Capítulo 23 – Por Luke

–Não é óbvio? – falou Lime com deboche - Ficaremos no acampamento, sua lerda

Aquela foi a gota d’água, Agatha já andava bastante irritada com a aliança porque suas opiniões era sempre descartadas e agora Lime a chamava de lerda, podemos não ser amigos, mas eu sabia onde isso iria dar. Minha parceira de Distrito pulou em cima da outra tributo e assim as duas começarão com puxões de cabelo enquanto rolavam no chão. Chamei a atenção de Bruce que estava do meu lado e corremos para tentar separá-las, elas haviam caído numa poça de lama fazendo-as se separar por alguns instantes, foi nesse momento que Bruce segurou Agatha e eu, Lime.

Lime se debatia enquanto xingava a outra e vice-versa, Isabel ria da cena toda, das garotas da aliança ela é a mais centrada, Caius observava de longe e Zac esperou para ver se aquilo acabava e então perdeu a paciência

–Quantos anos as duas pensam que tem? Ou melhor, onde vocês acham que estão? – ele perguntou irritado, isso fez as duas pararem - Somos aliados, todos temos que agir em grupo e um grupo não pode ter pessoas brigando iguais duas crianças de 5 anos. Sinceramente, eu esperava mais das duas.

“Não é só você” pensei. Não estou dizendo que as duas eram tributos ruins, não, pelo contrário, ambas tiveram treinamentos excelentes, porem personalidade e comportamento é uma coisa que nenhum instrutor nos ensinou, pelo menos no Distrito 4. Bruce estava soltando cada vez mais os braços de Agatha, a garota afastou as mãos dele irritada, andou furiosamente até sua mochila azul, a colocou nas costas e disse:

–Ótimo, se não me querem aqui, estou caindo fora. Apenas espero que vocês sejam dignos de não me atacarem pelas costas. Adeus – ela entrou na floresta e só então soltei Lime, eu não queria quebrar uma aliança com as duas tentando se matar. Zac parecia indiferente, Caius e Bruce estavam perplexos, Lime tinha uma expressão de vitoriosa e Isabel estava como uma sobrancelha levantada como se perguntasse: ”O que deu nessa garota?” e ao ver toda essa cena não pude deixar de dar uma risadinha.

-Tinha que ser a Agatha mesmo – ela sempre fazia isso, sempre que alguém discordava dela, ela ia embora, lembro de quando tínhamos treinamento em dupla, ninguém queria ser a dupla dela porque Agatha sempre pensava na pior estratégia. Eu não entendia o porquê de ninguém se voluntariar para vir no lugar dela, e agora um pensamento que talvez a tivessem mandado para os Jogos para se livrarem dela me veio à cabeça.

-Vocês já se conheciam, Luke? – Isabel me perguntou me tirando de meus pensamentos

-Éramos da mesma sala, e ela sempre foi assim, sempre que todos a contrariavam ela sumia, por isso todos odiavam fazer trabalho em grupo com ela – respondi, era proibido fazer qualquer comentário sobre o centro de treinamento que tínhamos no Distrito 4, e de qualquer maneira, não era mentira, nós dois éramos realmente da mesma turma do colégio

-Então foi bom ela ter saído da aliança, Agatha só nos traria problemas – falou Zac frio, será que ele falaria algo desse tipo caso qualquer um de nós saíssemos dessa maneira?

-Já estava nos trazendo – falou Lime, ela tinha alguns arranhões no rosto e sua roupa estava cheia de lama seca

-Eu não sei o porquê dela querer tanto caçar tributos, não conseguia nem chegar perto dos animais de tanto que ela fazia barulho – falou Bruce, ele tinha razão, Agatha não era silenciosa no Centro, imagino aqui na floresta com tantas folhas secas

-O programa vai começar – Caius cortou o assunto enquanto apontava para o símbolo de Panem que estava no céu, as fotos do garoto do 7 e da garota do 10 apareceram dando fim ao programa

-Quem vai ser o primeiro a ficar de guarda? – perguntei e Lime se ofereceu, eu havia ficado de guarda na noite anterior, então poderia dormir hoje a noite inteira

Deitei no saco de dormir e em minutos eu apaguei e só acordei na manha seguinte com Lime me chamando. Lembro-me de um vago pesadelo que tive, eu estava correndo atrás de uma menina de cabelos castanhos pela floresta, de costas eu não podia reconhecê-la.

-Bom dia Luke – a loira me acordou com um sorriso - Zac pediu para acordá-lo. Dormiu bem?

-Bom dia Lime – respondi abrindo também um sorriso, haveria alguma necessidade de não ser gentil? –Ah, ok. Tem café da manhã?

-Ali – ela apontou para uma toalha que continha um pão e ela foi caminhando em direção ao saco de dormir de Caius

Aproximei-me e notei que só havia um único pão.

-Todos já comeram? – perguntei a Isabel que amolava uma faca

-Só você e o Caius que não – ela respondeu e se voltou para conversar sobre alguma coisa com Bruce e Zac

Pude ver Caius acordar e vir em minha direção.

-Tome - falei partindo o pão ao meio e lhe entregando metade - Todos os outros já comeram, só faltam nós dois – meio relutante ele aceitou minha metade de pão sem ao menos falar uma palavra, sinceramente, eu não sei quais são os problemas dele comigo, mas não quero que terminemos como Lime e Agatha, então deixo Caius quieto em seu canto.

- E então, o que faremos? – perguntou Isabel olhando seu reflexo na faca

-Os Idealizadores devem estar armando alguma coisa, não ouvimos mais mortes há algum tempo – falou Zac com seu típico tom sério, mas tenho que admitir, ele raciocina bem

-Então isso quer dizer...? – perguntou Lime sem concluir

-Está na hora de irmos atrás dos outros, os Idealizadores já devem ter feito alguma coisa para eles se aproximarem – falou Bruce

-Bem pensado, Bruce – falou Zac o elogiando, isso era uma raridade

 – Então, quem ficará aqui de guarda?

-Eu fico – Bruce se ofereceu– Não fiquei de vigia hoje, então vocês podem ir.

-Ótimo – Zac, ele era o líder dessa aliança– Estava pensando em nos separarmos em dois grupos. Lime, você se importaria de ir com Caius?

-Não – respondeu a garota enquanto mexia em seu cabelo

-Então, Isabel e Luke seguirão comigo, retornaremos quando o Sol estiver se pondo – cada um pegou uma arma, Zac um machado, Isabel pegou sua faca recém-amolada e outras menores, eu peguei o outro arco e flecha.

Andamos por um bom tempo em conjunto, mas andar em trio era ruim. Na floresta existiam passagens difíceis entre as árvores, e andar um trio por elas sem fazer barulho demorava bastante tempo.

-Podíamos nos separar – sugeri –Dá para perceber que os três juntos não nos levarão a lugar nenhum – Isabel me olhou com uma das sobrancelhas levantadas, mas foi Zac que me respondeu

-Não estamos tão ruins assim, mas se quiser, pode seguir sozinho – ele falou e eu não sabia que se isso se referia à aliança ou só a caçada mesmo

-Então nos encontramos mais tarde no acampamento? – perguntei, se ele estivesse quebrando a aliança, eu saberia agora.

-Nos encontramos no acampamento mais tarde – ele repetiu

-Você sabe o caminho? – Isabel perguntou um pouco preocupada

-Até mesmo com os olhos fechados – falei abrindo um sorrisinho e então segui para a direção oposta dos dois

Ir procurar tributos sozinho era bem diferente do que em grupo, eu não precisava seguir ninguém, poderia ter minhas próprias direções e então comecei a pensar se talvez não valesse à pena sair da aliança como Agatha. E então me lembrei de uma conversa que tive há pouco tempo com meu mentor.

-Você sabe que Agatha não ficará muito tempo na aliança, não sabe? – perguntei a Finnick assim que ele me disse sobre a aliança

-Sei – ele respondeu enquanto tomava um gole de café – Dá para ver pela personalidade dela.

-Então por que insiste tanto nessa aliança? Não precisamos de aliados para vencer os Jogos, você mesmo não teve aliados – perguntei

-Talvez você não precisasse, mas Agatha precisa, ela não é muito carismática e ser aliado dos Carreiristas significa proteção até certo tempo, estando na aliança você consegue comer bem e dormir bem, o que te faz ter uma vantagem, por isso quase sempre um deles sai vitorioso – Finnick pegou um cubinho de açúcar que estava no potinho a sua frente –Quer um? – ele me ofereceu

“Talvez você não precisasse” a frase dele ecoou na minha cabeça, talvez eu realmente pudesse sair da aliança, mas entre o certo e o duvidoso, prefiro ficar com certo. Andei mais um pouco e encontrei a garota do 12 encolhida ao lado de uma árvore com a cabeça abaixa, me aproximei silenciosamente e ao levantar a cabeça e me ver ali, ela arregalou seus olhos cinzentos.

-Vai me matar agora? – ela perguntou com a voz fraca - Se sim, por favor, faça isso logo, não agüento mais essa sede.

-Como? – perguntei perplexo, ela estiva pedindo para que eu a matasse?

-Mate-me logo, tenho certeza de que se não fizer isso, morrerei de desidratação, eu não consigo nem mais andar para ir procurar um rio e a essa altura meu mentor já deve ter entrado em coma alcoólico – ela falou me encarando, seus lábios estavam ressecados e rachados –Faça isso logo, ambos sabemos que não terei chance alguma de vencer.

Eu preparei uma flecha e a garota fechou os olhos, atirei em seu coração e antes que o canhão soasse ela murmurou um “obrigada”. BOOM. Menos um tributo na arena.

Olhei para o céu e já estava escurecendo, era hora de voltar para o acampamento, e enquanto estava na sua metade, uma voz feminina me parou.

-Ora, ora, se não é o galanteador do Distrito 4. – eu não fazia idéia de quem era até olhar entre as folhas e encontrar uma garota com olhos dourados e pele morena com uma faca na mão.

“Distrito 11” pensei “Ela vai me atacar” coloquei outra flecha no arco e preparei a mira, ela já estava pronta e o primeiro que atirasse seria atingido no final. Um de nós sairá morto, se não os dois, era uma luta sem saída. “Distrito 11 não é Carreirista. Atire. Ela não conseguiria jogar aquela faca direito e dará tempo para você recuar”

Eu já estava a ponto de atirar quando uma segunda voz me parou:

-NÃO! Espere! Luke, não atire, por favor – e essa era conhecida, era Juliet