Valentines Dream escrita por Yuna Aikawa


Capítulo 8
Capítulo 8 - A festa




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    Aqueles olhos vinho estavam me fitando com um certo brilho a mais, como um "morceguinho sem dono", de um modo que não consegui recusar o pedido. Após sorrir como uma criança no Natal, mostrando-me todos aqueles dentes perfeitos que um dia me matariam, voltou a me beijar.
    Só posso dizer que a noite foi boa.
    Acordei feliz, tomei um café-da-manhã reforçado de chá e torta de maçã e fui para a parte restaurada da biblioteca, ler "Eu" - Augusto dos Anjos - que Éric me recomendou no início da 7a série.

- Gostando da leitura? - August surgiu do meu lado.
- Não muito... Poesias não são "minha praia".
- É um de meus favoritos - Ele esticou o braço e puxou um livro novo, grosso - Tome. Acredito que vá gostar.
- "A Menina que Roubava Livros"?

    O vampiro sorriu positivamente, então eu devolvi à estante "Eu" e peguei o livro gentilmente cedido. August tinha razão: eu amei o livro, tanto que, quando fui buscar a continuação, o sábio ser das trevas disse-me que era hora de jantar - Sopa de tomate, minha favorita.

- Satisfeita?
- Muito - Tomei quatro pratos cheios.
- Fico contente.
- Cadê o Ville?
- Terminando os preparativos.
- 'Pra quê?
- Uma festa, senhorita Lilith, talvez até uma despedida.
- Não estou entendendo, August.
- Não precisa se preocupar com isso agora - Beijou o dorso da minha mão - Apenas lhe peço para usar o vestido que deixei sobre a cama hoje à noite. A festa começa às 3 horas.
- Vou me arrumar.

    Desci as escadas de dois em dois degraus e encontrei o vestido bordoux (bordô), com babados, drapeados, rendas e fitas - charme típico do séc. XIX - e estilosas sapatilhas negras. Tomei um demorado banho de banheira, com velas e rosas, e voltei para o quarto enrolada na toalha branca. Espartilho é algo luxuoso, emagrece e mantém a postura, mas é difícil colocar - Ville me ajudou, disse que eu estava linda e sumiu.
    Faltavam 10 minutos, mas estava pronta: seca, perfumada, bem vestida, maquiada e elegante - recebi um assovio e vários elogios dos vampiros.

- Já esteve em Londres, minha bela Lil?
- Não, nunca.
- Bem... Estamos te levando para lá agora.
- Ahn?

    Ville me tomou nos braços, pegando-me no colo. A viagem durou quase 9 minutos, mantive os olhos abertos, enxergando apenas luzes e imagens borradas, e me agarrei ao vampiro. De repente, paramos - meu cabelo ainda estava arrumado.

- Bem-vinda.
- Acho que vou vomitar.

    Estava mais pálida que o normal,  tonta, sequer percebi quando Ville me levou ao banheiro, servindo-me sal de fruta com água e esperou até eu me estabilizasse.

- Sinto muito, não queria dar trabalho.
- Imagine, amor, você não está acostumada a viajar com um vampiro. - Sorriu gentilmente.
- Onde estamos?
- Rockbell's Library. Vamos, estão nos esperando.

    Ville estendeu-me a mão, como um bom cavalheiro, e me guiou até um salão iluminado - piso branco, lustres enormes de cristal, vitrais amarelados e paredes creme - ao fundo tocava o som de um violino, mas não achei nenhum rádio ou violinista. Então olhei para trás, Ville - deslumbrante em seu terno preto - estava afastado e, atrás dele, havia muitas pessoas pálidas de preto, fitando-me com cobiça. Olhei para frente, onde August - com seu terno de sempre - também estava com várias pessoas de preto. Olhei para direita, Amy estava com várias pessoas de vermelho - reconheci alguns caçadores - e, finalmente, para a esquerda, a procura de uma saída, mas lá estava o violinista. Encolhi-me ao centro do salão enquanto todos os presentes se encaravam, alguns rosnando, com ódio nos olhos.
    Nathaniel, o violinista, ando em minha direção, deixou o instrumento no chão e me abraçou - espero que Alice não me mate - então sorriu, "está na hora", disse-me com calma.

- A guerra é feita pela arte da manipulação - Reconheci a noiva de August na hora.
- Sim, mas esta guerra está ficando incomoda - Ville manteve a calma, estava sendo abraçado por Marie.
- Como pretendem fazer isso? - Amy deixou claro que essa rivalidade a aborrecia.
- Convidá-la foi o primeiro passo - August - O que virá a seguir será o cheque-mate.
- Uma luta até a morte? - Raphael estava irritado.
- Não fique com medo - Nathaniel sussurrou para mim - Prometi protegê-la esta noite.
- E esperamos que cumpra tal promessa - Ville - Ou voltaremos do inferno para pegá-lo!

    Nathaniel riu, minha mente não estava acompanhando os fatos. Amy, August e Ville caminharam até o centro e deram as mãos, formando uma roda a minha volta. Houve múrmuros de todas as famílias - vi os Whitehouse destravando as armas que estavam nos bolsos.

- Hannie Whitehouse - Amy
- Imporrus Spencer - August
- Arthur Katahn - Ville - Eles começaram...
- ...E nós vamos terminar.

    Por um segundo, achei que ia morrer, mas aconteceu algo inesperado: August mordeu o pulso de Ville, que mordeu o de Amy, que mordeu o de Spencer. Eu estava confusa, Nathaniel calmo e as famílias surpresas.

- O que é isso!? - Um velho Whitehouse apontou a arma para os vampiros do centro e foi imitado pelo resto da família.
- Peço que se acalme, Charlie! - Stephanie.
- Ou vai acabar morto, vovô! - Algum Spencer.
- Não! - A ruiva-cobre se exaltou.
- Cale-se, Spencer! - Alguém da família Katahn também estava impaciente.

    O clima ficou pesado, as famílias começaram a se atacar numa velocidade impossível de acompanhar com olhos humanos - apesar de que os Whitehouse mortais não demonstraram nenhuma dificuldade. A tontura havia voltado com os inúmeros vultos que borravam minha visão. Ouvia gritos de dor e agonia, havia manchas e cheiro de sangue por toda parte, cinzas no chão e cacos da vidraça. Nathaniel me abraçou mais forte ao perceber que eu estava tremendo de medo, então estalou os dedos, fazendo o som ecoar no salão. Não sei como um movimento simplório como aquele fez com que as brigas parassem - acho que só havia restado 1/3 do total de seres presentes.

- Agradeço a atenção de todos. - Nathaniel falava com calma - Mas, enquanto vocês deixarem uma rivalidade boba, que muitos nem sabem como começou, acabar com vocês, 3 vampiros estão aqui, sacrificando a eternidade pelo fim disso tudo.

    Os poucos vampiros que restaram, e os humanos, fitaram o "representante" de sua família, num ciclo "sanguessuga". O silêncio invadiu o ambiente, os três vampiros que me rodeavam estavam ficando acizentados, então Amy, por ser menor, virou pó diante dos meus olhos - Ville mordeu o pulso de August, para continuar o ciclo. Os dois restantes piscaram para mim, como gesto de despedida.

- Amo vocês... - Comecei a chorar - Mas preferia morrer no seu lugar.

    August franziu as sobrancelhas negras, num sorriso gentil, assim como Ville. Começou, da cabeça aos pés, meu pesadelo: em câmera lenta, os vampiros, meus amigos e, até então, minha família, viraram pó.

- Declaro o fim da guerra - Stephanie Spencer estava visivelmente triste, mas manteve a voz firme - Quem se opor a isso, terá o mesmo destino que nossos três "heróis", os únicos que tiveram coragem para por um "basta".

    Os presentes concordaram com a cabeça e sumiram, sem dizer nenhuma palavra. A noiva de August passou a delicada mão na minha cabeça, disse-me que fui muito corajosa e especial aos meus falecidos e fiéis amigos, e sorriu - Nathaniel sumira com os demais. "Durma agora, querida. Você já se esforçou o bastante.", foram as últimas palavras que ouvi antes de desmaiar.
    Acordei num hospital, dolorida, com Éric segurando minha mão.

- Graças a Odin, você abriu os olhos!
- Éric? - Estava tentando me acostumar com a claridade do quarto.
- Não, sou eu, a fada dos pínicos voadores... Vim te visitar aqui no Louis.
- Louis!? - O único hospício da pequena Wellway Village, minha cidade - O que estou fazendo aqui!? - Clínica de Psico-terapia Louis XV.
- Você tropeçou e bateu a cabeça no enterro de seus pais... Começou a faltar aula e falar sozinha. Meus pais te trouxeram 'pra cá.

    Inacreditável. Os melhores - e piores - dias da minha vida não passaram de surtos da minha imaginação fértil. Éric beijou minha bochecha, disse-me que fazia 2 semanas que eu não saia daquele quarto - DUAS SEMANAS! - e que eu quase o matei de preocupação. Houve leves batidas na porta branca e uma enfermeira ruiva, com seu uniforme azul, trouxe-me mais soro - li no seu crachá, seu nome era Lilian Hoffmann - "expulsou" Éric do quarto e, depois de trocar o soro, retirou-se.
    Suspirei, decepcionada com a vida, até que percebi algo incômodo no bolso daquela típica roupa hospitalar. Era um pedaço de papel amassado, com três caligrafias diferentes. Mais uma vez, chorei.

"Desculpe-me, senhorita Valentine. - A.W.

Agradeço-lhe por tudo. Você fez da minha eternidade algo maravilhoso, mesmo que tenha sido por pouco tempo. Cuide-se. - A.S.

Okay, confesso. No começo eu só queria usufruir de seu nobre sangue, mas acabei me apaixonando de verdade, você é igual a minha irmã, só que mais atraente. Não chore, somos eternamente gratos a você, amor. Obrigado por aparecer na minha vida. - V.K.

Ps. Os Whitehouse acharam o vampiro que matou seus pais, mas não tiveram coragem de matá-lo. Matar Stephanie é quase impossível."

    Vampiros são mesmo incríveis.


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Notas finais do capítulo

Acho que paro por aqui. :3
Agradeço aos leitores e aos reviews x3
Fizeram dessa idiota (eu) uma pessoa mais feliz :3