Passara relativamente pouco tempo quando Ísis chegara à floresta de Cila, acompanhada por Mahala. Pelo caminho a jovem reparara que várias pessoas observavam-na com espanto por ter uma raposa com ela. O que não era de espantar… Não era costume alguém passear com um animal daqueles ao seu lado, até porque eram selvagens e muito desconfiados. Excepto aquela… 

   Ísis Rocha adorava animais e sentia-se privilegiada. Jedthro avisara-a que de agora ela era responsável por Mahala e a jovem estava preparada para isso. Ainda não sabia que desculpa ia inventar aos seus pais pra poder ter uma raposa em casa, mas algo plausível iria surgir. De qualquer dos modos, a jovem bruxa sabia que Mahala era especial e tinha uma forte ligação com ela. Além disso, o pobre animal devia sentir-se em baixo desde que o seu dono partira.

Ísis - Chegámos Mahala! Foi aqui que nos vimos pela primeira vez!

Mahala aproximou-se de Ísis e ficou à espera que esta encostasse a mão na sua cabeça. A jovem assim o fez…

Ísis - Que mimada!

Exclamou com um sorriso meigo.

Ísis - Pronta para encontrar o cristal que pertencia ao teu dono?

A raposa parecia compreender as palavras da rapariga e correu à sua volta.

Ísis - Temos é de encontrar um sítio bem agradável para fazer o feitiço de localização… Acho que sei onde podemos ir!

Avisou com um ar pensativo e ambas avançaram pela floresta a dentro. A uma certa altura, Ísis pegou no seu telemóvel e verificou que tinha uma mensagem de Melissa e três chamadas de Filipe. No entanto não deu atenção a nenhuma… O que estava a fazer naquele momento era muito mais importante.

Apressadas, atravessavam entre árvores e caminhos criados pelo homem, de modo a chegarem ao destino pretendido. O ambiente estava acolhedor, as sombras emitidas davam uma sensação de frescura face ao calor que estava. O cheiro da terra e o chilrear dos pássaros aumentava à medida que as duas afastavam-se. Pelo caminho Ísis pensava acerca da enorme descoberta que estava prestes a realizar. Tinha a certeza que Érica ia ficar bastante satisfeita pelas novidades que iria levar quando saísse dali.

A jovem conhecia muito bem a floresta e em poucos minutos chegara onde queria… A clareira onde encontrara o Grimório, o sítio onde falou com Jedthro através dos sonhos. A luz do sol iluminava o espaço de uma forma brilhante, mágica. Existiam algumas flores à volta do local e borboletas de várias cores voavam de um lado para o outro, como se a clareira estivesse encantada…

Ísis - É aqui mesmo!

Exclamou alegremente. Mahala parecera ficar contente.

Ísis - Sim, eu sei que conheces este sítio…

Ísis compreendia o animal como se fosse uma pessoa.

Ísis - Bem Mahala, está na hora de trabalhar! Fica aqui sossegada enquanto faço o feitiço! Ok?

Pediu com gentileza e acariciou-lhe o pescoço. Mahala sentou-se e Ísis captou que ela tinha entendido a mensagem. Com calma, dirigiu-se até ao centro da clareira e espalhou o material que trazia na sua mochila. Em seguida, começou a organizar tudo… Pegou no cálice e encheu com água, pra representar o elemento. Depois colocou o incenso no incensário e acendeu-o. Finalmente pegou no mapa da floresta de Cila e colocou-o à sua frente. Agarrou no pêndulo e concentrou-se por breves instantes até sentir-se pronta pra começar o feitiço. Assim que o fez, lembrou-se que nunca tinha tentado fazer aquilo para encontrar um objecto, mas sim pessoas. Porém, sentia-se à vontade… Fora Jedthro que aconselhara aquela prática.

Ísis - Cristal do Jedthro!

Exclamou com firmeza e com o pêndulo suspenso sob o mapa. Nada acontecera…

Ísis - Cristal do Jedthro!

Geralmente não tinha sucesso logo à primeira, então tentou novamente. Mas mais uma vez o pêndulo nem sequer oscilara.

Ísis - CRISTAL DO JEDTHRO!

E nada… Ísis nunca tinha tentado mais que três vezes. Por esta altura já o pêndulo deveria ter indicado o local onde o cristal está escondido. O entusiasmo da jovem caíra radicalmente. Estava desapontada… Aquele era um feitiço simples e não o conseguira fazer. Lembrou-se das palavras de Jedthro, as que a elogiavam…

Ísis - Parece que afinal eu tinha razão… Não tenho poder nenhum!

Disse a Mahala, mas a raposa nem sequer olhara. Estava fixada em outra coisa... Ísis percebera e quando virou a cabeça na direcção onde Mahala mantinha o foco, ficara perplexa. Um ponto luminoso encontrava-se ao seu lado e começara a crescer luminosamente até ao tamanho de uma bola de ténis. A sua luz era branca e incandescente. Possuía uma energia vibratória bastante elevada, a jovem conseguia senti-la.

Ísis - O que é que está a acontecer? Quem és?

Perguntou para a bola de energia, como se tivesse vida. Ísis não estava assustada, conseguia sentir que aquilo não era uma ameaça, até pelo contrário… No entanto, estava muito curiosa…

A esfera de energia saltitou e deslocara-se numa direcção… A jovem entendeu de imediato que era suposto segui-la. Apressadamente guardou todo o material e pegou no incenso, ia levá-lo a queimar pelo caminho… O que estava a acontecer podia ser alguma consequência do feitiço que fizera, então não convinha quebrar nada. Mahala juntou-se a ela e ambas seguiram a atrás da bolha energética. Mas tiveram de acelerar o passo, esta era muito rápida e não podiam correr o risco de a perder de vista.

Quando finalmente a esfera parou, junto a um enorme salgueiro, Ísis e Mahala estavam cansadas… Tudo fora tão rápido que ambas nem se aperceberam de quanto tempo já tinha passado. Além disso, pela primeira vez, a jovem teve noção de que estava num sítio completamente novo. Por muito que conhecesse a floresta de Cila, nunca tinha estado ali antes e nunca vira aquela árvore de aspecto tão magnifico.

Ísis - Acho que estamos bastante afastadas da vila… Nunca vim até aqui!

Reparou com admiração. Nesse momento, a esfera energética enterrou-se no solo e tanto Ísis como Mahala observavam a cena com atenção… E fora aí que a jovem percebeu o que realmente tinha de fazer. Por alguma razão, o feitiço resultara de maneira diferente, mas o efeito fora o mesmo. De certeza que o era ali que o cristal de Jedthro estava escondido. Então, ela e a raposa foram até ao sítio exacto onde a bolha desaparecera…

Ísis - Pronta Mahala?

Automaticamente o animal começou a escavar um buraco com as patas e Ísis juntou-se a ela. Felizmente as suas suspeitas estavam certas… Quando as unhas da jovem rasparam em algo duro, esta sabia que tinha encontrado o que viera à procura. Com todo o cuidado, retirou da terra uma pequena caixa de madeira, cravada com vários símbolos mágicos que conhecia. Abriu-a e lá estava o cristal de ametista que pertencera a Jedthro. Mahala ficou animada, ao rever a peça que era do seu ex-dono.

Ísis ficou a contemplar o cristal durante alguns segundos… Era grande, brilhante e a sua beleza fascinava qualquer um. Orgulhosa de si mesma, a jovem bruxa pegou na ametista. E algo muito estranho acontecera nesse momento… Uma força estranha, deveras potente, percorreu todo o seu corpo. Algo que nunca sentira antes… Mas se tentasse explicar, definiria como um género de corrente eléctrica. Ísis sentia cada partícula do seu corpo em actividade. Então, uma energia roxa começou a cobrir todo o seu corpo e os seus olhos ficaram completamente brancos, como se tivessem sido revirados. Uma enorme rajada de vento correu pela floresta a fora, agitando as árvores e levantando terra e folhas secas. Durante alguns instantes o cenário mudara completamente e a jovem experienciava uma energia mágica poderosíssima a que nunca tinha tido acesso. Subitamente, o vento acalmou… As árvores pararam, as folhas e a poeira pairavam no ar e Ísis voltara ao normal. No entanto, a sua respiração estava ofegante e a sua expressão espelhava uma mistura de choque com surpresa… Mahala continuara exactamente no mesmo sítio durante todo aquele fenómeno.

Ísis – Mahala… Parece-me que o Jedthro não me contou tudo acerca deste cristal…

Disse surpreendida, enquanto observava a ametista…