Acordei totalmente descansada pela manhã. Tomei um banho demorado e coloquei um shorte de pano e uma camiseta estampada. Era sábado, finalmente. Isso me fez lembrar de que Kaique me chamara pra sair na noite anterior. Sorri me recordando disso...e depois ri alto quando me lembrei do tombo.

- Rindo sozinha? – Meu pai perguntou beijando o topo da minha cabeça - Bom dia.

- Bom dia, pai – Sorri e ignorei a sua outra pergunta. 

Ele não gostava que eu ficasse perto do Kaique, na verdade, ele não gostava que eu ficasse perto de garoto nenhum. Pra ele, eu tinha que me dedicar inteiramente e exclusivamente aos estudos. Como se fosse possível eu estudar mais. 
Subi para falar com a minha mãe sobre sair com o Kaique hoje, e é claro que eu não pude deixar de falar que a irmã dele também iria. De primeira minha mãe ficou um pouco receosa, mas ela sempre gostava quando eu ia me divertir. Então ela autorizou e eu a abracei.

Eshley

Depois descemos para tomarmos o café da manhã e em seguida me despedi do meu pai, ele iria viajar a trabalho hoje e só voltaria no fim da outra semana. Minha mãe foi com ele até o aeroporto e eu fiquei em casa. 
Fui pro meu quarto e liguei o rádio, coloquei meu DVD favorito e comecei a dançar. 
Sem querer, olhei pela janela e peguei o Kaique me olhando divertido. Eu senti minhas bochechas arderem de vergonha, ele deve estar pensando que eu sou louca ou alguma coisa do tipo. Desliguei a música e ri de mim mesma. Eu era tão preocupada com essas coisas. Quando olhei de novo, ele estava lá escrevendo alguma coisa.

''Você dança muito bem’’

Ele seguranva o riso enquanto eu lia. Eu escrevi de volta.

‘’ Não devia ficar olhando as pessoas em seus momentos pessoais.’’

Ele abriu um sorriso bobo.

‘’ Queria saber dançar assim :D’’

Eu mostrei a língua pra ele e ri, depois fechei a cortina.

Eu estava muito feliz com essa reaproximação de nós dois. Não sei por que, mas eu não estava tão tímida assim. 
Claro, quando ele sorria, me olhava ou me tocava, eu ficava feito um tomate. Mas isso era normal, eu já estava acostumada. 
Kaique sabia dos efeitos que tinha sobre mim, mas por ele não querer nada comigo, fazia de conta que não sabia dos meus sentimentos por ele.
Acho que a nossa amizade iria se fortalecer outra vez, quem sabe ficar até mais forte? Olhei no relógio e já estava no meio da tarde, eu tinha que escolher a roupa pra sair com a Mandy e o Kaique. 
Tirei todas as roupas do armário. Experimentar roupas é um saco, então liguei o rádio novamente e comecei a experimentar enquanto dançava e cantava.

Escolhi um vestido que ia até a coxa, ele era um rosinha bem claro, estampado com algumas flores. Penteei os cabelos e os deixei solto. Não passei maquiagem e coloquei um sapato fechado. 
A campainha tocou e eu fui correndo pra porta.

- Ei, ei...Vai tirar alguém da forca? Não corra, do jeito que você é, vai cair e se machucar.

- Ta mãe – Eu disse revirando os olhos – Já estou indo, deve ser o Kaique.

- Juízo – Ela disse séria.

- É o que eu mais tenho – Beijei sua bochecha e fui abrir a porta.

Kaique me olhou de cima a baixo me fazendo corar.

- Você esta linda.

- Obrigada – Sorri.

Eu sabia que não me vestia bem, mas aquela era a roupa mais ‘’normal’’ que eu tinha. 

- Vamos? – Ele disse.

Eu assenti e nós fomos para o carro. 

- Nossa, Mandy. Você esta arrasando! 

- Ah, Bella, você também – Ela riu.
Ela vestia um vestido com uma alsa e o cabelo estava preso deixando alguns cachos soltos.

- Vamos logo se não iremos chegar atrasados – Ela disse – Não gosto de chegar atrasada, todos ficam me olhando. Ainda mais quando a festa é com as pessoas da minha escola – Ela disse cabisbaixa. 

- Ei – Eu a cutuquei – Nada de tristeza, ok?

Ela suspirou.

- Ta bom.

Mandy entrou no carro e Kaique me olhou com um olhar de agradecido, eu apenas sorri. Ele não gostava de ver a irmã triste. Eu tinha um carinho especial pela Mandy, eu me identificava com ela, sabia das coisas que ela passava. Mandy era como uma irmã mais nova pra mim.

Chegamos a praia bem rápido. A festa era tipo um lual, a decoração estava incrível. O tempo estava fresco, não ventava muito. As luzes coloridas iluminavam o local, e o barulho das ondas dava um clima ainda mais especial a lugar. 

- Nossa isso aqui ta lindo – Falei ainda observando.

- Tem razão – Mandy falou – Olha, a Sara esta ali, eu vou lá ficar com ela.

Mandy acenou pra nós enquanto ia em direção a outra garota.

- Quer andar por aí? – Kaique perguntou se virando pra mim.

- Claro – Sorri.

Caminhamos em silêncio, mas era um silêncio gostoso, não incomodava. Sinceramente, eu não precisava de palavras, ele estava ali, comigo. 
Já tínhamos nos afastado bastante da festa, paramos e ficamos de frente pro mar. Me sentei e Kaique fez o mesmo.

- Faz tempo que eu não venho a praia – Comentei.

- Porque?

- Não gosto muito. Mas quando venho, é sempre à noite. Eu prefiro sabe, vir pra olhar o mar, as estrelas, ouvir o som das ondas quebrando... É relaxante.

Kaique não disse nada, eu o fitei e ele me olhou também.

- Que foi? – Perguntei.

- Você é diferente – Ele sorriu franzindo as sobrancelhas – Garotas da sua idade gostam de ir ao shopping, festas, zoar...E você gosta de vir a praia a noite, usufruir das maravilhas, gosta de ficar no seu quarto ouvindo música e escrevendo. 

- É...acho que sou diferente.

- Eu gosto disso – Ele disse agora olhando para o mar – Eu lembro quando você estava falando com a minha irmã sobre as garotas que só pensam em aparência...Sabe o que eu acho?

Eu fiz que não com a cabeça.

- Você tem toda a razão. 

- Beleza não dura pra sempre, Kaique – falei – Entre a beleza e a sabedoria, prefiro a 
sabedoria.

- Você é uma garota incrível, porque tem as duas coisas.

Meu coração parou de bater por alguns segundo e depois voltou ao normal. Eu sorri, não arrisquei dizer nem um ‘‘obrigado’’ pois não confiaria na minha voz. 
Bonita e inteligente.
Nunca pensei que ouviria um elogio desses do Kaique.
Eu abri a boca pra falar alguma coisa, mas ele continuou.

- Eu incentivo a Nicolly a estudar mais, mas como o pai dela é dono da escola, ela faz o que bem entende – Ele disse sem expressão.

Ele tinha mesmo que falar dessa garota justo agora? Mas que droga! Nicolly consegue estragar tudo mesmo sem estar por perto. Me levantei irritada e limpei a areia que estava em mim. Acidentalmente caiu no olho dele.

- Oh! Me desculpe – Eu disse abanando a mão, como se fosse adiantar de alguma coisa.

- Tudo bem – Ele falou tranqüilo com um olho aberto e outro fechado.

- Deixa eu assoprar – Falei colocando as mãos no rosto dele.

Assoprei bem devagar, estabanada como eu sou, poderia até cuspir nele.

- Assopra direito, Isabella. Assim a pedrinha vai achar que você esta brincando com ela!

Eu não pude deixar de rir.

- Se continuar reclamando, eu te deixo aí enxergando com um olho só e vou embora.

Ele riu e depois de alguns minutos a pedrinha saiu do olho dele.

- Sinto muito – Murmurei – Inconveniente é o meu sobrenome. 

Ele continuou rindo. Andamos mais um pouco por ali, jogamos conversa fora e já estava ficando tarde. 
Voltamos pra festa e comemos alguns salgados que estavam servindo. 
Ele me chamou pra dançar, mas eu preferi não arriscar. 
Ele riu e me zuou, dizendo que eu sabia dançar muito bem e me lembrou de hoje mais cedo quando ele me viu dançar – igual a uma lacraia – no quarto.

Decidimos que era hora de voltar, chamamos a Mandy que parecia ter se divertido muito. Ela perguntou aonde ficamos a noite toda e piscou pra mim. Eu balancei a cabeça negativamente, ela sabia que eu gostava do Kaique.
A viagem pra casa foi tranqüila e eu estava exausta. Mandy me abraçou e foi pro quarto. Kaique me levou até a porta de casa.

- Fora o inconveniente com a areia – Eu sorri – Me diverti muito.

- Eu também – Ele devolveu o sorriso – Nos vemos amanhã?

- Claro – Eu falei automaticamente. 

Não arrisquei um abraço, só sorri e desejei boa noite. Ele fez o mesmo e foi embora.