Chuva poderia ser escutada do lado de fora da janela. O céu agora tentava mostrar a sua raiva ao mundo com o som dos trovões e sua tristeza com aquelas gotas que caiam fluimente sobre o chão.

Havia uma pessoa a observar aquela fúria toda, tentando entender como a vida era cruel e miserável.

A única coisa que queria era ser feliz, com aquele que amava. Aquele que sempre o fazia sorrir, que sempre estava disposto a abrir seus braços para assim poder protegê-lo de lágrimas que teimavam em cair.

Mas agora não tinha mais esse abraço tão necessitado, e as lágrimas caiam dolorosamente por seu rosto.

-- Ruki... Está tudo pronto... Vamos?

Takanori fitou quem o chamou por um instante e novamente voltou a olhar a chuva. Seu olhar era vazio, seu sorriso, aquele que contagiava a todos, havia morrido desde o dia em que a noticia de um grave acidente havia chegado aos seus ouvidos.

Era pior, pois quem era o mais importante para o pequeno estava nesse grande acidente o fazendo ir correndo para o hospital.

Só que era tarde demais, sua morte chegou antes mesmo de poder se despedir do grande amor de sua vida, fazendo o desabar na ala de espera, onde o branco predominava.

Não conseguia acreditar, não poderia acreditar. Olhava para o médico esperando que aquilo fosse apenas uma brincadeira, mas não era.

Lágrimas de desespero tomaram seus olhos, fazendo sua visão ficar embaçada. Queria vê-lo, queria tocá-lo, queria pelo menos ter a chance de ver aquele rosto que tantas vezes o fazia sorrir abobado e pensar em como tinha sorte de ter uma jóia dessas só para si.

Com muito esforço o encontrou deitado em uma maca, a cor de sua face era de uma palidez morta. Havia arranhões em todo seu corpo comprovando o quanto sofreu no acidente.

O pequeno que estava ao seu lado, soluçava feito uma criança. Pegando em sua mão sem vida, a apertando como se aquilo o trouxesse de volta.

-- Por quê?... Por... que tinha que... Ir...

Não conseguia mais falar, mais e mais soluços era o que saia de sua boca. Ele havia perdido o significado de sua vida, havia perdido o chão, o rumo.

Ficou ali, sem poder dizer por quanto tempo até que sentiu alguém o tocando no ombro e ouviu uma voz carregada de carinho e pena.

-- Taka é melhor a gente ir. Vem...

Ruki não queria sair de perto do seu amado, mas não teve outro jeito. E como gesto de despedida beijou aqueles lábios frios.

-- Vou te amar para sempre.

Sorriu triste ao corpo a sua frente.

Essas lembranças sempre tomavam a mente do pequeno que ficava a fitar a chuva. Até que suspirou fundo e começou a caminhar para fora daquele apartamento no qual dividia com o dono de seu coração. Como eram boas as lembranças que viveram ali.

Ele sempre o enchia de carinhos, sempre o abraçava. Sempre o beijava, não importava onde estava.

Sempre estava por perto dizendo aquelas palavras doces que tanto amava. As frases que ele dizia sempre terminavam com um "eu te amo".

Mesmo quando brigavam por motivos bestas. Ah como sofria ficar brigado com ele. Muitas vezes seu orgulho não deixava com que pedisse desculpas. Então isso sempre sobrava para o mais alto. E ele sempre o fazia, sempre pedia perdão. Terminando a briga com beijos e carícias.

Ruki já havia saído do lugar onde alguns minutos estava, para ir a ultima vez que poderia ver e se despedir dele.

Cada passo que dava lentamente fazia com que sua dor aumentasse cada vez mais. Foi abraçado por vários amigos, ou até mesmo pelos parentes daquele que nunca mais voltaria.

Mas nenhum deles conseguiu animar o pequeno. Mas não tentaram muito, não hoje. Sabiam que não iria adiantar.

Afinal nem tinham a idéia da dor que estava no peito de Takanori, nunca poderiam entender por isso mesmo nem tentaram.

Todos estavam de preto, naquele local onde varias famílias e amigos haviam chorado por aqueles que eram especiais.

A chuva não dava trégua. Poderiam se ver vários guarda-chuvas apertos, todos se protegendo daqueles pingos pesados.

Menos um... Ruki não estava nem ai se iria se molhar. Não se importava mais com nada, só com aquele que se fora.

Jogando então uma única rosa sobre a terra molhada onde havia sido enterrado seu amado, seu coração e sua vida. Ele disse em quase um sussurro...

-- Por favor, nunca se esqueça de mim, pois nunca vou me esquecer de você. Meu eterno anjo.

Olhando pela ultima vez para a lápide contendo o nome Akira Suzuki, apenas uma lágrima naquele momento caiu de seus olhos se misturando com as gotas da chuva.

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