Tenho que entregar a versão final da música amanhã, ou melhor, mais tarde, daqui umas cinco horas. O sono aperta sem piedade.

Fico pensando em coisas aleatórias, analisando a eficiência — ou a falta dela —, de alguns itens de segurança em carros, como barreiras laterais nas portas, cintos de segurança e air bag.

Cá entre nós, estou chegando a uma crítica contra essas parafernálias. Acho que segurança é responsabilidade das pessoas, e não das máquinas. No tempo do fusquinha 79, que não passava de 80 por hora, tudo isto era desnecessário. 

Essa noite foi movida a estimulantes que comprei na farmácia e bastante café. Mas não tinha jeito, paquerei com o sofá e cochilei profundamente, o suficiente para sonhar com a cidade futurística dos meus sonhos.

Desta vez, em meio a uma confusão onde se via chamas e fumaça, máquinas inteligentes com enormes braços mecânicos trabalhavam empenhadas em desgarrar corpos do que parecia ser um acidente de automóveis.

Eu sabia que minha namorada não pertencia àquele mundo, mas tinha um sentimento que o corpo dela estava lá, sangrando em aço. Corri na expectativa de encontrar Liliane, mas o robô sem mandíbula agarrou-me pelo braço.  

Comecei a gritar e sua mão só apertava mais. Acordei num solavanco com  o braço completamente dormente. Tinha adormecido sobre ele.

Depois do susto, tomei uma ducha para continuar a jornada madrugada adentro. Bambeei diante da tela do computador e caí de cara no teclado, deixando entornar a caneca de café sobre ele.

A coisa foi feia, o teclado não queria mais funcionar. Tive de ir à casa de um amigo, em plena madrugada, pedir emprestado outro.

Prossegui forte e vi o sol surgir pela persiana. Chegada a hora da gravação, tive aquela sensação comum de que algo de errado aconteceria...

E ocorreu: eu não tinha nenhum CD! Decepcionado com a confirmação da minha suspeita, esperei a abertura da loja de informática da esquina às oito e quinze da manhã.

Depois de pagar o CD, segui correndo para a casa de Dom.