Edgar Wright era um homem normal. Por normal quero dizer que ele tinha uma casa, um trabalho, uma família e tudo o que alguém normal poderia ter. Junto com esse pacote de “coisas normais” vinha um grupo de pessoas das quais ele não gostava e Tom Riddle estava entre essas pessoas.

Talvez fosse uma birra infantil, da época da adolescência, quando sua querida prima passou a ficar mais tempo na companhia do jovem de Little Hangleton até que, por fim, declarou-se apaixonada por ele... Não, risque isso. Cecília nunca se declararia apaixonada por ninguém, era orgulhosa demais para dizer isso em voz alta e Edgar sempre suspeitara que Riddle nunca ouvira vindo a boca da garota as trás palavrinhas que todos os outros amantes do mundo costumavam ouvir: eu te amo. De qualquer maneira, Cecília e o rapaz passavam tempo demais juntos, na opinião dele, e aquilo lhe deixava mal. Veja bem, o jovem Wright havia se acostumado a crescer ao lado da prima, a qual, apesar da frieza, sempre estivera ao seu lado... E, de repente, chega aquele garoto estranho que era alto demais, pálido demais, quieto demais – tudo em Riddle parecia ser “demais” – e a rouba dele. Birra ou não, o fato de que Tom Riddle não o agravada era bem claro em sua cabeça, por isso ele não tinha idéia do que estava fazendo lá naquela noite.

“E... E Cecília?” Bom, demorara mais do que ele esperara para a pergunta vir à tona.

“Você não ouviu?” Edgar Wright não era um homem mau, mas, naquele momento, permitiu-se ser um tantinho perverso, mesmo que aquilo fosse contra a sua natureza. “Casou-se.” Um sorrisinho minúsculo apareceu em seus lábios ao ver o rosto do outro enrijecer-se. “Com um médico. Ele é de Londres, mas tinha propriedade em Great Hangleton e foi morar lá com ela. Você está bem?”

“Estou, estou ótimo.” O outro homem fechou os olhos e respirou fundo. “Ela deve me odiar.”

“Bom, você não pode culpá-la por sentir-se assim.” Edgar deu de ombros, encarando o outro, vendo como os olhos deste estavam mais brilhantes do que o normal e como o ele parecia estar prestes a começar a chorar. “Ela jurava que você iria levá-la ao altar...”

“Eu ia.”

“Ia levar está longe de ser levou.”

Riddle fechou os olhos novamente, como se tentasse se controlar, respirando fundo e deixando a respiração escapar-lhe pela boca. Aquilo era patético, pensou Wright. Como Cecília – Cecília, sempre tão forte e fria – conseguira gostar daquele homem? Como sua prima dera chance àquela criatura tão patética que estava praticamente se contendo para não desabar na sua frente?

“Bom... Eu acho que estou indo,” disse Edgar, levantando-se da poltrona onde estava sentado e olhando em volta. “Acho melhor voltar quando seus pais estiverem aqui, preciso falar com o Sr. Riddle... Finanças e coisas do gênero.”

“Sim, eu entendo,” murmurou Tom. “Maggie pode lhe mostrar a saída, se não se importa.”

“Claro que não.” E, dizendo isso, deu as costas para Tom Riddle, sentindo-se um pouco mal por estar se divertindo com a desgraça do outro, mas era quase impossível não se divertir... Era interessante ver como o homem que nunca limpava o sorriso do rosto e que parecia ter um bom humor terrivelmente irritante estar no fundo do poço da maneira como Riddle estava. Novamente, a infantilidade daquela satisfação o assustava, mas Edgar Wright achou que, talvez, isso fosse completamente normal das pessoas.