As palavras me atingiram como um golpe que me roubava o ar.

-Ela não pode, não deve, permanecer nas lembranças de vocês... –lendo nossas reações, o alado disse.

Melissa não falou nada. Ela sempre soube que tudo acabaria assim?! Que nunca mais iríamos vê-la e todas as nossas lembranças com ela iriam simplesmente desaparecer?!!

-Não... – falei em voz alta, cerrando os punhos até cravar minhas unhas na pele – Não precisa ser assim, não precisa acabar desse jeito...

-Não podemos fazer nada pra mudar isso?! – Clara interveio, um fio de esperança cobria sua voz.

-Essa é nossa lei. – Melissa disse, lançando o sorriso mais triste que já havia visto em vida.

-Somente um de vocês é aquele que tem a permissão para carregar estas memórias. – o alado disse de repente. Em seguida, virou-se para Melissa, segurando as mãos dela entre as suas. – Mel... quem é seu Guardião de Memórias?

E foi então que ela me encarrou. Vi todas as nossas lembranças juntas percorrerem os olhos dela.

-É ele... o Alex.

Ninguém disse mais nada. A aura que os envolvia era forte demais para ser interrompida.

Imóvel, vi os dois caminhando na minha direção.

Eles pararam na minha frente. Não consegui tirar os olhos de Melissa. Tão gentis e serenos...

-Tem que ser mesmo desse jeito? – perguntei, mesmo já sabendo a resposta.

Ela sorriu e estendeu o braço, apertando uma de minhas mãos.

-Sim...

-Mas por que eu? – eu queria falar, queria continuar ouvindo a voz dela antes do fim.

-Não sei, Alex... realmente não sei. Talvez seja o destino, não?

E com essas palavras o branco me envolveu. O toque macio da mão dela desapareceu e eu não vi mais nada, não senti mais nada.

Deitado na cama, eu estava novamente no meu apartamento.

A chuva continuava a cair lá fora. Nada ali havia mudado.

Não consegui me levantar, não consegui me mover. Depois de anos sem derramar uma lágrima sequer, deixei que todas elas se libertassem agora, molhando meu rosto até eu não conseguir ver mais nada.

Jamais eu veria Melissa outra vez. A dor destas memórias me arruinava por dentro.

Após o fim, eu nunca mais fui o mesmo.