Hogwarts, ó querida Hogwarts

–Certo vai me contar o que está acontecendo entre você e Hugo ou vou ter que descobrir sozinha? – Perguntou minha mãe me encarando através do espelho, estávamos em nosso ritual noturno eu sentada em frente ao espelho e ela em pé penteando meus cabelos lisos. Aquilo era ótimo, amava a sensação de tê-la ali cuidando de mim. Me sentia como um bebe novamente, não que tivesse abandonado esse posto, enquanto os netos não vinham eu ainda era o bebezinho da casa. Ou melhor a princesinha da casa.

 

–Então?-Insistiu minha mãe mantendo o olhar firme.

 

–Eu não sei-Falei, sendo mais sincera do que gostaria.

 

–Quer pelo menos tentar me explicar?-Me perguntou Gina Weasley com um olhar um pouco ressentido, ela sempre pedia que eu fosse sincera com ela, mas nem sempre é tão fácil explicar as coisas pra uma mãe.

 

–Certo, tudo começou há uns dois anos, no natal, nós ficamos...

 

–Ficaram?-Perguntou minha mãe de olhos arregalados.

 

–É sabe? Nos beijamos mãe. A partir daí as coisas ficaram estranhas, sempre que estávamos juntos havia uma tensão.

 

–Oh, Lily, como isso aconteceu? Vocês são primos!

 

–Eu sei mãe, depois de um tempo ele começou a namorar com a Prescott, e eu fiquei com ciúmes. Mas ele parece me perseguir, não pode nem me ver conversando com outro garoto, não aguenta falar comigo sem flertar e toda fez que bebe de mais tenta ficar comigo.

 

–Só ele, ou você também quer ficar com ele?- Corei um pouco, se fosse sincera gritaria um enorme SIM, EU QUERO! Mas não queria assustar minha mãe, então tentei soar mais sensata.

 

–Confesso que é bom ficar com ele, estamos em sintonia quando estamos juntos. Ele me entende de um modo impressionante...

 

–Bom, vocês são melhores amigos desde muito novos Lílian, é claro que estão em sintonia.

 

–É mas eu sinto algo de diferente com ele, nós ficamos juntos outras vezes e por mais que eu negue talvez eu goste disso.

 

–Está apaixonada por ele?

 

–Não!-Respondi rápido de mais. Isso fez com que minha mãe arqueasse as sobrancelhas.

 

–Tem certeza?

 

–Mesmo se eu estiver mãe, ele está com a loira aguada agora. Não posso ficar com ele quando ele me quiser, se ele está namorando que fique com a namorada dele.- Afirmei categoricamente. Um sorriso surgiu no rosto da minha mãe e ela me beijou a bochecha.

 

–Sabia que tinha te criado bem garota, tem razão nisso, se valorize. Você meu bebê, está se tornando uma mulher fantástica. Obrigada por ter sido sincera comigo!

 

–Amo você mãe, me desculpe por isso.- Falei recebendo um abraço reconfortante.

 

–Também te amo, agora vai dormir, vamos tentar não perder a hora amanhã. - Recomendou e então me deu um beijo na testa e me deixou sozinha.

Eu ficava pensando no que tinha dito à mamãe e também que ela havia me pedido, era verdade eu tinha que me valorizar. Mas era tão complicado, Hugo por tanto tempo tinha ocupado o posto de melhor amigo e confidente que agora ao ter que me afastar dele eu me sentia um pouco sozinha. A pessoa mais próxima de mim era Sara Hale, a única garota que não era minha prima e que eu podia chamar de minha amiga.

 

Mesmo assim Sara tinha uma personalidade única,tinha sempre a impressão que preferia passar seu tempo com os livros do que comigo, apesar disso ao lado de Hugo formávamos o trio grifinório. Sara era uma garota pratica, não gostava de drama, nem de lamentações, sua filosofia de vida era; - Coma um chocolate, respire fundo e conte até 10! Depois bola pra frente garota!- Apesar disso confiava nela, dividíamos o dormitório e passamos por bons momentos juntas, talvez fosse a hora de fazer minha parte para solidificar nossa amizade.

Dormi idealizando meu último ano em Hogwarts, finalmente ele tinha chego e eu estava apavorada, era como ir para o primeiro ano novamente, meu coração disparava e tive dificuldade para pegar no sono naquela noite.

 

(...)

 

–Lílian! Estamos atrasados!-Falou meu pai enquanto batia na porta do meu quarto, bom era óbvio que isso iria acontecer nós nunca conseguíamos chegar adiantados na estação.

 

Levantei num pulo e fui me arrumar, meu malão estava pronto e até onde lembrava havia pego tudo, me olhei no espelho e encarei uma ruiva de cabelos escorridos e grandes olheiras.

 

–Bom dia querida, dormimos mal essa noite não foi?-Perguntou minha imagem, sarcástica como sempre.

 

–Cala a boca!-Falei dando um enorme sorriso e saindo do quarto.

 

–Locomotor Malão!–Falei torcendo para o feitiço dar certo, para minha total surpresa o malão flutuou calmamente, sai do quarto com a varinha erguida e me achando a melhor bruxa do pedaço.

 

Olha só pra mim! Estou usando mágica e ainda nem quebrei nada! Era o que eu queria gritar, cheguei às escadas sem maiores problemas e quando terminei de descê-las achei que tinha me livrado do pior. Mas é claro que eu não iria passar imune pelo troféu que papai havia ganho quando salvou o mundo bruxo.

 

–LÍLIAN!-Ouvi minha mãe gritar da cozinha, meu pai desceu correndo as escadas com suas vestes desarrumadas e varinha em punho.

 

–O que foi? Invasão? Arrombaram a porta?-Gritou papai, a cena seria cômica se eu não estivesse me sentindo um lixo de feiticeira.

 

–Não, é só a nossa filha Harry, pelas barbas de Merlin guarde essa varinha homem! - Falou minha mãe que logo apontou a varinha para meu malão que com a queda tinha aberto espalhando todo o seu conteúdo na sala. Em questão de segundos ele estava todo organizado e o troféu do papai estava inteiro E no lugar certo.

 

–Qual é o problema comigo afinal?-Perguntei marchando constrangida para a cozinha. Nas minhas costas escutei minha mãe falando.

 

–Querido vai conversar com ela, vou acordar os meninos, eles não vão na estação mas podem pelo menos se despedir da Lily.

 

Sentei na mesa da cozinha e peguei uma torrada para comer, mamãe havia feito suco de abóbora, o meu preferido e também tinha geléia da maçã da vovó, que era divina.

 

 - Princesinha?-Chamou meu pai, ele agora estava com a roupa arrumada e pelo visto tinha tentado arrumar os cabelos. Não que fizesse muita diferença.

 

–Desculpe pelo troféu. Não sei por que ainda tento fazer esses feitiços.- Falei brava antes de dispensar a torrada e decidir pegar o pote de geleia e comer com a colher.

 

–Sabe que eu sou péssimo nesses feitiços também, não sabe? Prefiro fazer tudo ao modo trouxa para não causar maiores estragos, e mesmo assim ainda causo meus acidentes. - Ele disse rindo, o pior que era verdade, o grande Harry Potter não conseguia fazer feitiços domésticos ou diários de qualquer espécie.

 

–Mas você é você! As pessoas não ligam se você não sabe arrumar a casa usando a varinha, agora eu...

 

–Deixa de ser boba filha, você não nasceu para isso também! Lembra? Último ano de escola, vaga quase que garantida no Harpias! Você é uma jogadora, não precisa aprender esses feitiços se não quiser.- Corei ao me lembrar da carta que tinha recebido nas férias, durante este ano as diretoras do Harpias assistiriam alguns dos meus treinos e jogos durante o sétimo ano. Era quase certo que terminando Hogwarts entraria para a equipe, não para o time principal claro, mas estar lá dentro já era um primeiro passo.

 

–Mamãe também foi uma jogadora, e nem por isso vive quebrando as coisas por aí. - Falei fechando a cara, com isso meu pai começou a rir.

 

–Qual é a graça?-Perguntei não resistindo a sua gargalhada contagiante.

 

–Bom, digamos que os primeiros meses de casado com sua mãe foram inesquecíveis! Gina passava horas com sua avó praticando feitiços domésticos e mesmo assim as perdas materiais foram enormes!

 

–Sério?-Perguntei não acreditando, minha mãe parecia tão segura cuidando da casa, como se tivesse nascido para ser mãe.

 

–Sim filha, ele fala sério, e você senhor Harry Potter não precisava ter contado isso!-Falou minha mãe um pouco vermelha.

Meu pai deu uma gargalhada e puxou minha mãe pela cintura para um beijo, desviei os olhos sem deixar de rir daquilo. Meus pais eram incríveis, a forma como ainda estavam juntos depois de todo esse tempo, era lindo de se ver como cuidavam um do outro.

 

Um tempo depois meus dois irmãos mais velhos desceram sonolentos, Alvo nem falou nada só me abraçou e murmurou:

 

–Pronto agora, posso dormir novamente...-E assim saiu da cozinha.

 

–Bobo. - Falei baixinho, eu e Alvo nos amávamos mas como bons irmão de idades próximas vivíamos em constante pé de guerra. E acredito que ele achava desnecessário se despedir dignamente da irmã mais nova quando se pode ter mais algumas horas de sono.

 

–Não ligue para ele Lilindinha!-Falou James meu irmão mais velho, me dava melhor com ele, eram quatro anos de diferença e ele sempre tomou meu partido nas brigas que tinha com Alvo. Tem a irritante mania de querer me proteger de tudo, o que na verdade era bem legal até o momento em que decidi sair com garotos e ele passou a agir com um cão de guarda raivoso.

 

–Tudo bem Jimy já estou acostumada com todo esse amor fraternal.- Falei caindo em seus braços.

 

–Vai se cuidar esse ano Lily? Já sabe né? Qualquer idiota que aprontar com você é só me escrever que eu vou correndo para fazê-lo se arrepender.- Então para minha surpresa ele estendeu um pergaminho velho na minha direção. Fiquei sem reação por um tempo o que o levou a perguntar.

 

–Não vai querer?-Ele estava me dando o mapa? Não James amava de mais aquilo, será? Aquela era a relíquia de nossa família, atrás apenas da capa de invisibilidade que papai ainda guardava com ele.

 

–Você está me dando o mapa do maroto?-Perguntei sem acreditar que aquilo era mesmo verdade.

 

–Não, mas considere como um empréstimo, vai tornar as coisas mais fáceis nesse seu último ano. Mas voltando da escola me devolva, será passado ao meu primogênito quando for para Hogwarts. - Sorri e peguei o mapa.

 

–Fala sério, você nem tem namorada e já está pensando nos filhos. - Comentei dando um sorrisinho.

 

–E é bom nem pensar, sou muito nova para ser avó!-Disse minha mãe passando os dedos nas têmporas.

 

–Não se preocupe dona Gina, posso esperar mais alguns anos! Além disso a Sara tem sua idade Lily, preciso ter paciência com o meu Girassol!-Olhei incrédula para meu irmão e informei.

 

–Ela odeia você, e odeia ainda mais esse apelido. - Falei rindo ao me lembrar do dia em que James explicou o motivo de chamá-la de Girassol.

 

“Mas Sara! Você tem essa cor amarelinha e é alta como um Girassol! Acho que é a flor que mais combina com você!” Argumentava meu irmão rindo.

 

–Ela me ama Lily! Você sabe que no fundo ela me ama!-Falou piscando, então continuou - Mas olha a noite foi boa, e assim como o Alvo vou dormir mais um pouco! Boa viagem Lily! - Dei um último abraço em meu irmão e sorrindo de orelha a orelha guardei o mapa em minha velha mochila.

 

(...)

 

–Podemos ir Lily? Não se esqueceu de nada?-Perguntou meu pai pela enésima vez.

 

–Hum, acho que não.- Respondi já na porta de casa.

 

–É sério, este ano não vamos voltar se estiver esquecido algum brinquedo de Berlioz. - Falou minha mãe lembrando-se de quantas vezes fiz meu pai voltar para buscar os brinquedos de meu gato mimado.

 

–Não dessa vez peguei tudo, os brinquedo do Berlioz, a caminha do Berlioz, a ração do Berlioz, o pratinho de comida do Berlioz, erva de gato do...-Parei percebendo, que sim eu tinha esquecido algo.

Por sinal era algo bem importante, cinzento, mimado e peludo.

 

–Lily?-Perguntou papai, imagino que expressão devia ter em meu rosto para tê-lo preocupado.

 

–O Berlioz! Eu estava esquecendo dele pai! - Gritei correndo para dentro de casa.

- Ótimo não é como se essa fera já não fosse temperamental sem você esquecê-la! – Disse minha mãe com as mãos na cintura.

Ignorei as queixas ao meu gatinho e segui decidida a enfiá-lo em seu cesto. Como é que alguém podia esquecer do próprio gato? Eu sou muito desligada mesmo, sabia onde ele estava, embaixo da cama, seu lugar preferido aqui em casa. A verdade é que não sei o que vou fazer como ele depois que sair da escola, ele odeia minha casa! Provavelmente eu deixe-o na Toca mas aqui em casa não vai dar, durante as féria já é complicado evitar uma fuga.

 

Meu gato é cinza e gordo, e eu o ganhei depois que assisti ao filme trouxa Aristogatas, por isso o nome Berlioz, que é o nome do gatinho cinza do desenho. Pena que o meu Berlioz não toca piano e nem gosta de usar um laço vermelho no pescoço.

 

–Vem Lioz, vem, hora de ir pra escola!-Sério esse gato tinha que me entender porque passei as férias inteiras tentando brincar com ele sem conseguir nem um miado sequer, mas assim que ouviu a palavra escola ele se animou. Foi fácil colocá-lo no cesto e logo estávamos dentro do carro indo para a estação King Cross.

 

Você deve estar pensando, por que eles não aparartam? Eu respondo, você tem idéia de como é complicado aparartar levando um malão gigante e um gato neurótico? Aposto que não, quer um conselho nunca, NUNCA tente fazer isso!

 

Assim fomos de carro até a estação, a viagem foi tranquila o carro do papai é enfeitiçado de modo que pulamos todos os congestionamentos, então como de costume, chegamos em cima da hora para pegar o trem. Atravessamos a barreira discretamente e finalmente estávamos na plataforma 9¾, era isso, meu último ano iria começar. Não que eu fosse começar a fazer uma dancinha feliz ou nada do tipo, afinal a situação ainda não era das melhores...todo aquele rolo com Hugo me deixava um pouco triste.

 

Avistei tia Hermione com tio Rony de modo que rumei para lá.Para minha surpresa minha tia se debulhava em lágrimas, e ao me ver deu um grito agudo.

 

–Oh, Lily! Seu último ano! Parece que foi ontem que era uma menininha ruiva querendo ir para Hogwarts com os irmãos!-Disse ao me abraçar.

 

–Calma tia. -Falei preocupada, ela estava muito histérica, como uma vó Molly morena e mais nova.

 

–Pois é, está é a última vez e que viemos deixar nosso filhos hein Rony!-Falou meu pai em um tom nostálgico, provavelmente se lembrando de seu tempo de Hogwarts.

 

–Como cresceram.- Concordou minha mãe com um sorriso.

 

–Mamãe, já parou de chorar? - Perguntou Hugo que chegou acompanhado da sua adorável namorada. Para meu total prazer ela usava luvas de cetim verde. Então era por isso, que Hugo não estava aqui, estava com a namorada em algum canto, talvez falando com os pais dela ou se agarrando com ela por aí, o que é bem mais provável.

 

–Oi primo!-Falei com um sorriso, como resposta ele apenas piscou. Mas logo tia Hermione surtou novamente, agarrava a mim e ao filho pelo pescoço nos forçando a um abraço.

 

–Olha só pra vocês dois! Tão grandes e bonitos! Tão amigos depois de tanto tempo...-Quando finalmente ela nos largou eu sentia que meu pescoço estava danificado permanentemente. Mas logo ela encontrou uma nova vitima. Sério parecia um daqueles filmes trouxas, quem seria a próxima vítima da estranguladora? Tia Hermione estava impossível.

 

–E você Lana, a namorada do meu filho! Tão bonita e inteligente! Quem diria que Hugo arrumaria uma namorada! E ainda por cima bonita! - Chorou agarrada ao pescoço da sonserina que arregalou os olhos, espantada com a demonstração de afeto. Hugo fechou a cara ao ouvir o que a mãe dizia. Para a sorte de todos o apito soou de modo que precisávamos embarcar.

 

–Já chega amor, vai machucar a moça. - Falou tio Rony afastando Hermione de Lana que massageava o pescoço em meio a uma careta. Olhei para meu pai esperando suas recomendações finais, mas ele nada disse, os olhos verdes lacrimejavam e percebi que por algum motivo estranho ele parecia orgulhoso de mim.

 

–Tchau minha filha. Arrase e aproveite seu último ano.- Pediu minha mãe, sem resistir a abracei, em seguida abracei meu pai.

 

Assim finalmente embarquei, pela última vez para iniciar um ano em Hogwarts.

 

Já no trem segui na direção oposta do meu primo.

 

–Não quer ficar com agente?-Perguntou Hugo segurando a mão da Prescott, nem preciso dizer que a expressão da loira não era nada convidativa. Hugo era muito burro ou fazia perguntas como aquela por querer? Era o que eu não cansava de me perguntar.

 

–Obrigada, mas vou dar privacidade ao casal, não se preocupe comigo, vou procurar a Sara. – Respondi sem deixar de tirar os olhos da bela loira com os olhos azuis borbulhando de ódio.

 

Hora de mudar Lílian Luna Potter, hora de descobrir a verdade sobre aquele ditado das mulheres precisarem de boas amigas. Quem sabe não seja mais fácil esquecer Hugo se eu estiver bem acompanhada? Não que eu esperasse esquecer meu primo tão facilmente, não quando além de tudo era tão divertido irritar aquela oxigenada sonserina.