Patience escrita por ana-san


Capítulo 1
Capítulo 1: Início dos problemas.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal. Esta é a primeira fanfic que eu posto aqui no Nyah. Espero que gostem, tenho trabalhado bastante nela nesses últimos tempos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/191637/chapter/1

Patience                                                   

Por:

Ana-san

Capítulo 1:

Início dos problemas.

Mais uma vez cá estou eu indo em direção ao hospital para tomar uma injeção de analgésicos para tentar me livrar dessa maldita enxaqueca, que têm sido muito constantes ultimamente...

- Enxaqueca de novo Adrian? – Perguntou-me a Doutora Juliene com seu costumeiro tom doce e amigável.

Eu apenas respondi com uma cara de poucos amigos, não estava com vontade e muito menos ânimo para responder qualquer pergunta que fosse.

- Pelo visto, sim – Respondeu-me ela pegando uma seringa com algum tipo de droga dentro do armário e depois vindo em minha direção.

- Se continuar assim os remédios não vão mais fazer efeito. – Repreendeu-me Juliene.

- Eu sei, eu s... aah – Pude sentir o líquido amarelado penetrar por minhas veias e logo após veio aquela sensação de ardência e formigamento nas têmporas que me fez relaxar como a muito tempo eu não relaxava.

Recostei-me na cadeira que havia naquela pequena sala para poder aproveitar melhor aquela sensação agradável, e aos poucos pude perceber minha visão – que estava embaçada, voltar ao normal, assim pude visualizar a silhueta que estava em minha frente.

Nunca havia reparado antes, mas Juliene é simplesmente uma moça encantadora, olhos cor de mel, agora um pouco opacos, creio eu que seja pela falta de sono; cabelos curtos de um loiro bem claro,tudo bem que ela é bem magra,mas não deixa de ser atraente....

Na verdade nem sei por que estou pensando nisso, talvez seja por causa do remédio, ou eu apenas estou colocando a culpa no remédio para tentar me enganar por estar pensando em algo que eu estava tentando não enxergar.

- Se sente melhor, Adrian? – Questionou-me a agora bela Juliene.

- Sim, obrigada. -Dei uma leve balançada na cabeça para tentar livrar-me desses pensamentos sobre ela.

-O que está havendo com você esses tempos?

- Nada de mais, por que a pergunta?

 - Essa é a segunda vez essa semana que você vem tomar remédios para essa enxaqueca!Isso não é normal, se ao menos você me deixasse examiná-lo...

-Já disse que não será necessário Juliene,se eu estou incomodando,vou à farmácia e peço para o farmacêutico me aplicar às injeções.

-Não! – Exaltou-se ela – Não é isso que eu quis dizer, só que eu estou ficando preocupada com você, não dá notícias, e só te vejo quando tem essa maldita dor de cabeça! – Nesse instante pude ver um algo a mais no olhar sofredor que Juliene me lançava, pude ver um misto de preocupação e carinho.

Cheguei à conclusão, então, de que Juliene me amava, ou pelo menos é o que está aparentando.

- Olha Julie... - Seus olhos brilharam como os olhos de uma criança na loja de doces, quando eu disse seu apelido. – Não precisa se preocupar comigo, ok?Eu vou ficar bem, são apenas dores de cabeça.

Ela tentou acreditar, mas no fundo continuava preocupada, eu podia ver isso ver isso em seus olhos.

- Já que parece que você não está acreditando, e se eu te levasse para jantar? – Fiz-lhe o convite. Não sei o que deu em mim, eu odeio ir a lugares cheios de gente, mas agora era tarde demais para voltar atrás, por que ela estava me abraçando e dizendo “sim”.

- Ah Ady eu aceito com muito prazer. – Disse ficando corada... Mulheres...

- Está bem, passo aqui quando seu turno acabar pode ser?

-Claro, ele acaba às 18h30min

- Então está marcado. Até mais tarde Julie.

E fui embora.

O caminho todo até minha “casa” foi tranqüilo, passei-o tentando descobrir a resposta para uma pergunta que não calava em minha mente “Por que raios eu convidei-a para sair?”. Martelei, martelei e martelei, mas não encontrei coisa alguma, acho melhor parar de tentar tirar leite de pedra.

Chegando em  frente a minha suposta casa peguei as chaves no bolso do meu casaco de um estilo clássico – lê-se “velho”,e entrei.

A casa era clássica também, assim como tudo o que havia nela. A recebi de herança – por ser o filho mais velho - de um tio ou sei lá que parente de minha mãe. Mudei-me para cá com 18 anos e sem nada, agora com 25 anos, uma casa velha, dores de cabeça infernais e centenas de perguntas sem resposta.

-Grande progresso!

Pelo menos havia ganhado algum dinheiro junto com a casa.

Por falar em família, muitas pessoas acham estranho, insano, crueldade e várias outras coisas, o simples fato de que eu não me importei muito com o falecimento de minha mãe. Eu sou o primeiro filho de três em uma grande família. Minha mãe, meu pai igualmente, nunca me deram muita atenção, até hoje não sei o motivo - Mais uma das minhas perguntas sem resposta. Mas isso já não importa mais. Nos separamos quando vim morar aqui em Nova Orleans, não que nós já não fôssemos separados desde o início.

Sentei-me no sofá e liguei a TV para ver um pouco do jornal até dar a hora de buscar Juliene no hospital.

E hoje mais um fato horrendo aconteceu numa pacata cidade próxima a Omsk- Sibéria. Um homem foi encontrado morto cheio de arranhões e com vários machucados no pescoço.

Habitantes da cidade estão apavorados e não sabem o que fazer a respeito do acontecido. Mulheres não saem de casa e as aulas foram suspensas por enquanto. Esse é o terceiro caso de homicídio na cidade.

Tamara Campos para o Jornal de Nova Orleans.

- Isso já foi longe demais...

Tateei a pequena mesinha que havia ao lado do sofá procurando meu telefone celular. Comecei a discar os números mais do que bem conhecidos para mim, e esperei para que a pessoa atendesse o celular.

-Alô? – Perguntou uma voz grave do outro lado da linha.

-Abe, sou eu. –Minha voz estava mais rouca que de costume, acho que por algo próximo á preocupação.

-Adrian, é você? – Perguntou eufórico.

-Sim, sou eu. – Respondi desanimado.

-O que houve com você?Tentei te ligar, mas você sempre troca o número do telefone! – Indagou ele.

-Mudei exatamente por isso, não gosto que fiquem me controlando.

- ok, está bem, o que você quer?

- Isso já está fora de controle!

- Do que você está... Falando? – Ele disse inseguro.

- Você sabe muito bem do que eu estou falando!

- Você está falando de Cristian?

- Sim!Abe, ele ainda nos causará muitos problemas se não parar de fazer esse tipo de coisa! – Repreendi.

-Se você acha que eu não consigo tomar conta dele, por que não volta querido irmãozinho? – Provocou ele.

-Abe como seu irmão mais velho, só estou te aconselhado a ficar na cola dele, acabei de ver na TV que mais um corpo foi encontrado, e Cristian praticamente acabou de se transformar.

Para nós lobisomens, é difícil manter o controle da situação, principalmente no período de adaptação entre as primeiras transformações. Mas isso não quer dizer que você possa sair por ai matando qualquer ser vivo que encontrar pelo caminho.

- Olha Adrian, eu já tentei falar com ele, só que ele não me escuta!Se você acha que pode persuadi-lo a parar venha aqui e fala você com ele. – Deu ênfase na palavra “você”.

-Estou atrasado, tenho que desligar, mas só estou avisando. Tome. Conta. Dele! – E desliguei o telefone.

Olhei no relógio e faltavam 45 minutos para dar o horário do término do turno de Juliene.

Subi para tomar um banho, estava frio e eu tinha que ser rápido.

Liguei o chuveiro e depois de tirar minhas roupas entrei e deixei que a água molhasse meus agora um pouco longos cabelos castanhos escuros.

Terminei o banho e fui para meu quarto me trocar, peguei uma camisa branca e uma calça preta no guarda roupas, depois coloquei um sapato qualquer e fiz um rabo de cavalo baixo para traz. Olhei-me no espelho e após fazer isso àquela pergunta voltou em minha cabeça... Por que eu havia convidado Juliene para jantar?Por pena?Desejo?Caridade?Ou algo a mais?

Peguei meu casaco e as chaves do carro, tranquei tudo e depois de alguns segundos já estava no carro ao som de uma das minhas bandas prediletas: Gun´s and roses – Patience.

Essa música sem dúvida alguma faz parte de minha vida,quando mais jovem ,era inconseqüente e imediatista demais, não que eu não os seja hoje, mas o tempo passa e as prioridades de vida mudam, e uma das coisas que você sem dúvida tem que ter na vida é paciência, pois nem tudo o que você aspira vem quando você quer.

Logo após terminar Patience começou a tocar T.N.T ,essa música,com certeza me acompanhou em muitas de minhas “aventuras” de adolescente.

E nisso eu estava quase chegando à rua do hospital.

Pude ver Juliene me esperando em frente à recepção do estabelecimento, ela usava um vestido tomara que caia creme que ia um pouco abaixo dos joelhos. Estacionei o carro, desci e fui ao seu encontro.

- Boa noite. – Disse cumprimentado-a. – Vamos?

- Claro. – Sorriu docemente para mim.

- Você está muito bonita.

- Obrigada, uma amiga foi até minha casa pegar roupas para mim. E você também está muito bonito. A cor branca realça a cor de sua pele e olhos.

Tenho uma pele bem clara e olhos castanhos esverdeados.

Abri a porta do carro para que ela entrasse e logo depois que entrei perguntei-lhe se ela tinha alguma preferência pra o lugar onde íamos jantar.

- Ah não Ady, prefiro que você escolha. – Ela sempre estava sorrindo, mas esse sorriso morreu assim que a música It´s so easy do Gun´s começou a tocar,e pelo jeito ela conhecia a tradução nada romântica e muito insana da música.Pude ver que ela havia ficado um pouco inquieta com aquilo,então resolvi quebrar o silêncio mudando de música e perguntando de que tipo de música ela gostava.

- Então, que tipo de música você costuma ouvir?

-Nada que seja muito pesado, gosto de algo mais romântico e calmo, existem algumas bandas sertanejas muito boas. – Ela sorria ao dizer que gostava de música sertaneja.

- Ah, claro... – Tentei esboçar um sorriso, acho que deu certo, mas... Por Deus, como ela consegue ouvir esse tipo de coisa?

- Pelo jeito você não gosta muito de músicas muito calmas, não é? – Perguntou-me ela.

-Na verdade sim,mas eu geralmente escuto bandas de rock mais “pesado” por que me acalma,relaxa.

-Ah, interessante...

- Chegamos. – Disse indo em direção ao estacionamento de um restaurante italiano que eu costumo freqüentar, ele é bem reservado, uma das qualidades que mais gosto nele.

- Comida italiana!Huun que delícia! –Ela estava radiante.

Eu apenas dei uma risada rouca e a levei para dentro do restaurante.

- Mesa para dois, Senhor Belicov? – Perguntou-nos o recepcionista.

- Sim, por favor, Alfred. – Respondi cordialmente ao homem.

Ele nos conduziu para uma pequena mesa de um lado mais reservado do local, este que era iluminado apenas com velas vermelhas.

Juliene se encantou com o lugar assim que o viu, provavelmente achando-o extremamente romântico e agradável.

Caminhei até uma das cadeiras e puxei-a para que ela sentasse.

-Oh obrigada. – sorria ela.

-Disponha.

Será que ela está esperando “algo a mais” do que um mero jantar?

- Posso anotar o pedido, Senhor? – Perguntou-me Cesare, o metre. Ele sempre fazia questão de vir me atender pessoalmente.

- Não precisa de cordialidades Cesare.

- Desculpe-me Adrian, é que você está acompanhado, o que é raro por aqui. – Ele riu olhando para Juliene que ficou um tanto sem graça.

- Não é nada demais, apenas um jantar, não e Juliene?

- Ah claro... – Respondeu ela desanimada.

Sim, creio que ela esperava algo a mais que um mero jantar, entretanto não vou jogar sujo com ela.

-Bom Cesare, nós vamos pedir, o que você vai querer Julie?

- O que você pedir para mim estará de acordo.

- Ok, então vamos querer ravióli de queijo com molho branco e um vinho tinto.

- O pedido estará vindo em alguns minutos.

- Obrigada. – Dissemos em uníssono.

Logo após Cesare ter saído da mesa o silêncio criou raízes e nenhum de nós falou absolutamente nada durante 3 minutos, por mim estava tudo bem, mas pelo que pude perceber ela estava ficando tensa com a falta de barulho.

- Está tudo bem? – Perguntei.

- Tudo, por que a pergunta?

- Nada, só que você parece um pouco tensa.

- Nada de mais, é que faz tempo que eu não saio com alguém.

- Haan.

- Mas então, como foi seu dia hoje?

- Normal, fui ao trabalho de manhã e depois que passei no hospital fui para casa.

- No que você trabalha mesmo? – Perguntou-me interessada.

Não poderia revelar meu verdadeiro trabalho a ela por que provavelmente ela me chamaria de louco e outra coisas, então tive que falar meu trabalho de fachada.

- Sou arquiteto.

Tudo bem que eu realmente era, mas não ia dizer a ela que eu era um assassino profissional. Ela riria na minha cara ou tentaria me levar ao psiquiatra.

- Você não tem muito cara de arquiteto... – Disse rindo.

- É muita gente diz isso.

E nisso Cesare chegou com nosso pedido.

- Obrigado Cesare. – Disse dispensando meu colega.

Começamos a comer, servi-lhe vinho. A safra era ótima, ele estava divino.

- Está gostando? – Perguntei.

- Sim, muito, você tem bom gosto.

- Obrigado.

Nesse instante meu telefone tocou. Droga, esqueci de trocar o chip antes de sair!

Vi no visor e era Abe meu querido irmão do meio. Não atendi.

- Não se importe, pode atender. – Ela disse.

- Não é nada de mais. – Esbocei meu sorriso mais falso que pareceu dar resultado, pois ela não tocou mais no assunto.

Estávamos quase pedindo a sobremesa quando o telefone toca de novo. Não atendi. E ele tocou de novo.

- Desculpe, vou ter de atender. – E levantei da mesa. - Alô.

- Adrian por que não me atendeu antes? – Perguntava-me Abe.

- Estou ocupado, seja breve.

-Preciso que você volte para cá, é urgente. – Ele estava tenso.

- Não posso simplesmente sair de Nova Orleans e ir para a Sibéria do nada. – Eu estava perdendo a paciência com ele.

- Mas você tem que vir!Cristian fugiu! – Ele se desesperou do outro lado da linha.

- O que?! – Perguntei incrédulo, mas logo me recuperando.

-Sim, ele fugiu hoje à tarde, logo depois que você me ligou.

-Ah então seu querido irmão estava certo? – Debochei.

- Ok Adrian, pare de se vangloriar... Você vem ou não?

- Estou ocupado, verei o que posso fazer.

- Mas Adrian, ele é seu irmão!E Caleb está pedindo explicações!

- Está bem, amanhã eu vou. Tchau.

Desliguei o telefone sem que ele tivesse tempo de questionar.

Voltei à mesa e Juliene já havia terminado de comer.

- Aconteceu alguma coisa? – Perguntou ela preocupada.

- Não, está tudo bem, só que vou viajar amanhã de manhã. Será que podemos ir?

- Claro, eu já pedi a conta. – Sorriu ela.

- Obrigado, você não quer mais nada?

- Não, obrigada.

Fomos para a recepção, lá paguei a conta e nos despedimos de Cesare.

A maior parte do caminho até a casa de Juliene fizemos em silêncio, até que eu resolvi quebrá-lo.

- Gostou do jantar?

- Estava divino Ady.

- Que bom que gostou.

Ela riu ficando sem graça. Naquele momento, mais uma vez, eu vi amor em seus olhos, um amor tão grande que chegava a doer em sua alma, por ela não poder demonstrá-lo. Mas eu definitivamente não iria me aproveitar daquela situação... A presa indefesa e inocente estava prestes a cair na armadilha do terrível e insano lobo... Não, eu definitivamente não faria isso, é contra meus princípios, por mais tentadora que seja eu não o farei.

- Bem... Chegamos. – Eu disse.

Desci do carro e fui abrir a porta para ela.

- Obrigada. – Ela disse segurando o portão eletrônico que o porteiro do prédio acabara de abrir. – Não quer entrar? – Ela perguntou vindo em minha direção de uma maneira quase insinuante, segurou na gola do meu casaco arrumando-a. – Hen? – Ela insistia.

Foi ai que percebi que ela estava tentando me seduzir. Pobre Juliene, ela não é esse tipo de mulher, ela é daquelas românticas e inocentes que provavelmente casarão virgem.

Então eu aproximei nossos rostos, deixando uma distância mínima entre eles, pude vê-la fechar os olhos, segurei seu rosto entre minhas mãos e com isso beijei-lhe o topo da cabeça.

- Boa noite Julie. – Disse me despedindo.

- Boa noite. – Ela disse desanimada e totalmente arrasada.

- Desculpe-me por algo que tenha feito de errado.

- Não Adrian, você nunca faz nada errado. – Ela disse com um sorriso triste nos lábios.

Depois disso apenas a vi entrando no elevador.

“Não Adrian, você nunca faz nada de errado” Ela estava querendo se referir ao fato de eu não me aproveitar dela. Ela sabe que eu não a amo, e mesmo assim ainda tenta fazer com que eu a olhe como “mulher”, e não como “Doutora Juliene”, mesmo que se eu me deitar com ela sem ama - lá a machuque futuramente.

Chegando a casa liguei o computador para comprar uma passagem para  Novosibirsk na Sibéria, pegando primeiro uma ponte aérea em Nova York.

Depois fui para o quarto arrumar minha mala, não pretendo ficar muito tempo lá.

Peguei somente o necessário, ou seja, muitos casacos e blusas de frio. Desci até a cozinha para tomar um pouco de água e com ela um analgésico para a dor de cabeça que estava começando a se instalar em minha caixa craniana.

- Isso ainda vai acabar me matando... Melhor eu ir dormir.

It´s so easy!!

- Droga! – Meu despertador começara a tocar. – Eu mal dormi.

Levante-me e fui tomar um banho para acordar... Aquela maldita dor de cabeça estava começando a incomodar novamente.

Estava saindo do banheiro quando chamei um Taxi para me levar até a estação, aonde iria até Nova York de trem para depois ir para Sibéria.

Logo que terminei de arrumar minhas coisas pude ouvir o taxi se aproximar de minha casa.

Fechei a casa e dei minha mala para o taxista guardar.

- Para onde Senhor? – Perguntou-me

- Estação central, por favor.

- Ok.

O caminho até que foi rápido. Quando percebi já estávamos parados e ele estava me cobrando.

- São $ 25, Senhor.

- Está bem, obrigado.

Desci do carro, peguei minha mala e fui até o portão de embarque, olhei no relógio e vi que o trem já estava para chegar, só que por eu ter muita sorte uma funcionária anunciou:

Senhores passageiros, por problemas técnicos o trem que partiria ás 06h00min horas chegará atrasado. A viagem será ás 06h45min se não houver mais atrasos. Obrigada.

- Que ótimo, agora tenho quase 1 hora de sobra.

E saber que eu poderia estar dormindo ainda...

Já que eu estava sem muita paciência e não havia tomado café da manhã, me encaminhei até uma cafeteria que havia ali.

O lugar era razoavelmente pequeno e não muito movimentado, pois havia outra lanchonete que tinha maior tráfego de gente.

Sentei-me no balcão e logo um homem de cerca de 50 anos veio me atender.

- O que vai querer senhor?

- Somente um café, por favor.

- Ok.

Estava distraído, mas algo me chamou a atenção, ou melhor, uma fragrância.

Olhei de soslaio para ver o que exalava tal cheiro e vi uma pequena moça sentar-se próxima a mim no balcão.

Ela no mínimo era exótica. Cabelos curtos pretos com pequenas mexas em um tom de azul celeste, era magra, dava para perceber, mas ela usava um sobretudo preto que tampava suas possíveis curvas,e os olhos eu ainda não havia conseguido ver,sem contar no exótico cheiro que exalava,algo novo para mim,seu cheiro era realmente tentador.

- Estou incomodando? – Perguntou-me ela. Fiquei surpreso com aquilo, não esperava que ela percebesse que eu a estava olhando. Nunca ninguém percebe.

- Não. – Respondi voltando ao meu estado normal.

- Então, o que tanto olha? – Nisso ela virou para mim e então pude ver seus olhos, eles eram de um azul que eu nunca tinha visto em toda minha vida, combinavam perfeitamente com as mexas do cabelo.

Ela também estacou e ficou me olhando por um bom tempo, assim como eu estava fazendo com ela.

- Seu café senhor, e Ah Bom dia Any! – Fomos tirados de nosso transe juntos com o homem trazendo meu café.

- Bom dia Adam. – Ela sorriu.

- O de sempre?

- Sim, por favor. – Ela disse ao homem.

- Viajem de trabalho? – Adam perguntou para mim.

- Mais ou menos.

- Vai aproveitar para passear?

- Acho que não, prefiro ficar em casa. Lá faz muito frio.

- Vai para onde? – Aquele interrogatório estava me tirando do sério.

- Novosibirsk.

- Não é para onde você vai Any? – Adam perguntou para ela, que até agora estava apenas olhando-nos.

- Não, eu vou para uma cidade próxima a essa. – Ela respondeu tomando seu cappuccino.

- Vai a trabalho? – Não resisti e perguntei.

- Mais ou menos. – Respondeu.

Olhei – a com uma das sobrancelhas arqueadas em sinal de interrogação.

- Nada que seja da sua conta, senhor. – Respondeu ela irônica. Depois jogou algumas notas sobre o balcão e foi embora. – Até mais Adam.

- Até. – Respondeu ele.

Que garota mais mal educada!

- Mulheres... Sempre estressadas. – Indaguei.

- Essa não, ela é diferente. – Disse Adam.

- Diferente? – Disse irônico.

- Geralmente ela não é assim, só está um pouco preocupada com a mãe que está doente.

- Aah. – Respondi. Ela não tinha cara de quem se preocupava com a mãe. - Estou indo, obrigado.

Joguei algumas moedas no balcão e subi novamente para o portão de embarque.

Será que vou ter que aturar essa maluca a viajem toda?Espero que não, não fui com a cara dela, será pelo fato de que eu não consegui ler o seu olhar?E pelo fato dela ter um cheiro muito bom?Quase viciante?Talvez.

E sim, eu leio o olhar das pessoas, de todas elas, pelo menos era assim até agora.

Muitos de nós, lobisomens ou seres místicos, têm dons, e o meu é ver as lembranças das pessoas e ler seus olhares. Pode parecer algo inútil, mas se você parar para reparar, o olhar de uma pessoa diz tudo. Não preciso ler os pensamentos para saber o que elas querem dizer, basta ler corretamente o olhar. E eu não consegui fazer isso com aquela garota, isso está me deixando inquieto. Por quê?Por que serão mais perguntas para minha lista!Droga!

O trem chegou e nem sinal da tal garota... Garota, ela deve ter no mínimo uns 17 anos. Praticamente uma criança.

Peguei o meu bilhete para ver o número do meu assento: 53.          

Caminhei até o fim do trem e chegando lá sentei distraído, o trem estava lotado e por sorte parecia que o lugar ao meu lado iria ficar vago, mas como tudo que é bom dura pouco, fui tirado de meus devaneios por aquele cheiro. Era ela, e estava parada ao meu lado me olhando com uma cara de poucos amigos.

Ela balançou a cabeça em sinal de me cumprimentar, me resumi a fazer o mesmo gesto.

Ela sentou e colocou os fones de ouvido, assim como eu.

Depois que todos embarcaram o cobrador passou para revisar algumas coisas antes de partirmos.

Quanto mais eu tentava não prestar a atenção no delicioso e totalmente tentador cheiro que emanava de sua pele alva, cada vez mais eu prestava,e conseqüentemente as dores de cabeça voltaram mais fortes do que nunca.

Oh isso vai acabar me matando, assim não dá.

Creio que já faz três meses que não me alimento adequadamente, ou seja, faz três meses que estou praticamente morrendo de fome, pois não caço e com isso acabo ficando sem muito controle e com dores de cabeça.

Considero-me um lobisomem light, por que não saiu por aí caçando, mas também não reclamo, nunca gostei muito disso, porém também não estou renegando minha natureza, só fazendo algumas adaptações.

Essa é uma parte de minha sina que eu realmente detesto.

Estava começando a ficar incomodado com aquilo, não conseguia parar quieto no lugar.

- você tem algum problema? – Ela me perguntou um tanto irritada.

- Tenho, mas não é da sua conta.

- Ainda bem que você entendeu. Então você pode fazer o favor de ficar quieto?

- Vou ver o que posso fazer. – Me levante e fui até o fim do trem comprar uma garrafa de água, peguei em meu casaco clássico dois analgésicos e tomei-os sem demora.

Logo após ter voltado para meu lugar, Any, se é que é esse o nome dessa criatura, começou a espirrar sem parar.

- Você tem algum problema? – Perguntei sarcástico.

- Tenho, o seu casaco, ou melhor, guarda pó! – Respondeu ela pegando um remédio para alergias na bolsa.

- Quer? – Ofereci minha água para ela.

Ela me olhou com uma cara de “Você vai tentar me envenenar?”, não que fosse exatamente isso o que o olhar dela queria “dizer”, mas foi o que eu deduzi, por que eu ainda não conseguia “enxergar nada” tanto em seu olhar quanto mente.

- Não, eu não vou te envenenar. – Disse estendendo a garrafa.

- Não estava pensando exatamente nisso, eu estava imaginando se você não teria nenhum tipo de doença... Você não tem, não é?

- Não, eu não tenho. – E nisso ela pegou a água e bebeu o remédio, e este fez um ótimo trabalho,e como todo bom antialérgico deu tanto sono nela que ela apagou,tomara que fique assim até a viajem terminar.

Não demorou muito e chegamos à Nova York.          

O trem parou, eu levantei, mas ela continuava dormindo feito uma pedra.

- Ei, garota, acorde. – Eu disse colocando a mão em seu ombro.

Mas nada, ela nem se mexeu.

- Ei, garota! – Dei um leve chacoalho em seu ombro.

- Hey!!O que pensa que está fazendo? – Gritou ela.

- Te acordando. – Respondi mostrando para ela que o trem já estava vazio.

- Ah, obrigada. – Ela disse tentando forçar um desembaraço.

-Nossa, ela sabe ser educada, mesmo forçando estar encabulada. – Eu disse com uma falsa expressão de incredulidade.

- Haha, muito engraçado, mas como vo. – Interrompeu a própria pergunta.

- O que foi? – Perguntei.

- Nada. – Disse ela pegando sua mochila e saindo do trem.

- Até mais ver. – Eu disse.

- Espero que não. – Respondeu fazendo um gesto com a mão, que mais parecia um bater de continência.

Depois disso só fui vê-la dentro do avião, onde graças ao santo Deus eu não tive que sentar junto com ela. Dei sorte de sentar ao lado de uma bela Espanhola.

- Ola, hablas espanol? – Ela me perguntou.

- Si, como estas? – Perguntei me sentando.

- Muy bien, gracias, y tu?

- Mejor ahora.

Ela riu e abaixou a cabeça com a finalidade de parecer embaraçada, mas podia-se ver perfeitamente o que seus olhos queriam dizer, e não precisava falar espanhol para saber. Era algo do tipo “Olá querido, quer dar uma rapidinha?”, ou seja, ela era uma completa vadia. Mas quem disse que eu me importo?

Fiquei ali por um bom tempo falando com Carmen, até que a aeromoça veio falar comigo.

- Senhor eu gostaria de perguntar se você não se incomoda de trocar de lugar?

Estava com vontade de dizer “Sim, não está vendo que eu estou ocupado com uma espanhola asanhada que está louca para dar?”. Mas como isso não é possível...

- Não, claro, mas por que isso?

- Um menino está causando problemas.

- Ah, ok.

Ela me indicou a cadeira. Era na frente do avião. Estava me aproximando e pude ver uma cabeleira preta e azul sentada ao lado do meu suposto lugar.

Oh não, não pode ser.

Fiquei parado um pouco atrás do assento, enquanto um garoto roliço saia de lá e estava prestes a ir de encontro com a bela Carmen. E eu nem tinha tido tempo de pedir seu telefone.

- E vê se volte mais aqui! – Repreendeu Any ao garoto.

- Fique segura de que não vou.

Quando foi passar por mim, avisou:

- boa sorte. – E saiu com um sorriso estampado naquela cara gorda.

Parei do lado do assento e foi ai que Any espirrou e virou-se para mim incrédula.

- Oh não, você e seu guarda pó não!

Eu apenas me sentei, coloquei meus fones de ouvido e tentei não prestar mais atenção nos constantes espirros que ela dava.

Essa com certeza será uma longa viagem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse foi o primeiro capítulo prontinho aí pra vocês. Pretendo postar uma vez por semana, já que a faculdade ocupa quase que tempo integral.
Beijos, até o próximo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Patience" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.