondeu indiferente. – Acho que você nunca soube cuidar do que tinha, e quando não se sabe cuidar, se perde.


Aquilo doeu um pouco.

Então, na cabeça afetada da minha ex-namorada, a culpa era toda minha? Ok, ás vezes eu digo coisas que eu não deveria, até hoje não esqueço o fracasso Cho Chang, mas eu já deveria saber que ia fracassar: quem chora beijando um cara que tem sentimentos por ela? Além de passar o primeiro encontro falando sobre o ex., não que eu tivesse que falar que ia ver Hermione no dia dos namorados, mas as pessoas sentem ciúmes por coisas tão irrisórias. Não que ela fosse tão importante, como faço questão de deixar claro para Gina, a gente nunca esquece a pessoa que beijou pela primeira vez, mas a mais importante é a que beijamos por ultimo. Profundo, eu sei.

Tenho certeza que se passava pela cabeça dela agora a cena de novela que foi nosso término. Umas coisas que jogamos na cara um do outro e que aconteceram há cinco anos no mínimo, uma tonelada de culpa e objetos arremessados – a maioria por Gina. No fim as flores, que ela fez secar até murchar e caírem mortas no vaso de cristal. Era um arranjo bonito com rosas azuis com as quais eu a tinha presenteado naquela mesma manhã e ganhei sexo matinal como bônus. A lembrança de como dois minutos de abraço e depois dois segundos de uma frase mal formulada podem estragar uma vida me irritou.

– Algumas coisas preferem não ser cuidadas. – Disse sem baixar o olhar nem por um segundo.
– Você acha que eu preferia não ser cuidada? – A vi bufar, assustando o garçom. – Ah, mas você é incrível mesmo! Eu tentei aprender a lavar, passar e cozinhar por você, para você! Você nunca nem me agradeceu, seu machista de merda!
– Obrigado. – Eu me vi respondendo, ignorando o perigo nos olhos dela. – Não pedi nada disso.
– Ah, pediu sim! Todas as vezes que falava que sua camiseta estava mal passada ou que não aguentava mais pedir comida trouxa por aí. E eu reforcei esse comportamento e aprendi. Que estúpida eu sou! – Gina disse ameaçadora, com o dedo indicador bem perto do meu nariz.
– As pessoas estão olhando. – Eu observei, envergonhado. Ela tinha razão, talvez eu tenha abusado um pouco de alguém que cuidava de mim, claramente, mesmo que cozinhasse mal e queimasse minhas roupas. Eu também não era bom nisso.
– Que se fodam. – Ela gritou, Gina sabia dar escândalos. – Escutem bem, esse cara aqui na minha frente de belos olhos verdes se chama Harry Potter e está solteiro, mas tirando esse rostinho lindo, ele não nenhuma qualidade. Aliás, até tem, mas e daí? Ele vai te trair com a primeira loira aguada com um cabelo horrível que fizer uma assadeira de alguma coisa para ele. E depois vai jogar na sua cara que você não fez nada para salvar o relacionamento de vocês. Ele é ridículo.

Eu tentei não me compadecer pelas lágrimas que ela derramava. Eram lágrimas grossas e seus olhos estavam carregados de dor. Impossível não se sentir fraco, estúpido e errado.

– Eu nunca te traí. – Falei no tom mais brando possível. – Nunca tive nem vontade.

Era tarde demais.

Ela tinha jogado notas avulsas pelo café que ela não tinha tomado na mesa e eu a assisti abandonar a cafeteria com os olhos cheios. As mulheres a minha volta me lançavam olhares de ódio profundo, e eu me recolhi na minha cadeira abrindo a caixa que Gina jogara em mim.

So this is me swallowing my pride, standing in front of you saying “I'm sorry for that night”
and I go back to December all the time…

Camisetas, calças e cuecas.
Na caixa menor: prêmios, cartas e fotografias.

Antes de fechar a caixa, vi o anel de diamantes brilhando no fundo da caixa. Sem pensar nem duas vezes, paguei a conta e aparatei escondido atrás de uma caixa de lixo em um beco escuro, se não tivesse visto o beco teria o feito atrás de uma banca de revista ou a primeira coisa que visse tamanha era minha raiva.

Quem ela pensava que era? Se a dei o anel de noivado que era da minha mãe era porque queria que ela o tivesse. Ela não tinha o direito de me devolver como se eu quisesse o dar para outra pessoa. Se ela queria terminar comigo, tudo bem, que se foda. Mas ela não pode sair por aí dizendo o que eu tenho que fazer, não pode sair por aí requebrando aquele corpo maravilhoso como se tivesse nos superado.

Como se tivesse me superado.

Estava no corredor do nosso apartamento. Escutei o som alto no fim do corredor, ela não fez questão nem de abafar o som usando magia. Acho que queria que o prédio inteiro escutasse seu protesto liderado por bandas de rock, se bem a conhecia – e eu acho que em nove anos se conhece uma pessoa muito bem – agora ela estaria me xingando porque eu acabei com todas as garrafas de whisky de fogo e ela não encontrara nada mais forte que cerveja amanteigada. Queria muito olhar para o rosto dela e dizer “não vou te deixar se transformar em uma bêbada degenerada”.

Ela imaginou que eu apareceria por ali, primeiro porque protegeu a apartamento para que eu não aparatasse ali dentro ou abrisse a fechadura. Só a chave abriria, mas ela tinha trocado a fechadura. Quais outras providencias ela teria tomado em apenas três semanas?

– Gina, abre essa porta. – Foi o que eu disse tocando a campainha.

Nada.

– Gina, abre a porra dessa porta. – Eu disse esmurrando a porta.

A vizinha estava me espiando pelo olho ‘mágico’. Resisti a tentação de lhe fazer um gesto obsceno. “Vai cuidar da sua vida, vai cuidar da sua vida antes que cuide eu mesmo” ameacei na minha mente e continuei a esmurrar a porta até Gina surgir na porta com uma faca na mão e eu levantar meus braços.

– Não faça nada que você vá se arrepender depois. – Eu disse calmamente me afastando da porta e Gina me olhou confusa.
– Ah, isso? – Ela disse enxugando o rosto com a mão livre e gesticulando com a faca. – Estava cortando limões.
– Ah, ok. – Suspirei aliviado.
– Não vale a pena matar porcos quando se é vegetariana. – Ela disse segurando a porta quando ameacei entrar.
– Desde quando você vegetariana? – Perguntei empurrando a porta e invadindo o apartamento, claro que ignorava a ofensa de porco. Ouvi seus passos pesados de raiva me seguindo.
– Decidi há cinco minutos. – Ela disse de braços cruzados, ainda com a faca na minha direção. – Tenho pena dos animais, morrem sozinhos.
– Eu tenho pena do próximo animal que você namorará. – Eu disse girando os olhos e ela colocou as mãos na cintura, percebi que ela estava usando shorts velhos e a camisa de botões aberta com o sutiã à mostra.

Percebi também que aquele aperto no meu peito não era um ataque cardíaco, quem dera fosse. Era dor. Dor de saber que se eu não fizesse nada, ela teria um próximo namorado, um que viveria a vida que eu já vivera com ela. De repente um cara que levasse café na cama para ela, como eu fazia nos primeiros anos de namoro, ou um cara que carregue as mil sacolas de compras dela... Um cara melhor. Eu deveria ficar feliz sabendo que a mulher que eu amava arranjaria um cara melhor, talvez um cara que desse tudo o que eu não dei. Quem sabe um dia eu não fique feliz com a ideia?

A que eu queria enganar?
Jamais ficaria feliz se ela arranjasse um cara.
Eu sou o cara.
O cara para ela pelo menos.

Respirei fundo e tentei evitar os olhos dela, estavam vermelhos e inchados.
– Desculpa, ok? – Eu disse simplesmente e ela riu sarcasticamente.
– É claro. – Ela bateu as mãos lentamente. – Você acredita mesmo que vindo aqui depois de três semanas, depois de me dizer coisas horríveis, e pedindo ‘desculpas’ você vai conseguir alguma coisa de mim?
– O que você quer que eu faça? – Perguntei com a raiva sufocada. – E por que desculpas entre aspas?
– Pare de mentir. – Ela disse andando para a cozinha.
– Eu já falei que eu não te traí com ninguém. – Tentei estrangular a raiva, mas ela estava se salvando. – Eu nunca te traí, será que você é burra e não me entende?

– Se essa é a sua maneira de pedir desculpas, você está com algum problema. – Ela disse visivelmente irritada, enquanto jogava os limões dentro de um copo alto e derramava um líquido transparente com cheiro forte dentro. – Vodka. Foi o que consegui encontrar com um teor de álcool aceitável, porque alguém aqui acabou com todas as garrafas de whisky de fogo que tinha aqui em casa.
– Nunca bebi vodka. – Eu disse com os ombros encolhidos.
– Não é tão ruim. – Ela ainda estava com os olhos estreitos. – Nunca tinha tomado até hoje.

Gina saiu da cozinha com o copo alto cheio de álcool e eu considerei tirar o copo da mão dela, mas fui até a bancada e coloquei um bom tanto em um copo e umas rodelas de limão. Não que eu soubesse para que o limão serviria naquele contexto.

– Você ainda está aqui? – Ela bufou.
– Estou. – Eu respondi calmamente, até sorri. – Não saio até você dizer o que eu tenho que fazer.

Me joguei em cima do sofá. Ela suspirou e pegou o jornal trouxa, fez questão de me mostrar que estava no caderno de imóveis. Tomei um longo gole de vodka e aquele negócio era ruim, eu sentia o gosto de álcool terrivelmente, mas minha cabeça fez questão de rejeitá-lo, então continuei tomando. Coloquei o pé na mesa de centro e ela ergueu uma sobrancelha.

– Sinta-se em casa. – Disse ironicamente.
– Estou em casa. – Eu a lembrei sorridente. Nada a irritava mais que o descaso.
– Quer saber, fique com ela. – Ela respondeu trêmula de raiva. – Eu encontro outra, tanto faz, não quero nada que seja seu.
– Foi por isso que você devolveu o anel que eu te dei? – Eu perguntei de repente irritado, me amaldiçoando internamente por ter ficado vulnerável.
– Claro, assim você poderia dar para alguém menos... Do que você me chamou mesmo? Ah, já sei: fútil, ciumenta, obsessiva, maluca. Eu acho que tinha mais. – Ela enumerou ofensas com os dedos, não me lembrava de todas elas.
– Acho que você me chamou de filho da puta, idiota, traidor, cachorro. – Eu disse no mesmo tom. – Até onde sei estamos quites. Na verdade estou meio que ganhando, já que você xingou minha mãe que nem viva está.

Gina tirou a varinha do bolso e fez a garrafa de vodka vir até a sala, enchendo seu copo. Servi-me.

– Sai daqui. – Ela disse com raiva.
– Não. – Eu respondi sorrindo.

It turns out freedom ain't nothing but missin' you, wishing I'd realized what I had when you were mine and I go back to December, turn around and make it all right. I go back to December all the time.

A garrafa de vodka já estava acabando.

Todas as minhas lembranças dessa noite eram turvas e algumas até engraçadas. Mas eu ainda não tinha resolvido meu problema e ela ainda me olhava com raiva.

– O que você esteve fazendo nessas semanas que a gente se separou? – Ela perguntou chorando irritada, abraçada a garrafa de vodka.
– Na primeira semana eu fui a um bar e bebi dizendo que estava livre. – Disse enquanto ela tentava erguer a sobrancelha. – Nos primeiros drinks eu estava livre, nos próximos estava dizendo que sentia sua falta.
– Eu fiquei aqui chorando. – Ela confessou enquanto terminava o copo de vodka. – Esperei que você voltasse, mas você não voltou.
– Você não me atendeu. – Mencionei como se fosse um lembrete. – Não diz que eu não tentei.
– Imaginei que você tivesse querendo suas coisas de volta. – Ela disse encolhendo os ombros. – Não queria devolver e nem te atender.

Tive vontade de levantar e da poltrona em que estava sentado, rasgar suas roupas e dizer que nunca iria embora. Mas não levantei.

– Eu vim te devolver o anel. – Eu disse girando o anel entre os dedos. – Eu te dei. É seu.
– Não ligo. Não quero. – Ela respondeu arredia. – Dê para...
– Se você disser o nome dela vou embora. – Eu ameacei com os olhos estreitos.
– Lindsay. – Ela completou.

Eu levantei do sofá e abri a porta pronto para partir.

– Já vai tarde. – ela disse com a garrafa de vodka perto da boca.
Peguei a varinha e trouxe a garrafa para perto de mim.
– Quer saber, não vou à porra de lugar algum. – Eu disse virando o resto da garrafa de vodka e me sentindo um tanto zonzo. – Vou ficar aqui até você me perdoar.
– Então saio eu. – Gina disse com raiva, mas caiu no chão antes de girar a maçaneta.

Riu da própria queda por uns cinco minutos, até perceber que eu também ria. Então começou a chorar.

Minha memória de bêbado misturou umas lembranças do mês anterior, quando compramos juntos os presentes de fim de ano nas ruas de Londres. Achamos divertido comprar presentes diferentes! Queria ver Ron se virar usando um iPod. Estávamos indo tão bem aquele mês, saíamos de mãos dadas e Gina tentava não comprar tudo o que via - ela e Ronald compartilhavam esse traço, eu ria do esforço que ela fazia até puxá-la, só tirava seu transe das lojas com longos beijos. Eu não podia reclamar.

Liberdade não era nada além de sentir a falta dela e eu queria ter percebido tudo o que eu tinha antes de ser tão rude aquela noite. Eu gostaria de voltar a dezembro e mudar tudo, minha mente voltava a dezembro o tempo inteiro.

– Por que você está chorando? – Eu perguntei com os olhos cheios de lágrimas pela lembrança.
– Porque antigamente você viria ver se eu estava bem, não riria da minha cara. – Ela disse soluçando. – Por que você não me ama mais, amor, por quê?
Eu abaixei para tenta-la ajudar a se levantar, mas acho que o álcool me fez cair. Então me deitei ao lado dela.
– Eu te amo, cabeça-dura. – Eu disse para ela enquanto acariciava seu cabelo. – Eu te amo.

Sorri quando ela se ajeitou no meu peitoral másculo, (insira uma risada).
Tudo estava resolvido.

– Gin? – disse segundos depois.
Tirei o cabelo da frente do rosto dela e percebi que ela dormia.
– Droga. – Eu disse antes de meus olhos se fecharem.

These days I haven't been sleepin’, stayin' up playing back myself leavin’. Then I think about summer, all the beautiful times, I watched you laughin' from the passenger side and realized I loved you in the fall…

Era a primeira noite que tinha um sono decente, não sei se foi pela companhia de Gina ou pelo álcool que corria no meu sangue. Lembrei que andava me alcoolizando todos os dias, então só poderia ser a companhia de Gina, ali no carpete da sala de estar.

Sonhei com ultimo mês de agosto. Era verão e estávamos na América, Gina estava bronzeada – naquele estilo avermelhado – e eu parecia um tomate de tão vermelho. Ela ria porque era estranho dirigir quando eu não fazia isso com frequência na Inglaterra, e mais estranho ainda era dirigir do lado contrário. Gina gargalhava quando me via perder a noção de espaço e subir nas calçadas. Morria de rir quando alguém buzinava e gritava “aonde você comprou sua habilitação, seu idiota?”.

Acordei no sofá com um bilhete na testa, apenas de cueca e um barulho infernal de água caindo em uma fonte hippie que Gina tinha. Minha vontade era quebrar aquele negócio.

Minha cabeça latejava.

Encontrei minhas roupas, fui à cozinha e enchi um copo de água e bebi esperando que curasse aquilo que eu estava sentido. Quando passei a mão na cabeça na tentativa de curar minha dor, senti o bilhete pregado na minha testa.

“Eu não sei o que você me deu ontem à noite, mas não lembro o que aconteceu. Só lembro-me de brigar contigo e depois você rindo da minha cara. Nada mudou.


Sem amor,

Gina.

ps: espero que dê o fora daí antes que eu chegue.”

A gente se amava tanto no outono.

And then the cold came, with the dark days when the fear crept into my mind… You gave me all your love and all I gave you was goodbye.

A vida desgraçou no inverno. Eu sempre odiei o inverno: camadas de roupas, cachecol chato incomodando o pescoço, luvas, protetor labial da Gina, neve nos sapatos e o fato de eu nunca conseguir fazer um boneco de neve decente sem o artifício da magia. A única coisa boa dessa estação de merda é o natal. Mas até isso Gina estragou.

Ok, Gina não estragou o natal. Eu também não estraguei. Lindsay do meu departamento estragou. Sei que é errado colocar a culpa nas pessoas, mas alguém tem que ser responsabilizado e a culpa é dela. Ninguém a mandou ter uma queda por um homem comprometido, ninguém a mandou fazer uns cupcakes tão deliciosos.

Ninguém mandou eu me envaidecer ao ponto de provocar ciúmes na minha namorada só para me sentir mais desejado.

Lembrei-me de certa vez que Gina me perguntou ‘se eu estuporar a Lindsay você é demitido?’ e eu respondi que seria. Devia ter deixado a psicopata da minha – até então – noiva estuporar a garota. Menos dor de cabeça. Gina jogava quadribol e agora tinha uma coluna esportiva no Profeta Diário, ela poderia me sustentar. Eu tomaria conta das três crianças que teríamos, ou duas, ainda estava em fase de negociação – Gina dizia não ser parideira. De qualquer maneira, Gina disse que largaria o quadribol esse ano, para que pudéssemos nos casar. Eu disse que ela poderia conciliar os dois, mas ela disse que queria ser presente na vida dos nossos filhos e o quadribol não permitiria, por causa das viagens e treinamentos intensos. Não fiz objeção, claro, ela que decida suas prioridades.

Só sei que quando a semana do natal chegou, uma nevasca caía. E com o frio vieram as trevas. Justamente no fim de semana em que buscaria Teddy, adorava passar o fim de semana com Teddy. Hoje é dia de busca-lo. Ele deve estar com saudades de mim, sou o melhor padrinho! Não que ele tenha outro para comparar... De qualquer maneira, eu e Gina terminamos antes do natal e eu reconheço que minha cabeça quente foi determinante para o término.

Ela estava chorando e aquela era a hora de pedir desculpas e de dizer que eu nunca mais comeria um bolinho que a Lindsay fizesse se ela quisesse. Mas eu preferi gritar e dizer “talvez eu coma!”. Minha cabeça quente sempre me causou mais problemas que o necessário. Eu não precisava me humilhar e implorar perdão, Gina não ia querer que eu fizesse isso. Ela queria que eu demonstrasse que ela era importante, que eu nunca teria olhos para outra – de acordo com Hermione, que só faltou me esmurrar: “seu insensível! Não se fala coisas assim para a pessoa que você ama” pensando bem, acho que ela me esmurrou.

Ela tinha me dado todo seu amor e tudo o que eu a dei foi um conturbado e frio adeus.

Se eu pudesse voltar a dezembro, eu voltaria e mudaria minha própria cabeça. Minha mente voltava a dezembro o tempo inteiro e me mostrava onde eu tinha errado.

Se eu pudesse voltar a dezembro... Parece a frase que eu mais repito diariamente.

I miss your tan skin, your sweet smile, so good to me, so right… And how you held me in your arms that September night; the first time you ever saw me cry.

Tenho saudades dos dias de verão, da pele bronzeada e dos sorrisos doces que ela sempre dirigia a mim. Por mais que pareçamos um casal louco ou no mínimo desajeitado, somos certos um para o outro, perfeitos um para o outro.

Meus pensamentos se dissiparam quando Teddy correu na minha direção, já estava prestes a completar seis anos de idade e era tão enérgico que a avó já não conseguia lidar sozinha. Ela não me pediu, mas eu sabia que ela queria passar um tempo sozinha. Então decidi que mesmo que eu morasse em um hotel no momento, passaria as férias com ele. Eu não estava fazendo nada mesmo, seria uma ajuda mútua: me manteria longe das bebidas e eu ainda teria uma companhia. Não sei o que Teddy ganharia com isso, já que eu não era a melhor companhia no momento, eu o daria muitos doces, porque é o que eu faço... Normalmente Gina me repreenderia, guardaria os doces e o daria comida de verdade.
Eu não precisava de Gina.

– Padrinho eu quero chocolate. – Teddy disse emburrado. Seus cabelos, escondidos por uma toca que usava, inconscientemente mudaram de azuis para um tom avermelhado.
– Depois do jantar. – Eu disse inflexível, enquanto entravamos em um restaurante. – Vamos comer macarrão e depois chocolate... Pode ser?
– E chocolate depois macarrão? – Teddy tentou barganhar, mas eu neguei rindo. – Você era mais legal, pai.
– Era é? – Não podia evitar a emoção cada vez que ele me chamava de pai.
– Ficar sem a Gin tá te deixando chato. – Ele girou os olhos. – Vovó disse que você pisou na bola, que que quer dizer?
– Que eu fiz uma coisa errada. – Eu disse tentando manter o sorriso.

Teddy agora examinava minhas feições, sorriu como se encorajasse que eu contasse meus problemas. Não era a primeira vez que isso acontecia, Teddy era o melhor confidente que eu tinha, exceto talvez por Hermione que estava muito ocupada com os preparativos para se casar com Rony. Sim, ele tomou coragem. De qualquer modo, Teddy me entendia e em troca eu amenizava nos detalhes e o poupava dos palavrões.

– Você tá errado, padrinho. – Teddy sorriu encolhendo os ombros. – Tia Gin é maneira, ela cozinha mal, mas pra isso que tem restaurante já que você também é ruim.
– Mas ela é muito ciumenta. – Eu me justifiquei, tomando um gole do meu suco de laranja.
– Acho que ela é normal, você também. – Ele observou sabiamente. – Sem contar que você tá feio, Tia Gin cuidava de você.
– Você tá certo. – Eu ri da sinceridade do meu afilhado. – O que eu tenho que fazer?
– Não sei, eu só tenho seis anos. – Ele respondeu simplesmente, comendo um bom tanto de macarrão.

– Você deveria começar se desculpando. – Ouvi uma voz conhecida atrás de mim.
– Você deveria estar cuidando do seu casamento. – Eu respondi acompanhado de uma careta. – Eu já me desculpei.
– De verdade? – Hermione perguntou com os olhos estreitos. – Ou você disse ‘desculpa, ok?’ Porque isso não é se desculpar.
– E como é se desculpar? – Eu perguntei de braços cruzados, tentando esconder o fato de que fora exatamente o que eu dissera. Teddy olhava para os nossos rostos enquanto comia o macarrão.
– Você tem que fazer alguma coisa legal né? – Teddy disse quando acabou de mastigar. – Ou algo legal tem que acontecer.
– A criança é mais esperta que você. – Hermione disse sorrindo. – Ei Teddy querido, como você está?
– Passar as férias com o padrinho é muito maneiro. – Ele disse sorrindo, e eu já disse que eu fico emocionado. – Gosto da Tia Gin também, mas o padrinho pisou na goles.
– Na bola. – Hermione corrigiu rindo.

O celular dela vibrou. Vi seu rosto ficar tenso. A vi tentando disfarçar.

– O que houve com a Gina? – Eu disse me levantando da cadeira e pedindo a conta.
– Nada. – Ela respondeu, Hermione era tão boa mentirosa quanto Ron era convencido. Nada.
– O que houve? – Perguntei impaciente e a encarei até que ela cedesse.
– Na verdade eu não sei, ela só me mandou uma mensagem dizendo para encontrá-la no apartamento de vocês urgentemente, porque era sério. – Hermione me disse agitada. – Eu tenho que ir.
– Não, você fica. – Eu disse me levantando. – Toma conta do Teddy e eu vou lá.
– Harry, ela me chamou. – Hermione disse temerosa. – Talvez você devesse ficar aqui e eu iria lá, eu te ligo se for algo grave e...
– Nem vem. – Eu disse urgentemente e beijei a testa do afilhado. – Até mais tarde Teddy, vou te buscar na casa da Tia Mione, se comporte.
– Harry... – Hermione tentou me chamar ‘à razão’.
– Não posso perder tempo. – Eu disse procurando um lugar para aparatar. – Te ligo se for algo grave.

Hermione deve ter ficado vermelha pela minha citação as palavras dela. E foi involuntário, normalmente eu passo um tempo planejando minhas frases de efeito.

Enquanto me movia no corredor para o apartamento de Gina, só me lembrei da primeira vez que ela me viu chorar de verdade, no inicio de um setembro. Hoje, não importava o que tinha acontecido, sabia que para Gina nada era urgente, então o que aconteceu com ela era grave.

E realmente não importava o que, eu estaria do lado dela a abraçando como se fosse um dia de setembro.

Maybe this is wishful thinking, probably mindless dreaming. If we loved again, I swear I'd love you right… I'd go back in time and change it but I can't, so if the chain is on your door I understand.

Bati na porta e esperei que ela me mandasse embora, mas ela não me respondeu. Fiquei com medo. Não sabia o que estava acontecendo com Gina, mas ela deveria me responder, não deveria?

– Hermione? – Ela gritou distante e eu não respondi, por medo que ela me mandasse embora. – Entra.

A porta estava trancada.
Alohomora. – Disse, acenei com a varinha e a tranca se abriu.

A encontrei andando de um lado para o outro na porta do banheiro, segurava uma sacola de uma farmácia local. Notei seu olhar confuso em minha direção e depois ela sibilou algo realmente zangado e de baixo calão.

– Cadê a Hermione? – Ela perguntou estalando os dedos das mãos.
– O que está acontecendo? – A ignorei com outra pergunta.
– Nada que te interesse. – Ela respondeu tensa e eu me aproximei cauteloso. – Ei! Ei, o que você está fazendo?
– Você disse que era urgente. – Eu respondi confuso, ela parecia perfeitamente bem.
– E era, mas não tem nada a ver com você... Talvez tenha, mas eu não... Ah, eu não queria falar com você. – Ela disse olhando para os pés. – De qualquer maneira, se tiver algo tem a ver com você.
Se eu já estava confuso, aquelas frases desconexas não melhoraram muita coisa.

Gina começar a chorar descontroladamente também não. Acho que me abraçar também não estava nos planos dela, porque ela se afastou e me encarou com raiva.

– Se eu estou nessa situação é sua culpa. – ela disse irritada.
– Que situação? – Eu perguntei já impaciente.
– Eu ainda não sei! – Ela respondeu sacudindo os braços.
– Então como a culpa pode já ser minha? – Eu perguntei com os olhos arregalados. – Gina me explica.
– Eu não sei se eu quero explicar. – Ela respondeu em um sussurro. – Por isso eu queria a Hermione.

Alguma coisa legal.

– Casa comigo. – Foi a coisa mais legal que eu consegui pensar.
– Harry, cala a boca. – Ela respondeu girando os olhos.
– Sério, casa comigo. – eu insisti. – Eu quero ser a pessoa para quem você vai ligar se estiver com problemas confusos, eu era a pessoa para quem você ligava. Casa comigo.
– Harry, a gente terminou. – Ela me cortou mais uma vez.
– Eu não te traí, nunca te traí e nunca vou te trair. – Eu disse rapidamente. – Se você quiser eu mudo de departamento e de equipe e nunca mais falo com a loira de cabelo maltratado pela vida.
– Harry, você não precisa me pedir em casamento. – Ela sorria nervosamente.
– Eu quero te pedir em casamento, e eu já fiz isso uma vez e você disse sim com louvor. – Eu respondi sorrindo com a lembrança. – Vamos, a gente se casa agora se você quiser.
– Harry... – Ela disse apontando para a sacola.
– Ainda não estou entendendo. – eu disse evitando morder as bochechas de nervosismo. – Se eu pudesse eu voltava no tempo e mudaria tudo, mas eu não posso... Mas eu juro que se ficássemos juntos de novo, eu te trataria do jeito que você merece, mas se não... Eu entendo.
– Harry. – ela tirou as três caixinhas da sacola.
Olhei para ela e para as caixas sem entender.

Então apertei os olhos para ver o que estava escrito nas caixas. Meu coração parou, não sei se de susto, de emoção, de medo, de falta de crença ou de que diabos; mas eu senti meu coração parar. Gina começou a chorar e eu não sabia se eu me movia e a abraçava ou se eu podia começar a me desesperar.

Testes de gravidez.

Porque se minha vida fosse um filme, esse seria o fim perfeito para “Harry Potter e o Infarto Fulminante”. Aposto que seria um sucesso de bilheteria.

– Ok, você olha ou eu olho? – Eu perguntei, sentado no chão do banheiro.
– Eu olho... Eu posso. – Ela disse andando de um lado para o outro. – Não, você olha.
– Ok. – eu disse nervoso.

A palavra ‘positivo’ tinha o poder de mudar nossa vida totalmente. Nunca tinha pensado no poder das palavras... Mas antes de olhar para o resultado de um dos três exames que tínhamos feito, pensei na possível data da concepção.

Estávamos separados desde pouco antes do natal, fazíamos sexo com proteção e Gina tomava pílula, até pouco antes do natal na verdade... Lembro que ela teve uma crise alérgica e a gente estava muito longe de um curandeiro então fomos a um hospital trouxa e eles a deram um remédio esquisito que cortava o efeito da pílula. Contrabiótico, ou coisa assim. Sabia que confiar em remédio de trouxa não fazia sentido, um corta o efeito do outro. Sem sentido.

Mas eu não fazia sexo sem proteção com Gina desde antes disso, porque ela disse que era arriscado e era melhor darmos um tempo nisso... Naquele dia do término até fizemos, mas foi bem protegido, eu acredito.

Cara, quando eu – possivelmente pois não sabemos o resultado – engravidei essa mulher?

– Positivo. – Eu gaguejei.
– Positivo? – Ela repetiu enquanto olhava os outros exames. – Positivo.

Por um segundo achei que ia desmaiar de tão turvo que estava o banheiro. Talvez eu tenha apagado por uns segundos. Só sei que tudo ainda estava embaçado quando a voz de Gina sentada ao meu lado me despertou.

– As pessoas procuram curandeiros quando estão com problemas para conceber. – Gina observou. – Os trouxas procuram médicos... Tudo o que precisam é de um porre.

Então tudo veio a minha mente, Gina me acordando aos beijos e minhas mãos nos shorts dela, beijos quentes e eu acordando de cueca no sofá. Há quase um mês desde aquele porre de vodka aqui no apartamento. Há um mês eu engravidei Gina.

– Porra. – Foi o que eu consegui dizer.
– Caralho. – Gina repetiu boquiaberta.
– E agora? – Eu perguntei, reunindo coragem suficiente para olhá-la.
– Não sei. – Ela disse.

Então sem motivo aparente começamos a rir, gargalhamos até chorar. Então começamos a nos beijar e depois Gina começou a vomitar.

– Vamos ter um filho, porra! – Eu disse já aceitando e feliz com a ideia.
– Isso é assustador. – Gina riu nervosa.
– Aham. – Eu concordei.
– Vamos ter um filho, porra! – Gina disse rindo.

I go back to December all the time... All the time.

Talvez se Gina não tivesse uma crise alérgica, ela nunca fosse parar de tomar aquele remédinho minúsculo de não ter bebês. Talvez se a Lindsay não tivesse me abraçado na festa de fim de ano, nós não teríamos brigado e percebido a importância e o valor que tínhamos um para o outro depois de tanto tempo. Talvez se eu pudesse voltar o tempo para dezembro, como eu queria fazer desde o princípio, James não existiria.

Talvez.

Então agora eu agradecia por dezembro, pelo inverno, pelo amor e coisas que eu odiava, como a vodka. Talvez se eles não existissem, eu não teria uma das melhores coisas que eu já tive. Um filho com Gina. A mulher que eu amava, a melhor esposa e mãe. A pior cozinheira, mas se você contar, nego até a morte.

Então os dezembros poderiam ser tenebrosos e frios, mas a primavera sempre viria. Sempre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!