Arrependimento escrita por Giuliana Murakami


Capítulo 1
Arrependimento




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O garoto, de alguma maneira, havia conseguido adentrar o Chalé de Afrodite à noite, para conversar com sua melhor amiga, pois ela havia pedido muito para ele.

Leo entrou sorrateiramente, observando os filhos da deusa do amor ressonando calmamente, com sorrisos bobos nos lábios. “Devem estar sonhando com algo bom”, pensou Leo enquanto procurava por Piper.

A menina estava encolhida entre um baú rosa shock de Drew e um guarda-roupa de maneira de lei de outro irmão. Ela o chamou com a mão, mas de longe ele pôde ver que seus olhos estavam inchados.

Leo sentiu um aperto no coração e desejou sair daquele lugar correndo. Odiava ver Piper chorando e odiava mais ainda descobrir o motivo, pois sentia imensa vontade de surrar quem o quê tivesse provocado tristeza na garota.

Ele, porém sentou-se ao lado dela, apertado entre a moça e os objetos infinitos dos filhos de Afrodite. Piper logo procurou o abraço do rapaz e encolheu-se.

Ela suspirou, tentando manter a calma sob àqueles braços quentes e meio desajeitados. Desajeitados com garotas! Piper bem sabia que Leo era um excelente manuseador de metais.

Logo, a garota encontrou a paz que tanto queria e pôde narrar o que lhe acontecera. Simplesmente sentiu ciúmes de Jason com uma garota que ela nem conhecia. Jason havia lhe dito que tinha uma certa ligação com uma tal de Reyna e essa simples afirmação fizera a garota chorar um dia inteiro.

Leo ficou parado, ouvindo a narração, sentindo-se cada vez mais irritado com Jason. Assim que Piper terminou, Leo a afastou para que se olhassem.

-Sinto muito por isso! – e tocou em seu rosto delicadamente, porém atrapalhado.

-Não se preocupe... – ela disse suspirando – Você sabe que só lhe conto essas coisas porque não quero guardá-las para mim!

-Não são exatamente segredos não é? – perguntou ele e ela negou.

-Claro que não! Eu contei para você não é? Deixou completamente de ser segredo – ela disse e Leo riu, para tentar animá-la. Piper suspirou novamente e jogou-se nos braços de Leo pela segunda vez naquela noite. Ele sentiu aquele cheiro de rosas invadir-lhe as narinas e seu corpo inteiro estremeceu.

Os dois continuaram abraçados em silêncio, por longos minutos que para Leo foram os momentos mais emocionantes de sua vida. Era a sua parte favorita quando dividia segredos com Piper: no final os dois se abraçavam e ficavam daquele jeito, juntinhos...

-Sabe, Leo? – ele ouviu a voz chorosa dela e desespero tomou conta de seu corpo. Ela não podia estar chorando de novo! Podia?

Mas estava, os olhos já vermelhos, ela o olhou com intensidade e perguntou com a voz triste e magoada:

-Por que eu sofro por um garoto, sendo que sou filha da deusa do amor?

Ele não soube o que responder. Estava triste demais por vê-la naquela situação.

-Não entendo! – ela disse nervosa – Eu nunca quis chamar tanta atenção, sabe? Mas Jason é diferente! Eu gosto tanto dele...

E ela não sabia o quanto aquelas palavras feriam o filho de Hefesto.

-Pela primeira vez na minha vida, eu queria chamar a atenção de um garoto! – ela suspirou – Será que algum dia alguém vai me amar como amo esse rapaz?

Leo sentiu todo seu corpo entrar em estado de choque e se viu olhando para o além, os lábios tremendo, cheios de vontade de dizer o que se passava no coração dele. Piper não percebeu, como sempre e voltou a se deitar nos ombros de Leo.

Ah, mas ele sabia que ela iria voltar a sorrir! Ela tinha que voltar a sorrir, porque se não voltasse, ele também não teria mais sentido na vida.

E mal a garota tinha consciência, mas havia sim um garoto que amava... A amava em demasia... A amava tanto, que o coração dele poderia ser feito de imagens dela, apenas dela.

No dia seguinte, Leo conseguira não ser pego por ninguém ao sair do chalé de Piper. Fingiu estar ao lado de uma distraída Kate, que conversava animadamente com Jake e adentrou o chalé de Hefesto, sendo surpreendido por Harley.

-Onde estava? – perguntou o irmão.

Leo o ignorou e correu para tomar banho, evitando olhar para os companheiros de chalés.

Alguns minutos depois, ele estaria no meio do pátio brigando com Jason. De fato, assim que Leo saíra do banheiro, correra para cima de Jason que estava olhando para uma árvore qualquer.

Leo empurrou o amigo com força, que cambaleou.

-O que... – antes que Jason pudesse reagir, Leo lhe dera outro empurrão.

-Você é um imbecil! – xingou.

-Como é que é?

-Por que magoou a Piper? – e Leo lhe dera outro empurrão, mas Jason também lhe dera e os dois se encararam enraivecidos.

-Do que está falando?

-Você sabe do que estou falando...

Jason rangeu os dentes e irritado com a atitude do amigo, pulou em cima dele. Mas Leo aprendera a se defender quando criança e também no acampamento. O filho de Hefesto lhe deu uma joelhada no estômago e o jogou ao chão com um exímio golpe de judô.

Então, a pancadaria começou e logo os dois se tornaram o centro de um clube de meios-sangues que gritavam;

-VAI JASON, ACABA COM LEO, VAI JASON ACABA COM LEO – berravam as meninas, o fã-clube de Jason.

-VAI LEO, VAI LEO, VAI LEO – berravam os amigos do rapaz.

-Vai Leo... – gritava Malcolm, mas depois de receber um olhar perigoso de Annabeth, ele parou e olhou timidamente para a irmã – Foi mal! Só quis me enturmar...

-O QUE ESTÁ ACONTECENDO? – berrava Dionísio em meio a algazarra.

Nada, nada poderia fazer Leo parar.

-O que está... – Piper aparecera no meio da roda e olhou assustada para a cena – AH, LEO PARE!

E ele parou... Bem, para toda a regra tem uma exceção certo? Havia sim uma coisa que faria Leo parar.

Mas quando este parou, Jason aproveitou a oportunidade para socá-lo no nariz e o filho de Hefesto caiu zonzo no chão.

Quando seu raciocínio começou a voltar ao normal, Leo se viu em uma cama. Ao lado do rapaz, Piper estava sentada bem no cantinho da maca, passando um pano com gelo em seu nariz ensangüentado. Ele ouvia as vozes irritadas de Dionísio e Quíron, mas já estavam se distanciando.

-PIRRALHO – berrou Dionísio irritado.

Leo percebeu que Piper estava séria e quando esta pressionou com mais força o nariz dele, o garoto notou que era com ele que estava sentindo-se enraivecida.

-Piper – chamou quando ela se levantara para ir embora. A garota parou e sentou-se de novo ao seu lado enquanto ele também se sentava – O que foi?

-Como assim o que foi? – perguntou raivosa e ele tremeu de medo – Por que fez isso, Leo?

Quando ele ia responder, ela o interrompeu e a garota não fazia idéia de como suas próximas palavras iriam magoar aquele coração de menino.

-Olha... – ela pôs as mãos nas têmporas, deixando nítido que não queria ouvi-lo – Eu simplesmente não acredito que você fez isso! Eu abro meu coração para você durante uma noite inteira e no dia seguinte você resolve bater no garoto que eu amo! Eu sei que você adora chamar atenção das formas mais ridículas e imprevisíveis, mas será que não podia, uma vez na sua vida, tentar não querer tanta atenção? Sei que filhos de Hefesto não são muito sociáveis; sei que você não é muito sociável, mas aprenda a controlar esse seu gênio! É irritante, sabia? Pelo menos, tente não se mostrar de forma tão exibicionista! Você sabe que eu detesto isso, sabe que não vale a pena.

Ela soltou aquelas malditas palavras meio que sem pensar. Ainda estava nervosa por ter visto o amigo com o rosto ensangüentado e até brigara com Jason por causa disso. Brigara com Jason! Ela simplesmente gritara com o garoto que amava!

Quando Piper respirou mais calma e resolvera encarar Leo, se arrependera imediatamente do que havia dito, pois o garoto estava boquiaberto, os olhinhos brilhando de lágrimas, sem derramar nenhuma e a pele pálida como gelo.

-Leo? – chamou Piper desconcertada.

Então a expressão do rapaz mudou... Mudou de uma forma que Piper nunca tinha visto em toda sua vida. Era uma expressão fria, misturada com dor; ódio, misturado com sofrimento e raiva profunda misturada com tristeza.

-Então... – a voz dele também estava ríspida – Você acha mesmo que bati em Jason para chamar atenção?

Piper estava com o coração acelerado. Por que estava com medo? Era apenas Leo... Apenas Leo e ela sabia como controlá-lo. Mas as mãos dele estavam fechadas em punho como se ele estivesse se esforçando para não destruir toda a enfermaria.

Ela ficou calada, não soube o que responder.

-Ontem à noite, você perguntou se não haveria um único rapaz que te amava – agora duas gotas de lágrimas caíam dos olhos dele – E sei que um ama... Porque esse cara sou eu! Sofro toda vez que te vejo chorando; sofro toda vez que olha para Jason de uma forma que eu daria um braço para que olhasse para mim; sofro quando se encolhe em meus braços e não posso beijá-la; sofro por você nunca me entender de verdade e eu sempre entendendo-a. Sofro porque não posso lhe contar meus segredos, mas você pode. Sofro por você de tantas formas que sofro só de pensar em quanto eu sofro.

Ok, pensou Piper depois de ouvir aquela confissão do amigo, Hã?

-Leo... Eu...

Mas ele jogou o lençol com manchas de sangue para longe e levantou-se para ir embora. Correu para longe dali, deixando Piper sozinha, olhando bobamente para o lugar onde outrora estivera o amigo.

Os dias que se seguiram foram os piores da vida de Piper, literalmente. Depois da breve, mas intensa discussão com Leo, o rapaz havia parado de falar com ela. Nem sequer a olhava.

No sexto dia (e Piper já estava com uma aparência de uma esposa rejeitada), ela estava passando de seu chalé para o banheiro, inconscientemente (afinal era um hábito e não algo em que ela pudesse dar realmente atenção), ela parou quase abruptamente quando Leo passou por ela, como ela sempre fazia quando o via desde a maldita conversa.

Mas o garoto simplesmente continuou conversando animadamente com uma filha de Apolo. Piper sentiu o coração acelerar e depois desacelerar de maneiras tão rápidas que logo depois sentiu-se nauseada.

Quando terminou de se arrumar, caminhou distraidamente à sua mesa no salão de refeição, olhando automaticamente para a mesa de Hefesto. Leo não estava lá.

-Piper... – uma irmã lhe chamou e a garota ergueu os olhos do prato para a linda moça à sua frente – Não gosto de me intrometer na vida de minhas irmãs, mas você está com uma aparência péssima!

-Ela já tem uma aparência péssima por natureza – comentou Drew, que infelizmente estava ao lado de Piper e ela revirou os olhos sentindo-se enraivecida.

 Piper ignorou a discussão de sapatos chiques ou atores bonitos que envolvia a sua mesa e continuou a olhar para a entrada do salão. Finalmente, Leo apareceu e ainda acompanhado pela mesma garota. Mesmo não sabendo o motivo, Piper sentiu uma onda de raiva preencher seu corpo e ela quase gemeu de dor, apertando o estômago, seus olhos estavam se enchendo d’água e ela se viu correndo para longe dali.

À noite, ela não conseguia dormir. Uma angústia enorme se apoderava de seu corpo e pensou ter ouvido a voz de Leo, sentido seu cheiro e observando seu sorriso. Então, depois da décima vez que se lembrara da discussão e que Leo havia dito que a amava, Piper chorou. E chorou a noite inteira, porque não tinha ninguém com quem dividisse sua dor.

Passaram-se mais dois dias e ela não agüentou mais. Estava cansada de ser ignorada pelo amigo e antes que o relógio marcasse seis horas, ela adentrou a oficina onde sabia que Leo estaria. E realmente estava! Fabricava com habilidosas mãos, um material desconhecido.

Piper caminhou em sua direção lentamente e afastou-se quando ele bateu com um martelo o metal quase frio, espalhando faíscas para todos os lados. Quando pareceu terminar o trabalho, ele tirou a máscara de proteção e enxugou a testa suada com a manga da camisa surrada. Piper se viu olhando para o garoto de cima para baixo, de repente achando-o muito lindo fazendo aqueles gestos que sempre fizera; gostou de vê-lo suado, melado com um pouco de graxa e os cabelos mais bagunçados que o natural; também adorou o modo como ele batia com o martelo no metal, os gestos dele eram tão perfeitos e minuciosos e curiosos.

Cada gota de suor que pingava do queixo dele se espalhava em sua roupa. Estava tão quente naquele local que Piper pensou que o garoto iria retirar a camisa. Corou ardentemente quando desejou no íntimo que ele fizesse tal gesto.

Quando Leo deixou a máscara de lado, notou a presença da garota. Os dois pareceram surpresos: ele por vê-la e ela por perceber que ele a notara.

Então, Leo mudou a expressão, tornou-se frio como naquele dia da discussão e Piper quase se desmanchou em lágrimas quando ele fez isso.

-O que deseja? – ele perguntou virando-lhe as costas e pondo a máscara em um gancho.

-Eu... – a voz dela engatou.

-Sim?

Ele não parava de circular de um lado para outro, evitando olhá-la. Perdeu-se duas vezes no mesmo lugar e Piper sentiu-se pior ainda quando ele fez isso. Ela queria ver aqueles lindos olhos dele e falar o que se passava em seu coração.

-Leo, por favor, olhe para mim! – ela pediu desesperada e ao som da voz entristecida da garota, Leo parou de andar quase escorregando. A voz dela chorosa, desesperada mantinha o mesmo efeito que tivera antes de ele confessar que a amava.

Os dois se encararam: olhos nos olhos.

-O que você quer? – perguntou ele no mesmo tom desprezível. Piper respirou fundo.

-Vim aqui... – ela soluçou e lágrimas caíram de seus olhos. Ela se amaldiçoou por chorar – Para lhe dizer o quanto estou arrependida e que não consigo evitar de ter você em minha vida!

Leo tentou, mas não conseguiu esconder a dor que sentia. Ele odiava tudo que fazia Piper chorar. Odiava a si mesmo, então.

-Não consigo mais – ela disse desesperada – Não consigo suportar vê-lo me ignorar. Sei que errei, eu nunca devia ter tido aquelas coisas horríveis para você. Foi no calor da emoção, juro! Você, de todas as pessoas que conheço é o que menos merece ser tratado assim por mim... Você é perfeito, Leo! Perdoe-me, por favor. Não quero mais ver você me olhando assim, não quero que você finja que não me viu, não quero que se afaste de mim. Leo, por favor, minha vida praticamente gira em você! Me perdoe, me perdoe, por favor...

Ela quase se ajoelhou aos pés dele, mas não conseguiu nem sequer reunir forças para isso. Apenas abaixou a cabeça em sinal de respeito, derramando malditas infinitas lágrimas e esperou que Leo aceitasse seu pedido de desculpas ou a mandasse ir embora para sempre.

Então sentiu duas mãos grandes e ásperas tocaram os dois lados de seu rosto. Ela ergueu-o confusa e viu o rosto de Leo pertinho do dela. Um rapaz sorridente e com brilhos de felicidade nos olhos.

-Eu perdoaria você mil vezes! – sussurrou – Ou mil vezes mil vezes!

E beijou-a nos lábios. Primeiro, um selinho tímido.Depois, um beijo aprofundado, cálido e tépido: perfeito.

Quando ele se afastou, ela estava sem palavras, ofegante é claro, mas sem palavras. Ele disse por ela:

-Então, estamos namorando? – perguntou e ela confirmou ainda sem conseguir pronunciar uma única palavra.

Ele sorriu e abraçou-a pela cintura ternamente. Ela aconchegou-se confortavelmente em seus braços, apoiando sua cabeça em seu ombro e sorriu satisfeita. Mal ela sentira os braços dele ao ser redor e a calma se apoderou de seu corpo. Ele lhe dava uma paz sem-igual e sempre lhe daria.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler^^