Sophia era uma garota comum, como todas as outras garotas de 16 anos. Amava, era magoada, um ciclo que sempre se repetia em sua vida, desde o seu primeiro amor.

Seu ultimo namorado havia a machucado demais e ela ainda se recupera das feridas que ele a deixou. Apenas isso, feridas. Foi só o que ele deixou pra ela. Feridas, lágrimas, dor e lembranças que ela ainda luta pra esquecer.

–Um dia após o outro e eu vou esquecer! Ela repetia essa frase todos os dias pra si mesma, na tentativa de isso se tornar real. Na tentativa de que o seu coração escutasse e obedecesse-se transformando todas aquelas feridas em cicatrizes. Sophia sabe que as cicatrizes jamais vão desaparecer. Ela só queria que aquilo não sangrasse mais, que parasse de doer. Isso a machucava muito!

6:15 da manhã o despertador do celular a acorda com a sua música favorita, Pianinho do Esteban. Esteban é um dos ídolos dela, ele é baixista da banda Fresno, que ela também é completamente apaixonada. É o primeiro dia de aula e ela se levantou reclamando como todos os dias. A escola era um saco! Era um ambiente monótono, sem nada de novo. As mesmas pessoas sempre, a olhando como se ela fosse um E.T. Ela nunca conseguiu se sentir completamente feliz em lugar nenhum sempre parecia que faltava algo. Mas ela não sabia o que era.

–Bom dia filha! –Disse a mãe de Sophia dando um beijo em sua testa.

–Bom dia. –Disse Sophia sem humor.

Tomou seu café se despediu da mãe e foi para a escola.

Sophia mora com os pais e um irmão um ano mais novo que ela. Seu irmão sempre ia atrasado para a escola e a hora que o seu pai levantava para ir trabalhar ela já não estava mais em casa.

–Bom dia! –Disse Erika para Sophia assim que a menina entrou na sala de aula.

– Bom dia! –Sophia respondeu dando um sorriso torto. Erika era o tipo de amiga que não podia ver um amigo triste e vinha perguntar o que tinha acontecido. Não era por ser fofoqueira, mas por que se importava demais, ela se preocupava muito com Sophia porque sabia por tudo que ela estava passando.

Alguns minutos depois a sala estava abarrotada de alunos histéricos. Felizes por verem os amigos depois de tanto tempo. Para Sophia era apenas o primeiro de dia de um ano letivo e ela já sabia que seria como o outro. Sophia leva a escola bem a sério, no fim do ultimo ano ela não deu muita importância para os estudos por causa de tudo que tinha acontecido, mas ela conseguiu recuperar e passar de ano.

No recreio ela encontrou os seus amigos que não via há muito tempo.

Juliana é sua melhor amiga. Desde a 5ª série as duas não se desgrudavam. Nas férias elas se falaram por telefone e pela internet, mas não era a mesma coisa de ter a amiga ali do lado.

Foi o primeiro sorriso sincero que Sophia deu naquele dia. O segundo foi ao ver Pedro o seu melhor amigo. Aquele pra quem Sophia corria quando precisa chorar e desabafar. Por que ele a entendia muito bem. Talvez por já ter passado por tudo que ela estava passando, ele a entendesse melhor que os outros. Sophia tinha muitos amigos, mas poucos ela podia chamar de verdadeiros. Juliana e Pedro eram os mais importantes, por eles ela faria qualquer coisa.

– Como vai a vida? –Pedro perguntou quando os dois ficaram sozinhos.

– Indo. –Sophia respondeu lembrando-se de tudo que tinha vivido nos últimos meses.

– Ainda sofrendo por causa dele?

– Nem tanto.

– Tem certeza?

– É complicado. Depois de tudo eu ainda me preocupo com ele, não consigo ficar sem noticias por muito tempo e ainda sinto muita falta.

– É assim mesmo no inicio, mas depois de um tempo você se acostuma.

– Depois de um tempo? – Disse Sophia com certo sarcasmo na voz. - Já se passaram dois meses! E eu suportei coisas que eu pensei que jamais suportaria. Nas férias eu sai, tentando esquecer de tudo e de todos. E quem eu encontrei? Ele, com a nova namorada. Sorrindo e feliz, fazendo o que ele disse pra eu fazer “Seguindo em frente.” Ele me viu e não pareceu se importar em disfarçar a enorme felicidade que estava sentindo. A única coisa que eu conseguia pensar era que menos de um mês atrás ele dizia que me amava e que nunca iria me machucar. Não consigo entender como ele pôde fazer isso comigo. Nós éramos amigos há tanto tempo, eu pensei que ele tivesse um pouco mais de consideração, mas quebrei a cara. De novo.

– Nossa! Eu sinto muito Sophi. Você não me contou nada disso nas vezes que eu te liguei.

– Queria evitar falar e pensar nisso.

– Ele é um otário! Não te merecia mesmo. A melhor coisa que podia ter acontecido foi vocês dois terem terminado mesmo.

– Por quê?

– Porra! Tenta raciocinar um pouco. Se vocês dois tivessem ficado juntos por mais tempo e ele tivesse feito tudo isso. Seria bem pior, não acha? Sua decepção seria bem maior!

–Verdade. –Diz Sophia com lágrimas nos olhos. Pensando em tudo o que eles poderiam ter vivido juntos e em como seria insuportável se depois de muito tempo ele a magoa-se tanto.

– Tenho certeza que você vai ficar bem.

Sophia só conseguiu sorrir, tentando acreditar nas palavras do seu melhor amigo. Ele jamais mentiria para ela, então devia ser verdade.

– E quanto aquele outro problema... Ainda é um problema?

Sophia tentou entender o que Pedro queria dizer com aquilo, e de repente tudo ficou claro em sua mente.

– AH! Ainda não sei. Tenho que ver um jeito de descobrir, se sou ou não.

Há alguns meses atrás Sophia descobriu que sentia interesse por garotas também. Ela passou dias chorando com essa descoberta. Na verdade não era uma descoberta, no fundo ela sempre soube, mas nunca quis se aceitar. Até que um dia ela se pegou muito atraída por uma garota que também mostrava interesse mas nem falava com ela. Juliana é lésbica e ficou feliz quando Sophia foi conversar com ela. Mas ela não sabia se isso era tão bom assim.