Sem Palavras Para Descrever escrita por Grivous


Capítulo 8
Sem Palavras Para Descrever — Livro I — Cap. 06




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Equestria — Ponyville — Interior da Biblioteca, 13 de Fevereiro, 20:48.


 

Houve um longo silêncio escuro para a unicórnio cor-de-lavanda. Estranhamente ela não sentiu nada quanto ao impacto contra chão de madeira morta. Acreditava que não tinha nem mesmo energias para sentir alguma dor. Quanto ao silêncio, ele logo se escondia com o surgimento de estranhos barulhos ínfimos em coro que estava surgindo em sua mente. Aos poucos, junto com o crescente número de vozes preocupadas, sua visão começava a ficar nítida. Já reconhecera o teto alto de sua biblioteca; as luzes das lamparinas voltaram para os seus olhos. Virando um pouco a cabeça, ainda que sua visão esteja meio turva, encontrou os rostos de várias pôneis nervosas ao seu redor. Ela reconheceu Applejack, que estava com seu chapéu em bocas, abanando desesperadamente para refrescar-lhe. Twilight sentia que algo apertava seu casco direito suavemente; quase como uma massagem. Aquilo a estava estimulando para despertar de alguma forma; seu sistema nervoso estava voltando a ativa. Em segundos, os rostos familiares tornaram-se em uma expressão lívida de alívio. Todas suspiraram felizes ao mesmo tempo.

Twilight tentou erguer um pouco a cabeça, massageando-a com o casco meio trêmulo, mas preferiu ficar como estava: deitada e confortável.

— Opa... aconteceu de novo. Hehe — foi o quê ela pôde comentar para descontrair.

Que coisa, Twilight! Não nos assuste desse jeito! — indagou Rarity, obviamente indignada com a situação toda. — Esta é a última vez que você dispara feitiços complicados e desgastantes! Alguma hora você não vai conseguir levantar-se ou nem mesmo acordar!

Applejack largou e levantou o chapéu para sua cabeça — Ó, Tualáiti. — avisou ela já com o casco apontado para o rosto de Twilight — É mió ocê si cuidá dessas macumba antis qui faça arguma bestêra das grandi!

— Não são macumbas! São mágicas! — disse Twilight com um tom meio irritado com o comentário de AJ. — E eu estou bem. Só fiquei um pouco zonza, só isso. — Onde já se viu comparar magia com macumba?, pensou ela. Mas estava um tanto cansada para irritar-se.

— É, pódi inté tá bem agora! Már num istaria si num fosse o Nhô Aiê pra lhe acudí! Ocê istaria cas venta no chão si num fôsse por eli!

Twilight apertou os olhos, confusa. — O... Sr. Eye?

Bem que ela suspeitava em sentir-se confortável naquela posição; algo macio estava apoiando sua cabeça do chão. Tinha um cheiro agradável... e seu volume estranhamente crescia em intervalos aleatórios; como se estivesse respirando! Na mesma hora ergueu sua cabeça bruscamente e virou-a para ver quem estava apoiando ela. Para a surpresa dela, encontrou o corpo grande de um corcel em trajes elegantes. Virando mais a cabeça, ela vê o rosto cremoso de Foreign, acompanhado com os olhos calmos e celestes, e um sorriso suave em suas bochechas. Twilight olhava para ele de cima para baixo; duas vezes para confirmar; e uma terceira para ter certeza.

Seu cérebro inteligente estava a mil por hora. Uma chuva rápida de perguntas atravessou seu pensamento feminino: “Ele me segurou! Como ele conseguiu me segurar a tempo?! Ele estava tão perto de mim quando me agarrou? Minha nossa, será que eu o machuquei quando minha cabeça caiu em cima dele?! Peraí, então eu caí em cima dele?! Sua lezada!! Como pôde cair em cima de um Conselheiro e Diplomata Oficial do Reino das Terras Férteis?! Ele deve estar decepcionado com sua estupidez vergonhosa e... mas... porquê ele está tão calmo e... passivo? Esse seu sorriso... esse sorriso irritante e bobo. Porquê ele não está bravo? Ele tem que estar bravo! Quem mais cai em cima de Diplomatas alheios e não ficariam bravos ou machucados? Porquê não há nenhuma expressão negativa e repreendedora quanto a minha estupidez? Até parece que ele está aprecian--”.

    Foi com essa pausa que, numa ação meio em etapas, Twilight deu um curto e fino grito de espanto, erguendo-se bruscamente do chão, quase que num salto, e subiu um rosa ardente em seu rosto; sua cor-de-lavanda foi substituída por um tom rosado visível e suas palavras ficaram grudadas e quase ilegíveis.

    — Milperdõessenhoreyeporminhaestupidezeunãoseioquedeuemmimdigoclaroqueseieuuseiumfeitiçocomplicadíssimoeacabeiexagerandonousodeminhasenergiasqueacabeidesmaiandoemcimadosenhordesculpadesculpadesculpa!

    Foreign ergueu-se do chão com uma expressão mista de nervosismo, pois não entendia uma palavra do que aquela unicórnio estava falando, e de susto por causa de sua inesperada reação.

— C-calma, Srta. Sparkle! — disse ele, sacolejando os cascos. — Por favor, se... se você estiver se desculpado, por favor, não se desculpe! E não se esforce tanto! Antes que--

    Twilight foi brusca demais, acabou cambaleando em seguida e ia novamente de encontro ao chão; suas energias ainda estavam escarças para dividí-las com suas pernas. Foreign ia segurá-la novamente, mas Applejack foi mais rápida, assim como sua repreensão.

Óiaí! Tá vêno só?! — AJ ergueu Twilight com o corpo em baixo dela numa incrível facilidade; como se ela havia erguido um barril vazio — É disso qui tâmo falâno! Ô ocê cuméça a si cuidá ô eu mêrma vô sê a causa dos seus discuido!

    — E-eu estou bem, AJ. Sério! — mentiu ela. — S-só me levantei rápida demais e acabei perdendo o equilíbrio no meio do processo. Mas obrigada por me segurar.

    — Ói lá, visse? — Applejack deu um mínimo impulso para manter sua amiga em pé por si só e afastou-se aos poucos, dando-lhe espaço.

    — Não se preocupe, estarei olhando. — Twilight ajeitou sua crina e intonou a voz — Já estamos perdendo tempo demais. A noite já começou a horas atrás mas a reunião não. — Twilight, com um pouco de esforço, acionou sua magia e levitou os dois cartões que foram invocados do pedaço de papel.

    Ela analisou eles com cuidado; virou-os frente e verso e confirmou cada informação contida naqueles cartões, incluindo nome, identificação, cargo e assinatura da própria Princesa; assim como os das demais convidadas oficiais e presentes. Twilight os levitou para perto da Rainbow Dash.

    — Rainbow, pode confirmar que esses cartões são legítimos? — sua voz soava cansada, mas continou firme.

    Rainbow Dash olhou-os atentamente. Twilight virava e revirava os cartões diante dela com sua magia. A pégaso azulada confirmou num aceno positivo com a cabeça e um olhar sério.

    Twilight acenou com a cabeça, agradecida — Perfeito. Foreign Eye e General Stubborn--

    — Capitão Stubborn. — ele a corrigiu com um tom irritado.

    Twilight o ignorou — ... estão agora inseridos oficialmente na nossa equipe neste Grande Evento. Fiquem com os seus cartões e não os percam de vista; eles são importantes. — ela levitou os cartões para os respectivos donos.

    Stubborn agarrou aquele cartão com uma mordida feroz. E o guardou dentro de um de suas dezenas de bolsos negros em seu uniforme. Já Foreign Eye ainda estava surpreso com a mudança absurda de comportamento daquela unicórnia. Poucos minutos ela estava desacordada, quase desgastada com o último feitiço que ela executou. Ele nunca viu isso acontecer antes à um unicórnio. E pelo comentário de Twilight, não era a primeira vez que aconteceu isso. Houve outras vezes; e essa foi bem de leve, pela calmaria da executadora ao acordar. Ele estava surpreso com a indiscritível força de vontade desta unicórnio. Essa pônei era, sinceramente, interessante.

    — Sr. Eye? — Twilight perguntou, sacudindo um pouco o cartão flutuante diante dele.

    Ele percebeu que, desde que ela despertou, não havia parado de encará-la. Ele limpou a garganta para disfarçar, — Ah, sim. Perdão. — abocanhou o cartão e o guardou num bolso em seu terno.

    — Caham. — A Prefeita declarou-se no meio das pôneis. — Bom, podemos dar início ao reunião, eu presumo.

    — Com certeza, Srta. Prefeita. — respondeu Twilight calmamente, apesar das visíveis gotículas de suor em sua testa chifruda — Temos muito com o quê discutir, então, vamos pôr as cartas e os planos à mesa--

    — A reunião pode esperar mais um pouco. — intrometeu-se o Capitão Stubborn, com sua voz sonora e carrancuda.

    Twilight suspirou nervosamente — Posso saber o motivo, Sr. Stubborn? — perguntou a irritada unicórnio chifruda.

    — Contente-se apenas com Capitão ou Capitão Stubborn, Nossa Esquecida Aprendiz da Princesa. — ironizou Stubborn — E você não está com condições físicas, mentais e responsáveis para dar início e seguir adiante com esta reunião.

    Twilight virou seu corpo de frente para Stubborn, quase cambaleando — E quem é você para dizer isso?! — indagou ela num tom firme — Você agora virou médico-psico-analista de um segundo pro outro, por obséquio?

    Stubborn não se intimidou com aquela miniatura de unicórnio — Sou aquele Vossa Mandona Mentora enviou para evitar e solucionar problemas e balbúrdias causados pela Nossa Irresponsável Aprendiz da Mentora. E não preciso de um diploma médico ou clínico para ver que você está acabada por causa daquele feitiço. Foi demasiado esforço; até mesmo para você, Nossa Exibida Aprendiz da Princesa. Sua teimosia e falta de senso pôs sua própria saúde em risco e pôneis próximos a você numa preocupação desenfreada.

    Twilight olhou ao redor com o canto do olho para os rostos de suas amigas. Elas desviavam os olhares para o lado em constrangimento com o comentário de Stubborn, o que comprovava que ele estava falando a verdade. E Twilight também ficou constrangida com aquilo.

    O enorme corcel amarronzado avançou pesadamente até a unicórnia roxa — E você não está em condições para seguir com a reunião neste estado, Nossa Destrambelhada Aprendiz da Princesa. — no momento em que ela estava distraída, Stubborn deu um leve empurrão com seu casco no peito de Twilight. Ele mau a encostou e seu corpo cor-de-lavanda já estava indo de volta à superfície de madeira abaixo dela. De um segundo pro outro, Twilight via os rostos de suas pôneis queridas desviados, e já estava vendo novamente o chão aproximando-se mais e mais de seu rosto. Mas Foreign conseguiu segurá-la a tempo ao apoiar seu lombo contra o dela. Algumas pôneis voltaram a olhar para Stubborn, outras mais dramáticas já estavam com o casco em suas bocas, suspirando.

    — Capitão, por favor! — Foreign implorou para que ele parasse, mas o corcel não deu ouvidos.

Stubborn apenas olhou ferozmente para o pônei elegante. Aquilo o assustou de verdade; Foreign se calou na hora.

    — Está vendo? — continuou Stubborn, olhando seriamente para a exausta unicórnio — Você mau aguenta nas quatro patas. Um sopro poderia derrubá-la e causaria mais estrago do que eu poderia com este toque.

    Twilight juntou os pensamentos e voltou ao senso. Ficou meio zonza quando perdeu o equilíbrio mas recuperou-se rapidamente. Outra vez se via resgatada pelo elegante convidado. Envergonhada, Twilight afastou-se imediatamente enquanto pedia desculpas. Mas já resmungava entre os dentes pela vergonha que aquela muralha a estava fazendo passar diante de suas amigas.

    — Portanto, descanse e só volte quando estiver revigorada e responsável novamente.

    Que absurdo! Quem essa montanha de chocolate pensa que era para falar desse jeito com a Aprediz Particular da Princesa Celestia, Governadora e Princesa Absoluta de Equestria?! Ela estava mais que preparada, confiante e consciente para dar início e acompanhar a reunião por horas, mesmo que seu corpo não colaborasse. Esse ser ignóbil duvidava das capacidades extrapolantes desta unicórnio mirabolante. Ele pode ser alto; pode ser forte; pode ser até um General ou Capitão ou o diabo a quatro, mas Twilight não vai admitir esse desrespeito em sua própria casa e na frente de suas amigas, que tanto confiam em seu esforço e dedicação.

    Twilight estava prestes a explodir em palavras agressivas e pontiagudas contra essa rocha carbonizada diante dela, quando um casco branco reluzente atravessou seu caminho.

    — Twilight, querida! — a voz era reconhecível, assim como seu rosto pálido e olhos azuis-diamantes. Cascos nevalescos se esfregavam ligeiramente no rosto cor-de-lavanda da unicórnio enfurecida — Olhe só para seu rosto! Todo molhado e oleoso! Que horror! E a sua crina, por Celestia e seus guardiões! Toda bagunçada e roxa! Não, roxo é sua cor natural-- De qualquer forma, querida, precisamos dar um trato nisso e agora! — a unicórnio começou a empurrar Twilight enquanto falava — Vamos até a cozinha. Lá iremos dar uma ajeitada em você!

    — Rarity! — exclamou Twilight nervosamente enquanto estava sendo empurrada para a cozinha — O quê está fazen--?

    — Não, não, não! — Rarity a cortou antes que pudesse continuar — Não precisa dizer nada, querida! Eu sei o quê estou fazendo! Só confie em mim! Você estará em bons cascos! — a unicórnia pálida despreocupada virou-se para o corcel montanhesco, com um sorriso doce, mas nervoso. — Capitão Stubborn! Não se preocupe com a saúde de minha queridíssima amiga. Ela é esforçada e bem confiante no que faz. Mas simplesmente não posso deixá-la prosseguir a reunião com o rosto e crina nestas condições deselegantes! Se me permite, quero dar um trato nela antes de prosseguirmos. Só por uns minutinhos!

    Stubborn encarou aquela unicórnio cor-de-neve, pensativo. Ele acenou com a cabeça.

    — Não me preocupo, apenas alertava a responsável pelas suas próprias ações sobre sua real situação. Não precisa de minha permissão para cuidar de sua amiga, Nossa Enfeitiçante Estilista. Faça o que for preciso.

    Rarity ficou em silêncio por um momento; não sabia se “enfeitiçante” era um elogio ou se, ao menos, era algo bom de se ouvir. Ela apenas levantou um sorriso torto — Hã... claro! Farei o quê puder. Com sua modéstia licença... — e voltou a empurrar Twilight para a cozinha gentilmente.

    Twilight já estava ficando irritada por estar sendo forçada a ir para um lugar contra  a sua vontade — Pare, Rarity! Me deixe ir--

    Rarity sussurrou — Pra cozinha! Já! — um sussurro que mais pareceu com um rugido entre os dentes; e encarou a atônica unicórnio com olhar feroz e assassino. Aquela unicórnio nevalesca queria que a de cor-de-lavanda fosse para lá de qualquer jeito; poderia até arrastá-la até lá, se for preciso. Twilight engoliu seco.

    — Vamos logo, Cabeção! — entrou a Rainbow no meio, já no ar e a empurrando com os cascos junto a Rarity — Não temos a noite inteira! Vamos dar “um trato” em você.

    Twilight já se encontrava entre a batente da porta que ligava ao corredor para a cozinha. A pégaso e a outra unicórnio a empurrava ruidosamente e o som de seus cacos em ritmo e arrastantes foram se estinguindo ao longo do corredor até a chegada do outro cômodo.

    Após um breve silêncio, os outros pôneis começaram a se espalhar para passar o tempo. A Prefeita voltou para a grande mesa para mexer nos papéis; Applejack sentou-se em seu lugar e enxugou um pouco do suor de sua testa; Pinkie Pie ficou cantarolando e saltitando alegremente ao redor de todos; os outros dois corcéis da sala ficaram apenas de pé. Stubborn virou seu rosto e encarou Pinkie Pie. Ela pulava e cantarolava ao redor dos dois. Pulava e cantarolava. E cantarolava e pulava. A alegria daquela pônei rosada o estava irritando.

— Você, Pônei de Algodão-Doce. — ele apontou para ela com o casco.

— Pinkie Pie às suas ordens, Capitão! — Pinkie saiu de seu estado alegre e posicionou velozmente perto de Stubborn, com um olhar sério e com um casco em sua testa, em continência.

Foreign ficou confuso com a absurda velocidade desta pônei, mas o corcel de chocolate não demonstrou reação.

— Não vamos dar mais nenhuma festa hoje. Quero que tire todos esses enfeites, balões e doces dessa sala. — ele apontou seu casco para os enfeites festivos ao redor dele — Eles são irritantes e não servem para nada menos do que atrapalhar a locomoção dos pôneis e os deixarem com dores de barriga com essas drogas açucaradas.”

— Permissão para não contradizê-lo, Capitão! — disse Pinkie com educação.

— Permissão negada... — respondeu ele de imediato; percebeu seu erro pouco depois mas já era tarde demais.

— Esses doces não são drogas açucaradas, são doces normais como qualquer outro doce! Se você ainda não os provou, então não sabe do que está falando pois estes doces são feitos com muito amor e esforço de Sr. e Sra. Cake. E um pouco de minha ajuda, para deixá-los mais doces e gostosos. — ela sorriu alegremente com satisfação — Posso tirar os enfeites, os balões e etc, mas os doces ficam pois eu sei que há pôneis que estão com fome.

Stubborn encarava aquela pônei rosada com um olhar raivoso e sério. Foreign olhava nervosamente para o corcel truculento, com medo do que ele possa fazer à aquela pequenina égua inocente. Pinkie estava assustadoramente calma, em continência e com um sorriso doce em seu rosto. Isso o incomodava e enfurecia Stubborn.

— Pois, então, faça. — finalmente disse o Capitão.

— Considere feito! — Pinkie acenou com o casco pro alto e virou o corpo para começar a arrumar o cômodo bagunçado, aos pulos e cantarolando.

Foreign ficou surpreso, já não entendia mais nada do que se passava entre esses dois. Cada um agia mais inesperadamente do que o outro. Era tudo muito confuso.

— E você irá ajudá-la. — apontou Stubborn diretamente para Foreign.

— H-heim? Como? — disse Foreign num tom nervoso.

— Você me ouviu: Quero que a ajude. Dois pôneis fazendo o mesmo serviço gera resultados mais rápido do que apenas um fazendo-o. Por isso, deixe de se fazer de desentendido e ajude-a.

O pânico instalou-se no rosto de Foreign. Suor frio começou a escorrer de sua testa e queixo se contorcia. “Mexer... nesses... nesses...?”, pensou ele, tremendo. Irônicamente, só agora havia percebido que estava cercado por balões de borracha; estavam ao seu redor; sobre sua cabeça, no teto; e no chão perto de seus cascos, arrastando-se. Seus olhos azuis percorreram pelo cômodo encarando aqueles urubus borrachudos circulando em volta dele e cobras esféricas rastejando por entre seus cascos. Ele apenas ficou imóvel sem fazer nada, com medo de que por qualquer movimento seu faça com que eles gritam num estouro aterrador em seus sensíveis ouvidos; deixando-o surdo temporaria ou permanentemente. Foreign começou a sentir um desconfortável formigamento em suas orelhas, elas tremiam; e seus tímpanos vibravam em seus canais auditivos. Ele torcia as orelhas para tentar contêr o desconforto, mas só o deixava mais nervoso ainda.

— Eu... eu... — Foreign tentava dizer alguma coisa, mas não conseguia com o Capitão o encarando impacientemente.

— Tudo limpo, Capitão! — declarou-se Pinkie Pie, fazendo uma continência.

Os dois corceis olharam para a pequena pônei, surpresos, e, em seguida, viraram seus rostos para ao redor deles. Incrivelmente, todos os enfeites que estavam pendurados nas estantes e espalhados pela mesa e cadeiras sumiram; os confetes despedaçados pelo chão desapareceram; e os balões não estavam mais entre eles. Foreign soltou um suspiro de alívio e alegria, mas não se conformava que aquela pôneizinha arrumou toda a sala num piscar de olhos! Foreign olhou para a Prefeita e para Applejack que estavam sentadas na mesa. Estranhamente, nenhuma delas estavam pasmas com o quê aconteceu. Muito pelo contrário: agiam como se estivessem acostumadas com aquilo. Como assim? Isso sempre acontecia? Era normal aquela pônei rosada agir daquele jeito?!

Foreign olhou pasmo para Pinkie Pie. Ao contrário de Stubborn que, irritantemente, não estava surpreso; estava com o mesmo rosto passivo e sério como sempre tinha. “Será possível que nada afeta ele?!”, pensou Foreign indignado.

— Bom trabalho, Algodão-Doce. — ele respondeu num tom normal dele.

— Há mais alguma coisa que posso fazer, Capitão? — perguntou Pinkie na mais boa vontade possível.

— Não. — disse ele secamente — Você, no momento, se tornou inútil para mim. Vá incomodar outro pônei que deseja seus serviços não-utilitários.

— Tudo bem! Não tem nenhum pônei que deseja meus serviços no momento. Devem estar todos dormindo! Então, vou ficar aqui e te fazer companhia, Capitão! Sem ofensas, Sr. Eye. — ela indagou para o convidado ao seu lado.

— N-não ofendeu, Srta. Pie. — o quê ele queria mesmo era sair dali. — A Srta. Sparkle parece que vai demorar um pouco para voltar. Vou sentar por um tempo para descansar. A viagem em si foi cansativa e adoraria provar um pedaço desses doces; eles estão com uma aparência saborosa!

— Isso! Sinta-se em casa, Sr. Eye! — disse Pinkie alegremente — Eu cuido do Sr. Cara-Fechada e você descansa um pouco! Não adianta chegar a um lugar novo sem provar nada novo! Ou num lugar novo e provar a mesma coisa, afinal esses doces podem ser achados em qualquer lugar de Equestria! Mas estes são especialmente únicos pois foram feitos pelos Cakes! E te digo que são de-li-ci-o-sos! Qualquer coisa, é só chamar que apareço onde você menos espera! — e ela terminou com uma piscada.

Nisso ele acreditava; e o deixava realmente preocupado. Foreign acentiu com a cabeça e se despediu momentavelmente da espalhafatosa pônei rosada. Ele também se despediu de Stubborn, mas o mesmo só soltou um ou dois grunidos abafados. Ele não se importou — ele não esperava mais nada daquele corcel mesmo — e sentou-se na cadeira que Sparkle havia lhe apontado um tempo atrás. A Prefeita aproximou-se e entregou-lhe alguns papéis para ler. Ele agradeceu e leu as primeiras linhas. Dizia sobre os possíveis afazeres dele e de Twilight para amanhã, quando concordassem suas tarefas até o fim daquela reunião.

— Vai um muffin pra essa barriguinha, cumpádi? — perguntou Applejack num tom animado.

Ao seu lado, a pônei laranja empurrou uma bandeja de prata; ela estava cheia de muffins de coco com gotas de chocolate. Foreign virou um pouco o rosto e viu aquelas delícias; realmente pareciam deliciosas e estavam com um cheiro ótimo. Ele olhou para ela e sorriu, pegando um muffin para si. A mesma abriu um apreciável sorriso em seu rosto alaranjado. Foreign apreciou a gentileza que AJ o proporcionava — diferentemente de certos pégasos azulados ou corcéis achocolatados, mas ele não absorvia remorso —. Foreign deu uma mordida e deliciou-se em cada mastigação. Soberbo. Divino. Esses Cakes sabem mesmo como fazer um doce. Ele nunca provou um muffin tão gostoso. Não era muito doce, nem muito mole; era “no ponto”. Macio e cremoso.

Foreign, saindo de seus prazeres mentais, olhou novamente para Applejack. Ela olhava para ele com um olhar malicioso, e ria explicitamente por dentro ao ver aquele corcel, todo elegante do começo ao fim; do casco até o chifre, se deliciando com aquele pequeno muffin de coco. Foreign, constrangido, estava para dar uma risadinha para acompanhá-la mas percebeu que estava se abrindo perigosamente para ela. Ele se recompôs, pousou o muffin ao seu lado, em cima de um prato já posicionado pela Pinkie quando ela arrumou a mesa, e puxou os papéis para lê-los novamente. Ou, pelo menos, fingir que os estava lendo. AJ viu aquilo tudo e não gostou. Achou peculiarmente estranho; e mal-educado. Aqueles papéis eram mais interessantes do que sua presença amigável?

Applejack era uma pônei realmente amigável. Fazia de tudo para que outros pôneis que ela conheça se sintam bem consigos mesmos. Ela fazia isso com suas melhores amigas; fazia isso com seus parentes; e tentava fazer com outros pôneis. Mas ela sentia que precisava ajudá-lo. De alguma forma, ele não se sentia bem; desde que ela fitou o olhar naquele cremoso corcel; desde que ele pôs a pata dentro daquela biblioteca, ela sentiu que algo estava errado nele. Esses dois ainda vão se tornar muito amigos.



 

Quem aquele estouvado pensa que é para falar comigo daquele jeito em minha casa e na frente de minhas amigas?! — bradou Twilight, profundamente ofendida com tudo o quê aquele corcel metido a besta disse a ela um tempo atrás. Ela espumava pela boca de tanta raiva — Aquele...! Aquele... projeto de outeiro!! Altivo insolente! Gancho pretencioso! Impudico bruto!

A estressada unicórnio cor-de-lavanda estava sentada no meio da cozinha de sua biblioteca. Ao seu redor, inanimadamente, os apetrechos cozinheiros eram bem reconhecivéis, assim como seus lugares. Fogão a lenha, pia vazia, armários cheios de pratos e panelas, gavetas cheias de talheres, escorredor para louças úmidas, geladeira com ingredientes frios e congelados, dispensa com ingredientes mornos e secos, uma grande mesa para o preparo das guloseimas, tudo estava em torno dela. Mas ela não estava sozinha com esses objetos.

— Twilight, querida! Acalme-se! Você se mexendo desse jeito não consigo arrumar sua crina direito! — Rarity estava atrás dela, tentando alisar a crina de Twilight com uma escova flutuante mas a mesma não colaborava; ela estava muito nervosa.

Eu não admito isso, Rarity! Isso é uma total falta de respeito em minha pessoa! Onde já se viu?! Simplesmente não posso engolir ou deixar passar o quê aquele ser fez!

— De certa forma, sim, ele foi meio bruto--

“MEIO”?! — ela afinou a voz a ponto de falhar, indignada — Foi TOTALMENTE bruto, insensato e estúpido!

— Êêê, Twilight. Manera nessa boca aí.— disse Rainbow Dash; ela estava voando ao lado de Twilight. Dash encolheu-se para perto da unicórnia nervosa e sussurrou ao apontar para o corredor — O corredor está logo ali; ele pode ouvir!

Tô pouco me lixando, Dash! É bom que ele escuta mesmo! — retrucou Twilight, curvando o corpo para frente. E disse com todas as forças: — IDIOTA ENTORPECIDO!

— Twilight, pare! Volte aqui! — Rarity acionou sua magia num tom azulado; aproximou a crina de Twilight de volta para ela com um puxão forte.

AI, RARITY! Isso dói! — exclamou Twilight ao acariciar o couro dolorido de sua cabeça.

— Isso é culpa sua! Se ficasse quieta, eu não teria dado esse puxão e teria terminado a muito tempo! Com você braguejando e amaldiçoando o nada alheio, fica difícil terminar! Agora, fique quieta e me deixe arrumar isso!

Twilight fechou a cara e cruzou os braços. Ela ainda babulciava e resmungava entre os dentes. Rarity, após um suspiro, voltou ao seu trabalho com a crina de Twilight. Rainbow Dash ainda voava ao redor delas; parecia um tanto desconfortável. Ela também estava ficando impaciente com a demora que a unicórnio irritada estava proporcionando para o término do alisamento de suas madeichas púrpuras.

O silêncio pairou por um momento. Silêncio com exceção das babulciações de Twilight, dos voos impacientes de Rainbow e da massagem ruidosamente capilar da escova flutuante de Rarity. As fricções verbais se tornaram mentais, cada um em seu próprio pensamento e brigando consigo mesmo ou com os outros em sua imaginação particular. Rarity encontrava-se inconformada com as palavras de Twilight pois ela, novamente, não estava pensando no quê dizia. Braquejava e amaldiçoava verbalmente aquele corcel barrento. E com motivos! Aquela unicórnio não estava errada. Mas Rarity discordava em seus pensamentos. Sentia uma obrigação de comentar algo a respeito dele, que Twilight não sabia.

— Agora, Twilight... — finalmente disse Rarity, manipulando sua crina com mais delicadeza — sei que você vai começar uma nova onda de ódio com esse comentário, mas eu sinto que devo dizer. Agora, por respeito à vossa pônei, eu pergunto: Você quer ouvir?

Twilight ainda estava nervosa com aquelas palavras avulsas daquele chocolate ambulante que estava perambulando livremente em sua biblioteca. Mas ela tinha que relaxar, de alguma forma ou de outra. Ela pensou por um momento a proposta de Rarity. Ela queria falar de um assunto que desagradava Twilight Sparkle. E o quê Twilight Sparkle queria era relaxar; não estressar.

— Desculpe, Rarity. Estou muito nervosa no momento. Se quer conversar sobre algo que me desagrada, então, eu não quero ouvir. Não estou querendo ser rude... como certos pôneis-lamacentos-não-civilizados. — rosnou ela entre os dentes. — Mas eu quero relaxar. Me desestressar. Estou muito irritada e cansada...

— Pfft! Mamão com açúcar! — disse Dash, com entusiasmo — Peraí que vou preparar um suco de maracujá esperto! Vô dar uma olhada na dispensa! — e ela deu um rasão e se enfiou na dispensa, a procura da fruta.

Twilight virou um pouco a cabeça para Rarity — Ela sabe que suco de maracujá vai me deixar mais mole ainda, não sabe? — perguntou ela.

— Creio que não, — respondeu Rarity em meio à uma escovada suave. — mas ela sabe que isso irá deixá-la mais relaxada com certeza. E, com certeza também, vai te fazer bem. Estresse e raiva não combina com você, Twilight...

— Desculpe, mas não posso evitar, Rarity! Aquele...!

— Esquece aquele corcel por um momento, Twilight! — indagou Rarity num tom preocupado — Pelo amor das Princesas! Ignore o quê ele disse! Deixe passar batido!

Mas eu não posso! — Twilight levou os cascos aos olhos, irritada; ela estava ficando estressada novamente — Você viu o modo como ele agiu com Rainbow Dash! E como agiu comigo! E como fala da Princesa na minha frente! Chamando-a de “Nossa Orgulhosa Princesa”, “Nossa Esquecida Princesa”, “Nossa Ridícula Princesa”. — ela disse cada título com uma voz grossa e enfadonha — Como ele pode falar isso da Princesa sem ninguém para censurá-lo?! E como a Princesa pôde deixar ele ter um cargo tão elevado na Guarda Real com estas atitudes grosseiras?! E por quê a Princesa o enviou para cá?! Para me ridicularizar?! E ridicularizar minhas amigas?! Me prejudicar?! Isso não faz nenhum sentido!! — Twilight se encolheu, sentindo calafrios em seu corpo — Não entendo o quê a Princesa quer me ensinar me enviando esse... esse... Até parece que ele não sente nada! Suas palavras me irritavam muito! Ele... ele é um pônei horrível e frio! … Eu... eu estou tão confusa... minha cabeça dói....!

Twilight sentia culpa. Culpa de não ter feito nada e ter deixado aquele ser medonho falar tudo aquilo sobre ela e sua querida mentora. Impotente era o seu novo título: Aprendiz Impotente da Princesa. Era isso que ele a teria chamado caso estivesse olhando para ela neste exato momento. Twilight também estava confusa, como ela mesma explicou. Porquê a Princesa enviaria esse bruto para seu socorro? Se é que ela pode entitular isso como um socorro, como dizia a Princesa em sua digníssima carta real. Tudo o quê aquele socorro fez foi ridicularizá-la, chantageá-la, até ferí-la emocionalmente. Chamando-a de Esquecida Aprendiz da Princesa; de Orgulhosa Aprendiz da Princesa; de Exibida Aprendiz da Princesa; esfregando títulos e honrarias desgostosos em seu rosto. Se isso era para encorajá-la; dar-lhe suporte; oferecer-lhe apoio; ou mesmo chamar isso de “socorro”, tem algo muito errado nestes significados e em suas reais funções. Lágrimas já começaram a emergir de suas pálpebras enquanto ela ridicularizava a si mesma em sua mente.

Não, Twilight. — Rarity interviu seus pensamentos ao engrossar a voz — Eu posso lhe contra-dizer que ele, de certa forma, não é o quê você pragueja.

Isso chamou a atenção de Twilight. Ela até virou com dificuldade para aquela unicórnio pálida. Rarity estava séria, ambas olhavam-se nos olhos. Twilight estava atônica; confusa, mas a outra estava calma e altiva.

— C-como assim, Rarity? O quê você quis dizer com isso?

Exatamente isso o quê ela disse! — reapareceu Rainbow Dash da dispensa, carregando algumas frutas de maracujá em seus cascos. — E concordo plenamente com ela. Aquele pônei é beeem diferente do que aparenta. — e ela descansou as frutas sobre a mesa e foi a procura do espremedor em gavetas e armários alheios perto da pia.

— Era esse assunto que eu queria discutir-- ou melhor, conversar com você quando comentei sobre aquele corcel. — continuou Rarity, terminando de ajeitar a crina de Twilight — Eu sabia que você iria ficar apenas zangada por apenas ouvir o nome dele, mas eu precisava comentar. Há algo sobre ele que você não está sabendo.

Twilight virou para sua amiga pálida — “Algo que eu não estou sabendo”? Mas como não estou sabendo?

— É que aconteceu durante o seu piripaque ao lançar aquela sua macumba doida. — comentou Rainbow ao finalmente achar o espremedor e o cortador automático e os levou para mesa da cozinha.

Não são macumbas! — bradou Twilight, virando imediatamente para Rainbow — São--! — mas ainda se sentia exausta com a execução daquele feitiço. Por causa do giro rápido com a cabeça, ficou um tanto zonza e quase tropeçou entre os cascos.

Rarity imediatamente a segurou a tempo com sua magia azulada — Cuidado, Twilight! Você ainda não está em condições para tanto esforço! E Rainbow! — ela agora virou-se para a pégaso, irritada — Pare de estressá-la com essas piadinhas! Você devia saber muito bem que ela não gosta desses comentários! Controle-se, por favor!

Rainbow ergueu os cascos na defensiva, — Tudo bem, tudo bem! Me desculpe, Rarity. Foi só uma piadinha para descontrair.

— Isso não é hora para piadinhas, Rainbow. Twilight está passando por um momento muito difícil!

— Afe, que exagero, Rarity! Não é tãããão dificil assim! Já vi pôneis passando por situações piores e não ficavam nessa depressão toda!

— Não misture situações precárias com situações emocionais! Isso não é certo e não faz juz uma situação com a outra! Twilight no momento está confusa e, como amigas, precisamos alinhá-la. Por favor, entenda isso e colabore.

— Tsc. Tá certo, tá certo. — Rainbow pousou suavemente no chão e ergueu seus cascos posteriores sobre a mesa. Com ajuda de um cortador automático, começou a cortar as frutas no meio para espremê-las mais tarde.

Rarity aproximou Twilight para perto dela, ajudando-a a ficar reta novamente. Twilight estava massageando um pouco a cabeça meio dolorida.

— Está tudo bem, Twilight? — perguntou Rarity, preocupada.

— S-sim, sim. Só fiquei meio tonta e senti uma pontada leve na cabeça.

— Que bom. — suspirou Rarity, aliviada — E não se preocupe. Logo, logo Dash irá serví-la com um calmante suco de maracujá. Sei que se sentirá revigorada daqui a pouco! — terminou ela com um tom animado.

Twilight sorriu — Obrigada, Rarity. Mas ainda não entendo que vocês queriam dizer: O quê eu não estou sabendo? O quê aconteceu durante... vocês sabem. — o orgulho ainda restava em seu peito; dizer aquela palavra demonstrou-se alguma dificuldade para aquela unicórnio pronunciar.

Rarity tomou um pequeno fôlego — Veja bem, Twilight, querida. Depois que você-- hã... desmaiou pelo demasiado esforço, ficamos preocupadíssimas com você. Tanto que ficamos desesperadas e não sabíamos bem o quê fazer.

— Não é bem verdade, Rarity — comentou Rainbow Dash, espremendo meio maracujá — Não era o primeiro piripaque que Twilight teve. Já teve outras vezes quando ela se esforçava demais!

— Mas este era diferente, Rainbow Dash! Nenhuma de nós tinha experiência ou algum conhecimento sobre o quê fazer com pôneis desmaiados.

— Acontece que Twilight não é a única; você também tem os seus desmaios quando fica muito ansiosa! E nunca tivemos problemas com isso.

— Novamente, Dash, você está confundindo as situações. Os meus desmaios são puramente naturais, isso eu admito! Eles ocorrem quando eu chego ao limite de minha emoção. E eu sempre me recupero logo em seguida. Eles sempre são leves e passageiros. Meus desmaios nunca duram mais do quê 5 minutos.

Rainbow terminou de espremer a quinta meia fruta de maracujá e puxou a próxima vítima para perto do espremedor — Hm. Isso é verdade. — concordou ela.

— Justamente! E no caso de Twilight, ela não quis acordar de forma alguma! E ela estava suando frio! Tremendo toda! Parecia que estava com febre!

Twilight demonstrou-se preocupada com a descrição de Rarity sobre seu último desmaio — Nossa. Eu estava tão mau assim, Rarity?

— Eu não sei, querida! Não sou uma especialista para te dizer ao certo, mas eu nunca a vi daquele jeito! Deixou todas nós desesperadas! Ai, me arrepio toda só de lembrar.

Twilight esfregou o casco na testa, tentando aliviar a tensão; agora ela sentia mais culpa por deixar suas amigas preocupadas sem necessidade. Mas ela se lembrou — Mas e o Spike? Ele-- — então, ela lembrou de novo e calou-se.

Spike estava, no momento, dormindo inocentemente em seu confortável cesto de dormir. Ele dormia em frente a cama de Twilight, no quarto dela. Assim como a maioria dos bebês — já que ele ainda era um bebê-dragão —, sentiam-se sozinhos quando não estavam em companhia do que se pode chamar seu “observador”; seu “acolhedor”. Seu sono era mais calmo e seus sonhos mais alegres quando sentia alguém precioso para ele por perto; uma companhia de quem ele realmente confiava e adorava; que sempre esteve com ele desde o dia em que saiu de um pequeno ovo roxo com bolinhas verdes.

Como ele mesmo demonstrou ao socorrer Rarity em seu leve desmaio, de certa forma Spike possuía algum tipo de conhecimento sobre o assunto. Afinal, ele não ficava na biblioteca apenas para limpar e organizar prateleiras. Nem para atender pedidos e desejos de sua inseparável companheira-leitora, quem ingenuamente acreditava ser a única que lia alguma coisa daquela floresta interminável de páginas e textos. Para sua sorte ou coincidência(ou, quem sabe, destino), naquela semana o pequeno dragãozinho tinha lido um pouco sobre primeiros-socorros à vítimas de um desmaio repentino e como lidar com eles. Spike tinha conhecimento dos desmaios repentinos de Rarity e isso o deixou curioso. Foi então que ele pôde pôr em prática o quê aprendeu em sua amada unicórnio, durante seu momento inoportuno. Com toda a delicadeza e carinho, ela a examinou e a diagnosticou. Ficou aliviado que estava tudo bem, mas não tinha certeza do tempo que levaria para Rarity acordar novamente(isso era estudo mais a frente do que ele já leu); isso o deixou receoso e um tanto decepcionado consigo mesmo. Deveria ter continuado a leitura, assim teria informações mais completas. Alegria foi que Applejack estava por perto, para consolá-lo de seu pequeno esforço em impressionar e proteger sua princesa. Se não fosse por ela para acalmá-lo e avisá-lo de que tudo estava realmente bem, ele estaria se culpando por não ter ido mais a fundo no assunto.

— Spike não estava por perto, Twilight. — disse Rarity — Mas foi tão de repente que nem pensamos em chamá-lo. Estavamos mais preocupadas com você.

— Eu sei, Rarity. Eu sei. E eu sinto muito. — até demais; Twilight estava se sentindo mais envergonhada. Um sentimento crescente de culpa por deixá-las preocupadas ainda a incomodava — Mas o quê realmente aconteceu?

— Como eu havia dito: rolou uma pequena confusão. Não chegamos a entrar realmente em pânico mas--

— “Pequena confusão”, você diz, Rarity? — perguntou Rainbow Dash, terminando de espremer a última fruta. — Sabe o quê rola quando se coloca uma raposa em um galinheiro? Foi exatamente assim que rolou!

— Ai, Rainbow! Que exagero! — Rarity agitou seu casco, quase ofendida com a comparação fantasiosa de Dash.

— Que “exagero” o quê?! Meus ouvidos ainda estão doendo depois dos seus gritos histéricos! Pense numa agudice! — replicou ela, apontando para as orelhas.

— Tá bom, Rainbow Dash! E n-não desvie do assunto! — reclamou Rarity, já impaciente; uma cor avermelhada acendeu de suas bochechas nevalescas. Rainbow ainda segurou algumas risadinhas para si mesma.

— Enfim — continuou Rarity, após limpar sua garganta — nós não sabiamos o quê fazer quando você havia desmaiado. Você suava frio e tremia toda. O Sr. Eye estava te apoiando sua cabeça com seu lombo e dizia que você estava bem quente. Estava com febre! “Santa Celestia! O quê nós faremos?!”, todos perguntavam desesperadamente.

Rainbow a cortou com uma falsa tosse — Ela se perguntava desesperadamente. — comentou ela, corrigindo a dramática unicórnio.

— Mas e o Sr. Eye? — perguntou Twilight, virando-se para Rarity — Estava tudo bem com ele? — se ele não se machucou quando ela derrubou sua enorme cabeça em cima dele.

— Oh, ele está como sempre deveria estar, se entende o quê quero dizer, querida. — Rarity deu uma piscadinha para Twilight — Não precisa se preocupar. Aliás, perguntavamos ao Sr. Eye o quê deveriamos fazer. Eu mesma achei que ele tivesse alguma experiência com isso. Mas, coitado, ele parecia mais perdido do que nós mesmas. Eu não o culpo; ele também não tinha conhecimentos para aquela situação. Seria muita ingenuidade de nossa parte achar isso! Ele também estava muito preocupado. Ele não saia de seu lado nem por um segundo.

— Claro, né, Rarity! — indagou Rainbow Dash, enchendo alguns copos com o suco pré-preparado — Ele não podia sair dali! A cabeçona da Twilight estava em cima dele! Ele estava praticamente imobilizado!

— Rainbow! Sem piadinhas! Comporte-se! — disse Rarity rispidamente.

Mas a pégaso não aguentou; já estava dando boas risadas depois desta. Rarity continou tentando repreendê-la enquanto Dash segurava suas risadas com o mínimo de esforço. Twilight ficou com as bochechas ardidas, sentia-se envergonhada pelo recente fato de ter caído em cima do Conselheiro e Diplomata Oficial do Reino das Terras Férteis, em seu primeiro dia de estadia em Ponyville. E ainda ter colocado ele nesta embaraçosa situação em sua incopetência explícita e infantil. Que jeito mais formal de apresentar-se para um pônei tão importante como ele, depois de sua queridíssima mentora. O quê ele estaria pensando dela agora? “Uma completa idiota; uma infantilóide”, pensou a roxa unicórnio. Twilight cobriu os olhos, acreditando que isto faria com que ela ficasse invisível dos acusadores alheios sobre seus atos desta lenta e infinita noite. Ela pressionou os cascos nos olhos, apertando as pálpebras e, então, abrindo-os repentinamente. A unicórnio queria esquecer o quê havia acontecido para poder encarar a todos naquele cômodo depois do corredor e seguir adiante com a reunião, mas não sabia se estava preparada para voltar lá. Twilight deu um longo suspiro. Porém ela começou a se lembrar de uns momentos antes depois que acordou. Ela estava deitada de costas pro chão, Applejack abanando seu chapéu sobre ela e Rarity estava acariciando firmemente seu casco. Twilight entendeu que aquilo eram respostas para uma situações de desmaio: deixando o pônei deitado de costas para o chão faz com que a gravidade atua menos contra o corpo, ajudando na circulação do sangue para todas as regiões e membros e até dando menos esforço para o coração bombar o sangue. Os abanos suaves e frios do chapéu de AJ eram um alívio para um ser que suava frio. As gotículas secavam mais rápido e a sensação de febre até diminuia gradativamente. E os apertos firmes dos cascos de Rarity faziam com que as patas de Twilight respondessem com reflexos, ativando o sistema nervoso e um dos cinco sentidos: o tato. Isso é totalmente o oposto da história que Rarity contou: elas pareciam saber bem o quê estavam fazendo. Então o quê aconteceu realmente?

— Mas, Rarity, — continou ela. — quando eu acordei, eu lembro que vocês todas estavam preocupadas, mas não pareciam desesperadas. Estavam até calmas e confiantes. AJ abanava seu chapéu para me refrescar e você estava apertando meus cascos. Vocês realmente sabiam o quê estavam fazendo, então, me diga: O quê realmente aconteceu?

— Twilight, querida! — disse Rarity num tom surpreso; ignorando a pégaso completamente — Percebo que continua bem detalhista, uma coisa que um mero desmaio nunca arrancaria de você! Mas o quê lhe contei é, de fato, uma verdade. Mas digo agora: Nós não sabíamos de nada mesmo, o quê você viu foi algo depois que começamos a saber de algo. “Alguém-qual-não-nomearemos-para-o-seu-bem” se pronunciou e nos ajudou! Esse “alguém-inominável” demonstrou ser muito experiente e nos orientou de forma bem profissional. Fiquei realmente surpresa! Em questão de minutos, você estava ficando bem de novo. Foi um alívio para todas nós! E foi aí que você acordou. Ficamos muito felizes que, no final, tudo ocorreu bem!

Twilight olhou torto para a Rarity — Como é? — foi o quê ela pôde comentar diante daquilo. — “Alguém-qual-não-nomearemos”? “Inominável”? Do quê está falando, Rarity? O quê está escondendo? — ela demonstrou-se irritada com todo esse esconde-esconde de nomes.

— Não estou escondendo nada, querida. Só estou preocupada com você. Eu sei muito bem que você ficará mais irritada, e obviamente mais confusa ainda, do que já está agora se souber seu nome.

— Rarity, deixa de joguinhos, por favor. Por acaso foi o... — suas bochechas arderam de novo — … o Sr. Eye?

— Ai, amiga, quem me dera que fosse ele! Aí eu gostaria de estar em seu lugar! Tremendo toda e deitada em cima daquele ser corcelístico! — Rarity soltou um suspiro apaixonado, mas se recompôs quase que imediatamente — Mas não, Twilight. Eu já havia dito que ele não sabia o quê fazer, assim como nós.

— Mas então quem--

— Há! Pois isso você não vai acreditar! — cortou Rainbow Dash, carregando um copo de suco para a curiosa unicórnio enquanto planava para perto dela. — Foi o Sr. Brutamontes! Quem diria, né?

Rainbow! — Rarity imediatamente a repreendeu. Tanto esforço dessa unicórnio pálida para ser gentil com as emoções de sua amiga e uma pégaso cerúlea consegue ser mais delicada que uma rocha rolando barranco abaixo e destruir toda a estratégia numa patada forte e seca sobre uma poça de lama suja e gosmenta. O som fez Rarity sentir um frio enojado subir-lhe a espinha. Agora ela temia pela reação da unicórnio cor-de-lavanda com esta novidade.

— Hã? Quê? — Twilight estava tentando entender o quê Rainbow acabou de dizer — “Brutamontes”? Por acaso... POR ACASO...! — então ela percebeu quem era — S-S-Seria aquele, aquele...! A-a-quele...! — ela já estava babulciando, o esforço de tentar continuar a frase era tremendo e assustador; seu rosto começara a ficar vermelho, substituindo sua cor naturalmente roxa — Mas...! Que...! Co-... Por quê?! — finalmente saiu.

    — Como assim “por quê”? — perguntou Dash, irônica — Esperava quem, afinal?

    — QUALQUER UM MENOS ESSE EMPECILHO! — bradou Twilight com fogo pelas narinas.

    — Está vendo o quê você fez, Rainbow Dash?! Eu disse para você se comportar e ser mais delicada! — disse Rarity, cruzando as patas, com uma expressão desgostosa.

— Ih, qualé, Rarity. Nem reclame!— Rainbow se virou para Rarity, ainda batendo as asas em pleno ar ao lado de Twilight, segurando um copo com suco — Ela tinha que saber o quê aconteceu do mesmo jeito! Era o direito dela, ficar fazendo joguinho como você estava fazendo só iria atrasar as coisas! Eu mesma já estava ficando impaciente com o seu lenga-lenga!

— Mas eu fazia isso em respeito à nossa amiga Twilight, Rainbow, que estava fragilizada com a recente situação causada por aquele grandalhão! Eu tinha que ser delicada com ela, ao contrário de certas Rainbow Dashes!

— Mas o quê está feito, está feito. Aqui está seu suco, Twilight. — Rainbow esticou os cascos para Twilight, oferecendo o copo com suco de maracujá — Depois de tomar e se acalmar, voltaremos para a sala onde estão todos nos esperando. Aí, quando chegarmos lá, irá agradecer ao Sr. Brutamontes e ao Sr. Eye.

Twilight ascendeu sua magia para levitar o copo com suco oferecido pela sua amiga pégaso, mas ao citar o nome daquele-que-não-deve-ser-novamente-nomeado, ela puxou-o dos cascos de Rainbow com força, espalhando algumas gotas no chão — “Agradecer”?! Ficou doida, Rainbow?! Nunca em minha vida córnea que eu iria agradecer aquele empecilho! Aquele outeiro!! Impudico insensato! — ela já não mais falava para Rainbow; ela estava quase gritando — Desde que ele chegou ele só estava me humilhando em minha casa e na frente de vocês! Não me dava nenhum respeito em meu próprio teto! Aquele ser ofendia minha mentora, quem é a CHEFE dele, a Princesa Celestia, e ainda ofendeu vocês; minhas amigas! Você viu que tipo de pônei ele é quando ele trombou em você! Um bruto! Não admito esse comportamento insolente perto e diante de pôneis quais eu me preocupo!

— Sim, Twilight. — disse Rainbow quando conseguiu um espaço para falar, mas num tom baixo e firme; diferentemente dos escandalosos — E ele também não admite.

Twilight olhou bem para Rainbow, confusa — Como assim? — ela perguntou, com a voz ainda nervosa e alta.

— Por isso eu disse que, quando fôssemos lá, você agradeceria ele. O Sr. Brutamontes não admitiu um “comportamento insolente” perto e diante de “pôneis com quais você se preocupa”. E foi o quê ele fez como resposta à isso: ele nos ajudou e, principalmente, ajudou você.

Twilight não sabia se encarava isso como uma moral contra a sua atitute ou uma ofensa aos seus ouvidos. A unicórnio olhava para a pégaso azulada com desgosto. “Ele me ajudou? De quê forma?!”, ela se perguntou, mas o seu orgulho enfadonho não permitiu enxergar o quê havia por trás das palavras de sua fiel amiga pégaso.

— É isso que Rarity tentou dizer e o quê estou lhe dizendo agora: Não tire conclusões precipitadas sobre ele; você não sabe o quê havia acontecido quando desmaiou naquela hora.

— Então me conte! Estou ficando nervosa e mais impaciente com esse jogo que vocês estão fazendo comigo! — ela começou a demonstrar-se ofendida com essa discreta manipulação de suas amigas com suas emoções; Twilight já estava explodindo por dentro de novo. — Eu sei que vocês querem o meu bem e estão fazendo o possível para me ajudar, mas já está demais! Minha cabeça já dói com esse mistério que estão fazendo! Me contem! Me contem!

— Acalme-se, Twilight, minha querida! — Rarity tomou seu casco direito e o acariciou gentilmente — Tudo ao seu tempo! Queremos muito te contar o quê houve, mas temos medo que te cause mais dano! O quê estamos fazendo é por respeito a você e o quê você está passando. Por favor, acredite nisso. E repito: Precisa relaxar e se acalmar! Contaremos tudo o quê você quer saber.

— Não se zangue conosco, Twilight. — disse a Rainbow, já descendo pro chão e sentando-se perto de Twilight — Beba um pouco desse suco; lhe fará bem.

— Isso, querida. Beba um pouco. — acrescentou Rarity.

Twilight estava ofegante e com o rosto levemente rosado. Algumas linhas de suor escorriam de sua testa chifruda, mas não pretendiam deslizar mais do que até suas sobrancelhas. Suas amigas tinham razão, ela já estava ficando descontrolada de novo; suas emoções estavam florescendo e estourando em sua pelagem roxa. Ao menor toque em qualquer uma dessas pétalas sensativas, ocorria o desagradável; para ela e para quem a tocou. Twilight tinha que parar com isso; isso, sim, estava demais para ela. Ela via suas amigas novamente preocupadas com sua saúde, o quê igualmente ocorreu quando ela havia desmaiado. Rostos em pânico, amigos em gritaria. Isso mais uma vez estava diante dela: Rainbow olhava com preocupação para a unicórnio roxa, seus olhos magenta brilhavam em pena por causa de sua incapacidade de se controlar sem ferir o próximo; sobrancelhas visivelmente declinadas em seu rosto azulado com tristeza por Twilight continuar incesantemente seu próprio prejuízo e dor. Rarity acariciava seu casco púrpura; patas pálidas deslizavam suavemente pelo seu pequeno membro mas Twilight sentia que ela estava nervosa; sentia que seu casco nevalesco tremia. A unicórnio pálida tensionava seus músculos para não tremer em nervosismo, no objetivo de ninguém notar sua preocupação interna, mas não podia; Twilight percebeu só pelo toque.

Egoísta e insensata. Ela pensava que só ela sofria com a situação, mas demorou para melhor observar que sua tensão afetava todos ao seu redor. Podia sentir isso de Rarity e ver no rosto de Rainbow Dash. Suas estúpidas escolhas feriam e prejudicava quem estivesse por perto. Isso é estupidez de sua parte inteligente. Preocupação e nervosismo. Qualidade negativas que não combinavam com essa inteligente unicórnio que só prejudicava estupidamente suas amigas inocentes de seus atos egoístas. O quê Applejack estaria sentindo quando se preocupou com ela ao segurá-la em sua queda? Ou a Prefeita? Ou mesmo Foreign Eye quando resgatou-a de sua queda solitária? Infantil e orgulhosa. Odiava ser vista como uma incapaz e fazia de tudo para provar o contrário e fazer o acusador calar-se de suas acusações embusteiras. A aprendizagem que obsorvia de sua grandiosíssima mentora era preciosa e incrivelmente poderosa; dava poderes e capacidades que muitos unicórnios sonhariam em possuir um dia. Twilight se sentia especial; podia até se chamar de a maior unicórnio que já existiu. Mas seus recentes atos mesquinhos comprovavam o contrário do que ela se auto-entitulava.

Estava na hora de parar; de interromper esses ciclos e sentimentos atrasados.

Twilight fechou os olhos, deixando todo o real presente no escuro; precisava se concentrar. Para isso, começou a respirar lentamente pelas narinas; enchendo e esvaziando os pulmões. Ela tinha que relaxar o corpo; respirou e expirou; respirou e expirou. Sentia seu peito pulsar meio agitado, mas estava agora diminuindo e em sincronia.

A unicórnio cor-de-lavanda cansou daquilo tudo e decidiu acabar com todo esses pensamentos. Nervosismo, ansiedade, descontrole, medo, orgulho. Infelizmente todos os pôneis possuem esses sentimentos negativos mas, para injustiça com eles, em diferentes intensidades. Ela em especial tem em grande intensidade. Emoções podem causar vários sintomas físicos no corpo, quando usados de maneira violenta. O pior deles, qual Twilight infelizmente sofre, é o medo.

O medo é bem significativo quando bem analisado e mau explicativo quando mau detalhado. O medo em questão não é o medo físico como medo de ratos ou medo de um dragão. Medo não é somente físico; ele também é mental; emocional, ligado a coisas que são muito queridas para os pôneis, qual o simples ato de pensar em viver sem ele gera pavor e ansiedade. Os pensamentos vão de perda ao abandono ou da desconfiança à traição. Para ela, tinha medo de fracassar com sua mentora; medo de se envergonhar em frente de suas amigas; medo de perder a confiança em si e de seus mais queridos; medo de parecer uma incapaz; medo de ficar para trás; até mesmo medo de perder o medo.

Perder o medo é perder a sanidade; é não ser mais lógico e não pensar antes de agir. Então, o medo torna-se algo essencial para o entendimento e prevensão. Sem ele, os sentimentos mais positivos e gloriosos como Coragem tornariam-se inexistentes; até mesmo algo sem sentido. O jeito certo de lidar com o medo é encontrar o equilíbrio; a harmonia.

As gotículas de suor em sua testa chifruda já evaporaram, só restaram uma pelagem púrpura brilhante e lisa. Rarity já percebeu a diferença em Twilight; a tensão em seus cascos sumiu e sentiu seu braço, qual acariciava, relaxar. Isso a alegrou muito; estava dando certo.

Twilight precisava achar a harmonia dentro dela; não esquecer ou ignorar seus medos mas lidar com eles de forma lógica e corajosa. Algo que ela sabia fazer isso e muito bem. Sua cabeça já não estava mais pesada e sentia que ela não pulsava violentamente; a enxaqueca passou magicamente. Twilight estava decidida pois pretendia alcaçar o equilíbrio por ela mesma; graças a ajuda e oritentação de suas queridas amigas presentes. Não havia mais conflitos em sua mente já recuperada. Ela abriu os olhos; um brilho audacioso e penetrante raiou de suas púpilas púrpuras. Rarity e Rainbow Dash perceberam isso e sorriram, “Ela está de volta”, pensaram elas em conjunto.

Twilight, ainda utilizando sua magia, aproximou o copo de suco em seus lábios e deu vários grandes goles.

A unicórnio esvaziou o copo e deu um estalo com a língua no céu-da-boca — Ah... — ela limpou os beiços com a língua, satisfeita. O gosto doce e calmante do suco de maracujá ainda percorria deliciosamente pela sua boca — Obrigada, Rainbow. Esse suco estava delicioso.

— Já está sentindo melhor, cabeçuda? — perguntou Rainbow num tom amigável e com um sorriso maroto na boca. Rarity cerrou os olhos para Dash, discretamente.

Twilight acentiu com a cabeça — Sim, muito melhor! — disse num tom assustadoramente animado — Não sei o quê colocou nesse suco. Realmente tinha algo mágico nele. Posso confiar em você que só tinha suco nesse copo?

— Ih, não me vem olhando torto assim, não. Macumbas e poções não são minha laia. Você e Zecora que se entendem pois eu tô fora!

Rarity deu uma cotovelada em Rainbow Dash. A mesma reclamou pela dor e massageou o local atingido. Dash resmungou para Rarity dessa desnecessária necessidade cotovelística contra ela e a unicórnio pálida só repreendia com o olhar diamantinesco que possuía. Twilight só respondeu com uma risada carismática; até continou a rir por mais alguns segundos.

— Claro, claro. Sem problemas, Dash. — Twilight levitou o copo para a mesa central longe dela e descançou-o ali mesmo — Agora, podem parar de se estapelar feito dois “Alazão-Bobo” e me contarem o quê realmente aconteceu? Me sinto realmente melhor graças a vocês e quero presenteá-las com a minha maior atenção. Por favor!

Rarity agora olhou assustada para Twilight. Que manipulagem emocional era essa unicórnio roxa possuía? De um segundo, estava uma pilha de nervosos sobrecarregada prestes a explodir numa destrutiva retalhação verbal, e no outro, se via uma potranca comportada e inocente com uma angústica doce de querer saber o fim da história de um “Conto-dos-Pôneis”. Era de se estranhar e ficar deveras preocupado! Mas Rarity não estava mais preocupada. Pelo contrário: ela estava aliviada, e muito feliz que ela tenha se controlado de uma forma surpreendente e maravilhosa. Rarity sentiu que precisava tirar um dúvida particular dela. Então ela tomou o casco de Twilight novamente, agora com as duas patas. A unicórnio pálida o esfregou com fervor no começo, mas conforme os segundos passavam ela suavisava. Rarity apertou firme e delicadamente sua pata cor-de-lavanda; ela estava leve e relaxada. Relaxada, ela pensou. Rarity suspirou longamente.

Twilight não estava viajando como muitos pensariam; ela estava analisando tudo que Rarity fazia em seu casco. Ela finalmente compreendia o quê Rarity estava sentindo quando ficava preocupada e deixou-a fazer o quê quisesse com sua pata; pensando no bem dela. Durante o ato da unicórnio pálida, Twilight sentiu seu casco duro e trêmulo como antes. Ela ainda estava nervosa e preocupada com seu bem estar. Ela suspirou tristemente, mas deixou que Rarity fosse até fim com suas carícias. Até que ela parou e apertou seu casco. Foi nesse instante que Twilight sentiu a diferença e podia ficar muito mais tranquila: o casco de Rarity parou de tremer e ficou mais amolecido e delicado. A pata dela voltou a ser como sempre fora: gentil e gracioso, como os sentimentos da própria dona. Uma vitória que Twilight comemorou dentro de si e demonstrou sua emoção com uma leve apertada no casco de Rarity.

— Pois, bem, Twilight, querida. — começou Rarity, já emocionada — Como amigas, agradeceremos pela sua atenção. E, como amigas, vamos deixar de nos preocupar com você pois já está recuperada. Vou sentar ao seu lado e contar tudo que sei. Rainbow Dash pode me corrigir algumas partes, caso eu misture alguma coisa ou conte algo que não aconteceu. Ela tem uma memória muito melhor que a minha.

— Sem problemas, Rarity! — Rainbow fez uma rápida continência — Pode deixar comigo que irei te ajudar alguma parte.




Fim do Capítulo Seis


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