Eu a observava ler seu livro pelo canto do olho, enquanto meu rosto permanecia virado para “Os grandes feitos de Atena”. Annabeth havia me obrigado a ir junto com ela á Biblioteca. Eu, particularmente, odiava ler. Talvez graças ao meu déficit de atenção, ou só achava entediante.
– Sabe, eu realmente gostaria de estar fazendo qualquer outra coisa. – Falei.
Annabeth nem pareceu ter escutado, porém todos olharam pra mim e emitiram um “shiu!” mal-humorado.
Levantei e fui dar uma volta. Sentei em um banco, voltado para o alfasto, com a biblioteca atrás de mim. Fiquei observando as pessoas andando, e pensando em quanto minha vida mudara desde a batalha contra Cronos, há um ano. Sem profecias. Nada diferente havia acontecido. Tinha que admitir que agora eu vivia grudado em Annabeth, mas eu já fazia isso antes, inconscientemente.
A porta da livraria abriu, trazendo o vento gelado do ar condicionado em minhas costas. Ela sentou na grama ao meu lado.
– Por que você saiu? – Falou, sem muito interesse.
– Não estava nem metade do livro, e digamos que eu não sou muito ligado a essa coisa de ler. – Sorri.
Annabeth assentiu e voltou seu olhar para frente.
– E você, por que saiu?
– Ler sem você me encarando não tem graça – Ela disse, escondendo o riso.
Eu corei, e respondi algo inteligente como “Ahm.”
Ficamos algum tempo ali, o que me pareceram horas. Annabeth encostava sua cabeça em meu ombro, o que não era confortável, porém ela parecia estar bem naquela posição. Nem ousei me mexer. Então, eu escutei um ronco baixinho e olhei para o lado.
Ela estava dormindo. Levantei com muito cuidado e a peguei no colo. Sua pele parecia estar congelando, portanto quando chegamos ao carro, tirei meu moletom e a cobri. Quando me dei por satisfeito da forma como havia posto Annabeth deitada no banco de trás, liguei o ar quente e dirigi alguns minutos até o Acampamento.
Assim que já podia ver Peleu descansando na Colina Meio-Sangue, algo pulou em cima do capô do carro. Praguejei em grego e coloquei a cabeça para fora da janela. Vi de relance uma criatura que já tentara me matar diversas vezes: o Minotauro. Saí do carro e investi Contracorrente no monstro.
Sua visão nunca fora boa, porém ele possui um olfato aguçado. Sentiu meu cheiro e desviou do ataque, batendo em meu braço. A espada voou a alguns metros longes, me deixando vulnerável. O Minotauro foi rápido, empurrando-me contra uma árvore e pressionando seus chifres em torno de meu pescoço.
– Ah!– Tentei gritar, sem sucesso graças a minha falta de ar. Minha visão foi se tornando turva e fui perdendo meus sentidos. Meus músculos se tornaram ridiculamente fracos.
Mas, quando eu estava quase desmaiando, algo acertou o monstro pelas costas. Ele virou poeira dourada e eu caí no chão.
Senti vagamente uma pressão no lado esquerdo de meu corpo, e depois eu apaguei.
No dia seguinte, acordei em meu chalé com muita dor de cabeça.
Quando levantei percebi que estava com pijama. Estranhei, mas dei de ombros, colocando a camiseta do Acampamento. Sai com os olhos semicerrados por causa do sol. O dia estava lindo, podiam-se ver os campistas treinando, tomando café ou somente conversando. Fui em direção a mesa de Poseidon, servi-me e joguei algumas uvas na fogueira. Vi pelo canto do olho Annabeth andando a minha mesa. Ela sentou delicadamente em minha frente, e me observou enquanto comia algumas de minhas panquecas. Confesso que me senti um tanto desconfortável, afinal eu não sabia como comer de modo que não ficasse totalmente sujo.
– Está se sentindo melhor? – Annabeth murmurou, olhando em meus olhos.
– Só com um pouco de dor de cabeça, mas nada que um pouco de descanso não resolva. – Sorri. Eu gostava quando ela se preocupava comigo.
– Por um acaso você se lembra do que aconteceu ontem? – Ela comentou, pegando um morango de meu prato.
– Me lembro de ter enfrentado o Minotauro. Ele estava me empurrando contra a árvore e Contracorrente estava longe de mim. Não sei quem me salvou. – Disse, sorrindo. Ela começou a rir.
– Cabeça de Alga – Começou, mordiscando a fruta - Você sabe muito bem que fui eu quem matou ele.
– Tecnicamente – Falei, mastigando os ovos - Monstros não morrem.
Eu fiz uma cara séria, porém era impossível não sorrir ao ver Annabeth feliz.
Ela revirou seus olhos cinza.
– De qualquer maneira – Continuei – Muito obrigado.
Ela deu de ombros, e um pensamento me fez corar de imediato.
– Depois que eu desmaiei, como foi que você me levou até o chalé? – Perguntei, fingindo não ter interesse.
– Eu fui até a Casa Grande pedir ajuda, então Quíron o levou até lá. Simples. – Ela ergueu as sobrancelhas, claramente estranhando minha pergunta.
– Então como eu acordei de pijama, com minhas roupas dobradas em cima da cama? – Sorri, mas depois me arrependi de ter comentado. Ela desviou o olhar e ficou totalmente envergonhada.
Decidimos que era hora de realizar as tarefas, portanto Annabeth foi dar as notas de organização para os chalés e eu fui treinar. Pratiquei com a espada, dei comida e brinquei com sra. O’Lary. Eu ia em direção ao chalé de Annabeth lhe convidar para a fogueira, mas desisti. Ela provavelmente ainda estaria se recuperando do choque de ter me trocado noite passada.