Fui em direção a Casa Grande, como Rachel me dissera. Cumprimentei Senhor D. com a cabeça, e como de costume, ele confundiu meu nome. Passei para dentro da sala colorida, e lá estavam Nico e Quíron conversando. Eles pareciam sérios, então resolvi ficar quieto enquanto terminavam. Assim que me viram, disfarçaram a tensão na voz e me cumprimentaram.
– Oh, olá Percy. Que bom que você está aqui, sente-se – Quíron disse, tentando soar calmo.
Fiz o que mandou, enquanto Nico simplesmente fingia que eu não estava ali.
– Eu, hã, Rachel me disse que o senhor precisava de mim.
Ele assentiu, e fez um gesto para que Nico falasse.
– Então, eu tenho algumas notícias não tão boas para te dar – Ele sorriu sarcasticamente – Meu pai me mandou uma Mensagem de Íris há alguns dias, dizendo que...
– Cronos havia ressuscitado Luke e agora estava o fazendo sofrer? Ah, eu meio que já sabia disso – O interrompi, e Nico me fuzilou com os olhos.
Ele voltou a falar, agora me ignorando.
– Bom, então isso muda as coisas. Agora é só decidir quem vai e...
– Percy, como você já sabia? – Quíron interrompeu Nico novamente, e eu segurei o riso.
– Annabeth teve um sonho. No começo achei que era só um sonho, mas, pelo visto, não é – Falei calmamente.
Quíron me olhava sério, quando Rachel entrou na sala. Havia trocado de roupa, o que significava que já tinha tomado banho.
– Oie, galera. Oráculo presente – Ela sorriu, mas quando percebeu que todos estavam preocupados, foi sentar em um puf no canto da sala. Pobre Rachel.
Nico se virou novamente para Quíron, me deixando de fora da conversa.
– Então, como eu ia dizendo, meu Pai ordenou que eu e mais alguém resgatasse Luke, de dentro do Covil de Cronos – Eu ri do modo como ele disse a palavra covil - Então que o levasse para o Mundo Inferior, para que ele possa o matar outra vez, ou algo do tipo. E que se formos obedientes ele ficaria muito grato. Caso contrário, nós estaríamos encrencados – Ele parecia indiferente com a parte de “o matar outra vez”. Fiquei com pena de Luke.
Tinha que admitir, não gostei do fato de Hades querer mandar em mais alguém além de seu filho.
Quíron estava chocado. Quero dizer, eu estava também. Afinal, quem iria, em sã consciência, até Cronos para resgatar um traidor? Tudo bem, Hades iria mandá-lo de volta para o Tártaro, mas mesmo assim teríamos que nos esforçar, coisa e tal.
Rachel foi a primeira a falar.
– Mas... Matar Luke? Não foi ele quem salvou o Olimpo? Hades devia ter vergonha de falar uma coisa dessas! – Ela falou, e a luz fraca que estava pendurada no teto piscou algumas vezes.
– Quíron, com todo respeito, mas isso é loucura! Não conte comigo pra ir salvar ele. Se fosse por Luke, eu já estaria morto, então acho que não seria inteligente ir até ele.
Ele parecia atônito.
– Bem, então receio que terei que convocar outras pessoas para ir nessa missão. Mas antes precisamos saber a profecia. – Ele olhou na direção do oráculo.
Rachel se levantou, uma névoa verde começou a sair de sua boca, e então sua voz pareceu ter sido triplicada.

“Três meios-sangues serão convocados,
A salvar um antigo traidor
Irão levá-lo a morte certa
Porém, em um ato de coragem
O escolhido irá salvá-lo”

Com ou sem rima, eu não tinha entendido nada.
Aquele não era o meu destino, portanto resolvi sair de fininho enquanto Quíron não estivesse olhando. Eu não queria salvar Luke, mas também não queria levá-lo para a morte. Então, decidi ficar no Acampamento, longe de perigo. Ah, e com Annabeth.
Na hora do jantar, todos os campistas estavam se servindo no pavilhão, inquietos, esperando pela convocação de quem iria à estúpida missão.
Os semi-deuses conversavam sobre coisas aleatórias, como os treinos estavam puxados e a preparação de um baile secreto.
Quando as pessoas já haviam sentado em suas mesas, Quíron explicou o que seria feito. Dos 400 campistas que estavam super entusiasmados, sobrou somente uma pessoa realmente disposta a ir.
– O quê? Não, não, não. Você não vai, está me ouvindo, Annabeth? – Eu estava praticamente pulando em seu pescoço. E ela nem parecia me ouvir.
– Percy, não se trata de você. Eu vou e pronto. E, aliás, pelo que eu me lembre, você não manda em mim – Ela disse, se defendendo. Senti meu rosto avermelhar, todos pareciam estar rindo da minha cara.
– Mas Clarisse pode ir, não pode? Acho que ela daria conta do trabalho melhor que você – Murmurei, procurando por ela na multidão.
Uma voz a fundo gritou algo como “Nunca mexeria um dedo sequer para salvar Luke.”.
- Quíron, poderia falar para Annabeth que não é seguro ela ir? Por favor – Supliquei. Minha namorada me olhou com raiva. Puxei seu braço e fomos andando até a praia. Não pude deixar de notar como seus olhos ficavam lindos á luz da lua, que, por sinal, estava gigante aquela noite.
Connor Stoll gritou pervertidamente “Ei, não se esqueçam que aqui é proibido amassos!”
Eu ri, e isso fez Annabeth dar um meio sorriso. Mas então, o clima ficou sério novamente.
– Olhe, eu sei que Luke é muito importante para você, mas eu não posso deixar você ir até ele e depois ter que ver ele sendo mandado para o Tártaro! Não quero que você sofra mais do que já sofreu. Por favor, fique - Peguei em suas mãos e olhei no fundo de seus olhos cinzas.
– Percy, eu entendo sua preocupação, mas preciso ir. Luke só confia em mim, e eu sei que posso fazer Hades mudar de idéia. Por que não dar a ele mais uma chance?
– É, tem razão, por que não dar mais uma chance ao cara que quase destruiu o Olimpo e os Deuses? - Revirei os olhos - Eu sei como Hades é. Você tem que o fazer jurar algo pelo rio Estige, mas por que ele faria isso? Quer dizer, por que ele salvaria Luke? – Joguei as palavras rapidamente. Ela sorriu.
– Pelo simples fato de que eu tenho uma coisa muito cobiçada por ele – Annabeth levantou as sobrancelhas de forma convencida. Eu ri.
– Ah, e eu posso saber que coisa super cobiçada você tem? – Ela balançou a cabeça negativamente.
– Você pode descobrir – Ela parou para olhar fundo em meus olhos – Se for comigo.
Bufei. Coloquei minhas mãos em sua cintura, e as suas pousaram delicadamente em meu pescoço. Talvez em uma forma de dizer “sim”, eu a beijei. Nossos lábios se encostaram, fazendo que nossos peitos ficassem colados. Ela prendeu seus dedos e meu cabelo, me puxando mais perto. Ficamos alguns instantes naquela posição, eu podia escutar os murmurios do pavilhão, alguns campistas mais novos emitindo barulhos de repugnancia e algumas filhas de Afrodite comemorando, mas então Quíron pigarreou. Automaticamente nos afastamos. Annabeth ficou corada, então peguei em suas mãos, fazendo-a relaxar. Fomos lentamente andando até o local, como se nada tivesse acontecido.
– Hã, bem, então eu acho que vou. Annabeth me convenceu – Revirei meus olhos, e alguns campistas riram. Quíron assentiu, imaginando o por que.
Eu sentia que precisava protegê-la, então seria obrigado a me juntar à missão idiota “Salvar Luke”.
Arrumei minhas coisas (dracmas, comida, dinheiro humano, água, remédios, etc.) em uma mochila e me deitei.