Era Dourada escrita por GiullieneChan
Notas iniciais do capítulo
Nota: Os personagens originais foram criados pelos membros do Fórum/site Pandora's Box.
Logo mais a noite, no Santuário.
Como estava virando um costume, os cavaleiros se dirigiram até o Salão principal, para poderem saber mais sobre os primórdios do Santuário. Shaka havia permanecido no Salão a tarde, lendo e traduzindo os manuscritos que falavam do primeiro cavaleiro de virgem. O encontraram suando frio, debruçado sobre os tomos.
– Ei,Shaka!-cumprimentou Aldebaran.
Shaka pareceu assustado e para a surpresa de todos, parecia querer esconder o conteúdo dos pergaminhos, disfarçando.
– Chegaram! Que surpresa! Então... Como estão?
– Sabe... Se eu não o conhecesse diria que está nervoso e tentando esconder o que está escrito aí nestes papéis velhos.-disse-lhe Milo, se aproximando do virginiano.
– Imagina! Eu? Agindo com tamanha infantilidade!-defendeu-se.
– Então, poderia começar a ler?-instigou Milo.
– Estou esperando... Esperando... Os cavaleiros de bronze. Afinal, Seiya iria nos perturbar se começássemos sem ele e...
– Chegamos!-Seiya e os demais entraram no salão.
– Droga!-resmungou Shaka.
– Shaka. O que está tentando esconder?-Dohko pegou o tomo antes que Shaka pudesse reagir e pegá-lo de volta.
– Escondendo? Eu sou homem de esconder algo? Apenas achei a história de meu antecessor muito chata e monótona. Que tal se procurássemos as indicações sobre Câncer ou Leão?
– Iria demorar muito.-Dohko começou a ler.-Se quiser eu leio pra vocês.
– Sabe ler isso mestre?-indagou Shiryu surpreso.
– Vivi mais de duzentos e quarenta e três anos, Shiryu. Tive muito tempo para aprender até mesmo dialetos e línguas antigas e mortas.-sorriu e Shaka escondeu o rosto entre as mãos.-Sentem-se, eu vou ler.
Todos concordaram.
– "Meneffer, capital do reino do Kemet..."-começou a narrar, quando Milo levantou a mão.-Sim?
– Onde?
– Mênfis, Egito...-explicou Dohko.
– Ah...por que não disse antes?-disse Milo.
Dohko pigarreou e continuou a ler.
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Meneffer, capital do reino do Kemet...Em uma taverna local.
– Venci de novo!-sorri Méhi, recolhendo dos pobres amigos os lucros da aposta do jogo de senet.
– Pelos deuses! Outra vez?-exclamou Hunefer vendo suas economias pararem na bolsa de couro do amigo.
– O que posso fazer se a deusa da fortuna gosta de mim.-sorriu o jovem de tez bronzeada, exibindo os dentes brancos e perfeitos.
– Deves ser por causa de seus belos olhos, Méhi.-a jovem que lhes servia vinho sorriu para Méhi e se afastou, andando sensualmente, com a clara intenção de atrair o olhar luxurioso do rapaz.
– Yunet... A mais bela mulher deste lado do Nilo.-suspirou Méhi, admirando as curvas da jovem por baixo do fino tecido de suas roupas.
– E casada com o homem mais bruto e ciumento deste lado do Nilo.-provocou o amigo, contando o que havia lhe sobrado de seu dinheiro.- Se Siamun sequer sonhar que cobiça sua jovem esposa, nem sua posição o protegerá da ira dele.
– Yunet merecia coisa melhor que aquele porco gordo como marido!
– Você?
– Sou um sacerdote, não posso me casar.-sorriu.
– Que Isis o perdoe pelo o que disse.-riu Hunefer.-Pena não poder ter filhos para perpetuar sua descendência.
– E quem disse que já não os tenho?-sorriu malicioso.
– Oficialmente, os maridos das mães de seus filhos são os pais.-riu o rapaz.
– Esta é a grande vantagem de ter como companhia mulheres jovens, carentes e casadas. Nunca lhe cobrarão nada Hunefer.
– És um pervertido, sacerdote Méhi!-riu.
– Cale-te! Quer que os altos sacerdotes saibam que estou aqui?-olhou para os lados.
– Tu não nasceste para esta vida, Méhi. Tem o sangue quente e ávido por aventura e diversão! Deveria ser um soldado, guerreiro ou um mercador. Ao menos poderia viajar por outros lugares enquanto realiza seu ofício!-o amigo provocou.
– Também penso assim. Estou na vida errada. –o semblante de Méhi fica taciturno.
– Perdoe-me meu amigo. Não queria acabar com teus momentos de felicidade com o que eu disse.
– Apenas disse a verdade Hunefer. Meditações, orações, cerimônias religiosas...sair escondido na noite para ter mulheres, vinho e divertimento ao lado de meu bom amigo, como se isso fosse um crime terrível...isso não é vida para mim!-deu um soco na mesa, fazendo os copos balançarem.
– Méhi...-...olha assustado para a porta
– Meu sonho era ser um guerreiro! Servi ao faraó e sua família, protegê-los em nome dos deuses!
– Méhi.-tentando chamar sua atenção.
– Quero ser um guerreiro!
– Méhi!
– O que foi...?-...aponta para trás, escondendo o rosto. Méhi olha para a direção apontada e geme desanimado.- Mestre Ramessenakhte?
– Méhi.-o idoso o olhou com reprovação.-Vamos.
Em silêncio e envergonhado por ter sido pego em flagrante em meio a um lugar que ostentava luxúria e jogatina, Méhi seguiu o respeitoso sacerdote de Rá para fora dali. Soldados que o acompanhavam para garantir sua segurança os seguiam a uma distância que lhes daria privacidade para conversarem. Caminharam por longos minutos no mais absoluto silêncio, quando estavam longe o suficiente, Méhi resolveu tomar a palavra.
– Mestre, eu...
Calou-se quando o idoso ergueu a mão, pedindo silêncio, ainda de costas para ele.
– Quando seu pai, um velho amigo de minha infância, pediu-me que o aceitasse entre nós, para que o disciplinassem e lhe déssemos a educação, conhecimento... Disse a mim mesmo e a ele que cometia um erro. Não nasceu para o sacerdócio meu filho.
– Mestre.
Ramessenakhte virou-se e o fitou. Seu olhar lhe lembrou o de um pai repreendendo o filho pego em um alguma molecagem.
– Deverei viajar em missão diplomática. Levar aos hititas palavras e presentes, simbolizando a amizade de nosso faraó para seus reis,e firmar o compromisso de casamento de uma das filhas do rei Hitita com o nosso faraó. Gostaria que me acompanhasse, Méhi.
– Seria uma honra, mestre!-eufórico.
– Bem, devo retornar ao templo.-fez um gesto para que os guardas se aproximassem.-Vamos?
– Mestre, gostaria de caminhar um pouco mais nesta noite agradável antes de me recolher. -inclinou a cabeça em respeito.
– Certamente. -o sacerdote começou a andar na direção do templo.- Yunet deve se cansar de esperá-lo se demorar mais por aqui.
Méhi abriu a boca surpreso, depois sorriu. Pegando a direção oposto ao de seu mestre, para a casa do oleiro Siamun, e para os braços da bela Yunet.
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–Ele é um dos meus!-riu Milo.
– Quem em seu estado perfeito narraria as perversões de um cavaleiro de Atena, manchando sua imagem?-Shaka gemeu. -Bebedeira, jogatina, adultério, luxúria!
– Ele próprio. -respondeu Dohko. -Isso é um diário. E Méhi não parece constrangido em contar quem foi realmente.
– Por que não lemos outro manuscrito?-perguntou Shaka aos prantos.
– Por que as coisas estão esquentando. -respondeu Dohko sorrindo e retomando a leitura.
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– Pelos deuses Yunet...deixou-me sem forças para nada, minha querida.-Méhi murmura, entregue ao abraço lascivo de sua amante, descansado após horas transcorridas de paixão avassaladora.
–Méhi...como eu te adoro.-beija os lábios do jovem.
– Posso ficar aqui para sempre, e morrer feliz.-se aconchegando como um gato preguiçoso e manhoso o faz quando encontra um leito confortável.
No entanto um som os alertou de que realmente ele poderia morrer se não saísse de lá rapidamente.
– YUNET!-berrou alguém, socando a porta da frente da casa.
– Meu marido!-exclamou Yunet, levantando-se rapidamente e se vestindo, ela joga em Méhi seu manto.-Precisa fugir ou morreremos!
– Pensei que o gordo de seu marido só voltasse ao amanhecer!-saindo nu do leito e se vestindo de qualquer jeito.
– YUNET! CADÊ ESTE IMBERBE QUE OUSOU ENTRAR EM MINHA CASA E VIOLAR MINHA ESPOSA?-berrava o homem.-IREI CASTRÁ-LO!
Méhi se veste rapidamente e abre a janela, puxando a mulher para um último beijo.
– Até outra noite, linda Yunet.
– Méhi...-ela suspira apaixonada e de repente o empurra para fora quando a porta da frente é escancarada, fazendo-o cair no lamaçal.
Méhi se arrasta pelo lamaçal, ouvindo a discussão entre Yunet e seu marido. De inicio preocupado com o bem estar da jovem, mas pelos sons que ocorreram depois, de juras de amor e carinho, Yunet conseguiu lubridiar o ciumento marido.
Sujo, com as roupas rasgadas e a peruca esquecida em algum lugar nos fundos da casa de sua amante, Méhi retomou o caminho para o templo dos deuses e para o seu oficio de sacerdote de Rá. Passou pelos sentinelas, adormecidos ou distraídos em seus postos com conversas ou jogos para passar o tempo, e foi diretamente para os seus aposentos, onde o menino designado para ser seu criado pessoal, dormia encostado a porta.
Méhi sorriu e o cutucou com a ponta do pé, fazendo o menino acordar sobressaltado.
– Mestre Méhi! Graças a Osíris que chegou! O sumo sacerdote o procurou em seus aposentos e...-dizia o menino assustado.
– Acalme-se e respire Den. Eu já vi mestre Ramessenakhte.-o menino arregalou os olhos.-Não foi tão ruim assim. Agora já dormir em sua cama. Amanhã, treinaremos mais.
–Jura mestre?-os olhos do pequeno brilharam.
– Sim. Precisamos treinar sua defesa. Agora vá.
– Boa noite mestre.-o menino correu para o quarto adjacente ao de seu mestre.
O rapaz sorriu e caminhou até uma mesa onde havia água perfumada para a higiene e começou a se limpar. Foi quando seus sentidos o colocaram em alerta e ele olhou rapidamente para trás.
– Quem está aí?-perguntou, desconfiado.
Não houve resposta, mas Méhi sentia que era vigiado. Andou cauteloso pelo aposento, até a varanda.
– Apareça! Eu ordeno! Mestre Ramessenakhte, é o senhor?
Foi quando...
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– Ei! Digam isso sete vezes! Ramessenakhte... Ramessenakhte...-sugeriu Milo, levando um sonoro tapa na nuca de Kamus.- AAAIIII! Por que me bateu? Só dei sugestão de um trava língua!
– Não sei por que te bati, mas senti um enorme bem estar com isso. -Kamus sorriu.
– Se interromper a narrativa sobre o virginiano doidão eu te encho a cara de tapa, inseto!-rosnou Máscara da Morte.
– Você e qual exército?-desafiou Milo.
– NÓS!-gritaram os demais ao mesmo tempo, fazendo Milo encolher-se.
– Tá bom...
– Sobre Libra! Vamos ler sobre Libra, Dohko?-Shaka sugerindo.
– Shhhhhh!-fizeram todos os cavaleiros, e Shaka sentou emburrado.
– Desta vez não fui eu.-Seiya sorrindo.
– Bem...-Dohko continuou.
Foi quando a porta principal do Salão abriu-se e Shion entrou com um sorriso entusiasmado no rosto, com vários pergaminhos nos braços.
– Encontrei! Encontrei a continuação da noite da tempestade. Sobre o que houve com Tarek.
– Esplêndido!-exclamou Shaka.-Vamos ler mestre Shion!
– Não quero atrapalhar a leitura de vocês.
– Não está atrapalhando nada!-Shaka praticamente empurra Shion para que se sentasse na cadeira principal da mesa e olha para Dohko.- Deixem o mestre ler, não é?
– Está bem.-Dohko enrola o pergaminho com o rosto sério.- Depois vamos ler o restante na Casa de Libra, certo rapazes?
– CERTO!-disseram todos ao mesmo tempo.
– Perdi algo?-Shion sem entender.
– Nada mestre!-respondeu Shaka imediatamente.-Leia, vamos.
– Certo...Bem, onde paramos? Ah sim...o barco onde estavam Tarek e Arcturus naufragou...
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Dor...a garganta, os olhos, os pulmões, o corpo todo doía. Era um bom sinal, significava que ainda estava vivo, mas sentia as forças sumirem, estava flutuando, não conseguia respirar. Um braço forte o segurou pela gola da roupa e o puxou para cima, os pulmões que antes ardiam agora recebiam o precioso ar.
Uma imagem via a sua mente...um nome, o rosto de sua irmã.
– Ní-Níniam...
– Segure-se aqui Tarek!-a voz de Arcturus o trouxe momentaneamente a razão, e o lemuriano se viu agarrado a um pedaço de madeira que um dia foi a embarcação na qual navegavam.
– Minha...irmã!-desesperado, olhando pra o mar revolto.
– Não sei! Eu não sei se ela está perto, ou viva!
– Maldição!-Tarek sentiu os olhos arderem, não pela água salgada mas pelas lágrimas.-Não era para ela estar aqui! Não era...
Por longos minutos ficaram os dois náufragos agarrados ao que restou do navio onde viajavam. O mar bravio ao pouco se acalmava, a tempestade estava terminando.
– Terra!-exclamou Arcturus, apontando para o que parecia um monte ao longe.
Tarek avistou o ponto e suspirou. Ainda havia esperanças. Ambos começaram a nadar, ainda segurando na madeira, na direção do que seria a terra firme.
Horas se passaram? Eles não tinham certeza. Apenas sabiam que seus corpos não tinham mais força alguma quando chegaram a praia e praticamente se arrastaram por ela até se afastarem do mar e caírem exauridos, ofegantes.
– Louvada Minerva...obrigado.-murmurou Arcturus sorrindo.- Acolha a alma de meu pai, lorde Plutão. Tenha piedade dele...
Tarek deu um riso nervoso, e agradeceu Atena pela vida. Ficaram ali na areia, por um longo tempo, em silêncio. Até que Tarek finalmente perguntou:
– Minerva...que deusa é esta?
– É como chamamos a deusa da justiça e da sabedoria.-respondeu o romano.
– Atena...
– Sempre acreditei que ela me protegia.
– Eu também.
Ouviu um som de asas batendo e para a surpresa de ambos, Sophia estava ali, pousada no galho de uma árvore próxima.
– É uma ave milagrosa! Ter sobrevivido a tempestade!-exclamou Arcturus.
– Não imagina o quanto ela é milagrosa...-Tarek sorriu e sentiu que algo tampava o sol que batia em seu rosto, abriu um olho. E pode ver uma lança apontada para o seu nariz.-Arcturus...
Arcturus entreabre os olhos e se ergue, apoiando nos cotovelos assustado. Os dois rapazes estavam cercados por homens armados e com expressões nada amistosas.
– Entraram em solo proibido.-dizia um deles.- Preparem-se para morrerem em nome de Poseidon.
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Ela geme, sentindo o estômago revirar-se. Havia engolido muita água salgada. Não sabia como sobreviveu, só se lembrava vagamente de lutar contra o mar, debatendo-se para ficar na superfície, sendo puxada para um barco, de alguém lutando para mantê-la viva.
Abriu os olhos, estava em um abrigo provisório entre galhos de árvores caídas. Ouvia o som do mar batendo em rochas e passos se aproximando, encolheu-se.
– Acordou.-uma voz grossa, mas que possuía certa ternura atraiu sua atenção. Era a mesma voz que ordenava que ela não sucumbisse.
– Foi você quem me salvou.
– Sim.-o estranho não mostrava sua identidade, os galhos impediam a visão de Níniam quando ele abaixou-se e deixou próximo a ela água e comida, ela notou que ele possuía apenas três dedos na mão.-Beba, coma e recupere suas forças. Mas não saia daqui e não deixem que a vejam.
– Quem é você? Se aproxime, por favor.
O homem hesitou. Depois se afastou.
– Não saia daqui, não se aproxime de ninguém.
– Por quê?
– Este lugar é chamado de Feácea. Aqui estrangeiros não são bem vindos.-respondeu, se afastando do esconderijo improvisado.-Não quero que a vejam!
–Espere!-ela pediu e ele parou.-Como se chama?
Ele hesitou se deveria falar, mas respondeu após um breve silêncio:
– Alessandros.-ele moveu a cabeça para olhar para trás e pode ver o rosto dela entre os galhos.
– Obrigada por salvar minha vida, Alessandros.-sorriu em agradecimento.- Meu nome é Níniam.
Alessandros não respondeu, se afastando dali rapidamente. Não entendia ainda porque a salvara. E menos ainda do porque o coração ter acelerado com o sorriso de Níniam.
Continua...
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