--------- seis meses depois ----------  

            Mello deu continuação ao seu plano de tomar a máfia para si, nesse meio tempo teve que agir sozinho então demorou alguns meses, mas finalmente matou o chefão, agora seus milhões tão desejados finalmente estavam em sua posse e no atual momento estava comemorando num luxuoso hotel.

            Vestiu sua melhor roupa, abriu o champanhe mais caro e o bebeu na taça de cristal mais fina. Prendeu os cabelos num rabo de cavalo e sentou na janela para espiar a lua. Era lua cheia, a cidade estava clara e animada como sempre, agora era seu tempo de calmaria e não deveria estar preso naquele hotel sem fazer nada... não, era hora de cair na farra e ter tudo o que sempre desejou.

- Tudo está perfeito... perfeito _repetiu para si mesmo _ sexo, dinheiro e bebidas, carros de luxo, mansões! _deu uma gargalhada, ficou encarando o teto ainda com a taça de champanhe nas mãos _ ... droga Matt...

            Espera, por que ele não está aqui? É o mesmo erro que cometi a tantos anos e que me arrependi, agora estou sem saber como encontrá-lo e sentindo sua falta novamente... quando deixarei de ser idiota? Ele passou por aquela porta sem que eu tivesse reação de dizer alguma coisa... até o para sempre perde a sua cor... não é mesmo...?

            Não era minha personalidade ficar desanimado quando tratava de dinheiro e poder, mas desde que Matt fora embora eu acabei... sei lá, ficando incomodado com a solidão; eu vi a merda que fiz a muito tempo, confesso. Meu sonho estava alcançado, mas meus sonhos não eram os dele também e por isso foi embora... então quais eram seus sonhos? Nem mesmo isso eu sei, mas que merda, eu ainda lembro seu nome...

----------- + ------------ + -----------

            Matt estava de folga, era uma tarde muito bonita de Sábado e se preparava para sair com sua noiva para marcarem a data do casamento. Ao procurar seus documentos numa caixa, encontrou os óculos e o psp quebrado e os atirou no fundo do guarda-roupas antes que algo a mais viesse em sua mente.

            Ele ainda mantinha os cabelos curtos e adorava seus coturnos, a camiseta listrada era uma peça de roupa habitual, não mudou tanto assim apesar do seu novo estilo de vida. Antes de sair se lembrou de desligar a TV, mas assim que alcançou o botão para desligá-la uma noticia de ultima hora entrou no ar.

            Um grupo tinha explodido uma mansão abandonada na parte oeste de Tóquio, o lugar era usado como esconderijo de armas estrangeiras da Itália para comércio ilegal, provavelmente estava ligado á máfia tanto do Japão quanto da própria Itália. Ouve cinco mortes e dois feridos, não se teve mais notícias do caso no momento.

- ... mas que caralho... _deixou escapar um palavrão assim que terminou o noticiário.

            Ele sabia e então resolveu partir.

            Eu podia ter simplesmente ignorado o noticiário e saído para encontrá-la, estava óbvio que Mello era o responsável e que ele só fizera algo assim para chamar minha atenção. Já tinha se passado seis meses, então ele demorou todo esse tempo para conseguir o que queria?... de fato ele não tinha minha ajuda, foi um tempo justo. Quando percebi, já estava perdido em pensamentos confusos mais uma vez, foi um aviso eu ter encontrados os óculos e o psp nessa manhã... sabe, tem horas que você tenta, mas uma vez viciado em algo  você sempre terá uma recaída.

            Eu fui, fui a pior pessoa do mundo quando resolvi ir até lá, era sujo, egoísta, hipócrita... só que o coração falou numa intensidade que nem mesmo eu pude conte-lo. Peguei minha moto e me dirigi para o lugar da explosão, furei sinais vermelhos e não respeitei nenhuma faixa, ele não iria me esperar muito mais... dessa vez eu ia segurar sua mão e ia levá-lo para perto de mim e não mais iria para perto dele como sempre fiz.

---------- local da explosão -----------

            Matt chegou ofegante, sentiu um vazio no estomago assim que desceu de sua moto e olhou ao redor, ele estaria lá ou era apenas um trouxa de suas emoções? O ruivo rodeou os destroços, não tinha muitas pessoas mais no local e então o silencio começou a ser tornar um incomodo.

            Tirou um cigarro do bolso e acendeu seu isqueiro de prata, tudo bem, ele ia se acalmar e procurar pelo sinal deixado pelo loiro. Não precisou de mais meia palavra, seus pensamentos foram invadidos pelo aroma do chocolate vindo atrás de si.

- Caralho, você ainda não morreu de câncer?

- ... Mello _sussurrou para si, o fogo ia queimando lentamente o papel que envolvia o fumo.

- Cara... você demorou, seu idiota!

            Mello puxou a cintura de Matt para perto de si e deixou que a barra lhe escapasse das mãos, não era preciso dizer mais nada. Eles ficaram abraçados por algum tempo, infelizmente a conversa ia ficar para depois, pois alguns policiais estavam vindo na direção do casal; Matt subiu em sua moto seguido por Mello e ele arrancou em direção ao por do sol. 

            Como estava á quase 4 horas de casa, resolveu parar num hotel qualquer para conversarem; não era por um simples impulso que toda a situação ia se resolver e os sentimentos voltarem no lugar.

            Os amigos compraram algumas bebidas e sentaram na varanda do quarto, era um silencio estranho, mas necessário.

- Matt eu consegui... finalmente _começou Mello sem saber muito bem o que dizer.

- Eu vi no noticiário e deduzi isso, que bom... fico feliz por você.

- Está tudo perfeito agora e você? _abriu a garrafa de cerveja com as mãos.

- Estou noivo... é noivo _tirou a luva e mostrou a aliança que brilhou com a luz_ ainda estou morando em Tóquio, tenho minha própria casa, tudo... perfeito.

- ... então essa era seu sonho afinal... _sua voz sumiu e então teve uma nostalgia de sua infância, antes de ir para o Wammy _sabe como eu vivia antes de ir para o orfanato?

- ... _negou com a cabeça.

- Eu tinha uma mãe, meu pai fora assassinado um pouco antes do meu nascimento... eu tinha um irmão mais velho também. Um dia conseguimos um bom dinheiro vendendo um imóvel e algumas pessoas invejosas... invadiram nossa casa numa madrugada e atearam fogo. Meu irmão foi morto a tiros e minha mãe tentou me salvar me escondendo na igreja da nossa rua... _tirou o terço que usava pendurado no pescoço _isso era dela, e foi assim que fui parar no orfanato.

- ...por que está me contando isso agora?

- Por mais que seja triste, eu tive uma casa, pude ter um jantar em família... desculpas Matt, eu não fui a pessoa ideal para ficar ao seu lado com seus pequenos sonhos. Eu nunca entendi que tudo que você queria era não ser esquecido e ter essas coisas simples.   

- Eu... tenho tudo isso agora, está tudo bem _deu um pequeno sorriso, agora sem mais olhar para o rosto de Mello.

- ... entendo, fico feliz por não estar mais chateado comigo... Matt, não precisa chorar!! _ficou sem jeito ao ver as lágrimas brotarem sem parar.

- É tudo perfeito... mas então porque eu estou chorando?

- Matt... não, Mail _encostou a cabeça no ombro dele _ eu não consegui entender que, conseguindo ou não, nós tínhamos um ao outro... e isso já é o suficiente, então pegue a minha mão e volta... por favor _estendeu a mão para o amante.

- ... _sua respiração falhou por um segundo, abraçou Mello com força e secou suas lágrimas _ não sei se posso desistir de tudo que construí até agora... eu gosto de você.. eu amo você! Mas a vida não é feita de decisões repentinas assim...

- Ah cale a boca... você foi embora do nada, você simplesmente desapareceu da minha vida! Matt agora eu entendi exatamente o que você sentiu quando deixei você para trás... eu quero a minha chance! Eu errei.

- ... não estou bravo com você, nem queria que sentisse tudo isso... sabe eu não queria mesmo _sua expressão que antes era de aflição, agora estava serena e calma _ eu sempre serei um covarde, me desculpe.

- Tsc... eu vou cuidar de você direitinho, eu prometo _estendeu a mão para ele mais uma vez, agora seus olhos pediam socorro apesar da sua voz calma _ volta, volta por favor!

- ...

- Eu te amo.

- Mello... _ficou sem palavras, mil coisas passaram pela cabeça de Matt e no final ele segurou aquela mão a sua frente.

- Eu vou melhorar meu gênio, prometo.

- Não importa se você não demonstra seus sentimentos o tempo todo, ou se você grita comigo, muito menos importa se você quer conquistar o mundo de modo egoísta, eu apenas preciso estar ao seu lado... acho que nada disso realmente importou, eu só não tive coragem de voltar.

- Então vamos! _apertou mais forte sua mão _geralmente é você que faz isso, mas agora é a minha vez. Não precisa mais se aproximar de mim... sou EU que vou me aproximar de você.

- sim... _Matt abriu um sorriso sincero e ao ver aquela expressão, Mello pode voltar alguns anos de sua vida, se lembrou daquela criança doce que era _seu nome é derivado de Michael, um anjo, sabia?

- ... _fez um sinal negativo com a cabeça e sorriu também.  

            Eu achei que tinha encontrado um lar, uma família... mas sabe, sua verdadeira casa é aquela onde tem alguém que está pensando em você no fundo do coração; esse é o lugar para onde você deve voltar. Mesmo que ele seja bagunçado, mesmo que ele não se pareça tanto assim com você...  

-------------- algum tempo depois -------------

            E lá estava eu novamente todo sujo de poeira, mas agora limpando o porão de casa. Voltei a morar no meu antigo apartamento agora com Mihael, é claro que a minha noiva não aprovou, me bateu e foi embora... bom, todos passamos por coisas assim na vida, eu sinto um certo pesar por ela afinal...

            Daqui a pouco iremos viajar para Itália e começar o plano de sempre, cansativo eu sei, mas faz tempo que eu não atiro nem fumos cigarros, estou ficando até fora de forma... sim, são todas desculpas idiotas para justificar minha volta, eu admito.

            Hoje o tempo está bom, daqui a pouco ele vai chegar chutando a porta como sempre, comendo seus chocolates como sempre, mas não vou desistir do meu beijo de bem vindo, como sempre.

- CHEGUEI! Onde está você?!

- ... _abriu um sorriso e balançou a cabeça _ele não tem jeito... estou aqui!! _gritou do quarto mais alto ainda.

- Vem aqui me ajudar!

- O que foi? Puta que pariu, não tem mais espaço para tranqueiras não! _ajudou Mello com algumas caixas _ueh, estão vazias?

- Claro, coloque todas as suas coisas ai _sentou no sofá exausto.

- ... vamos nos mudar já? Agora que eu terminei de arrumar o porão...

- Anda logo! O carro está lá em baixo.

- Sim, sim... droga, pelo menos ELA me dava beijo de “bem vindo” _saiu reclamando.

- ... _olhou para Matt que estava pegando suas roupas no quarto _Matt, vem aqui.

- Hum? Espera ainda não terminei aqui... Eeeei! _o loiro virou seu rosto e deu um beijo nele _hu...huuum!

- É VOCÊ quem deveria me beijar, seu burro.

- ... ah é _e ambos caíram na gargalhada.

            Em pouco menos de 30 minutos, Matt desceu com as caixas cheias acompanhado por Mello e sua barra de chocolate.

- Coloca elas no porta malas _tirou uma chave do bolso e destravou o carro.

- Nossa, que taxi chique... espera, desde quando Ferrari são usadas como taxi?

- ... _suspirou _é nosso carro, entra logo.

- EIN! Você esta milionário e eu morando naquele apartamentozinho?! Vai se fuder _entrou emburrado.

- Cala boca _abriu um sorriso.

            Eles viajaram por duas horas até uma parte mais distante do centro, era calmo, mas não deixava de ter tudo que tinha no agitado centro de Tóquio.

            Mello estacionou em frente a uma mansão estilo japonesa, as janelas estavam decoradas com cortinas brancas, um grande pé de Sakura no jardim além da grama cortada recentemente.

- ... _olhou de boca aberta para o lugar.

- Vem..._tirou mais chaves do bolso e entregou uma delas a Matt _sua cópia.

- O...obrigado _ainda distraído admirando a construção.

- Limpe os pés antes de entrar!!

- Claro, claro... _olhou para o tapete na entrada, ele dizia o tradicional “Welcome” _nossa, mas por que está tudo tão arrumado se vamos ficar só alguns...

- Anos _interrompeu Matt.

- Anos _completou sua frase _ANOS?

- ... _pegou na mão do amado puxando-o para dentro e deu um abraço _agora somos uma família, temos uma casa...e eu te amo, não esqueça... o sonho não acabou.