A tinta descia pelo ralo, levada pela água. Gabrielle já estava acostumada com isso, porém, a água costumava ter uma coloração diferente. Ela não era mais ruiva...

Havia voltado a ser morena.
Isso era tudo culpa de sua mente doentia e de seu coração maluco que amava Lucas de uma forma tão incondicional que deve ter mandado uma mensagem de texto pro cérebro, dizendo: “E aí, que tal deixar ele feliz?”. E, é claro, obedeceu ao auto-comando que havia, agora, a tirado os cabelos ruivos que possuía, devolvendo a cor original de seus cabelos – mesmo que também tivesse usado tinta para isso.

A ex-ruiva secou os cabelos com auxilio de um secador, com a leve impressão de que estava se arrumando demais para um baile idiota. Mas, não era um simples baile. Não iria ficar sozinha durante todo o baile enquanto via-o dançar com outras garotas. Agora ele era dela, exclusivamente dela. E se orgulhava disso.

O castanho-claro que agora tomava conta de seus fios era encantador. Gabrielle ainda se permitiu alguns cachos feitos com babyliss, e nada além disso.

Desenrolou a toalha do corpo e vestiu seu vestido, deslizando as pernas por entre o corpete e o puxando até em cima. Ela não precisou de ajuda para fechar o zíper, havia vestido aquelas roupas dezenas de vezes esperando o momento certo para usá-la, mesmo que ninguém soubesse disso. Debaixo da cama tirou a caixa de sapatos onde guardava o seu 'precioso'. Um par de sapatos de salto alto, o salto não era muito fino mas era alto, oito centímetros, fechado na frente, apenas aparecendo às costas do pé. Calçou-os nos pés nus e desfilou pelo quarto, dando pequenos passos de dança, imaginando como seria dançar aquilo com Lucas.

Olhou-se no espelho e não se reconheceu.

Morena, alta e com curvas perfeitas. Sem a maquiagem forte. Praticamente sem maquiagem, aliás.

Gabrielle costumava ser a garota baixinha, com roupas largas, cabelo vermelho e maquiagem escura, que disfarçava seus olhos com formato perfeito. Mas, a vida mudou, os amigos mudaram e ela, obviamente, mudou também. Agora era aGabs. Mas não era a Gabrielle de antes. Antes era rebelde e livre. Agora ela era rebelde e do Lucas. A Gabs atual, na verdade, não a incomodava. Ela gostava, podia ser ela mesma. Não precisava mais se esconder por trás de roupas largas, tênis e maquiagem. Agora ela era dele, que ela sabia que aceitaria ela de qualquer jeito.

Leves batidas na porta fizeram com que ela despertasse de seus devaneios e pensamentos clichês. Ela suspirou, andando devagar até a porta e a abrindo com certa animação. Sabia que elas se assustariam, mas não ligou nem um pouco para os gritos de animação das amigas - principalmente quando elas começaram a comentar sobre seu cabelo estar castanho. As duas estavam tão mais bonitas que chegavam a assustar.
Charlotte tinha leves cachos caindo sobre os ombros, descobertos. Ela usava um tomara que caia vermelho com pequenos detalhes pretos. Aquilo realçava suas belas curvas, não que elas fossem assim tão imperceptíveis. A maquiagem que usava em seu rosto realçava o tom verde de seus olhos. Ela, diferente de Gabrielle, não usava salto. O que era ligeiramente estranho, já que Char Randson não vivia sem eles.
Já Annabelle... Ela estava irreconhecível. Ou quase. Seus cabelos longos e pretos agora estavam um pouco acima dos ombros, com pequenas mechas vermelho vivo. Ela vestia um vestido longuíssimo, com mangas em “V’”. Aquele tom de azul escuro era impactante em sua pele cor giz. Sua maquiagem era um tanto mais pesada do que o comum, fazendo seus olhos castanho-avermelhados ficarem... Mais vermelhos ainda.
— Anna, se queria mesmo apavorar o seu par, deveria ter colocado umas presas, sabe... - Gabrielle comentou, rindo do comentário. A amiga riu também, mostrando seus dentes ofuscantes. – Então, podem me dizer com quem vão ou querem mesmo que eu me mate de curiosidade?
— O meu par é... Hm... Sabe...Eu... É que... – Charlotte enrubesceu. Ela não queria contar às garotas que finalmente havia aceitado... O aceitado... Aceitado que ele realmente... – Bem, é o Mark. – Ela sorriu fracamente, desviando o olhar logo depois. Gabrielle e Annabelle levantaram as mãos para cima e berraram “Amém”.
— Bem, eu vou com Richard. Sabem, Richard, do segundo ano? Então, ele mesmo.

O refeitório não tinha mais o chão escorregadio de sempre, o que era normal nos bailes que possuíam lá. Luzes coloridas estavam por todos os lados enquanto a música rolava, fazendo alguns dançarem, enquanto outros estavam sentados em suas mesinhas de madeira. Alguns com par, outros não, enquanto tentavam se embebedar, embora ali não tivesse nenhuma gota de álcool. Uma espécie de palco havia sido montado, e lá estavam os instrumentos e também a mesa do DJ, onde James comandava a festa a todo vapor.

Ao entrar no salão, Gabrielle causou impacto. Alguns não a reconheceram de imediato, outros sequer precisaram olhar muito para ela para começar a cochichar com seu par. Mas Gabrielle só prestou atenção na reação de uma pessoa. De um garoto de olhos cor caramelo e cabelos castanhos.

Lucas a fitava, atônito. Estava a analisando de cima a baixo. Ele nunca a vira mais linda. Seu olhar passou pelos pés de Gabrielle, depois subiu pelo vestido e parou em seu rosto. Franziu o cenho, estranhando um pouco o modo como ela estava vestida, mas depois um leve sorriso era perceptível no canto de seus lábios, ele notara a cor de seus cabelos. Os olhares se cruzaram e assim ficaram por alguns instantes. Ele, agora, sorria como um bobo. Ele se aproximou, pegando a mão de Gabs com todo o carinho do mundo. Ele mal conseguia conter toda sua alegria.
— Você... Você está... Está... Linda! – Ele não conteve o sorriso mais uma vez. – Vem, tenho que te apresentar algumas pessoas. – Ele acrescentou, ainda com a expressão mais perplexa do que antes, se é que isso era possível.

Ele a guiou em meio à multidão que dançava alguma música do He is we. Por onde passavam, as pessoas continuavam a olhar com espanto, e ela até se divertia com isso, sorrindo como se estivesse em uma premiação. Eles pararam em uma mesa onde duas garotas conversavam animadamente, nem percebendo a chegada dos dois.

— Então, aí eu... – A garota falava, mas logo parou ao finalmente reparar o casal logo à frente. – Ah, desculpe-me. Você é Gabrielle não? Meu nome é Natasha. - Ela a fitou com seus olhos azuis-elétricos penetrantes, o que fez Gabrielle congelar. A garota parecia estar entrando em sua mente. Para Gabrielle, ela parecia tão familiar... Seus cabelos tinham uma colorização incomum. Gabrielle só havia conhecido uma pessoa que usava aquele tom de azul em seus cabelos, e essa pessoa estava morta. Mas Natasha era tão parecida... Mas, Gabrielle já tinha superado, não? Já não tinha superado a morte de sua...

Irmã mais velha?