Margarida (PDV)

Décimo-quinto dia depois de tudo o que aconteceu, nunca mais vi um anjo ou que raio era aquilo e a única coisa que sabia dele era um envelope com o dinheiro da despesa da casa, quanto ao resto tudo se mantinha igual.

Decidi pegar no portátil e pesquisar, primeira palavra…

“Anjo”

…Criatura dos céus, geralmente vista como fisicamente humano mas dotada de asas e com poderes sobrenaturais…

… Dentro do Reino Celestial existem hierarquias, sendo os principais os Arcanjos que orientam os restantes anjos…

… Os anjos contrários são anjos negros, dotados da mesma força dos anjos celestiais mas com orientação para o mal…

…Considerando que eles são seres espirituais, eles normalmente não são vistos sem que Deus lhes dê a capacidade de vê-los em grandes excepções ou a menos que eles se manifestem.

 Apaguei, voltei a escrever, “Azazel”, abri cada página de informação que apareceu e todos me davam a mesma resposta.

“Demónio, anjo negro, o pior dos anjos negros”

Tudo o que dizia era horrores sobre este Azazel, que nada tinha a ver com o meu Diogo…nada!

Sentia-me num estado depressivo, mais uma vez tinha sido traída, deixada no fundo do poço, nem uma mensagem nem um adeus, ele afastou-se de mim e eu o tinha afastado.

Estava sozinha em casa, a Clara e o Tiago tinham ido passar uma semana a casa dos pais dele, eu ia ficar no bar sozinha visto que o Tico apenas la ia de dia, o bom é que ia-me pagar um pouquinho mais pelo serviço.

Continuei a pesquisar, eram tantas as historias que estava vidrada no computador, “anjos”, tudo o que encontrava principalmente era que protegiam, estavam ao serviço do Senhor, embora para fazer face a esses anjos, havia os anjos contrários, onde o nome Azazel se encontrava, mas se ele era um anjo mau, o que ele fazia aqui? Protegia-me?

Todas as dúvidas me assolavam a cabeça assim como a saudade que tinha dele. Peguei na mala e sai de casa, não tinha ido as aulas hoje, alias tinha faltado algumas vezes desde que isto tinha acontecido. Tinha lido num site que um bom médium ou um parapsicólogo poderia ajudar a compreender alguma coisa, aqui nesta zona a única pessoa que podia perceber disto era a Dona Tita da ervanária, é taróloga e sempre que passava para comprar as bolachas diet que lá vendia, queria sempre me consultar.

Entrei pela loja, não vi ninguém.

- Estava a tua espera – sorriu-me, sempre tão dócil.

-D. Tita, eu queria fazer umas perguntas – Ela imediatamente fechou a porta da loja e levou-me para uma pequena sala, onde havia uma mesa com duas cadeiras e em seu redor estava decorado com velas, imagens e incensos.

- Diz-me minha querida… o que se passa?

- Sabe alguma coisa sobre anjos? – Ela riu-se, e fez-me sentar na cadeira em frente a ela.

- Eles andam entre nós. Um para nos protegerem outros para nos fazerem praticar o mal.- Disse-me como grande conhecedora do assunto.

- A senhora conhece-os? Sabe distingui-los? – Perguntei-lhe, ansiosa por respostas francas, que até a certo ponto julgava ser uma palhaçada.

- Oh, se sei! Consigo ver as energias das pessoas. – Disse-me sorrindo.

- Então consegue vê-los… - Suspirei - Azazel, diz-lhe alguma coisa?

- Azazel… O pior dos anjos caídos, compararam-no muitas vezes ao próprio diabo seu pai, tudo em que ele tocava acabava no abismo. Ele era praticamente o sinonimo de morte, até que algo despoletou uma mudança naquele coração gélido. – Aquele não poderia ser o meu Diogo, nunca.

- E mais? O que provocou essa mudança? – tinha que levar tudo ao fundo da questão.

- Há muita história, mas pelo que sei, ele em vez de prejudicar, protegeu um humano e foi contra as suas leis, gerou-se uma guerra no mundo da escuridão, e Azazel foi banido.

- Há alguma possibilidade de ele estar do lado do bem agora?

- Querida…Azazel pode ter mudado de local de acção, mas continua a ter um lado maléfico!

- A dona Tita, sabe de alguma forma como contactar um anjo?

- Para que saber todas essas coisas? O teu anjo da guarda está a falhar no serviço? – Riu-se

- Não, apenas curiosidade! Há então alguma forma? – disfarcei, não vá a senhora julgar que sou maluca.

-Queres mesmo conhecê-lo?

- Sim… - Olhei esperançosa, ela ia-me ajudar.

- Tens que ir a um sitio calmo, sem barulho e que estas em sintonia, por exemplo vai a uma floresta e medita em completa sintonia com o ambiente depois chama por ele. Assim que o chamares, ele se aparecer ouvirá o que tens a dizer, caso contrário, ele está sempre contigo, ouvirá os teus pensamentos!

- Obrigado Tita! Eu tenho de ir… - Ia já a correr, ia chama-lo ele responderia a todas as minhas perguntas.

-Espera. Leva este colar, é de protecção ancestral! Dar-te-á forças… – Deu-me um colar com um pendente com uma pequena pedra, lindo.

-Obrigado por tudo, D. Tita?- Ela olhou para mim, sempre a sorrir – Amanha posso ca voltar?

-Sempre querida sempre!- Sorri-lhe, corri a procura da floresta mais próxima, não era muito extensa, mas era o que bastava.

Tremia, era do nervosismo que sentia pela probabilidade de o voltar a ver e tentei concentrar-me, complicado, nunca me tinha imaginado numa situação destas.

Pus o colar a volta do pescoço, pousei a mala no chão de folhas caídas das árvores que me rodeavam, inspirei aquele ar puro, não fiz nada do que a D.Tita me disse, simplesmente o chamei.

-Azazel – Gritei, não muito alto. – Azazel!

Não foi preciso chamar mais nenhuma vez, ele apareceu da nada a minha frente, agora é que o pude ver como deve de ser, ele era um ser perfeito, continuava a ser o meu Diogo, mas com uma asa negra e outra branca, e uns olhos com uma cor indecifrável, olhava para mim preocupado e triste ao mesmo tempo.

Ficamos algum tempo, nenhuma palavra saia da minha boca, só a sua presença me fazia feliz, protegida.

- Margarida… - Começou  cortando aquele silêncio. - Chamaste-me…

-Diogo…Eu… - Nem tinha palavras.

-Tens muita coisa a perguntar, eu sei! – Ele baixou o olhar, aproximei-me dele – Espera!

Ele fez as asas desaparecer, o seu olhar voltou ao normal, o meu Diogo estava aqui, a minha frente.

- Eu não queria que as coisas fossem assim – prosseguiu ele – Mas acabei por ser um fraco e apaixonei-me por ti, não era para saberes da verdade. Eu não queria que sofresses…

- Eu só não quero voltar a perder-te, seja o que tu fores! – Ele olhou para mim, era o que sentia, não lhe ia esconder. – Eu não compreendo como te formaste, quem é Azazel? Não sei de nada, quero ter respostas para tudo e só tu podes responder…

Ele deu um meio sorriso, daqueles que há muito não via, era assim tão estranho pedir para ele ficar, sabendo eu o que ele era?

- Margarida, eu nunca me poderei afastar de ti, essa é a lei que impera. Eu como teu guardião estarei sempre a teu lado – Disse-me – Mas possivelmente não terei forma de interagir contigo.

- Mas porquê? Estiveste este tempo todo, porque que há a possibilidade de não poderes mais!?

Ele começou a andar as voltas, o seu andar fazia as folhas fazerem um barulho como estivessem a estalar…

- Eu tive que interagir contigo por bem superior, tive que descer, porque foi as ordens que tive, tu mandaste-me embora, e quando os protegidos não aceitam a protecção somos obrigados a afastar-nos. – Aproximei-me dele, quando finalmente parou de andar de um lado para o outro, passei a minha mão pela sua face, ele fechou os olhos e tocou nela, o choque, quantas saudades eu tinha daquela sensação, abracei-o a alegria imensa percorreu o meu corpo, pequenos choques surgiram quando ele retribuiu o abraço, apertando-me contra o seu corpo.

- Volta…Volta a ser o meu anjo! Eu quero que fiques comigo, sendo ou não como era de antes, eu preciso de ti, fazes-me falta…Azazel! – Ele afastou-se e olhou me nos olhos, sorriu.

- Esse nome é um bocado, frio…Prefiro Diogo!

-É o teu nome, amo qualquer um dos dois, mas se preferes Diogo, assim fica! – Sorri-lhe – Então? – Ele sabia a resposta que estava a espera.

- Sim! Acabaste de dar autorização para voltar a entrar na tua vida… - Ele baixou o olhar, pronto havia alguma coisa que não ia ficar bem. - Tu és alguém muito importante para a ordem, não sei bem a razão, mas primeiro de tudo és importante para mim, e não poderei envolver-me contigo, por mais que queira…