Acordei de repente. Sem que eu percebesse eu havia dormido praticamente a viagem inteira. Percebi que o carro estava parado olhei para o banco do motorista que estava vazio, onde estava Lilitih ?

- Deus... O que essa garota tem na cabeça ? - disse para mim mesma com uma certa irritação.

- Também gostaria de saber. - Enzo respondeu.

Levei um baita susto pois estava com tanto sono que nem havia percebido que ele estava ali o tempo todo, meio que deitado no banco Enzo se virou para mim e sorriu, não um sorriso alegre, eu ainda não o tinha visto sorrir assim, mas ainda assim era um sorriso. Fiquei um tanto sem graça, o que ele estaria pensando ? Que eu falava sózinha ? Eu esperava que não, e sinceramente, não estava preocupada com nada disso, eu o tinha visto sorrir e isso simplesmente fez o meu mundo parar por alguns segundos. O que não era nada bom pois logo em seguida me vinha em mente num tom gritante "ELE PERTENCE A LILITIH ! ".

- Não vi você aqui... - respondi por fim.

- Tudo bem... eu costumo falar sózinho também... - ele sorriu um pouquinho e apesar de ser a segunda vez que eu via aquilo a sensação foi a mesma.

Me perguntei se toda vez que o visse sorrir eu teria esse turbilhão de emoções, se um dia todo este encanto acabaria e eu ia passar a vê-lo com um simples humano... Não, com certeza não.

- Pelo menos sei que não sou a única louca por aqui. - sorri ainda sem graça.

- Não mesmo.

- Onde está Lilitih ? - perguntei sabendo que eu não queria que ela voltasse.

- Não sei... Disse que precisava fazer "alguma coisa" e saiu.

- Não tem idéia do que seja ? - perguntei achando aquilo tudo muito estranho.

- Não... - ele parecia um pouco frustrado com aquilo.

- Estou começando a me acostumar com isso.

- Como assim ?

- Lilitih anda muito estranha...

- Sempre foi ! - pensei alto, o que me fez corar então permaneci calada.

- O que quero dizer é que... ela não... eu ja não...

Neste momento Lilitih apareceu com algumas embalagens de salgadinhos e doces nas mãos.

- Está com fome ? - ela perguntou ao Enzo e depois de perceber que eu ja estava acordada se virou para mim e disse:

- Olá dorminhoca.

- Olá... - respondi tentando demonstrar algum tipo de animação.

Ela me jogou algumas coisas e voltou para o seu lugar dando partida mais uma vez.

- Onde estamos ? - perguntei.

- Quase chegando... - naquele momento eu pude perceber um pouco de nervosismo na voz de Lilitih e aquilo me deu um aperto no peito e eu me senti mal.

Eu era uma pessoa horrível. Lilitih era só uma garota traumatizada por várias coisas, e envolvida numa missão para ajudá-la eu estava desejando ter o SEU NAMORADO !Ela tinha dado a sua vida por ele, tinha desistido de tudo para estar ao seu lado, eu tinha lhe ajudado e agora queria impedi-la de ficar com ele ? Que tipo de monstro era eu ?

E além de tudo isso, ela ainda teria de encarar seu pai morto. Ela tinha uma vida difícil e eu só estava querendo piorá-la ainda mais.

Percebi então que uma lágrima descia pelo meu rosto. Depois mais uma, e mais uma. Tentei contê-las com certa pressa mas apesar da minha visão que começava a embaçar vi que Enzo havia percebido que eu estava chorando. Abaixei a cabeça de pressa secando o rosto e lancei a ele um sorriso forçado demais para parecer verdadeiro. Ele tentou me lançar outro, mas como eu, ele também fracassara. Mas foi naquele momento também que percebi que enquanto eu o visse as coisas não melhorariam, ele mexia comigo intensamente, e vê-lo com tanta frequência só pioraria as coisas. Eu teria de ser forte. Muito forte.