“Eu estava numa campina, vestindo um kimono branco, com flores de cerejeira, ao meu redor, havia muitas cerejeiras, sobre a grama, suas pétalas caídas, sobre a neve, tudo a meu redor possuía as cores do kimono. Ouvi passos atrás de mim, porém, quando me virei, estava caindo. Num buraco fundo e escuro. A serpente, que me rodiava , apertava-se contra meu corpo, até perceber que estava tentando me salvar. Eu estava com medo, assustada, e, acho que ele percebeu, porque quando conseguiu me envolver finalmente, ele disse de alguma forma:

–Não tenha medo. Estou com você. Não tenha medo, Chihiro. Eu estou aqui. Sempre.

–Quem é você? – sinto seus lábios em minha testa , e logo depois ouvi a janela se fechando.”

Acordo de repente, chorando e apertando meu travesseiro.

–Você está aí?! – Grito sem motivo aparente. – Você disse que estaria sempre aqui! – Continuo gritando coisas do tipo.

Preparo-me para esperar uma hora pelo sermão de Sayu. Passadas duas horas, percebo que nada acontece, preocupada, resolvo ligar para Tori e saber o que está acontecendo. Como ele não atende, ligo para Seiji. Percebo que são seis horas da manhã.

–Oi, Chihiro? Cadê você? –Seiji parece preocupado.

–Em casa, porque? O que houve?

–A Takara e o Aeiji – Sua voz era cheia de desespero.

–O que houve? – Comecei a ficar aflita. – Responde! – Gritei.

–Eles sofreram um acidente, parece que foi grave. Tá todo mundo aqui, a gente tentou te ligar, mas você não atendeu. – Ele começou a chorar.

–Calma Seiji, eu estou indo até ai. Me espera.

–Tá bem. – Ele respondeu desligando.

–Yoko-Chan ! – Chamei nossa “assistente pessoal” torcendo para que estivesse acordada.

–Sim Chihiro-Chan?

–Preciso sair – Eu disse enquanto me arrumava. Uma calça jeans simples, uma camiseta verde e branca larga, jogada no ombro direito, Cabelo preso, e all star cano curto preto. Desci as escadas correndo.

–O que houve Chihiro-chan? – Perguntou Yoko.

–Um casal de amigos meus sofreu um acidente, e eu tenho que ir vê-los no hospital.

–Certo – Ela respondeu – Você não vai tomar café?

–Não dá, dependendo da hora que eu voltar eu como em algum lugar. Você toma café.ok?

–Ok. Boa sorte.

Enquanto ia até o hospital no taxi, pensava que, parte boa de ter a Yo-Chan como faxineira, é que ela é jovem, e entende todas as necessidades. E está sempre disponível.

Chegando o hospital perguntei à recepcionista onde estavam todos, e segui o caminho que me foi sugerido.

No final de um corredor, encontro Seiji sentado junto com seus pais, e nossos amigos. Koori chora abraçada com sua mãe. Seiji, com os olhos vermelhos, se levanta e me puxa pela mão até o estacionamento do hospital.

–Chihiro... – Ele me abraça.

–Calma. Vai ficar tudo bem. – Digo abraçando-o de volta. Sinto suas lágrimas em meu ombro descoberto.

–A gente tá aqui há horas e ninguém teve notícias.

–Eles vão ficar bem. Agora, se acalma, e me conta o que aconteceu.

–Eles passaram a noite bebendo lá em casa, e depois saíram com o carro. Eles bateram e o carro capotou – ele estava nervoso, e chorava cada vez mais.

–Calma... – Abracei-o, encostando sua cabeça em meu ombro e acariciando seus cabelos – Vai dar tudo certo.

–Ninguém sabe se ele vai sair dessa.

–Calma – acariciei seu cabelo – Vai ficar tudo bem.

“Chihiro!” ouvi sua voz de dor “Chihiro! Não!”.

Senti os braços de Seiji envolverem minha cintura. Tentei me soltar, porém ele era muito forte.

–Seiji, o que você...

Quando ele levantou a cabeça, percebi que Seiji iria tentar me beijar, então, empurrei seu peito e dei um passo para trás.

–Chihiro – ele segurou minha mão, e me puxou, tentando me beijar novamente. Dei um tapa em seu rosto.

–Nunca mais faça isso!

–Chihiro... Eu...

–Me deixe em paz! – peguei minha bolsa no chão e saí correndo.

Percebi que Seiji me seguia. A voz que falara comigo. Era o menino do meu sonho. Como isso era possível?

–Chihiro! – a voz de Seji ecoava pelo corredor

– Me deixa em paz! – gritei.

Chegando à sala de espera, percebo que Koori melhorou um pouco.

–Chihiro – ela disse abraçando-me – a Takara... Ela tá bem...

–Graças a Kami – disse aliviada –O que houve com ela?

–Ela só quebrou alguns ossos, já o Aeiji, ninguém teve notícias ainda.

–Ainda bem. O que você acha que vai acontecer com ele?

–Não sei. Mas eu estou preocupada com o Seiji.

Ficamos algum tempo esperando. Koori entrou para visitar a irmã.

Depois de muita espera, finalmente tivemos notícia do garoto.

–Seiji Nakamura? – O médico entrou – Têm um segundo?

Depois de mais algum tempo, ele volta com a notícia.

–O que houve? – perguntei.

–O Aeiji... Ele... Ele nunca mais vai... – Seiji estava em choque.

–O que?

–Ele quebrou a espinha. Vai ficar paraplégico.