Ironias do Amor escrita por Tortuguita


Capítulo 5
First day


Notas iniciais do capítulo

"Há quem diga que podemos nos apaixonar à primeira vista, outros, ao primeiro contato. Digo aqui que ambos estão errados. Você só vai realmente amar alguém quando os olhares se cruzarem e esta pessoa abrir a boca. Se você odiá-la naquele momento então você gosta dela." — Christy N */215288/



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Emily Sanders

Avistei de longe o edifício pomposo, no fim do gramado que lembrava um tapete verde gigantesco de tão milimetricamente cortado e pelas cores vivas. O prédio era cercado por uma grade branca e alta que dava um aspecto reservado ao lugar. Nós três caminhamos lado a lado em direção ao grande portão. O grupo de garotos continuava andando atrás de nós e a conversa parecia ser sobre um jogo qualquer de basquete que viram.

Eu diria que faltava algo naquela manhã comum, mas Melanie parou de repente e cruzou os braços. Eu a olhei sem entender e vi Julia fazer o mesmo.

— Meu sistema nervoso esta dando curto circuito. — disse, com uma voz dramática.

— Ah não! — Reclamei, colocando-me atrás dela — É só uma apresentação! — Empurrei a morena para dentro da escola. — Vamos Mel, eu não quero chegar atrasada!

— É sério, eu acho que estou mais nervosa do que no dia do exame.

— Impossível! — Eu e Julia gritamos em uníssono e depois rimos por isso feito retardadas antes de continuar empurrando Melanie para dentro.

Os garotos já tinham passado na nossa frente e o grito fez com que parassem de falar e olhassem para nós, mas não demorou nem dez segundos para que retornassem a conversa animada que estavam tendo.

— Aquele dia foi o cúmulo! — reclamei — A vontade de te bater ocupou meu cérebro de uma forma tão intensa que você quase me fez esquecer o maldito exame.

— Eu sou um excelente relaxante natural, querida. — Ela piscou para mim e nós voltamos a rir.

— Cala essa boca e anda! — Julia agarrou Mel pelo braço e a arrastou para acompanhar os três morenos. Eu segui as duas ainda rindo.

Os garotos nos mostraram o caminho para o auditório, onde decorreria a recepção para os calouros de farmácia. Conhecemos professores, falaram sobre algumas regras, ainda conseguimos encontrar alguns rostos que já eram conhecidos da antiga escola no meio da multidão. Saber que ia ter aulas numa sala com aquele tanto de gente era até meio assustador, tinha muita gente naquele auditório, estava lotado. A realidade é muito diferente do ensino médio, isso era assustador.

Uma mulher com grandes bochechas apareceu dizendo ser a diretora do curso. Ela falou sobre vários ramos de saída profissional, alguns que já sabíamos e outros que eram novidades. Ela deu algumas informações até legais, mas a maior parte delas eram muito chatas.

— Valeu a pena chegar cedo? — Era uma tentativa de me irritar, o sorriso debochado que Melanie tinha no rosto tornava isso evidente. Eu devolvi o sorriso à morena, enquanto a risadinha contagiante de Julia soava ao meu ouvido.

— Foi a maior chatice de sempre. — Mel murmurou me mostrando língua.

Saímos do auditório e nos guiando pelo papel que imprimimos encontramos a sala para a nossa primeira aula. Conhecemos mais um professor que, por motivos desconhecidos, não estava na apresentação. Ele parecia ser o mais engraçado deles e para a primeira aula, foi muito menos assustador do que aquilo que eu imaginava que seria.

A segunda aula, assim como a primeira, passou muito rápida e foi fácil encontrar a sala, já que a gente perseguiu as pessoas da nossa turma e as portas das salas tinham placas razoavelmente grandes com os números que as identificavam.

Foi no final da manhã que entramos em desespero quando perdemos as pessoas de vista enquanto fomos ao banheiro. Isso, graças à Melanie que não parava de reclamar que ia fazer xixi na roupa.

Perder as pessoas não foi o problema em si. Ele surgiu ao perceber que onde deveria estar um número, como nas salas anteriores, estava escrito “Lab”. Para começar, não fazíamos a mínima ideia do que isso era então, como é óbvio, era impossível saber onde ficava.

— Vamos chegar atrasadas.

— Culpa de quem? — Revidei e Melanie me mostrou a língua de novo, mas dessa vez ficando assustadoramente parecida com uma criança.

Eu já estava procurando alguém aparentemente simpático para perguntar, mas Julia achou algo melhor: seu irmão.

— Estamos salvas! — Murmurou, apontando Ricardo, Jean, Mateus, o amigo feio deles e mais um desconhecido no final do corredor. Aproximamos-nos.

— Rick! — Ela chamou e ele se virou junto com todos os outros. — Estamos perdidas. — Com as palavras dela, eu levantei os olhos da folha onde estavam as nossas salas.

— Estamos procurando uma coisa chamada “Lab” — Eu disse e Ricardo riu.

— Essa “coisa” é o laboratório. — Ele disse com um sotaque que me fez congelar. Porque aquilo era tão sexy? O tom de completo deboche foi camuflado por aquele resquício de estrangeiro nas palavras dele.

Acho que foi a primeira vez que ouvi o garoto falar ou pelo menos foi a primeira vez que prestei atenção nisso. Eu não sei durante quanto tempo eu fiquei olhando para ele com uma cara de mongoloide. Eu acordei quando Melanie pigarreou, a cena deveria estar tensa.

— Só podia ser loira. — O nível de deboche aumentou e eu tomei vergonha na cara para pular fora do fã clube do galãzinho retardado que estava na minha frente. Ele era bonito, mas eu não sou tão retardada assim, não vou me rebaixar. Ele ia dizer mais alguma coisa, mas não deu tempo.

— Claro, porque parecer um porco espinho te dá muitas vantagens para tirar onda com o meu cabelo — Eu devolvi e algumas risadas abafadas soaram a minha volta.

Vi Ricardo estreitar os olhos em meio ao divertimento estampado em seu rosto. Ele não estava propriamente acostumado com pessoas, muito menos garotas, devolvendo suas afrontas na mesma altura.

— Espero que você saiba que será odiada para sempre se ficar retrucando o que ele fala. – Mel sussurrou no meu ouvido e eu fiz uma cara de não estou nem ai para ela.

— Vamos chegar atrasadas. — Eu disse.

— Será um prazer ajudá-las, senhoritas — Jean forjou o mesmo sotaque quebrando o clima tenso, o sorriso sínico que tinha no rosto mostrava o quando estava se divertindo com a situação.

— Não tente imitar meu sotaque, só fica bonito em mim. — Ricardo o empurrou levemente e Jean protestou em meio a risadas.

— Nós levamos vocês lá. — Ricardo pronunciou, seguindo pelo corredor. Nós fomos atrás dele junto com Jean. Mateus e os outros garotos ficaram lá.

Nós nunca na vida acharíamos aquela sala sozinhas, eu tive certeza disso quando Jean apontou para a porta. Ouvi Melanie agradecer aos dois garotos e eles sorriram para ela, que ficou vermelha até as pontas dos cabelos. Eu e Julia rimos disfarçadamente enquanto os dois desapareciam no final do corredor.


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Notas finais do capítulo

Pergunta do capítulo: Querido leitor, qual é a sua profissão? Se você ainda estuda então em que você quer se formar?