Àquela hora não já não passava nada de interessante na televisão… Inicialmente, Leonardo Almeida passou por todos os canais, à procura de algo que o deixasse entretido. Mas tirando televendas, não havia muito mais para assistir. O jovem acabou por desistir e deixou a TV sintonizada num canal qualquer que nem ele reparara qual era. Todas as luzes estavam desligadas e o sofá onde estava sentado começou a dar-lhe sono. Aos poucos, os seus olhos davam sinal de que queriam fechar-se… No entanto, assim que Leonardo lembrava-se da razão pela qual queria manter-se acordado, despertava com rapidez. Estava sozinho em casa e já era bem tarde… A sua avó não estava por lá, o que era bastante estranho. Emília nunca saía durante a noite, muito menos madrugada. Se não a conhecesse, o jovem ficaria assustado e possivelmente, com medo que alguma coisa tivesse acontecido. Mas não se sentia assim… Se havia algo que tivesse aprendido com a sua avó, era nunca questionar as decisões que ela tomava. Emília Almeida era sábia e sabia muito bem o que fazia. Leonardo apenas queria vê-la e contar-lhe tudo o que acontecera durante o dia agitado que tivera. Era por isso que ainda ali estava, a lutar contra o sono.

…

   A porta de sua casa bateu… Alguém tinha chegado. Leonardo acordara repentinamente. Confuso, olhou para o relógio e verificou que tinham passado mais duas horas desde a última vez olhara para lá. Tinha adormecido completamente e o som da porta a fechar, fez com que acordasse sobressaltado.

Leonardo - Avó?

Chamou-a e em seguida Emília aparecera na sala. Ou melhor, o Boto disfarçado dela. Como sempre, aos olhos do rapaz, aquela era a sua avó.

Emília (Boto) - Leonardo, não esperava encontrar-te acordado!

O seu olhar transmitia alguma inquietação… A sua atitude mostrou que ela estava nervosa e o jovem reparou.

Leonardo - Está tudo bem avó? Onde é que estavas?

Leonardo levantou-se, despenteado e com os olhos vermelhos de tanto cansaço.

Emília (Boto) - Fui dar uma volta pela vila! Precisava de pensar acerca da nossa vida e dos nossos objectivos!

O jovem franziu a testa…

Leonardo - A esta hora? Avó, não podia ter feito isso aqui em casa? É perigoso andar pela vila a estas horas, podia ter acontecido alguma coisa! Estava preocupado!

Criticou-a.

Emília (Boto) - Leonardo, eu sei tomar conta de mim! Ou já te esqueceste que tudo o que hoje sabes fui eu quem te ensinou?

Perguntou, um pouco chateada.

Leonardo - Tens razão, mas não vou deixar de me preocupar! Tens de perceber isso! Já perdi os meus pais, não quero perder-te a ti!

O Boto lembrou-se da sua família e do que acontecera com eles. Compreendia perfeitamente o que o jovem queria dizer.

Emília (Boto) - Desculpa o meu mau humor Leonardo! Esta foi uma noite de decisões muito importantes! Pensei nos teus pais…

Leonardo sorriu com ternura.

Leonardo - Eu penso neles todos os dias! Chego mesmo a imaginar que eles ainda estão vivos e que estão aqui connosco! Também tenho saudades deles…

Emília (Boto) - Não é justo o que lhes aconteceu… Meu querido neto, a vingança aproxima-se! Já esperámos muito tempo…

Informou-o, com um ar decidido. Leonardo ficou muito sério a olhar para ela… Teve consciência que aquela conversa ia muito importante.

Leonardo - O que é que queres dizer com isso?

O jovem quis ter a certeza de que a conversa estava a dirigir-se para onde ele tanto queria.

Emília - Que chegou a hora… Está mais do que na altura de saberes quem assassinou os teus pais e vingar os Night Watchers que eles foram!

O momento estava prestes a acontecer e Leonardo ficara ansioso.

Leonardo - Estou pronto avó!

Garantiu-lhe e deu um passo em frente, pronto para a verdade. Esquecera-se por completo do que acontecera durante o dia… Toda a sua atenção estava virada para o novo assunto.

Emília (Boto) - Muito bem! Espero por este dia há alguns anos… Finalmente chegou!

O Boto inspirou fundo…

Emília (Boto) - Leonardo… Foram aqueles horrendos demónios, os pais do Hugo! O casal Zodiev!

Terminou, acabando com todo o suspense. O Boto não contou toda a história, saltou logo para o final.

Leonardo não respondeu… Cerrou os punhos e a sua expressão assumiu um misto de ódio puro e sede por vingança. Estava decidido, preparado e cheio de vontade para agir. Ia vingar o bom nome dos seus pais, custasse o que o custasse.

Fim