Ikuto olhava para o irmão, perplexo. "Por que ele... está aqui..." pensou, ainda olhando para Aku, que ia em direção ao quarto de Ikuto, até que os passos do irmão pra onde ia o fizeram despertar os sentidos.  

- Ei! - Falou. - Meu quarto é nessa direção!  

- Eu sei disso, idiota. Eu estou aqui desde que você foi para a sua escola. Ou pensa que fiquei a manhã toda sentado olhando pra porta? - Colocou as mãos no bolso e olhou para o garoto. - Eu disse que ia ficar por aqui... pensou que eu iria dormir aonde? No chão do seu banheiro?  

- Bem... - corou levemente, como se quisesse dizer "bem, pensei".  

- Idiota. Eu vou dormir no seu quarto. Ou você tem vergonha de ficar junto comigo? Qual é, não farei nada a você enquanto estiver dormindo. Eu posso ser um demônio, e posso querer que você sofra incondicionalmente durante sua vida miserável, mas você continua sendo meu irmão gêmeo. Não pretendo te matar. - E olhou para Ikuto, como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.  

- Hmm, certo... - disse, olhando para o irmão.  

- Ah, e a propósito... eu estou com fome viu. Eu vou tomar banho, então pode preparar algo pra mim comer. - E saiu em direção ao corredor.  

- Mas essa é... a minha casa... - falou para si mesmo, meio aborrecido.

 O dia passou. Ikuto discutia com Aku - para ver TV, quando ambos queriam comer o último pedaço de tal coisa, ou simplesmente porque Aku gostava de irritar o irmão.  

A noite chegou, e logo Ikuto ia dormir. Ainda não havia contado a Aku sobre se encontrar com Yuka e os outros no outro dia, então pensou em ir calmamente para o quarto e dormir logo sem o garoto saber, já que de certo ele iria junto se soubesse. Porém, sua tentativa de entrar no quatro escondido não deu certo.  

- Nii-chan... - começou, ainda olhando para a TV. - Aonde você pensa que vai a essa hora, se você já acabou de ir ao banheiro?  

- Eu... erm... - pensou, nervoso. - Eu vou... dormir.  

- É? Mais ainda é 10:30.  

- Tenho aula. Preciso acordar cedo amanhã... você deveria fazer o mesmo.  

- Mentiroso. - Ele sorriu, e se virou para o garoto. - Idiota, pensa que eu já não sei que amanhã aquele maldito colégio não tem aula? Pensa que eu não sei sobre a reuniãozinha dos professores?  

- Bem... - disse, preocupado. Pensou no que mentir, e logo falou: - é que como sou um aluno novo nesse ano, os professores querem falar comigo... quer dizer, conosco. E temos que acordar... 12:00.  - Certo, e você não acha muito cedo pra acordar 12:00 da manhã? - Perguntou Aku, encarando o irmão.  

- Eu... gosto de dormir cedo.  

- Tá bom então. Vai dormir e depois eu vou - e se voltou para a TV. - E vê se me acorda.

Cinco de abril - 10:30

 Ikuto acordou. Viu que Aku ainda dormia. Se levantou vagarosamente e foi em direção ao banheiro. Tomou seu banho.  

- Aah, nem acredito... - disse para si mesmo, se trocando. - Conversei com ela pessoalmente pela primeira vez ontem, e hoje já vamos nos encontrar novamente... - dizia, enquanto secava seus cabelos totalmente molhados.  

Penteou - ou pelo menos tentou - seus cabelos desarrumados. Amarrou a bandana vermelha - que sempre usava - em seu pescoço. "Agora, quando Aku acordar, você já vai ter saído. Mesmo que ele te dê uma facada mais tarde, pelo menos ele não vai atrapalhar você", pensou. Porém, quando abriu a porta do banheiro, o garoto estava lá, encostado na parede em frente ao banheiro, de braços cruzados.  - Aah, nii-chan... - começou. - Por favor, não tente testar minha inteligência.  

- Erm... do que você está falando?  

- Pensou que eu não tinha notado? Temos que acordar as 12:00. Acreditou mesmo que eu tinha caído nessa?  

- Que isso Aku... eu só levantei porque... fiquei com vontade de ir ao banheiro... - começou, ficando nervoso.  

- Não tente mentir para mim, seu idiota! Pensa que sou burro? Quem em sã consciência, diria algo como é que temos que acordar para a aula de amanhã, e logo depois de ouvir um "mas não temos aula amanhã" diria é que somos alunos novos e temos que falar com os professores? ACORDA, IDIOTA! - Gritou. - Além desse péssimo jeito para mentir que você tem, você sempre demora para dizer as frases quando está mentindo e fica vermelho!  

- Mas...  

- Agora vamos fingir que eu acreditei. Você levanta para vir ao banheiro, eu acordo para ver o motivo do seu sumiço no quarto. Você vai fazer suas necessidades no banheiro, e aproveita e já se troca, penteia os cabelos e se arruma todo para voltar a dormir? Idiota. Só por ser tão ruim em mentir, eu vou junto com você.  

- Junto? Aonde? - Tentou mentir novamente, nervoso.  

- Já te falei para não tentar testar minha inteligência, garoto. Pensa que sou surdo também? Eu ouvi você falando que ia se encontrar com uma garota hoje, pivete. E de certo é a maldita Yuka, não? - Ele sorriu.  

- Por que você quer ir junto? - Perguntou desafiadoramente.  

- Porque eu pensei que você gostaria de ver sua namoradinha viver mais algumas semanas, entende? - Aku sorriu, fazendo uma bola de fogo negra aparecer em sua mão, e logo desaparecer. 

Logo, se vendo obrigado pela irmão, Ikuto esperou até 12:20 para ir até a casa da garota.  

- Nii-chan, porque você acordou tão cedo se vocês iriam se encontrar as 12:30? - Perguntou Aku, no meio do caminho até a casa de Yuka.  

- Porque eu queria estar o mais bonito possível, entende? E não reclama porque se eu não tivesse acordado tão cedo ainda estaríamos em casa por causa de você.  

- Ah, tá certo, idiota.

 Logo, os dois chegaram, junto de Daisuke, Yuuki, Sakura e Inaty.  

- Ah! Ohayo Ikuto-kun! - Disse Sakura, logo seguida de Daisuke.  

- Bom dia, Ikuto-san - disse Inaty formalmente.  

- Oi pra vocês... - respondeu, sem jeito.  

- Ano... ohayo, Ikuto-kun... - falou Yuuki, timidamente.  

- Ohayo, Yuuki-chan! - Respondeu sorrindo, mas sem ver o rosto da garota corar.  

- Quem é ele, Ikuto-kun? - Perguntou Sakura, olhando para Aku.  

- É melhor eu apresentar ele quando a Natsuky-chan estiver aqui, não é? - Disse Ikuto, realmente querendo apresentar seu irmão na presença da amiga.  

- Bem, então vamos lá! - Disse Daisuke, abertando o botão de campainha várias vezes seguidas.  

- DROGA, JÁ ESTOU INDO! PARE DE TOCAR A CAMPAINHA! - Ouviu-se uma voz feminina gritar dentro da casa, logo seguida de um palavrão.  Então, passado uns 20 segundos, ouviram a garota gritar "itekimasu!". Logo, Yuka saiu pela porta da frente, e saiu pelo portão em frente sua casa, e logo abraçou seus amigos - inclusive Ikuto, que corou.  

- Ei... quem é você, senpai? - Perguntou para Aku.  

- Hmm... eu sou Aku, irmão gêmeo mais velho do Ikuto - respondeu, sorrindo.  

- Eeeh?! Uto-chan, você não me disse que tinha um irmão!  

- É que quando voltei da escola ele... tinha chegado, entende? Quando abri a porta ele estava sentando em cima do meu sofá, hehe... - disse, sem jeito.  

- Aah, tudo bem! - Disse, sorrindo. - Eu me chamo Natsuky Yuka, esses são Amaya Daisuke e Yuuki, Kiritashi Sakura e Nakoshiba Inaty. Bem, então vamos mostrar Tokyo para eles? - Perguntou para o grupo, que afirmou animadoramente.

 Todos passaram o dia se divertindo e indo a vários lugares. Entre eles o Museu da Espada Japonêsa - um dos lugares preferidos de Yuka -, Palácio Imperial do Japão, Templo Sensoji e outros lugares.  

- Uau, Tokyo é realmente linda... - disse Ikuto, que nunca havia visto tudo aquilo tão perto assim, totalmente maravilhado. - Pena que já acabou... - dizia, olhando para o céu, que já estava bem escuro.  

- Como assim "já acabou", Uto-chan? - Perguntou Yuka, sorrindo.  

- Yu-chan... pensei que você tinha se esquecido já! - Disse Sakura.  

- Sakura-chan, como eu poderia me esquecer do meu local favorito?  

- Seu local... favorito? - Ikuto disse mais para si mesmo do que para Yuka, tentando se lembrar de algum outro lugar em Tokyo que Yuka goste.  

- É claro! Vamos lá, te digo o nome quando chegarmos - e segurou a mão de Ikuto e Aku e saiu correndo, com os outros os seguindo.

 - É aqui! - Disse Yuka, soltando os gêmeos. 

Ikuto olhou. O lugar era fantástico. Lembrava muito a Torre Eiffel em Paris. Não percebeu como não tinha visto aquele lugar - já havia anoitecido, e a torra possuía uma forte luz alaranjada em torno dela. Não se lembrava da torre, mas sabia porque era o lugar favorito de Yuka e porque o tinha deixado para o final.  

- A Torre de Tokyo... - falou Yuka, mais para si mesma do que para os outros, um tanto deprimida.  

- Hmm... Natsuky-chan, tudo bem? - Perguntou Ikuto, colocando sua mão no ombro da garota.  - Ah, tudo bem! Vamos ao Observatório Especial? - Perguntou, animadoramente.  

Os sete subiram no elevador e foram para o andar principal da Torre de Tokyo. Chegaram ao Observatório Especial - a vista da cidade era realmente linda. Era um local totalmente fechado e oval, porém as paredes eram janelas, o que permitia uma bela vista brilhante de Tokyo. Todos ficaram uns juntos aos outros observando a bela vista - menos uma. Yuka, que estava um pouco mais distante de todos. Ikuto, que havia notado a falta da garota, decidiu ir até ela.  

- Algum problema, Natsuky-chan? - Perguntou, olhando para a garota.  

- É que... Uto-chan, você me promete uma coisa? - Perguntou depressivamente, ainda olhando à cidade.  

- Prometo sim.  

- Por favor, não conte isso à ninguém. É que, quando eu tinha cinco anos... eu vim aqui uma vez com meu irmão. Natsuky Moritaka - contou. - Foi a única vez que eu tinha vindo para cá. Foi nesse observatório que ficamos contemplando Tokyo... - disse, parecendo que logo choraria. - Ele tinha treze anos...  

- E o que aconteceu com ele?  

- No dia que se passou após virmos na Torre de Tokyo, uma escola em Londres o chamou para estudar lá, pois era muito inteligente e poderia entrar em uma boa faculdade...  

- Com treze anos?!  

- Bem, ele havia sido chamado junto do amigo dele, Claude, que iria com os pais. Naquele dia, ele se despediu do meu pai, minha mãe e de mim... e a última coisa que ele me disse foi "Yuka, seja uma garota forte. Quando eu voltar, quero encontrar você com um belo namorado, com os seus melhores amigos e seu lindo sorriso estampado em seu rosto fofinho! E lembre-se, sempre que achar que não tem um motivo para viver, que eu te acho a melhor irmã do mundo. Eu te amo". - Completou a história com seus olhos brilhando pelas lágrimas.  

- Então... faz nove anos que vocês não se veem?  

- É...  

- Você se lembra como ele era? - Perguntou. Agora sabia porque não se lembrava da Torre de Tokyo. Porque haviam passado nove anos desde aquilo. Tanto que nem se lembrava que a garota tinha um irmão mais velho.  

- Sim... ele tinha cabelos curtos e negros, e olhos roxos como os meus. E... o sorriso mais lindo do mundo. - Uma lágrima escorreu de seu rosto.  

- Natsu--

Mas o garoto não pôde terminar a frase, pois Yuka havia se jogado nos braços dele, chorando. Ele não havia entendido muito, mas ouviu algumas coisas como "eu amo muito ele" ou "eu sinto saudades dele".  

- Desculpe, Uto-chan... - e a garota se soltou dele, limpando os olhos.  

- Ah, tudo bem... - disse, sorrindo. Havia corado, e para disfarçar, começara a andar de costas para a garota não olhar seu rosto, mas acabou tropeçando - e, talvez pelo destino, se segurou nos ombros de Yuka para se equilibrar, porém, seus lábios haviam se unido no movimento.  

Todos, naquele momento que tinham ouvido o pequeno grito de susto do garoto, olharam para eles. Ikuto e Yuka se beijando. Depois de mais ou menos cinco segundos, eles se soltaram. A garota olhava para ele. Estava vermelha - porém, não tanto quanto Ikuto, que era facilmente ver que estava mais vermelho que o cabelo de seu irmão, com as mãos levadas à boca.