Possessão escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 10
Capítulo 10




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/191852/chapter/10


O clima no colégio estava muito ruim. O medo reinava por todos os lados e muitos alunos se recusavam a ir para a escola enquanto tudo não fosse resolvido.

- Olha, é muito importante que você diga a verdade sobre o que aconteceu. Sua amiga foi espancada brutalmente e qualquer pista que você puder dar será de grande ajuda.

Denise voltou a chorar compulsivamente enquanto seus pais tentavam tranqüilizá-la. Eles estavam na sala do diretor, onde alguns policiais tomavam nota do seu depoimento.

- É que a Carmen, sabe... ela queria fazer uma, tipo assim, brincadeira.
- Que brincadeira?
- Acontece que a Mônica tinha pintado um quadro muito bonito na aula de educação artística e a Carmen ficou com raiva.
- Por que ela teria ficado com raiva disso? – o diretor perguntou, interessado.
- Porque ela anda de picuinha com a Mônica. Isso vem de muito tempo, só que piorou porque as duas gostam do mesmo rapaz, o Toni.
- E o que sua amiga queria fazer?
- Ela disse que ia jogar tinta no quadro da Mônica só de sacanagem.
- Minha filha? Isso é um absurdo!
- Por favor, senhora Frufru, tente se acalmar ou pedirei que deixe a sala.

A mulher tentou ficar calma, apesar da indignação.

- E você, por acaso tinha ido com ela?
- Não. Eu fui pra biblioteca. A idéia era ela ir para a sala de arte escondida e depois ir correndo para a biblioteca e a gente ia falar que estava lá o tempo inteiro procurando um livro.
- Ah, sim. Você ia se servir de álibi para ela. Quando viu que ela estava demorando, você não ficou preocupada?
- Mais ou menos. Eu achei que ela tinha esquecido, sei lá, ou então ido para outro canto. Quando o sinal bateu, eu fui pra sala achando que ela ia estar lá numa boa.
- Mas ela não estava. Ainda assim você não tentou procurar por ela?
- Tentei ligar para o celular, só que ninguém atendeu. E o professor tinha chegado, daí não dava mais pra sair.
- Entendo...

_______________________________________________________________

- Olha, eu sei que a Mônica é amiga de vocês, mas acho que deveriam falar a verdade. O que aconteceu hoje foi muito grave.
- Mas a gente tá falando a verdade. A Mônica tava no banheiro nessa hora. Ela disse que estava se sentindo mal e ficou ali por um tempo.
- E vocês?
- Ficamos esperando na porta, do lado de fora. Se ela tivesse saído, a gente teria visto na mesma hora, só que ela não saiu.
- E quando ela saiu, a gente foi com ela pra sala.
- Bem... confesso que a situação está meio complicada porque a amiga de vocês tem um certo... histórico de brigas na escola.
- Olha, eu sei que a Mônica é meio esquentada, mas ela nunca espancou ninguém daquela forma!

Depois que as moças saíram, um funcionário bateu na porta.

- Com licença?
- Pois não?
- Eu já consegui aquelas imagens da câmera de segurança que o senhor pediu.

Ele logo se interessou.

- Alguma coisa de interessante?
- Sim senhor, vou mostrar.

O rapaz colocou o pen drive no computador, onde tinha o vídeo gravado durante a hora do recreio e mostrou as imagens para o diretor.

Primeiro, Carmen entrando na sala de artes. Depois uma garota de cabelos bem compridos e usando um vestido azul-escuro. Depois de poucos minutos, somente a moça misteriosa tinha saído ninguém mais tinha entrado ali antes de a professora chegar e encontrar a Carmen semi-morta.

- Dá para melhorar a imagem para a gente ver melhor o rosto dessa moça?
- Vou tentar ampliar, mas não dá para ver com todos os detalhes.

Ele ampliou a imagem o máximo que pode sem comprometer tanto sua qualidade e o diretor pode ver um pouco melhor o rosto da moça. Não tinha nada a ver com a Mônica. Uma pergunta foi respondida: a Mônica não tinha nada a ver com aquilo. Mas outras foram levantadas. Quem era aquela moça e por que tinha atacado Carmen daquela forma?

- E tem mais uma coisa. É sobre o caso do rapaz que foi atropelado no estacionamento.
- O que tem ele?
- Eu consegui algumas imagens daquele dia também. Veja.
- É a mesma moça! – não havia duvidas de que era a mesma pessoa, embora com roupas mais ousadas. Certamente fora para atrair o rapaz que tinha fama de ser paquerador.
- Acho que já temos nossa psicopata.
- Será que ela é aluna desse colégio?
- Só há uma forma de saber. Temos que perguntar aos outros alunos.
_______________________________________________________________

A polícia andava entre os alunos com um retrato impresso mostrando a melhor imagem que as câmeras de segurança tinham conseguido capturar. Ninguém conhecia aquela moça, mas pelo menos aquilo fez com que ninguém mais suspeitasse de Mônica.

Todos estavam abalados com o que tinha acontecido com Carmen e as meninas tinham medo de andarem sozinhas. Muitas procuravam andar com a Mônica por se sentirem seguras. Com alguém forte como ela por perto, nenhum psicopata tentaria atacar.


Bianca não pode deixar de achar a situação engraçada. “Bando de tolas... elas nem imaginam que fui eu quem fez tudo aquilo. E até que foi bom!” de uma forma que ela não sabia explicar, tinha sido bom espancar aquela garota irritante. Foi como se sua raiva, acumulada durante décadas, escoasse à medida que ela lhe dava socos e pontapés. No fundo, ela até torcia para que mais alguém lhe provocasse só para lhe dar motivo. Era uma boa forma de desestressar. Bianca também estava aliviada por saber que ninguém mais desconfiava dela. Andar pelo colégio usando sua forma original tinha sido excelente idéia.

Ela voltou a olhar o calendário que estava em suas mãos. Era sexta-feira e ela sabia que no dia seguinte ia poder se encontrar com seu Toni. Ela mal podia esperar.

- Oi, Mônica, beleza?
- Hum? Ah, oi Cebola.

O rapaz ficou sem jeito com a forma seca com que ela lhe cumprimentou. Por acaso ela estava cega ou não tinha percebido a Irene ao seu lado? Ele imaginou que se andasse com Irene por um tempo, a Mônica não ia conseguir ficar quieta já que sempre teve certa antipatia por ela. Mas nada aconteceu.

O rosto de Mônica sequer se alterou, era como se aquilo não lhe fizesse diferença alguma. Nenhuma emoção, nenhum sinal de ciúme, nada! Aquilo era preocupante.

- Bom, a gente precisa ir agora. Temos uma pesquisa muito importante para fazer, né Irene?
- Vamos, Ce!

Os dois se afastaram e Bianca voltou os olhos para o calendário, pensando em como o tempo ia custar a passar até que chegasse o momento de se encontrar com Toni fora da escola.

- Mônica, por acaso você não ficou incomodada não?
- Eu? Incomodada com o quê?
- Com o Cebola, criatura! Ele está andando pra cima e pra baixo com a Irene e você nem aí?
- E por que eu me importaria? É até bom que ele arrume outra pessoa e assim pare de tentar se colocar entre Toni e eu.

Magali ficou olhando para ela, com os olhos parados e a boca aberta. Certo, aquilo estava ficando assustador demais para o seu gosto.

_______________________________________________________________

DC voltou a atualizar suas anotações acrescentando a informação que ele tinha conseguido há poucos minutos atrás com o Jeremias. Era o detalhe que lhe faltava.

“Então o Toni se desentendeu com o Titi... interessante.” Parece que isso também se encaixa muito bem!

Depois daquilo, todos os casos passaram a ter algo em comum e aquela relação entre eles o estava deixando assustado. Talvez fosse hora de procurar ajuda.
_______________________________________________________________

- Ela disse mesmo isso? – Cebola bradou, furioso, enquanto socava uma parede com as duas mãos.
- Disse... olha, Cebola, é a ultima vez que eu faço isso, tá bom? Eu não gosto nem um pouco desse leva-e-traz.
- Tá, beleza. Acho que não vai mais precisar mesmo.

Ele fazia grande esforço para não chorar, mas estava difícil segurar as lágrimas. Com isso, Magali resolveu deixá-lo sozinho e assim ele permitiu que as lágrimas corressem. Então era isso, Mônica não o amava mais! O que tinha acontecido para que ela mudasse tanto? Por acaso ele fez algo de errado? Ou ela teria cansado de esperar que ele a derrotasse e por isso resolveu ficar com o Tonhão?

Não havia como saber. Cebola estava atrás de um muro que ficava no estacionamento. Era hora do recreio e ele não queria ver e nem falar com mais ninguém, nem com o Cascão. De que ia adiantar? Ninguém podia ajudá-lo naquela hora. O rapaz sentou-se no chão, apoiando as costas no muro e deu livre curso aos pensamentos, tentando encontrar alguma resposta para aquela loucura.

Como era possível uma pessoa estar de bem com ele num dia e no outro nem notar mais sua existência? Se eles tivessem brigado, discutido ou coisa parecida, pelo menos ele teria alguma explicação. Mas não, eles não brigavam há tempos. Tudo parecia tranqüilo.

Uma depressão forte foi tomando conta dele. O que fazer sem ter a Mônica por quem lutar? Ela era sua motivação para conquistar o mundo. De que adiantava conquistar o mundo se no fim ele acabaria sozinho? Sem ela, tudo perdia a graça.

- Que patético... sai dessa, cara!
- Hã? – ele levantou a cabeça e enxugou as lágrimas o mais rápido que pode.  – o que veio fazer aqui? Tirar onda com a minha cara?
- Você espera mesmo isso de mim? É com muito prazer que eu te decepciono. Não, eu não vim tirar onda com a sua cara.

DC sentou-se do lado dele e ficou olhando para frente com o olhar perdido.

- Tem alguma coisa de estranho com a Mônica.
- Agora você viu isso?
- Não, seu mané. Eu já tinha notado isso desde aquele dia em que ela deu bola pro Toni. Sei lá, é como se ela nem fosse a Mônica de verdade.
- E quem seria? Algum clone maligno vindo de uma dimensão paralela? Viaja não, cara!
- Eu não sei explicar o que aconteceu com ela, nem porque essa mudança. Só sei que ela não é a Mônica que conhecemos.
- E daí?
- Daí que a gente deveria pelo menos tentar saber o que está acontecendo. Essa mudança não é normal e você deveria ter percebido isso ao invés de ficar com esses planinhos bobos.

Cebola olhou para o amigo, irritado. O que ele estava querendo dizer com aquilo? Mônica tinha mudado, preferia o Toni e não havia nada que ele pudesse fazer.

- E você vai desistir dela assim tão fácil? Sem nem ao menos saber o que aconteceu? Vai simplesmente deixar que ela fique com outro e ponto final?
- E o que eu posso fazer?
- Quanto a você, eu não sei. Eu vou tentar descobrir o que há de errado com ela. Ninguém muda assim, da noite pro dia. E tem outra coisa que tá me preocupando muito.
- O que? – ele começou a se interessar.
- Os acidentes que estão acontecendo nessa escola. Não reparou que tem uma relação entre eles?
- Eu não vi nada em comum.
- Há uma coisa em comum sim. A Mônica.
- Tá doido, véi??? – ele perguntou, escandalizado. Por mais que estivesse magoado com a Mônica, acusá-la daquelas coisas era um absurdo sem tamanho.
- Não sei se você reparou, mas todas essas pessoas se desentenderam com a Mônica em algum momento.
- O Titi não!
- Ele se desentendeu com o Toni e do jeito que a Mônica anda de cabeça virada com ele, ela pode ter tomado as dores.
- Eu acho que você tá é caçando chifre em cabeça de cavalo! Além do mais, no caso do Titi e da Carmen eles até filmaram uma garota suspeita que não se parece nem um pouco com a Mônica!
- Mas pode ter alguma relação com ela.
- Fala sério! Você viajou legal na maionese!
- Elas devem ter alguma relação e eu pretendo descobrir.
- Seu traíra! Eu achei que você gostasse da Mônica!
- E gosto, muito mais do que você imagina. É por isso que eu quero descobrir a verdade: para poder ajudá-la. E você deveria estar fazendo o mesmo ao invés de ficar aí se remoendo todo por causa desse ciúme besta.

DC se levantou e saiu dali, deixando Cebola um tanto perturbado com tudo aquilo. Aquele sujeito só devia ter ficado maluco, não tinha como a Mônica ser responsável por todos aqueles incidentes.

Ou teria?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Possessão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.