Eu pisquei tentando acordar desse sonho. Era ela mesmo que estava na minha frente? Ela. Miranda! A garota por quem me apaixonei no colegial, que agora estava casada e parecia estar muito feliz. Eu pisquei mais uma vez, e logo depois me belisquei.

- Ai! - gritei, chamando a atenção das pessoas que passavam e a atenção dela.

- Luísa? - ela perguntou se aproximando de mim.

- Miranda. - eu disse com um falso entusiasmo.

Sim, eu a amei. E eu sabia que ela também me amava, não me levem a mal, eu esperei encontrá-la quase minha vida inteira. A procurei em quase todos os lugares, mas nunca esperava encontrá-la no shopping que eu freqüentava há quase 10 anos, logo depois que me mudei do interior de São Paulo. Hoje eu vivia na cidade, sempre na correria, nunca tendo tempo nem para respirar direito. Namorar era algo que não fazia há anos. E eu sabia que eu não amaria nenhum outro garoto depois ela.

- Quanto tempo, Luísa! - Miranda exclamou e logo depois me abraçou.

Eu não sabia o que fazer, eu estava chocada com a aparição dela.

- Sim. - eu disse tristemente. - Faz 10 anos que eu não te vejo.

Eu queria acrescentar que se fazia 10 anos que não a tocava, que não a beijava, que não dizia o quando a amava.

- Senti sua falta, tipo, sempre. - ela disse com um grande sorriso.

Miranda sempre fora assim. Alegre e cheia de vida, coisas que até hoje eu não sou.

- Eu também. - respondi. - Fiquei sabendo que você se casou... - eu disse e o sorriso dela se desfez.

- Sim, logo depois que você foi embora, minha mãe me obrigou a namorar com um garoto, ela me fez namorar com o Erick, sabe aquele que vivia se jogando pra cima de mim? - eu assenti. Claro que eu lembrava de Erick, ele tinha sido um dos culpados por eu e Miranda nunca podermos ficar juntas. - Eu engravidei dele três meses depois e meus pais me fizeram casar com ele.  - ela disse com tristeza.

- Nossa! - foi a única coisa que eu consegui dizer.

- Lu, você se lembra de quando tudo aconteceu? - ela perguntou baixinho e é claro que eu me lembrava.

Era uma tarde quente de Janeiro. Eu estava na casa de Miranda, pois ela ia fazer raspadinha para a gente tomar. Ela vestia um vestido branco de linho e andava descalça por causa do calor. Eu vestia um shorts jeans, uma regata azul clara e usava havaianas pretas. Miranda havia feito uma longa trança em meus cabelos loiros, o que fazia ressaltar a cor clara dos meus olhos. Ela usava um coque em cima da cabeça, eu preferia que seus longos cabelos negros caíssem sobre seus ombros, sua pele era bem clara e seus olhos negros como a noite. Eu e Miranda riamos de uns programas que passavam na televisão, mas nada chamava tanto a atenção como os lábios dela. Eu não sabia o que havia comigo, ela era minha melhor amiga e eu jamais a desejaria daquele jeito. Mas era impossível não desejá-la. Todos os garotos a desejavam, mas ela nunca dava bola para eles, ela só queria ser minha amiga e eu sabia que ela nunca havia beijado um garoto.

Miranda me olhou e sorriu. Como eu amava quando ela sorria. Ela deitou a cabeça no sofá e se aproximou de mim.

Seus lábios estavam bem próximos dos meus, algo que fez meu coração acelerar.

- Porque lutamos tanto contra? - ela perguntou e eu a olhei confusa.

- Como assim, Mi? - ela sorriu enigmática.

- Não se finja de tola, Lu. - ela disse um pouco mais alto. - Você sente atração por mim e eu por você, não podemos mais nos enganar. - ela se aproximou mais e me beijou.

Seus lábios eram macios e quentes, o gosto deles eram simplesmente perfeitos. Eu nunca havia provado nada mais excitante que os lábios dela. As suas mãos desciam pelas minhas costas lentamente, quanto o beijo ficava mais apressado. Ela acariciava minhas costas fervorosamente, e eu as dela. Não conseguíamos nos distanciar. Ela tirou minha camiseta, o que me fez ficar vermelha, mas eu não parei de beijá-la. Então coloquei minhas mãos por dentro se seu vestido. No calor do momento o telefona da casa dela tocou, fazendo nós nos separar rapidamente.

Ela correu para atendê-lo, e eu coloquei minha camiseta de volta. Eu havia beijado minha melhor amiga!

Dias se passaram, e nós sempre nos encontrávamos escondidas para nos beijar. Nós não podíamos contar para ninguém, pois nosso amor era proibido. Minha mãe nunca aceitaria e eu sabia que os pais dela também não.

Eu e ela nos amávamos demais, eu adorava quando ela me tocava, me beijava e dizia que eu era o mundo dela. Nós não podíamos contar para ninguém, nosso amor era proibido. Eu sabia que minha mãe nunca aceitaria e eu sabia que os pais dela também não aceitariam.

Sempre íamos uma para a casa da outra e dormia mos juntas, abraçadas. Ninguém nunca desconfiava do que sentíamos uma pela outra. O verão acabou, voltamos para a escola. Não sabíamos como lidar com esse nosso amor dentro de um lugar cheio de crianças maldosas. Miranda dizia para mim não me preocupar, que ficaríamos bem. Eu já não tinha tanta certeza, já que Erick, o garoto que a mãe de Miranda tinha como o ideal para a filha, nos rondava suspeitando de algo. Ele descobriu e contou tudo os pais dela, que contaram para minha mãe, que me fez ir embora da cidadezinha onde morávamos para a casa de meu pai, que era em São Paulo.

- Você me promete que nunca vai deixar nosso amor morrer? - eu perguntei para Miranda, já de malas feitas, e pronta para subir no ônibus para São Paulo.

- Eu prometo. - ela estendeu o dedo mindinho para mim e eu coloquei o meu em volta do dela. - Melhores amigas para sempre?

- Melhores amigas para sempre. - eu disse chorando.

O motorista do ônibus já ia subindo, estava na hora de dizer adeus. Mas o adeus era muito doloroso para ser dito. Eu a olhei nos olhos e ela me abraçou o mais forte possível.

- Nunca se esqueça de mim, Lu. - ela disse no meu ouvido. - Eu te amo e um dia nos veremos de novo.

Eu assenti, muito triste para dizer qualquer coisa. Subi no ônibus e me sentei no meu lugar, que era na janela. A última vez que a vi foi ali, naquela plataforma 12, com um sorriso triste nos lábios e lágrimas nos olhos.

Eu passei dias sem comer direito, sem falar com meu pai ou com qualquer um. Mas com o tempo a dor foi passando, e ela era só uma bela lembrança. Namorei outras garotas, tinha tentado com homens, mas percebi que não era algo que eu gostava. Minha mãe me ligava todas as noites e eu sempre me esquecia de perguntar dela. Até uma noite, em que o convite de casamento chegou no velho apartamento de meu pai. Era o casamento dela. Eu não podia aguentar. Chorei por dois dias seguidos. Ela havia me esquecido. Eu não iria ao casamento dela, não ia agüentar vê-la entrar de véu e grinalda na igreja olhando para quem quer que fosse o noite. Eu rasguei o convite e depois o queimei.

Passaram-se 10 anos, e agora ela estava na minha frente com aquele grande sorriso, com aqueles grandes olhos negros, com aquele corpo perfeito. Eu ainda a amava, mas não podia querer que ela me quisesse também, era egoísmo. Ela tinha um filho ou filha, isso não vem ao caso, e estava casada. Ela tinha a vida dela.

Eu olhei nos olhos dela e sorri.

- Melhores amigas para sempre? - eu perguntei e levantei o dedo mindinho.

- Melhores amigas para sempre. - ela sorriu e segurou meu mindinho de volta.

Ela seria para sempre minha melhor amiga, mesmo depois de todo o amor que sentíamos uma pela outra.

Fim.