O sol estava fortíssimo, e eu suava nojentamente enquanto arrastava meu malão. Tinha acabado de desaparatar em Paris e precisava andar algumas quadras para chegar à tão famosa Academia de Bruxas.

Depois de muitos abraços, beijos e apertões e “Vê se come direitinho Lily” e “Não se esqueça de tomar todas as suas poções certinho Lily” “Qualquer coisa você chama a mamãe, certo Lily?” da parte de minha mãe eu finalmente me encontrava em solo francês. Berlioz não ajudava em nada ao ficar bufando e se mexendo dentro de seu cesto, parecia que quanto mais eu andava mais longe ficava a bendita academia, meus pés já estavam doloridos. Acho que eu merecia isso por ter aparatado com aquele gato louco. Mas deveria ser o meu destino tramando novamente contra mim. Afinal, como eu poderia adivinhar que aquela adorável bolinha de pelos se transformaria em um felino com um temperamento pior do que o do tio Rony sem comida?

- Maldita hora em que fui escutar Dominique! - Reclamei para mim mesma, a loira havia me alertado de que era bom passar uma boa primeira impressão, de modo que não seria legal ir com meu velho tênis branco de corrida. Por que mesmo que a escutei e coloquei aquela roupa colada e aquela sapatilha que apertava meu dedinho? Eu deveria é ter ouvido os meus instintos de ruiva e quando a minha prima chegou junto com a Vic e a tia Fleur eu deveria ter corrido para as montanhas. Se você tem parentes com sangue de veela ouça o que eu te digo, nunca, eu repito, NUNCA as deixe chegar próximo de:

a) O seu guarda-roupa;

b) Do seu malão para a viagem;

E PRINCIPALMENTE...

c) Não as deixe te encurralar num canto e se tornar experimento estético.

Reclamando mentalmente segui puxando o meu malão, eu realmente não deveria ter deixado as minhas primas me convencerem de que seria uma boa ideia colocar todo o meu guarda-roupa ali dentro.

Pelo menos eu não era uma compulsiva por roupas, imagino como seria carregar o guarda-roupa de Dominique dentro de um malão!

Até que finalmente vislumbrei a maravilhosa casa de portões bronze onde se encontrava a placa com os dizeres em dourado:

"Escola para moças Saint Francis"

Pelo menos era isso que os trouxas pensavam que aquele lugar era, uma escola para moças, segurei minha carta de admissão, o antigo símbolo wicca brilhou no pergaminho e quando olhei novamente a placa mudara.

“Academia Real Francesa – Formando bruxas desde 1745.”

Muitas jovens entravam pelos portões de ferro bronze e todas pareciam muito com trouxas da alta sociedade, mas eu mesma sendo uma bruxa, podia reconhecer as gaiolas de corujas, cestas para gatos e malões tipicamente mágicos

Realmente a escola estava bem camuflada, qualquer trouxa que passasse acreditaria nos dizeres da placa. Através dos portões era possível ver um extenso gramado esmeralda, algumas estátuas, luzes e fontes. Ao fundo estava uma enorme mansão branca, era belíssima e sua arquitetura era clássica e distinta. Até então tudo a minha volta exalava a ideia de perfeição, desde a clássica mansão até as moças que passavam pelo seu portão.

Confesso que era impressionante, não tanto quanto Hogwarts é claro, mas a sua maneira a Academia sabia ser intimidante. Respirei fundo olhando para a mansão e tentei me lembrar de como havia parado ali.

Ah, sim, o acidente de quadribol, ou deveria dizer a tentativa de homicídio? Revirei os olhos sabendo que para minha “felicidade” Lana estava vindo também. Respirando profundamente ajeitei meus cabelos e decidi passar por aqueles portões, segui a jovem mais próxima, uma oriental que parou ao lado de uma pequena estátua escura.

A jovem tirou o colar de ouro branco do pescoço idêntico ao que eu mesma usava, com um pingente no formato do símbolo da escola, porém incompleto, pelo que eu entendera o símbolo se formaria completamente após sairmos da academia.

Percebia quando ela pareceu encaixar o pingente em algum lugar da estátua para enfim um pequeno portão ser aberto, tão logo a moça entrou o portão voltou a se fechar.

Logo me dei conta que muito mais do que uma forma de nos identificar como alunas; aquele colar funcionava como uma chave, não entendia bem o que havia de tão especial neles. Porém Dominique e Victoire, minhas primas que também já frequentaram a academia nunca tiravam os próprios colares do pescoço, muitas vezes eu notava que quando nervosas elas seguravam o pingente com força.

Próxima à estátua reconheci a figura de uma bela mulher entalhada em pedra, a mão com a palma virada pra fora tinha uma depressão no formato das três elipses wicca. Percebendo o que tinha que fazer encaixei o colar ali e quase cai de assusto ao ouvir aquela voz clara e límpida como água.

-Seja bem vinda Lílian Luna Potter. – O pequeno portão se abriu e assim que entrei me dei conta que a escola era na realidade muito mais do que meus olhos podiam ver do lado de fora. Como em Hogwarts esse pelo visto também seria um lugar cheio das suas próprias surpresas e segredos.

Respirei fundo e dei uma passo hesitante, o portão se fechou com um baque atrás de mim, como se me lembrando que agora eu não podia mais voltar atrás. Quando o pesado portão de ferro cerrou a saída ele não apenas me impedia de voltar atrás, ele encerrava uma parte antiga da minha vida. Da Lily que ia para Hogwarts com muitos parentes e amigos e que não teria nada mais com que se preocupar durante o ano a não ser as notas e o campeonato de quadribol.

A minha frente, a mansão parecia ainda mais esplêndida de perto, se atrás o passado se distanciava, a cada passo meu mais se tornava claro que ali estaria mais só do que nunca em minha vida. Sem Sara, Hugo, primos e irmãos mais velhos.

Era uma chance nova, uma chance de recomeçar, de deixar pra trás minhas inseguranças e se possível era hora de encontrar um novo objetivo para perseguir.

Quanto mais me aproximava das outras garotas mais tinha a certeza que pelo menos um pedaço meu estava inteiro novamente, eu tinha reconstruído uma parte crucial da minha personalidade.

Lílian Potter estava pronta para um novo sonho, e eu não deixaria ninguém estragar isso novamente.