Capítulo 17 – por Caius

Onde eu havia me metido? Eu, que sempre disse que não faria uma aliança com carreiristas estava aqui me aliando a eles. Essa idéia me agradava tanto quanto agradava Agatha, porem fazia parte do acordo deles só caçarem Juliet quando rompêssemos a aliança. Sei que não posso protegê-la de todos os tributos, porem mante-la afastada dos tributos do 1, 2 e 4 era o melhor que eu poderia fazer.

E lá estava eu sendo uma peça dos Jogos deles. Eu já matei um tributo e agora faço parte da aliança mais mortífera dos Jogos Vorazes, eu estava me tornando o que Feron me pediu para não me tornar, apenas mais uma peça, porem eu preciso fazer isso para ajudar minha irmã.

Os outros fazem uma votação e eu sou aceito na aliança. Posso sentir a mão pesada de Bruce dando tapas em minhas costas e eu estava relaxado por poder proteger Juliet dele temporariamente. Contudo nada dava certo para mim e para acabar com minha paz mais um tiro de canhão é escutado. Todos os outros reagem normalmente enquanto eu estou com medo de descobrir quem foi a vitima dessa vez, dez minutos depois Isabel aparece no acampamento suja de sangue

–Como essas crianças de 13 anos conseguem sobreviver a Cornucópia? – ela disse enquanto limpava seu braço sujo – É serio, eles deveriam aumentar a idade minima para 14. Eu pensei que aquela garota fosse mais resistente.

Essa havia sido a vitima, uma garota de 13 anos que havia sobrevivido ao banho de sangue. As chances de ser Juliet são altas. Eu estava paralisado enquanto cada um comentava sobre cada tributo que matou, e pior, eles se gabavam disso, apenas Luke encarava a floresta, mas eu me recusava a puxar assunto com ele.

–Olhem lá – falou Lime apontando para o céu quanto o símbolo de Panem surgiu – Saberemos quais foram as mortes agora.

Fechei os olhos e respirei fundo, se Juliet estivesse morta sua foto seria a primeira a aparecer. O hino cessou e a primeira foto surgiu, foi quando eu abri os olhos. Eu poderia gritar agora, mas havia perdido a voz. A primeira foto era da garota do 5 a qual eu havia deixado sangrando na Cornucópia. Aliviado consegui ver os outros. O garoto do 5, a menina do 7, a menina do 8 (era ela a ultima vitima de Isabel), o menino do 8 que eu matei, o casal do 9, o garoto do 10 e o do 12.

Eu poderia me dizer até feliz depois disso, Juliet estava viva e longe da mira dos Carreiristas, era o melhor que eu poderia fazer por ela.

–Agora podemos ir caçar os outros – falou Agatha após todos fazerem uma nota mental de quem havia morrido

–Não acho uma boa idéia – falou Luke, pelo visto nem ele dava apoio a sua parceira de distrito

–É uma excelente idéia – falou Agatha olhando Luke de cara feia – Sabemos exatamente quem ainda está vivo

–Luke tem razão – falou Zac, era fato que ele era o líder ali no meio – Muitos tributos esperam que nós ataquemos a noite e tenho certeza que a maioria ficará acordada prontos para um ataque. Caçaremos os outros amanhã de manhã quando eles estiverem mais cansados. – ele estava certo, essa era a diferença entre um Carreirista que observa os Jogos ao Carreirista que apenas aprimora suas técnicas de matar

–Não necessariamente... – Agatha começou dizendo, definitivamente ela era o segundo caso de Carreirista

–Quem será o primeiro da guarda? – perguntou Isabel interrompendo a outra deixando a tributo do Distrito 4 irritada

–Eu começo – Bruce se voluntariou.

Todos arrumaram seus sacos de dormir em posição estratégica. Normalmente é comum ficarem duas pessoas em guarda enquanto os outros dormem, mas hoje seria apenas a primeira noite e nenhum tributo era louco de atacar os Carreiristas no primeiro dia. O garoto do distrito 2 encostou-se a uma árvore e eu apenas fechei meus olhos.

Assobios. Era o que eu ouvia a cada 20 minutos assim como o combinado, era incrível como seu time era perfeito. Eu tentava correr pela densa floresta deixando a montanha para trás para encontrar a origem desse som que só poderia vir de uma pessoa: Juliet.

Porém a sorte nunca esteve ao meu favor. Eu corria o mais rápido que podia e graças aos tordos algumas vezes eu perdia a direção, por que eles tinham que imitar o som que me levaria até minha irmã? Após um tempo eu já conseguia diferenciar seus assobios aos assobios dela.

O som vinha cada vez mais próximo. ”Ela está perto!” Meu coração acelerava com esse pensamento e eu tentava correr o máximo que eu podia, mas a floresta se tornava cada vez mais fechada e correr estava se tornando difícil. “Persista, Caius, persista” meu subconsciente gritava, então eu ouvi um grito.

Era um grito de pavor feminino e meu coração acelerou ainda mais, o pensamento de que ela estava sendo atacada fez com que meus reflexos agissem rápidos demais, e eu gritei antes de poder analisar as conseqüências daquilo.

–Juliet! Juliet! Estou indo! – eu gritava, talvez isso atraísse o terrorista de minha irmã para mim e ele a soltasse.

–Caius! – eu pude ouvi-la me chamar, era ela com certeza e agora eu estava numa espécie de corrida de obstáculos com as raízes das árvores.

Mas como eu disse, a sorte nunca esteve ao meu favor, e ao pular uma das muitas raízes, eu tropecei caindo em cima de uma poça de lama. Levantei minha cabeça e limpei a lama ao redor dos olhos para poder observar o local onde me encontrava. Eu não sei ao certo o que eu sentia, felicidade ou desespero, talvez um pouco dos dois. Eu estava em uma clareira e ao centro dela se encontrava Juliet e o garoto do distrito 7. Ela estava presa a uma rede e tentava se soltar de alguma forma e ele segurava um machado na mão e tinha em seu rosto um sorriso maligno.

–Juliet! – gritei novamente e a atenção do garoto de voltou para mim. Segurei com força a lança que estava na minha mão, ele estava se aproximando e eu também e quando estávamos a alguns centímetros de distancia do outro pude sentir algo bater em meu pé.

“O que é isso?” me perguntei abrindo os olhos

–Desculpe, chutei sua perna sem querer – Luke sussurrou tentando não acordar os outros, aquele era seu horário de vigília.

Irritado com aquele garoto voltei a dormir, não tive pesadelos dessa vez.

Acordei com a luz do Sol nos meus olhos, meu horário de guarda havia ficado para a próxima noite depois do horário de Lime.

–Bom dia! – a loira falou animada assim que eu acordei para mim e para Isabel que havia acordado no mesmo horário que eu

–Bom dia – respondi tentando ser simpático, mas onde aquela garota achava que estava? Num acampamento de verão? Esfreguei meus olhos e olhei o resto do grupo, os outros estavam se exercitando.

–Tem café da manhã – falou Lime apontando para um pão que estava numa cesta. Me perguntei onde eles haviam arrumado aquilo até ver um pára-quedas prateado preso a cesta. Peguei o pão esverdeado e o dividi em dois passando a outra metade para Isabel, ele era salgado e lembrei-me de meu pai falando sobre o pão ter vindo do Distrito 4.

–Então, o que faremos hoje? – perguntou Isabel entre uma mordida e outra

–Caçaremos tributos – falou Zac como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, na verdade para um grupo de Carreiristas isso era

–E para qual direção seguiremos? – perguntei curioso, eu sabia qual era a direção que Juliet estava seguindo.

–Deveríamos ir acampar mais ao sul da arena – sugeriu Agatha

–Acho que alguém deveria ficar e cuidar do acampamento, se deslocar agora não seria nada fácil, vamos nos separar em grupo e alguém fica aqui de guarda – o loiro falou com um tom de liderança

–Eu fico – falou Lime se oferecendo – Meu pé dói um pouco então ficar seria melhor para mim

–Eu e Isabel iremos para aquela direção – falou Luke apontando a oeste

–Por que ninguém nunca aceita minhas sugestões? – pergunta Agatha irritada, porem todos a ignoram

–Bruce e Agatha, procurem a leste, eu e Caius seguiremos a oeste. Nos encontramos após três horas, certo? – Zac falou com tom em liderança – Vamos! – e cada um seguiu para sua direção

Essa coisa do horário me fez lembrar sobre os assobios que eu deixa ter feito noite passada, mas atrair Juliet para perto do nosso grupo não seria a melhor coisa a se fazer e é bom que eles não saibam do nosso código. Fico imaginando se ela teria feito alguma aliança. Não, as únicas pessoas com as quais ela faria isso seriam comigo e talvez com Luke, e eu já era aliado dele, coisa que não me agradava. “Mantenha seus inimigos o mais próximo que conseguir”, era o que dizia um velho ditado, talvez me juntar com os Carreiristas tivesse sido uma boa opção afinal.

–Pare – sussurrou Zac depois de andar um tempo e pude escutar uns ruídos - Acho que tem alguém ali

Sorrateiramente nos aproximamos tentando fazer o mínimo de barulho possível. Entre os arbustos pude ver a garota do distrito 10 sozinha com uma pilha de galhos da frente e batendo duas pedras uma na outra. Era isso mesmo? A garota estava fazendo uma fogueira? A única coisa que eu podia fazer era sentir pena, acender uma fogueira no primeiro dia é morte na certa e antes mesmo de acendê-la a garota fazia aquela barulheira toda com as pedras.

–Fique aqui de guarda caso ela tenha algum aliado – falou Zac enquanto pegava o falcão no cinto

Fiquei feliz de ele ter me poupado de matá-la, não sei se eu teria coragem de fazer isso, até agora me recriminava de ter matado aquele garoto na Cornucópia sendo que eu não tinha outra opção.

Continuei em guarda observando alguns pássaros voarem, era a única movimentação que se via por ali. Pude escutar o barulho de carne sendo cortada, um corpo caindo no chão e um tiro de canhão. A menina do 10 está morta. Dez tributos fora, catorze de nós vivos. Preciso achar Juliet antes que esse numero cai mais.