Ironias do Amor escrita por Tortuguita


Capítulo 16
Out


Notas iniciais do capítulo

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Emily Sanders

– Você não vai acreditar! – Julia gritou assim que se jogou entre eu e Melanie e quase me derrubou do banco. – Adivinha quem me chamou para sair?

– Sério? – Melanie questionou emburrada. – Agora todo mundo vai sair menos eu?

– Como assim? – Julia me encarou com um sorriso travesso querendo detalhes que eu resumi em apenas uma palavra.

– Jason.

– Ai que legal! – Ela bateu palmas sorrindo. Estava visivelmente mais empolgada que eu.

– É, – sorri, – mas conta, quem chamou você?

– Felipe. – Ela proferiu dando um suspiro em seguida. Felipe era um garoto do nosso curso, ele não era propriamente bonito, mas tinha muita conversa então acabava se dando bem com as garotas. Melanie a encarou com uma expressão cautelosa.

– Você vai sair com ele de novo? – Ela não pareceu gostar muito da ideia.

– Você já tinha saído com ele? – Perguntei curiosa sobrepondo a primeira pergunta, que de qualquer forma era retórica. Melanie me respondeu antes que Julia pudesse abrir a boca.

– Eles meio que deram uns pegas a um bom tempo atrás. Julia começou a gostar dele, ele não queria compromisso e para resumir: Alguém ficou bem magoada. – Ela frisou o alguém e encarou a morena, que instantaneamente revirou os olhos.

– Eu era uma criança naquela época, não vai acontecer de novo.

– Ah qual é Ju? Você se apega muito fácil às pessoas, você sabe disso.

– Já disse que não vai acontecer.

Eu ia perguntar onde ela o conheceu, mas o clima estava meio tenso, então optei por não dizer mais nada.

Assim que o silêncio se instalou eu deixei de prestar atenção nas duas e encarei o grupinho de garotos sentados em volta de uma mesa bem distante de nós. Ricardo era o único que estava literalmente deitado em cima da mesa, Mateus estava sentado nela e outros cinco garotos, incluindo Jean e Tiago, estavam sentados nas cadeiras em volta.
Vi o moreno rir de alguma palhaçada que um deles disse e por um momento me perguntei se todo o meu desanimo para sair com Jason não era culpa dele.

Haviam se passado quatro dias desde o incidente na lagoa, mas mesmo assim a macieis daqueles lábios e a eletricidade que um toque tão singelo pôde transmitir para mim ainda eram lembranças recentes. Questionei-me o que sentiria se tivesse sido um beijo de verdade. Se tão pouco me fez pensar por tanto tempo, então algo intenso eu jamais esqueceria, e esse certamente, era mais um motivo para continuar me mantendo longe dele.

Os olhos do moreno vieram de encontro aos meus e isso me despertou dos meus devaneios. Desde domingo quase não nos falamos, mas momentos como esse estavam acontecendo mais vezes do que eu desejava. Algo no olhar dele mudou de alguns dias para cá, e isso me deixou muito desconfortável. Eu sinto como se ele soubesse que eu estou pensando naquele beijo, como se ele soubesse que mexeu comigo.

E só agora olhando para ele eu notei algo que ele possivelmente já havia notado há algum tempo, algo que me denunciou; eu não briguei ou impliquei com ele durante toda essa semana.

Mesmo estando um pouco longe, aquelas jóias azuis continuavam límpidas, e eu pressentia que podiam desvendar toda a minha alma sem qualquer esforço. Senti meu rosto esquentar.

– Eu já volto – Melanie disse para mim e Julia – Quebrei o contato visual com o moreno no mesmo instante, virando meu rosto para o lado oposto e acompanhando com o olhar o percurso de Mel em direção à Gabriela.

– Tive uma ideia. – A morena gritou do meu lado e eu pulei de susto. Por que ela tinha que gritar se eu não estava nem a um metro de distancia dela?

–Você é doida? – Perguntei perplexa.

– Jason e Felipe se dão super bem… Por que não saímos os quatro?

Aquela ideia era perfeita, uma vez que eu não queria dar chance a Jason de tentar nada e olhando para a morena ao meu lado minha mente viajou e uma ideia mirabolante passou por ela.

– Podemos nos arrumar juntas. – Sugeri.

– Na minha casa? – Ela pediu minha opinião e eu sorri largamente concordando. Era exatamente o que eu queria.

– Perfeito. Assim eles passam lá para nos buscar.

Eu não sei de onde surgiu a vontade de mostrar para Ricardo que eu estava saindo com alguém, mas ela estava aqui, reluzindo dentro de mim. Eu sei que não iria afetá-lo, mas nada melhor do que provar a mim mesma, a ele e ao mundo que eu estou bem e não preciso dele e seu charme barato.

(...)

Quando cogitamos a hipótese de não esperar mais e entrar na sala de aula Julia apareceu no final do corredor, estava sorrindo e puxando Felipe pela mão, eu cruzei os braços impaciente por ela ter demorado tanto. Assim que se aproximou de nós, Jason se colocou ao meu lado para ouvi-la compartilhar sua ideia. Os dois pareceram gostar e até sugeriram que fossemos de moto. Sinceramente, pensei em dizer que não, mas eles aceitaram de bom grado nossa proposta de encontro a quatro, então era melhor não reclamar.

Quando a professora apareceu no corredor, Felipe foi para a sala dele e nós três entramos. Estávamos em salas separadas devido ao tamanho dos recintos. Para todas as aulas práticas a classe era dividida em vários grupos. Como eram feitos por ordem alfabética eu fiquei separada de Julia e Melanie, mas consegui trocar com uma garota do grupo delas.

– Amanhã será um grande dia. – Jason sussurrou no meu ouvido antes de ir sentar, eu respondi com um sorriso tímido. Sentei na cadeira enquanto me xingava mentalmente. Por que com Jason aquilo era totalmente diferente? Dá ultima vez que Ricardo sussurrou no meu ouvido não houve um único poro do meu corpo que não reclamasse.

A aula seguiu tranquila durante o primeiro tempo. Fizemos uma espécie de plástico com acido clorídrico, ureia e formol. Depois disso passamos para a parte teórica, na qual era necessário um esforço descomunal para ouvir a bruxa falando sem parar. A professora Claudia era uma das mais chatas daquela faculdade inteira provavelmente. Ela é baixa, com cabelos curtos e pretos e um péssimo senso de humor, parecia irmã gêmea da Edna Mode, a estilista durona do desenho Os Incríveis.

Estava tudo muito monótono até que o alvoroço estreou a algures atrás de mim. Miguel e Pedro discutiam sobre algo que não consegui definir o que era. Depois de algumas ofensas trocadas Tatiana entrou no meio e começou a discutir com Pedro. Supus que ela estava apoiando o outro garoto, mas então ela começou a brigar com ele também.

Pedro continuou proferindo algumas coisas agressivas e entre elas uma tirou o outro garoto do sério. Ele levantou brutalmente fazendo a cadeira cair, bateu com os punhos fechados sobre a mesa e boa parte das pessoas que estavam próximas a ele se assustaram, inclusive Tatiana que no mesmo instante calou a boca.

– Repete. – O ouvi gritar, mas Pedro ficou calado. O espasmo de fúria de Miguel provavelmente o amedrontou.

– Miguel, saia imediatamente. – Era a terceira vez que a professora gritava, mas parecia ter sido a primeira que ele ouviu. O garoto encarou a mulher por alguns segundos e Tatiana o encorajou a sair, afirmando que era melhor ir antes que ele fizesse alguma besteira.

A turma toda começou aos murmúrios e Pedro voltou a reclamar. Vi quando Henrique perdeu a paciência e decretou alguma ordem para que ele ficasse quieto e então as coisas meio que tomaram um rumo inesperado.

– Henrique, acompanhe o seu amigo. – A professora disse furiosa. A bochecha dela já estava passando de uma coloração rosada para vermelha.

– O que? – Ele olhou para ela perplexo.

– Agora! – Ela disse mais alto.

Ele pegou a mochila num ato de revolta e foi atrás de Miguel discutindo com a mulher no caminho. Os murmúrios ficaram cada vez mais altos enquanto os dois retrucavam um com o outro.

– Eu não acredito que ela fez isso. – Julia encarou a professora sem acreditar.

– Eu odeio essa velha! Ela não tinha o direito de fazer isso. – Melanie reclamou.

– Direito ela tem, mas isso foi realmente ridículo, Henrique não tinha feito nada. – Revirei os olhos – Se ela queria colocar alguém para fora, que colocasse os três que estavam brigando.

Toda a turma começou a rezingar coisas parecidas, a confusão só ficava pior a cada minuto que passava.

– Isso é uma grande injustiça.

– É uma grande que? – Melanie perguntou com uma careta. As pessoas não paravam de falar.

– Injustiça. – Todos os olhares viraram para mim, inclusive o da velha rabugenta que já estava sentada na cadeira dela, demorei alguns segundos para notar o que aconteceu.

Ou a turma toda resolveu parar para respirar no mesmo segundo ou estavam de complô contra mim, porque a minha voz ecoou pela sala no momento em que todo mundo calou a boca. Eu já sabia o que viria a seguir e fechei o caderno.

– Fora! – Ela gritou. Se pudesse me fulminar com o olhar certamente eu já estaria morta. Guardei as coisas na mochila e atravessei a sala. Um “o” perfeito havia se formado no rosto de Julia. Melanie limitou-se a resmungar novamente depois de murmurar um “desculpa” para mim. Eu fiz questão de sorrir para a velha, tendo o prazer de ver seu rosto aderir a uma coloração ainda mais estranha. Raiva, eu supus.


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Notas finais do capítulo

Pergunta do capí­tulo: Querido leitor, o que você acha que vai acontecer nesse encontro?