Entrei no salão comunal e encontrei várias pessoas me olhando preocupadas.

–Onde você estava? – Rose me perguntou em um tom autoritário.

Revirei os olhos e observei meus primos e meu irmão no salão comunal da Lufa-Lufa. Eu tinha que rever os conceitos de todos poderem entrar no nosso salão comunal. Eu nunca tinha nem pisado no tapete do salão comunal da Grifinória!

–Por aí. – respondi evasiva e Dafne estreitou os olhos em minha direção.

–Dominique Delacour Weasley! Você não dormiu aqui, você sumiu menina... Eu fiquei preocupada. – ela disse começando a ficar vermelha.

Nate colocou o braço ao redor da sua cintura para acalma-la.

–Você precisa dizer para onde você vai, Domi. Nós nos preocupamos com você, ficamos a noite inteira acordados te procurando. – Erik disse se aproximando de mim com círculos arroxeados em torno dos olhos.

Durante dois segundos eu me senti arrependida, mas quando escutei a voz do meu querido primo, me “desarrempendi” no mesmo momento.

–Ela estava ou na Sala Precisa ou na floresta negra. Ela não aparecia em nenhum ponto do mapa do maroto, então não precisa ser um gênio para adivinhar onde a ruiva estava... – ele disse com sua voz brincalhona, acabando com a pouca paciência que eu possuía.

Lancei á lhe um olhar mortal, mas ele ignorou.

–Na Sala Precisa você não estava, eu lhe procurei por lá. – Alvo disse baixo, revirando sua bombinha de asma na mão.

Erik me abraçou e suspirou.

–Onde você estava? Por que você sumiu? – ele perguntou carinhosamente, mas aquelas perguntas começaram a me sufocar.

Respirei fundo tentando oxigenar meu cérebro. Era como se o ar não alcançasse meus pulmões, e eu ato desesperado, eu me afastei do seu abraço e do olhar das pessoas.

–Eu queria ficar sozinha, está bem? – disse irritadiça, me virando para os quartos femininos.

Pelo canto do olho vi Erik insinuando se aproximar, mas Nate o segurou levemente, fazendo um gesto negativo com a cabeça. Nate era esperto, ele sempre sabia do que as pessoas precisavam. Principalmente do que eu precisava.

Mentalmente agradeci ele e comecei a arrastar meus pés até meu quarto. Estava á cinco passos da minha porta entalhada, quando uma mão pequena e tremula segurou meu pulso.

–Domi. – a voz de Lily me atingiu em cheio e meus pulmões soltaram o pouco ar que conseguiam resgatar.

Lentamente me virei, e me obriguei a respirar fundo. Não ia entrar em pânico.

–Oi Lily. – disse baixo, tentando sorrir.

Porém, a outra ruiva não devolveu o sorriso.

–Você está brava comigo, não é? – ela me perguntou, soltando meu pulso.

Olhei confusa para ela.

–Por que estaria? – rebati.

Ela suspirou e se encostou na parede contrária do corredor.

–Porque eu não deixei você pegar o pomo, Dominique. Eu deveria deixar você pegar o pomo, na verdade você estava quase lá. Eu deveria ter engolido essa maldita vontade de sempre ganhar e aceitar que eu tinha perdido o pomo de vista antes de você. – ela disse me olhando seriamente.

Revirei os olhos.

–Você só fez o que tinha que fazer. Pegar o pomo. Não posso ficar brava com você por causa disso, seria infantilidade minha. – respondi.

Lily soltou o ar aliviada e lentamente levantou seu pulso esquerdo, o que ela tinha usado para pegar o pomo.

–Eu desloquei meu pulso. – ela disse mostrando ele praticamente mumificado. – Na verdade eu passei do limite físico para pegar o pomo, Dominique. O pomo era literalmente seu se eu não tivesse me jogado tão forte eu sua direção e contra o ar para pegá-lo. Pelo menos eu recebi o troco pela minha sede de poder. – ela concluiu sorrindo fracamente.

Olhei novamente para seu pulso e ri baixinho.

–E na enfermaria não tinha nenhuma poção que colocasse seu pulso no lugar? – perguntei.

Lily negou com a cabeça.

–Não, a enfermeira colocou meu pulso no lugar e me impediu de usar minha mão esquerda para qualquer finalidade durante esta semana. O melhor de tudo é que eu não vou precisar fazer lição de casa, sou canhota...

Eu ri mais e lhe abraçei.

–Lily eu não fiquei brava com você, está bem? – disse lhe soltando do meu abraço. – Eu só preciso de um tempo sozinha e...

–Eu entendi. Você precisa pensar um pouco. – ela disse, me cortando. – Sem problemas, Domi. Vai lá. – disse me dando um leve empurrão em direção ao meu quarto. – E Domi, eu estou torcendo para que você ganhe a taça das casas. Na verdade, eu andei aprontando bastante para a Sonserina perder alguns pontos... – concluiu, correndo para longe de mim.

Um sorriso se formou em meus lábios e eu entrei no quarto. Pelo menos não perderíamos a taça das casas.

*-*

Já tinha perdido a conta de quantas horas eu tinha dormido. Perdi algumas aulas, mas eu pedi que Dafne dissesse que eu estava doente, o que não era mentira, uma vez que vomitei as três vezes que comi algo.

Algum tipo de virose, creio eu.

A porta se abriu em um estrondo e Dafne passou por ela feito um furacão.

–Você não acredita, Dominique! – ela disse me chaqualhando.

Abri os olhos relutante e bufei.

–O que foi? – perguntei irritada.

Dafne se sentou na sua cama e me encarou profundamente.

–Nate e Erik tem um sistema de espionagem super legal e nenhum deles nunca nos contou sobre isso! Você acredita nisso? Eu namoro Nate há tanto tempo e ele nunca me contou que...

Me sentei na cama ainda sonolenta e encarei Dafne profundamente.

–Sistema do que? – perguntei confusa com as palavras que ela disparava rapidamente na minha frente.

–Um sistema de espionagem. Ele inventaram um tipo de magia que funciona como uma câmera, sabe? Tem em todos os olhos das pinturas. Eles enfeitiçaram olho por olho dos quadros no castelo inteiro com esse feitiço e tem dentro do malão uma tela estranha onde eles podem assistir á tudo. Eles sabem da vida de todo mundo! – ela berrou exasperada.

Arregalei meus olhos, enquanto meu cérebro absorvia a mensagem. Um sistema de espionagem? Sabiam da vida de todos?

–Ai meu Merlim. – eu sussurrei exasperada também.

Dafne me olhou compreensiva.

–Eu sei, é chocante. Eles podiam nos contar das fofocas mais quentes, mas não, eles só usam para poder se esgueirar pelos corredores a noite! Que injusto, eles nunca nos contaram...

Eu parei de ouvir o que ela falava e comecei a passar mal. Se eles espionavam todos, Erik sabia o que eu fazia, ou por onde eu andava. Era ele que me mandava os bilhetinhos, tentando me ajudar sem que eu percebesse. Céus, ele poderia contar para meus pais e...

Espera, mas porque ele não contou até agora? Talvez ele ache que eu estou me recuperando, por isso não vê necessidade.

Eu precisava mostrar para ele que eu estava me recuperando. Tomar mais cuidado e só vomitar tudo no banheiro do meu quarto. Assim ele não veria pelo sistema de espionagem e esqueceria do meu problema. Ele jamais contaria para meus pais e eu continuaria magra e linda.

–... E quando eu entrei no quarto deles eu vi o Nate olhando para a tela no malão, espionando a sala de poções. Claro que eu fiz ele explicar tudo e ele me contou que os dois criaram esse sistema no segundo ano e que na maioria das vezes eles usam para poder quebrar as regras do toque de recolher e saber o que os professores fazem. Mas não é um absurdo total? – ela finalizou, não percebendo que eu não prestara atenção na metade do seu discurso.

Assenti, fingindo ter escutado tudo.

–É como o Mapa do Maroto, Dafne. É útil para quem usa, mas não para quem é prejudicado por ele. – disse sorrindo, mesmo que por dentro eu me corroesse.

Eu teria que tomar cuidado de agora em diante, ou Erik saberia que eu não estava melhorando e eu voltaria a ser aquela gorda asquerosa que eu fora. Pelo menos eu sabia agora quem me espionava e sabia como. Seria bem mais fácil lutar e evitar algo mais tangível e ignorar os bilhetinhos. Afinal, quem me mandava eles não queria meu mal. Jamais me pediria algo absurdo em troca do seu silencio.

Ou pelo menos era o que eu esperava.