Ironias do Amor escrita por Tortuguita


Capítulo 9
Culpado




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Emily Sanders



Esse definitivamente não era um dos meus melhores dias... Eu estava com sono, morrendo de frio, minha cabeça estava explodindo e eu não parava de tossir. Para piorar, o cheiro da pizza que Julia acabará de tirar do forno estava me dando muita fome.

Depois de me ouvir reclamar durante uns vinte minutos, a morena arranjou um cobertor gigante para mim e eu me escondi dentro dele deixando só o rosto à mostra, mesmo assim ainda sentia meu corpo estremecer.

Afundei-me no sofá azul quando vi Ricardo descer as escadas. Eu estava com vontade de quebrar a cara dele todinha em pedaços bem pequenos, mas sabia que não teria força suficiente para isso. Primeiro por que meu corpo estava fraco e segundo por que precisava evitar aproximações depois do que ele fez ontem.

Acho que nesse momento estava odiando mais a mim mesma do que a ele, não entendia o porquê de não ter impedido esse imbecil, sem noção e safado. Eu cometi mil e um erros de uma vez só. Permiti que ele saísse vitorioso, que controlasse toda a situação e que tivesse total consciência de que meu corpo não me obedecia nessas horas criticas.

Com licença, vou ali afundar minha cabeça no lago.

Por que raio é que eu não fiz absolutamente nada? Por que eu fiquei ali parada como se estivesse hipnotizada por ele? Agora só me resta arcar com as drásticas consequências que vão desde os pensamentos impróprios que uma vez ou outra tomam conta da minha mente envolvendo a respiração quente do garoto no meu pescoço e os arrepios que isso me causava até ao sorriso canalha que ele está usando em seu rosto enquanto desce as escadas e olha para mim.
É impossível não notar que está fazendo de propósito e agora eu estou totalmente em desvantagem. Não bastando à desonra, esse resfriado também é culpa dele. Afundei-me ainda mais para tentar impedir que ele visse meu rosto levemente corado de raiva.

– Qual é o seu problema? – Não bastando dirigir a palavra a mim depois de tudo, ele ainda se jogou ao meu lado, tomou o controle da minha mão e mudou o canal.

– Vou passar óleo de peroba na sua cara – Murmurei irritada.

– O que? – Ele deixou de olhar para a televisão para me encarar.

– Você é muito cara de pau em vir falar comigo depois do que fez ontem, não acha não? – Eu gritei, descarregando uma centelha da minha raiva.

– Não – Ele riu. – O que você tem? – Me analisou. Na verdade analisou o cobertor infinitamente grande que me escondia.

– Diria que não é da sua conta se a culpa não fosse totalmente sua. – Reclamei.

– Minha? – Ele ergueu as sobrancelhas. – Ficou tão afetada assim? – O sorriso canalha brincava novamente em seus lábios perfeitamente bem desenhados.

– Do que exatamente você esta falando? – Eu proferi ríspida e ele continuou com o mesmo sorriso, mas dessa vez com os olhos pregados na tela da televisão. Passado alguns minutos compreendi que ele não iria responder.

Depois de mais um acesso de tosses minha cabeça latejou novamente, me fazendo resmungar. Eu definitivamente não estava bem. Assustei-me ao ver a mão tão próxima do meu rosto, o garoto repousou-a sobre a minha testa e o mínimo toque fez uma corrente elétrica percorrer minha espinha. Estava fria.

Seu rosto encontrava-se mais próximo do que eu desejava e considerava seguro. Em principio eu encarei-o confusa, mas minha atenção se deleitou no azul infinito e intenso e eu me perdi ali por algum tempo. Não sei ao certo quanto, mas só acordei quando os lábios avermelhados se moveram, me fazendo perceber que eu não estava mais encarando os olhos do garoto.

– Você está com febre. – Ele disse aquilo num sussurro e seu sotaque perfeito, que antes me incomodava, dessa vez me roubou um singelo sorriso.

– Culpa sua. – Murmurei escondendo o rosto entre o cobertor. Mamãe vivia falando que eu ficava mil vezes mais mimada quando estava doente, ao examinar o tom de voz com que eu disse aquilo, acho que ela tinha razão.

O moreno acariciou levemente o meu cabelo e se levantou. Ergui a cabeça após algum tempo para me certificar que estava sozinha e vi quando ele voltou com um termômetro e comprimidos nas mãos.

– Eu não estou com febre – Retruquei fazendo uma careta. Odiava tomar remédio.

Ele entregou o termômetro em minhas mãos fazendo sinal para que o colocasse em baixo de um dos braços, mesmo descontente fiz o que ele pediu. O garoto desapareceu novamente e quando ele retornou, eu já estava analisando o termômetro impaciente.

– Esta vendo, eu não estou com febre. Não precisa de remédio. – Esclareci.

– Me deixa ver. – Ele se aproximou estendendo uma das mãos para pegar o termômetro.

– Não. – Eu o afastei dele.

– Me dá isso agora. – Ele respirou fundo e permaneceu ali, me enfrentando com seus olhos ferozes enquanto aguardava a minha rendição.

– Tá! – Disse desapontada e entreguei nas mãos dele. O moreno sorriu e eu cruzei os braços. Ele me obrigou a tomar remédio.

(...)

Mateus e Jean chegaram e se juntaram a Ricardo no outro sofá, uma vez que eu ocupei um dos sofás grandes todo. Com o barulho que os dois fizeram Melanie acordou e também se juntou a nós com sua cara de sono e seu bom humor matinal invejável.

Comemos a pizza ali na sala, os vestígios eram os pratos vazios espalhados pelo chão e em cima da mesinha.

Eles estavam focados na televisão – para ser mais concreta em um filme de guerra que passava na Fox – enquanto eu observava o teto implorando para a dor de cabeça ir embora. O remédio com gosto ruim que Ricardo me fez tomar não estava adiantando nada.

Mateus tinha deixado o telefone em cima da mesa de centro que estava na nossa frente e este começou a tocar uma musica dos Nirvana que, sinceramente, eu odiava. O moreno inclinou o telefone de maneira que pudesse ver de quem era à chamada. Ele respirou fundo e desligou.

– Continua ligando? – Ricardo perguntou sério, mesmo não tendo tirado os olhos da televisão estava visivelmente preocupado.

– Sim – O outro confessou se endireitando no sofá. O telefone fez um “Bip” e eu estiquei o pescoço discretamente para ver que havia chegado uma nova mensagem. – Ela não desiste – Desabafou pegando novamente o telefone.

– Ah... Será que eu posso saber ela quem e desiste do que? – Melanie se intrometeu na conversa dos dois.

– Uma garota. - Mateus murmurou.

– Serio? Então “ela” é uma garota, – Mel fingiu exageradamente estar surpresa – não me diga, eu nunca suspeitaria. – Eu ri e Mateus girou os olhos com um sorriso singelo nos lábios.

– Apenas uma garota idiota que deixou nosso amigo com a Síndrome de Dom Casmurro. – Jean comentou, tocando o ombro do garoto.

– Que engraçado. – O sarcasmo era evidente e o moreno parecia ligeiramente irritado.

– Ela te traiu? – Eu arregalei os olhos.

– Afinal você consegue ser inteligente às vezes. – Ricardo sorriu e eu lhe lancei um dos meus melhores olhares assassinos.

– Até parece que é alguma coisa sobrenatural. – Mateus deixou transparecer um pouco de tristeza, mas logo se recompôs. Optei por não responder, não sabia o que dizer.

– Foi ela que perdeu não foi? – Ricardo deixou de observar a televisão e se virou para o amigo. Eles se analisaram por alguns segundos.

– Foi. – Ele murmurou.

– Ótimo, porque o luto era só de três dias, então para de drama, tem muito peixe no mar. – O idiota disse e o outro pareceu agradecer com um sorriso.

– Insensível – Comentei, mas Ricardo fingiu que não ouviu.

O telefone tocou outra vez. Melanie debruçou-se sobre a mesa e o pegou. Apertou um dos botões e colocou o aparelho no ouvido com a cara mais inocente do mundo.

– Olá! – Ela disse.

– O que você esta fazendo? – Mateus sussurrou para a garota que fez sinal para que ele ficasse quieto.

– Aqui é a namorada do Mateus, ele esta ocupado no momento, quer deixar recado? – Melanie fazia sinais para nós. Não consegui me controlar quando Mateus bateu a palma da mão contra a testa e comecei a rir sem parar, por sorte a garota do outro lado da linha já tinha desligado a chamada.

– Você é louca? – Mateus perguntou à morena.

– Devia me agradecer, agora ela vai parar de te ligar. – Ela disse emburrada e se jogou novamente no sofá.

(...)

– Julia, eu preciso da sua borracha. Tenho que consertar os últimos detalhes daquela redação idiota antes que eu desanime e acabe não corrigindo nada. – O sotaque de Ricardo me deixava zonza.

– Porque você não usa a sua? – Eu me meti.

– Ninguém falou com você pirralha. – Ele retrucou e eu fiz uma careta – Alguém picou a minha em pedacinhos na ultima aula. – Ele frisou o “alguém” e encarou Jean, culpando-o enquanto se explicava, não para mim como é obvio, mas para Julia.

– Era a única coisa razoavelmente correta que tinha ao meu alcance para jogar na cabeça da Estefany. – Jean se defendeu.

– Jogasse a sua borracha, não a minha.

– Eu já tinha jogado a minha na cabeça daquela nerd que senta na nossa frente. – Retrucou. – Eu nunca lembro o nome da nerd. – Ele aderiu uma expressão pensativa momentaneamente, como se quisesse lembrar-se do nome da garota.

– É só você pegar. – Julia murmurou sem dar muita importância ao que eles diziam.

– A onde? – Ricardo levantou.

– Na mochila. Está atrás da porta, eu acho. – Ela disse incerta e ele subiu.


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Notas finais do capítulo

Pergunta do capítulo: Querido leitor, qual é o melhor video-clip de musica que você já assistiu?