Na Paz Do Seu Sorriso escrita por judy harrison


Capítulo 4
Quando a razão vence o coração


Notas iniciais do capítulo

"Não preciso dizer o quanto te amo, mas o mundo não nos deixará ser felizes."



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Num taxi Bob estava a caminho da casa de Amanda. Havia saído sem seu carro para que Nancy não o visse.
Amanda já estava deitada quando bateram à porta.
Com um pequeno vestido que usava como camisola, ela abriu parcialmente a porta.
_ Bob? -  disse admirada Aconteceu alguma coisa?
_ Eu posso entrar? - Bob sorria. Ao mesmo tempo em que estava feliz em vê-la, estava com medo do que poderia descobrir.
Amanda o convidou para entrar. Ele fez o mesmo que seus irmãos e reparou logo nas coisas que ela tinha. Mas ele queria acabar logo com sua agonia.
_ Me desculpe por chegar a essa hora.
Bob falava em inglês. E ela fez o mesmo.
_ Tudo bem. Sente-se.
Amanda sorria, ajeitando seus cabelos espalhados no ombro. Ele a admirava e reparava em seu joelho à mostra, mas tinha que se concentrar.
_ Eu precisava falar com você.
Seu tom de voz era o mesmo que John usou e Amanda teve certeza de que ele sabia sobre seu segredo.
Ela o encarou com seriedade e Bob se lembrou do beijo que deu, do gosto que sentiu e do fogo que acendeu em seu coração. Ele não queria que aquilo acabasse. Lamentou.
_ John me contou que você tem um segredo. Eu queria que você me contasse o que é.
Amanda virou o rosto, sua boca não queria abrir, ela não queria destruir aquilo tudo que conquistou, não queria perder Bob.
Com os olhos fechados, ela procurava coragem para falar, mas não achou. Então disse:
_ Me demita! - seus olhos se encheram de lágrimas.
_ Por que eu faria isso? Tem a ver com o trabalho?
_ Me demita!
Ela saiu de sua frente e abriu a porta, queria que ele fosse embora.
Bob se levantou e ela lhe deu passagem, mas ele a envolveu em seus braços e empurrou a porta.
_ Eu não vou embora! Vou ficar com você!
_ Bob, me perdoe!
_ Como posso perdoar você se não sei o que fez?  - ele ainda estava abraçado a ela - Tudo que sei foi que me fez amar você! -  ele juntou seu rosto ao dela e sussurrou em seu ouvido -  Diga-me que esse segredo não vai separar agente!
_ Eu não sei! -  ela o apertava contra seu corpo, como se não quisesse deixa-lo escapar. Sentia um arrepio, como uma corrente elétrica passando por sua espinha.
Bob beijou sua boca com vontade, estava tão confuso que queria possuí-la antes de perdê-la. Sentindo o mesmo desejo, Amanda quase se entregou, mas em sua mente vieram as palavras de John.
_ Nenhuma relação é sólida se for baseada em mentiras.
Então ela o afastou ao mesmo tempo em que disse.
_ Eu sou casada, Bob!
Bob a encarou com espanto e ela se virou. Então ela continuou, ainda que lhe doesse.
_ Eu fugi dele, e estou aqui para pagar uma dívida que meus pais adotivos devem a ele. - ela voltou a encará-lo, mas ele estava sentado, estarrecido e olhando para o chão -  Eu não me chamo Amanda, e não tenho vinte e um anos.
Bob continuou sentado, olhava para o lado contrário a ela, parecia pensar muito em algo.
Amanda ainda queria seu perdão.
_ Eu só queria um emprego, preciso ganhar dinheiro para dar a ele... E me livrar da promessa que fiz.
Ela não queria mais chorar, estava se preparando para quando ele se levantaria e a deixaria para sempre, mas ele olhou com tristeza e tentou entender.
_ Quantos anos você tem de verdade? - sua voz estava triste também.
_ Tenho dezoito.
_ E... O que prometeu? Para quem prometeu?
_ Peter. Ele me fez prometer que quando eu atingisse a maioridade, me casaria com ele, pra que meus pais não perdessem a casa em que moram, um antigo orfanato onde eu cresci. È um terreno invadido, e eles não tem o dinheiro que Peter pediu.
_ Você não chegou a se casar com ele de fato?
Ele queria muito ouvir um Não, mas fechou os olhos quando ela respondeu.
_ Sim, por seis meses. Mas ele me batia, me maltratava, e me prendia dentro da casa dele pra que eu fizesse... coisas que não queria! Eu fugi...
Ela saiu da presença de Bob. Não suportava ver sua expressão de ódio, a vergonha que sentia era imensa.
Mas Bob sentia ódio do homem que a maltratou.
Ele esperou que Amanda saísse do banheiro. E tinha mais uma pergunta, mas ela pensava que fosse o fim.
_ Amanhã vou pegar minhas coisas do escritório.
_ Não quer mais trabalhar?
_ Eu menti, e vocês nunca mais vão confiar em mim.
_ Qual é o valor dessa dívida, Amanda?
Ela não esperava que Bob quisesse saber, então ela pegou um documento em sua mala e mostrou a ele.
_ Cento e vinte milhões de cruzeiros? -  ele disse pasmo, mas não era com o valor -Como pensava em juntar todo esse dinheiro ganhando um salário de secretária?
_ Eu não sei! Se eu levasse um pouco por mês a ele... Eu ia tentar negociar.
_ Amanda, como seu pai permitiu que fizesse essa promessa? Por que ele não toma providências?
_ Meu pai tem 85 anos e está doente. Minha mãe tem 80 anos, é mais forte, mas está cansada.
_ E essa fuga não vai prejudica-los?
Ela suspirou rendida, e com muito pesar.
_ Eu vou voltar. Não vou mesmo conseguir o que queria, e ainda vou perder o que quero.
Seu pranto voltou.
Penalizado, Bob se levantou e a amparou novamente. Mas olhou bem dentro de seus olhos molhados.
_ Se tudo que está dizendo agora é verdade, Amanda, eu vou saldar essa dívida pra você.
_ Você?
Amanda não acreditava no que estava ouvindo, e então o abraçou chorando ainda mais do que antes.
_ Acalme-se, meu bem!
Ela procurou se controlar, mas soluçava como uma criança.
Bob não podia imaginar o que significava aquilo para ela.
_ Escute, amanhã você me trará seus documentos verdadeiros e o que tiver para provar tudo isso. Eu a levarei ate seu... marido e entregarei o dinheiro.
_ Amanhã mesmo? perguntou secando seus olhos.
_ Sim, eu tenho esse dinheiro disponível.
Depois de abraçar e beijar Amanda, Bob saiu e foi embora.
Porém, ele pretendia fazer algo que a machucaria muito.
Em sua casa, Nancy esperava, para que ele explicasse sua saída secreta.
_ Sabe que horas são? ela perguntou quando Bob atravessou a porta.
Mas Bob estava tão desatinado com tudo que soube que a segurou com força pelos ombros e disse.
_ Eu não sei e você fica quieta ou eu vou quebrar essa casa toda, Nancy!  - ele a jogou no sofá.
Nancy se engasgou com sua própria voz, o susto que levou foi grande e ela ficou chocada, vendo-o se afastar.
Bob dormiu na sala de visitas, e no outro dia não tomou seu café da manhã com seus irmãos. Foi direto para o escritório.
Amanda não sabia como seria seu dia, o que Bob ia fazer, queria esperar que ele fosse até lá, e confirmasse que ia mesmo livrá-la daquela dívida. Achava tão grande aquele sacrifício, mas não entendia por que ele o faria, se ela foi uma farsa o tempo todo.
Roger e John estavam na sala de Bob e escutavam sua versão.
_ Eu não posso deixa-la nas mãos de um crápula desses, ver uma vida ser sacrificada por esse valor.
_ Você tem que admitir que é um valor alto, Bob - disse John.
_ Ela se vendeu por esse valor. Mas a vida dela não tem preço. Se ela está dizendo a verdade eu vou libertá-la. Não importa que minha conta no banco fique zerada.
_ Sabe que isso não vai acontecer. Roger falava com orgulho do irmão Esse ato de amor que você quer fazer é lindo, Bob. E você pode usar uma parte do meu dinheiro, uns vinte milhões.
_ Eu ofereço o mesmo.
_ Obrigado, meninos, mas eu arcarei com tudo. Levantarei esse dinheiro novamente em quatro meses. Mas depois disso quero que ela vá embora.  - eles ficaram surpresos - Amanda, ou seja lá qual for o nome dela, tem só dezoito anos, é uma criança! Não posso me envolver com ela.
Roger riu um pouco.
_ A diferença é de cinco anos, e você não pensou assim.
_ Eu não sei onde estava com a cabeça. Amanda precisa conhecer alguém mais jovem e seguir com sua vida. Eu quero que ela desapareça daqui depois que estiver tudo certo.
Aquelas palavras iam de encontro com o que seu coração pedia. Mas ele estava pensando com a razão.
Depois de resolver algumas coisas no escritório, ele foi até a casa de Amanda.
Ela já o aguardava com tudo que ele pediu.
_ Seu nome é bonito! - ele disse ao ver o documento verdadeiro dela  - Mas não tanto como Amanda.
Ela sorriu um pouco, mas percebeu que ele não a olhava nos olhos e evitava se aproximar muito.
Amanda deu a ele o número de telefone da casa de Peter, de onde ela fugiu. Bob ligou para ele, disse que era pai dela e que saldaria a dívida por agradecimento aos idosos que a criaram. Peter concordou desde que visse Amanda mesmo de longe, para se despedir. Então marcaram um lugar de encontro naquela cidade a cem quilômetros dali.
Durante a viagem, Bob estava em silêncio e Amanda envergonhada com tudo aquilo. Queria nunca ter conhecido Bob, e nunca ter feito aquela promessa.
Mas ela tinha uma dúvida.
_ Bob, eu vou continuar trabalhando no escritório para pagar esse dinheiro, não é?
_ Não, Amanda, eu não vou libertar você de uma prisão e coloca-la em outra. Seria loucura. Não se preocupe, pois não ficará me devendo nada.
_ Mas vou continuar no escritório?
Ele não queria revelar que ia deixa-la em sua cidade natal.
_ Mas, você não começou a trabalhar por causa da dívida?
_ Sim.
_ Então, não precisa mais trabalhar se não quiser. Pode ficar com seus pais.
_ Você não quer que eu trabalhe mais pra você?
Bob não conseguiu responder e seu silêncio serviu de resposta para Amanda.
Ele sentiu muito quando ouviu o soluço dela, mas não podia mentir.
A viagem chegou ao fim.
Bob pediu que Amanda ficasse no carro.
_ Vou exigir que ele assine a anulação do casamento primeiro e então eu darei o dinheiro a ele. Você será livre de novo.
_ Para quê? - falava com mágoa -  Não tenho mais nada mesmo!
_ Não fale assim! - disse com carinho --  Você tem uma vida inteira pela frente. Poderá fazer muitas coisas, trabalhar, se divertir...
_ Nada disso vai ter sentido sem você, Bob!
Chorando, ela se jogou nos braços de Bob e ele a segurou com força.
_ Não faça isso, minha criança! Vai dar tudo certo!
_ Eu te amo, Bob! Não me deixe!
_ Eu também te amo, mas...
Bob nunca sentiu tanta vontade de morrer como naquela hora. Amanda chorava e ele queria toma-la para si, mas sabia que não devia.
_ Amanda, vamos terminar com tudo isso, por favor. Perdoe-me, mas nós não podemos ficar juntos!
_ Eu não devia ter contado a verdade!
Antes que ele concordasse que não devia mesmo, Amanda avistou Peter. E Bob ficou muito perdido ao ver a figura do homem que comprou a menina.
Peter era um homem velho, aparentava uns setenta anos e usava terno e gravata.
Peter entrou na lanchonete, onde o encontro foi marcado.
_ Não precisa pagar mais, Bob! - ela ainda falava em prantos Vá embora, não pague Peter!

Amanda abriu a porta do carro e correu ao encontro de Peter.
          Bob ficou apavorado. Saiu do carro e foi até a lanchonete, e assistiu o encontro de Amanda com seu marido.
_ Então você está ai? Cadê o seu pai?
Ela não sabia que Bob acabava de se sentar à mesa atrás dela.
_ Eu o mandei embora!
Amanda não se aproximava dele, mas o encarava com raiva.
_ Ele não vai pagar sua dívida?
_ Ele desistiu. Eu vou voltar pra casa!
_ Muito bem!  - ele a segurou pelo braço, com discrição. - Eu vou providenciar para que você não fuja de novo, amorzinho!
_ Solte a menina, Peter!
Era Bob. Amanda saiu de perto de Peter e disse a Bob.
_ Tudo bem, eu vou voltar com ele.
Amanda agora queria que Peter saísse com ela, mas ele estava curioso em saber o que estava havendo entre ela e seu suposto pai.
_ Você é inglês? - ele disse na língua de Bob.
_ Sim, eu sou. - ele ficou surpreso com a voz de Peter que bem conhecia.
_ Vamos falar em seu idioma. Amanda é minha esposa e se ela não quer ir com você, a escolha é dela.
Estava estampado no rosto de Amanda o quanto ela o repudiava.
_ Amanda, por favor, - Bob pediu - Deixe-nos a sós para conversar.
Ela o encarou como se dissesse que sua decisão era por ele não aceita-la mais em sua vida.
Bob e Peter sentaram-se. Peter observou Amanda se afastando, e sorriu.
_ Ela é muito impetuosa.
_ Não sente vergonha de se aproveitar de uma criança? disse descrente no homem que Peter era.
_ Você não a conhece tão bem, não é?
_ Por que não me diz então quem é ela?
_ Amanda é uma jovem muito esperta. Ela aceitou casar-se comigo e ter uma vida cheia de regalias, eu ofereci dinheiro, status, e ela assinou nosso acordo.
_ Eu engoliria esse acordo se ele existisse e fosse legal! - disse em desafio.
_ Foi um acordo verbal! Isso também conta como legal!
_ Amanda tinha dezessete anos quando concordou com isso, o que torna você um corruptor de menores. Ela pode processá-lo ainda por agressão e cárcere privado.
Peter riu.
_ Você sabe quem eu sou? Sou advogado, um dos melhores. Acha que não sei quais são meus direitos?
_ E você sabe quem eu sou? - Bob disse com firmeza Sou Bob Starkey, dono da Starkey que cuida dos seus bens e conhece todos os seus investimentos... Senhor José Peter Gomes! Você é meu cliente há dez anos!
Peter ficou apreensivo. Não esperava, e nem Bob, que fosse encontrar a pessoa que conhecia todas as suas transações ilegais e seus ganhos ilícitos. Ele nunca foi ao escritório, mas mandava representantes e falava com Bob por telefone.
Seu tom agora mudou de autoritário para defensivo.
_ O que quer que eu faça? Ouviu quando ela escolheu ficar comigo!
_ Não me insulte! Amanda tem uma dívida com você e está presa a essa promessa absurda por que você a ludibriou. Ou você resolve isso agora ou eu resolvo!
Peter olhou para Amanda, que os observava de longe, visivelmente abatida.
_ Onde está o dinheiro?
_ Não tem dinheiro, Peter! Conhecendo os bens que você possui, eu sei que aquele terreno onde foi construído um orfanato há vinte anos é propriedade da prefeitura e foi doada ao pai adotivo de Amanda. Você usou meu escritório para provar na justiça que era seu e solicitou reintegração de posse com os documentos que eu emiti pessoalmente.
_ Sendo assim... Amanda se casou legalmente comigo e eu vou leva-la.
Ele se levantou e ia sair, mas Bob disse indignado.
_ Eu ia pagar cada centavo que você pediu para libertar Amanda. Pagarei o dobro para colocar você na cadeia, seu desgraçado!
Peter voltou.
_ Se fizer isso, vou destruir a sua empresa.
_ Nos destruiremos um ao outro, mas não sou eu quem vai perder tudo que tem, e nem irei pra cadeia.
_ O que quer de mim, Starkey? disse irritado.
_ Quero que assine a anulação do casamento e deixe Amanda e seus pais adotivos em paz.
_ Sei que você não é pai dela. O que pretende?
_ Devolver a Amanda sua vida, pra que ela possa escolher como e com quem quer viver.
_ Pois bem, faça isso! Se Amanda disser que ainda quer ir comigo, você deve respeitar a decisão dela, sem coagi-la. Se não, vou agora ao cartório e assino a anulação.
_ De acordo, desde que esclareça a ela que não tem mais nenhuma dívida com você.
Peter sinalizou para que Amanda voltasse, e disse com carinho.
_ Amanda, eu peço que me perdoe por tudo que eu fiz. Prometo que não a tratarei mal e darei a liberdade que você quer, se vier comigo por sua vontade, pois não me deve mais nada.
_ Bob pagou você? ela olhou na direção de Bob, mas não o encarou.
_ Não. O terreno é de seus pais por direito.
Amanda sabia bem com quem queria ficar. Vendo Bob ao lado de Peter sua certeza aumentava. Mas ela não sabia que a dívida estava anulada.
_ Vai deixar meus pais em paz?
_ Claro. Eles não me devem mais nada.
Ela se aproximou mais dele. O coração de Bob estava disparado e ele não escondia sua decepção.
_ Você me dá sua palavra de homem?
_ Sim, minha palavra de homem. ele disse sorrindo.
Mas para sua surpresa, Amanda deu-lhe uma bofetada.
_ É essa a liberdade que eu quero! O seu adeus!
Amanda deu as costas aos dois e saiu.
Foi uma cena prazerosa para Bob, que sentiu orgulho de Amanda.
_ Você tem um documento para assinar, Peter, eu irei com você. - disse Bob.
Ofendido com a bofetada ele disse:
_ É esse monstrinho que você veio defender?
_ É esse monstrinho que você tentou comprar!
Sem mais escolha, Peter foi ao cartório e fez o que prometeu.


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