Night Watchers - Primeira Temporada escrita por MS Productions


Capítulo 3
Destinos Traçados (Vol. 1) - Capítulo 2




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Muitos dias já se passaram em Cila desde que Melissa Monserrate chegara a esta pequena e misteriosa Vila. Na verdade já passaram meses, mais concretamente, nove. No entanto, para Melissa parecia que já tinham passado anos desde a sua chegada. Todos os dias aprendia inúmeras coisas novas, tantas que, por vezes, pensava como seria a sua vida se ainda morasse na sua antiga casa. Neste processo também descobriu que nem sempre é bom aprender novas coisas, principalmente se estas levarem ao perigo e à desgraça, mas ao mesmo tempo tudo o que de bom aprendeu consegue superar o resto. Antes de se mudar, Melissa implorou ao pai para que não o fizessem. Ninguém gosta da ideia de ir viver para um novo local de um momento para o outro, ainda pra mais quando já se tem uma vida social toda construída. Como se não fosse o suficiente, o motivo desta mudança repentina foi culpa da crise financeira em que entraram e da sua madrasta e o seu emprego, o que naquela altura revoltou Melissa ainda mais e fez com que piorasse a relação entre as mesmas que, já era bastante complexa. Todos estes problemas acabaram por ser esquecidos assim que chegou a Cila. Todas as pessoas pareciam extremamente simpáticas e prestáveis, a Vila tinha uma beleza brilhante e a nova casa era bem mais pequena do que a sua morada anterior, o que agradou Melissa, pois a sua madrasta estava habituada a grandes luxos e futilidades que lhe iam ser retirados. A única coisa que não lhe agradou foi o conhecimento das ocorrências estranhas que ali se passavam, desde desaparecimentos misteriosos a assassinatos macabros, mas em todo o mundo existem acontecimentos assim, pelo menos foi o que ela decidiu pensar. Candidatou-se na faculdade de Cila, no curso de psicologia, e ao ser admitida verificou que quase nenhum estudante era descendente dali, os jovens de Cila à primeira oportunidade iam para a cidade, possivelmente pela sua diversidade e talvez porque acabavam por se cansar daquela Vila um pouco longe do “mundo”, estranha, situada numa ilha mas que no fundo possuía tudo o que uma pessoa precisasse como uma cidade. Na realidade, Melissa não compreendia o porquê desta atitude, Cila era linda, se bem que de noite muito perigosa, mas as pessoas eram magníficas e a faculdade tinha condições que muitas outras desejavam ter, mas cada um é que sabe de si e contra isso não havia nada a fazer. Facilmente criou relações de amizade e por coincidência ficou na mesma turma que outros 3 habitantes de Cila. Consequentemente tornaram-se os melhores amigos de Melissa, pelo menos dois deles, Ísis Rocha e Leonardo Almeida, Camila Duarte era um caso à parte pois, com a ausência de jovens residentes (fixos) em Cila na época escolar (à excepção dos estudantes da faculdade e da secundária), esta via-se obrigada a conviver com os poucos existentes. Melissa sentia-se felizarda por ter conseguido criar tão rapidamente laços fortes e fixos que, se não fossem por estes, ela teria passado o seu 22º aniversário sozinha, realizado a semana
passada. Em nove meses muitas coisas já tinham decorrido e Melissa conseguia-se imaginar futuramente em muitas outras, mas nunca pensou se encontrar naquela: sentada num escritório de um gerente de uma pizzaria.

A sala era pequena e abafada, em tons de amarelo seco, com praticamente nenhuma decoração, à excepção dos quadros com fotografias do pessoal de trabalho. Apenas continha uma mesa, cheia de papéis e publicidades da pizzaria, numa tremenda confusão que fez Melissa questionar a organização do local em questão. Depois de quase 15 minutos sentada na cadeira do escritório a olhar para o vazio e a pensar se seria uma boa ideia ali estar, o gerente chegou à sala. Extremamente atarefado e a suspirar, sentou-se em frente a Melissa e a sua expressão mudou para um sorriso exagerado ao ver a rapariga de cabelo liso e preto, olhos azuis de uma beleza única e cintilante, com um tom de pele branco que lhe fazia sobressair os lábios encarnados, elegante e relativamente alta. Sem reacção o homem de meia-idade apenas ficou a esboçar um sorriso gigante e durante alguns segundos constrangedores para Melissa, esta finalmente decidiu dar o primeiro passo e iniciar uma conversa com aquele homem que aparentemente parecia estar a começar a babar-se.

Melissa - Desculpe?

Esperou um pouco e ao não obter resposta tentou uma vez mais…

Melissa - Desculpe?

E mais uma vez não obteve nenhum tipo de resposta a não ser o olhar pasmado do homem sentado à sua frente… Melissa teve de agir e levantar a voz a um nível que muitos se calhar achavam desrespeitoso e intolerante. Então com um bater de palmas gritou…

Melissa - ESTÁ AÍ ALGUÉM DENTRO?

Só assim o gerente endireitou-se na cadeira e colocou um ar mais plausível se bem que, no entanto, o sorriso indecente e exagerado continuava presente… Melissa rapidamente corrigiu o que disse e numa voz mais educada e suave afirmou:

Melissa - O que eu queria perguntar era se estava tudo bem consigo…

Gerente - Claramente. Apenas fiquei admirado ao ver uma jovem tão bonita aqui no meu escritório. O que a traz por cá?

Melissa - Bem, vi na montra que precisam de empregados… E eu preciso mesmo de um emprego. Então? Pode ajudar-me?

Melissa sempre foi uma rapariga frontal e de poucas palavras, nunca ninguém teve problemas em compreendê-la pois explicar as coisas de modo simplificado era o lema dela.

Gerente - E o que é que uma menina com o teu encanto poderia fazer aqui na pizzaria? Tens experiência em cozinha?

Melissa - Sei fazer algumas coisas, mas nunca fiz pizzas. E que tal serviço à mesa?

Gerente - Já alguma vez o fizeste?

Neste momento Melissa apercebeu-se que nunca fez nada. Não tem experiência em nada pois nunca teve um emprego. Dizendo a verdade, nunca precisou de trabalhar, mas também nunca se encontrou na situação financeira momentânea que a família estava a passar. Então, com muito esforço, decidiu atender ao apelo da madrasta e tentar arranjar um trabalho que pudesse conciliar com o horário de estudo. Até agora já tinha percorrido quase metade da Vila, desde lojas a restaurantes, e tinha tido pouco sucesso. Foi aí que chegou a uma conclusão… De vez em quando uma ou outra mentira não lhe iriam fazer mal se fosse para um bem maior. E com um grande sorriso na cara assim foi…

Melissa - Sim! Tenho muita experiencia. Já trabalhei em dois restaurantes e os patrões elogiavam-me!

Gerente - Muito bem. Então e as suas habilitações literárias? Fala alguma língua? Vêm cá muitos estrangeiros durante o ano…

A expressão do Gerente por esta altura já era outra, bem mais séria e atenta. Melissa colocou a mão na sua mala que a acompanhava para todo o lado e tirou de lá os papéis com as suas habilitações e entregou-as ao homem. Este leu atentamente e olhou de seguida para a portadora das folhas:

Gerente - 22 anos, a tirar um curso universitário… Diga-me menina, onde arranjará tempo para trabalhar?

Melissa - Oh, por favor… Não me faça procurar mais por trabalho. Eu arranjo tempo. Posso ficar?

Gerente - E depois acaba o curso e pira-se daqui. Não! Eu preciso de fixos, pessoas que venham para ficar! Com gosto pelo serviço!

Com um valente suspiro, Melissa relaxou os ombros e deixou-se tombar para trás na cadeira com um ar desistente…

Gerente - Mas a menina poder-me-ia ajudar em muitas outras coisas…

E dito isto, o Gerente começa a esboçar novamente um sorriso obsceno…


*

Melissa, cansada e aborrecida, atira-se para a cadeira da esplanada de um café no qual já estava sentada à sua espera Ísis. Esta, atenciosamente olha para o estado da amiga e percebeu que a procura de emprego tinha sido terrível…

Ísis - Tiveste pouca sorte…

Melissa - Pouca sorte? Nenhuma! Ninguém me quer a trabalhar!

Ísis - Nem mesmo na pizzaria?

Melissa - Além de gozada fui assediada! O gerente é um porco!

Ísis - A sério? O Sr. Silva?

Ísis, por ser habitante de Cila desde sempre, conhece quase todos que lá vivem…

Melissa - Sei lá se era o Sr. Silva! Estava mais preocupado a olhar para o meu corpo do que arranjar uma nova empregada! Dei quase a volta à Vila. Desisto, oficialmente!

Ísis - Nunca devemos desistir! Não te deixes abater por não arranjares trabalho! Talvez eu tenha algo que te possa ajudar… Já pensas-te em algum amuleto ou simpatia para conseguires arranjar algo com
mais facilidade?

Era isto que Melissa gostava tanto acerca de Ísis. Mesmo em tempos difíceis, esta tentava remediar a situação fosse de que maneira fosse e sempre com uma calma fascinante. Ísis Rocha é uma rapariga bondosa, delicada, honesta e sincera, desde que Melissa a conheceu achou que não podia ter encontrado melhor amiga que aquela rapariga que estava frente a ela. Ainda pra mais dados os acontecimentos fantásticos e tenebrosos que têm vindo a acontecer em Cila...

Ísis dedica-se à Bruxaria e Feitiçaria por opção própria. Sempre se sentiu ligada à Natureza e sendo habitante em Cila acabou por descobrir um dos muitos fascínios que aquela vila possuía, Magia. Claro que os pais desta não estavam a par dessa situação, mas isso nunca preocupou muito Ísis que com 22 anos já sabia tanto acerca da vida e dos seus mistérios. Melissa não tinha consciência da existência de Magia até ter conhecido Ísis, que com os seus conhecimentos e alguma experiencia que vem ganhando ao longo do tempo, acabou por demonstrar à amiga que Magia é real, assim como tantas outras coisas que ela não tinha conhecimento, mas que Cila também lhe mostrara. Ísis também gosta de viver nesta Vila, as suas paisagens e o facto de ser situada à beira-mar permitem-lhe realizar a sua “Arte” livremente e sem que ninguém a incomode. A jovem bruxa possui um rosto angelical que facilmente lhe permite persuadir alguém sem usar muito esforço, os seus profundos olhos verdes mostram que é cheia de vida e os seus cabelos loiros ondulados sempre fascinaram os rapazes em redor dela. A única coisa que a tira do sério são injustiças e tende sempre a chegar-se à frente quando está presente de uma… De resto, Ísis leva uma vida muito calma e tenta sempre ajudar ou aconselhar no que puder os amigos sendo geralmente, num grupo social, a pessoa mais inteligente que lá se encontra.

Melissa - Hum, deixa estar… Sabes que não sou muito virada para Magia. Não a percebo…

Melissa já tinha aceitado o facto de existir Magia, no entanto, ainda não compreendia muito bem este conceito e considerava-o perigoso para inexperientes, então preferia não pensar muito no assunto.

Ísis - Talvez não seja para entender… Como todas as outras coisas que se passam por aqui.

Melissa - Quem me dera entender algumas delas… Talvez pudesse arranjar respostas para o que se está a passar comigo!

Ísis - Por falar nisso, adaptaste-te bem rápido às tuas novas condições!

Melissa - Referes-te a qual? Ao facto de já ter conseguido parar de partir acidentalmente tudo em que tocava? Ou ao outro em que consigo dar 30 voltas ao quarteirão de casa sem me cansar?

Ao dizer isto num tom irónico, Melissa não conseguia deixar de pensar qual seria o motivo de ela estar diferente. Como é que de um dia para o outro alguém acorda com uma força e resistência exageradamente grandes? Estariam estas aptidões relacionadas com Cila? Afinal de contas, fazia sentido, uma vez que estes atributos só começaram a manifestar-se assim que ela chegou à Vila.

Ísis - Oh! Não me digas que não gostas… Eu gostaria!

Melissa - Não nego, até tem a sua piada e até agora tem sido bem útil…

Neste momento as duas amigas largam um grande sorriso e Melissa que segurava um copo com água na mão direita, sem querer, parte-o e Ísis assustou-se.

Melissa - Claro que são capacidades que precisam de ser controladas…

Embaraçada pelo que aconteceu e a limpar a mão para não ficar com nenhum vidro que a pudesse cortar, rapidamente muda de assunto…

Melissa - Então? Onde está o Leonardo?

Ísis - Porque é que eu haveria de saber onde ele está?

Melissa - Primeiro porque são amigos…

Ísis - Também és amiga dele!

Melissa continua…

Melissa - Segundo porque eu sei que estás interessada nele. Errei?

Ísis - Já te disse Melissa, não podemos falar disto. É proibido! Sou amiga do Leonardo desde sempre.

Melissa - E depois? Qual é mesmo o problema?

Ísis - Não quero estragar a nossa amizade… E é mais do que óbvio que ele não está interessado!

Melissa - Como é que sabes se nunca tentas-te? Nunca lhe disseste nada, eu aposto que ele não faz ideia!

Ísis - Eu conheço-o… Já há bastante tempo!

Melissa - Isso não quer dizer nada! Acho que ele nem é uma pessoa fácil de “ler” ou mesmo perceber…

Ísis - Acredita Melissa, se ele estivesse interessado em mim, eu saberia!

Ísis conhecia Leonardo desde que este se mudara para Cila quando tinha 7 anos. Logo desde daí se tornaram amigos e por morarem na mesma rua, frequentavam a casa um do outro com frequência. Uma amizade que se foi fortificando com o tempo e onde um estava presente o outro também estava. Ísis conhecia todos os sítios que Leonardo frequentava, o que ele comia, o que ele vestia, o que ele gostava, bem, conhecia-o por inteiro, assim como este a ela. Assim como Melissa, com o passar do tempo e à medida que foram crescendo, aprenderam muito em Cila e Ísis começou a reparar na coragem, bravura e na pessoa que Leonardo se estava a tornar, rapidamente se apercebeu de que estava a começar a vê-lo como mais que um amigo e finalmente quando quis pôr fim a esse pensamento já estava apaixonada por ele e não havia nada a fazer…

Infelizmente para esta e sem nunca ter contado nada ao mesmo, o sentimento não era mútuo. Leonardo nunca demonstrara sentimentos por Ísis a não ser uma grande amizade e qualquer pessoa podia verificar isso, então, o melhor para os dois era mesmo ele nunca saber o que se passava na mente dela e continuarem a ser grandes amigos como sempre tinham sido.

Melissa - Desculpa que te diga, para Bruxa devias ser mais optimista! Não achas?

Ísis - Realista primeiro, depois optimista!

Melissa - Queres que lhe conte?

Ísis foi obrigada a rir, pois por momentos imaginou como seria tão fácil se alguém lhe contasse. Talvez ate desse resultado e ele olhasse para ela finalmente… Alguns segundos depois caiu em si… Se ele até agora ainda não reparou nela, não ia ser por a nova melhor amiga deles lhe contar que as coisas iam mudar.

Ísis - Não Melissa, não vale a pena. Eu nem tenho pensado nisto. No fundo é melhor assim…

Melissa - Não insisto! Faças o que fizeres eu apoio-te sempre. Só estava a tentar ajudar.

Ísis - Eu sei… É o que os amigos fazem.

Ísis sorri atenciosamente e Melissa sentiu-se orgulhosa por ter uma amiga como ela.

Melissa - Ainda bem. Eu não sei o que faria se não te tivesse como amiga. Com tudo o que se tem passado se estivesse sozinha acho que já tinha enlouquecido.

Ísis - Sozinha não estavas. Sempre tinhas a Camila! Agora imagina--te lá a melhor amiga dela…

Nesse instante, o sorriso despareceu da cara de Melissa e rapidamente se transformou numa expressão de choque. Veio-lhe à memória os seus primeiros dias em Cila… A primeira pessoa que conheceu tinha sido exactamente Camila. Inicialmente, Melissa até gostou dela e viu-a como uma potencial amiga… Até ao momento em que os problemas sérios começaram… E finalmente quando Melissa precisou de ajuda, Camila mostrou quem realmente era, uma rapariga egoísta, mimada e com quem não se podia contar. Mais tarde, Ísis e Leonardo explicaram que Camila sempre fora assim. Eles já a conheciam desde criança e nunca entenderam porque é que ela nunca foi estudar para fora como quase todos os jovens de Cila e quando lhe perguntavam, ela atirava-lhes à cara a boa vida que tinha na Vila, com a sua espectacular e gigante casa e com um pai podre de rico e possuidor da maior parte da zona industrial de Cila. Sim, sem dúvida que Ísis e Leonardo conheciam muito bem Camila… Porém, nunca foram grandes amigos. A falta de educação desta não é compatível com a calma e alegria de Ísis e muito menos com o feitio e Leonardo. Em relação a Melissa… Bem, não atinam lá muito, mas ainda assim conseguem se suportam uma à outra... Às vezes!

Melissa - Repito! Ainda bem que te conheci!

Ísis - E da outra vez quando ela estava a gabar-se do pai? Lembras-te dela a escorregar e a cair na possa de lama ao sair da faculdade?

E soltam as duas uma boa gargalhada…

Melissa - Impossível de esquecer! Na verdade ela deve andar tão estranha quanto nós… Ela também passou por algumas coisas.

Ísis - A sério? A mim parece-me a mesma… E ainda mais histérica se possível!

Melissa - Cada um reage às situações de maneira diferente.

Ísis - Eu sei, eu sei, tens razão! Às vezes faço-a parecer um monstro. Essencialmente porque ela merece… Mas acho que agora temos de dar mais desconto do que alguma vez antes.

Melissa - Se todos os monstros fossem como ela, estávamos nós muito bem!

Ísis - Bom ponto de vista! Lembrei-me agora… Ainda precisas dos apontamentos para o exame que temos depois de amanha?

Melissa endireitou-se na cadeira e ficou um pouco ansiosa… Esquecera-se completamente do exame que ia ter em 2 dias.

Melissa - Esqueci-me completamente!

Ísis - Melissa…

Melissa - Não me posso lembrar de tudo…

Ísis - Certo, mas esquecer um exame?

Melissa - Deixa-me pensar… Estou a passar por transformações únicas, estou à procura de trabalho, estou com problemas financeiros em casa e tenho uma madrasta que é uma v-a-c-a… Pensando bem, é justo ter esquecido um exame!

Ísis - Não deixes isso afectar-te assim, não queiras que ela tenha mais um motivo para te complicar a vida.

Melissa - Eu não me preocupo muito, por este andar, qualquer dia nem temos dinheiro para pagar os meus estudos!

Ísis - Está assim tão mau?

Melissa - Ainda não… Estava apenas a piorar a situação para me sentir melhor em relação à que estou agora!

Ísis - Se alguma vez precisares de dinheiro eu posso emprestar-te, não tenho muito, mas sempre ajuda…

Melissa sorriu amavelmente para a amiga pela acção que tinha acabado de demostrar e para lhe retribuir tentou algo novo…

Melissa - Obrigado Ísis, acho que não poderia aceitar porque também precisas, mas tive outra ideia… E que tal arriscar e tentar fazer um feitiço ou algo do género para ganhar dinheiro?

Ísis - Sinceramente, é melhor não… Geralmente feitiços que envolvem dinheiro são para atender sentimentos de avareza. E o dinheiro pode vir de que maneira for, às vezes da pior. É sempre uma incógnita!

Melissa - Vês? É isso que não entendo em relação à Magia! O que devemos e o que não devemos fazer…

Ísis - Apenas temos de saber que tudo o que fazemos é nos retribuído.

Melissa - E se fizesses tu o feitiço para mim?

Ísis parou e por momentos ponderou… Talvez até fizesse algum sentido pois não seria Melissa a fazê-lo… Mas rapidamente lembrou-se que podia não correr certo e não queria ser ela a responsável por algo mau acontecer à sua amiga. Então, disfarçou, para não desiludir Melissa que estava a fazer um esforço para finalmente entender um pouco acerca de Magia.

Ísis - Seria diferente pelo menos… Mas vamos tentar outras opções primeiro.

Antes que Melissa pudesse responder, para alívio de Ísis, o telemóvel começa a tocar e ela puxa a mala para o procurar, na esperança que fosse alguém a contratá-la para um trabalho. Ísis imediatamente entendeu a ansiedade da amiga e ela própria também se sentiu assim.

Melissa - Vá lá, vá lá, trabalho…

Quando o encontrou e olhou para o visor para ver quem era, ficou ainda mais alertada…

Ísis - Então?

Melissa não respondeu pois atendeu logo a chamada.

Melissa - Sim?

Melissa - Estou com a Ísis num café na praça principal!

Melissa - Aconteceu de novo?

Melissa - Vamos já para aí!

Ao desligar a chamada olhou para Ísis que estava preocupada porque já estava a ter noção no que se tinha passado…

Melissa - Era a Érica… Houve outro assassinato a noite passada!

Ísis - Idêntico aos últimos dois?

Melissa - Pelo que a Érica disse parece que sim. Ela disse pra irmos lá a casa agora!

As amigas levantam-se, arrumam as cadeiras e pegam nas suas coisas para se prepararem pra sair.

Ísis - Chamamos o Leonardo?

Melissa - Ligamos-lhe pelo caminho para ele ir lá ter.

Eis que, quando começam a andar para saírem do café, algo embate com força contra Melissa derrubando-lhe a mala e quase a atirando ao chão… Quando esta olha para ver o que se passava, deu de caras com um rapaz alto de cabelos e olhos escuros, com um ar um pouco antipático e estranho para a idade que aparentava ter. Mesmo não sabendo quem era, Melissa já tinha visto este jovem algumas vezes lá por Cila, sempre sozinho e com ar de poucos amigos, no entanto, não se lembrava de alguma vez o ter visto na faculdade.

Melissa - Está tudo bem?

Melissa ficou um pouco preocupada pois o rapaz parecia estar agitado. Este, não lhe respondeu e apenas baixou a cabeça e seguiu o caminho dele. Ísis, indignada, gritou bem alto para ele ouvir…

Ísis - AO MENOS PODIAMOS TER OUVIDO UM “DESCULPA”!

Melissa - Qual é a dele?

Ísis - É esse o problema, ninguém sabe! Não tem amigos, não fala com ninguém… Nem sequer estuda. Sempre viveu aqui e a única coisa que sabemos acerca dele é que se chama Hugo. Estranho não é?

Melissa - Não somos todos iguais… Mas sim, estranho!

E saem as duas apressadas do café em direcção à casa de Érica, sem nunca se terem apercebido de que um dos muitos homens que ali se encontrava numa das mesas vizinhas, as estava a observar desde que estas chegaram…


*

Após Melissa e Ísis saírem do café, o homem que as observava levantou-se e igualmente saiu do mesmo. De fato e gravata e com uns sapatos que tinham toda a aparência de terem sido caros, o homem com cerca de 40 anos, caminhava nas ruas de Cila sempre ao mesmo ritmo e hirto. Por todos os sítios onde estava a passar, nem sequer mostrava interesse, levando consigo uma expressão séria, fria e claramente sem sentimentos. Ao curvar uma das ruas, uma senhora idosa cruzou-se no seu caminho e este em vez de se desviar, continuou na mesma direcção. No momento em que foi contra a senhora, não se preocupou com o facto
de a ter atirado ao chão e simplesmente seguiu em frente. Uma jovem de cabelos lisos e olhos castanhos, de pele morena e muito bem vestida, ia a sair de uma papelaria naquele preciso momento, viu o acidente e apressou-se a ajudar a senhora a levantar-se. “QUEM VOCÊ PENSA QUE É?”, gritou a jovem, com uma aparência muito educada e requintada, para o homem que tinha cometido tal feito. Este, quando ouviu a provocação, parou e olhou para trás. Por momentos, quando a jovem viu o homem a ter aquela reacção arrepiou-se e então, quando este se virou, a jovem quase perdeu o fôlego com o susto que apanhou ao olhar para os olhos do homem…
Não eram uns olhos normais, pelo menos não eram humanos. Pareciam os olhos de uma serpente. A jovem ficou estática e o homem seguiu o seu caminho e desta vez com um leve sorriso malicioso no seu rosto. Claro que o homem só teve tal atitude por ser dia e encontrar-se em via pública, porque se tivesse tido a hipótese, ele tinha partido o pescoço tanto à senhora como à jovem ou pelo menos foi o que teve vontade. Mas como não era seu objectivo deixar pistas acerca do que estava a fazer e do seu paradeiro, decidiu deixar esta vez passar pois não tinha problemas nenhuns em cometer tal atrocidade em plena luz do dia com dezenas de pessoas a observar. À medida que se estava a aproximar de uma das zonas costeiras de Cila, a única que era essencialmente rochosa, alta e com pouco areal, o homem começou a acelerar o passo sem nunca olhar para nenhum lado a não ser para o seu destino. Ao chegar às rochas continuou a avançar por entre estas e ao começar a descer as mesmas em direcção ao mar entrou numa fenda que se situava numa delas. A fenda era virada para o mar, o que fazia com que a entrada na mesma fosse complicada e pudesse ocorrer numa queda fatal uma vez que a sua distância ao mar e às rochas ainda era de uns bons metros. Lá dentro o cenário era outro… Tinha bastante espaço, as paredes e chão eram de pedra ou terra e havia alguns túneis que iam em direcções diferentes. Aquelas grutas eram antigas, davam acesso a pontos ainda desconhecidos e possivelmente passavam por debaixo de Cila. A iluminação era pouca e a humidade elevada o que não foi problema para o homem já que os seus olhos, que agora estavam novamente como os de um a serpente, viam muito bem no escuro. Com um sorriso instalado e num movimento bizarro, o homem leva a mão ao pescoço e começa a arrancar a própria pele… À medida que os restos de pele envolvidos em sangue eram atirados para o solo, já se conseguia ver que uma nova pele estava a crescer, como se um outro corpo estivesse dentro do antigo. As unhas e os dentes caíram e foram substituídos por outros que nasceram com uma rapidez inacreditável. Assim como o cabelo, que antes era curto e agora longo e de cor ruiva. Agora sim, possuía a sua forma original… De uma mulher, de cabelos longos e ruivos, muito elegante, com uma beleza fatal e com olhos idênticos aos de uma serpente. Ao olhar para os restos caídos no chão começou novamente a rir-se maliciosamente… Carlota era um metamorfo! O homem foi apenas um disfarce e possivelmente um pobre coitado que esta assassinou. Para assumir a forma de alguém, Carlota precisava apenas que lhe tocassem uma vez na pele para poder absorver a impressão da pessoa e então possuir a sua identidade. No entanto, quando isso acontecia, Carlota geralmente sacrificava também a pessoa em questão. Não porque fosse preciso, apenas porque lhe dava prazer… Assim que se livrou dos restos, apressou-se em chegar onde queria e entrou por um dos vários túneis… O frio e o forte cheiro a terra molhada não pareciam incomodar Carlota que já conseguia observar ao longe uma pequena iluminação a indicar que estava a chegar. Quando já lá estava o ambiente era diferente, havia iluminação através de tochas o que aquecia um pouco o espaço que era amplo… Era ali o final de um dos túneis e onde Carlota montou o seu refúgio. Claro que não possuía mobília nem camas, apenas tinha roupa e algumas armas pessoais que nunca fez grande uso, pois além de forte, ter uma audição e visão bastante apuradas e ser muito inteligente em situações de perigo, pode camuflar-se de inúmeras maneiras.

Como metamorfo, Carlota podia ter-se integrado muito bem no mundo e na sociedade, mas sempre achou que estes a deviam aceitar como ela é e quando isso não aconteceu, revoltou-se e abusou dos dons que a sua espécie possui. Começou a enganar, a matar… E finalmente decidiu que só iria descansar quando a raça humana fosse exterminada, uma vingança que sem dúvida a satisfaria. E para tal, nada melhor do que se aliar a alguém ou algo que o desejasse tanto quanto ela. Foi aí que encontrou Abaddon/Vanda… Desde então, tem feito tudo o que lhe é pedido, em ordem de criar o caos entre a raça humana.

Abaddon - Esperemos que a tua demora traga bons resultados Carlota!

Carlota - Ainda não encontrei o que procuras, mas observei algo muito interessante…

Abaddon - Estamos à espera…

Com uma voz tenebrosa e assustadora a cada palavra dita, Abaddon, que se encontrava de costas para Carlota, virou-se para a encarar… Esta, que não tinha medo de nada, tremeu ao ouvir Abaddon. Era impossível não haver um único ser que não temesse este terrível demónio, conhecido como o Destruidor. Pertencente à ordem superior de demónios, Abaddon é o conselheiro chefe dos mesmos e todos o têm com muito respeito. O aspecto deste no seu estado natural era terrível, mas ultimamente e dadas as circunstâncias, Abaddon não possuía essa forma mas sim a de uma frágil moça de cor que tinha um rosto que em tempos, certamente, tinha sido belo. A única maneira de um demónio andar sob a terra e poder intervir na mesma é através da possessão de um corpo físico… Tal processo não era fácil, uma vez que tinham de atormentar a pessoa, por meio de sonhos e assombrações, a ponto de esta querer morrer, tentar suicídio e finalmente assim abrir a porta para o demónio poder entrar…. E assim fez Abaddon à doce jovem que agora possuía. O que este não estava à espera era que a jovem de nome Vanda, à última da hora, se tivesse arrependido do crime que estava a cometer a ela própria e ganhasse força para viver… Por essa hora já o aterrorizador demónio tinha entrado na rapariga, curou-lhe o seu corpo que tinha os pulsos cortados, mas ficaram ambos presos no mesmo. A rapariga estragara-lhe os planos e deste modo, Abaddon não consegue comandar os demónios como desejava e também não consegue sair do corpo em que está preso não podendo usar a sua força ao ponto máximo e aniquilar a peste humana que domina o mundo. Outro pesadelo para o demónio é o facto de este não conseguir controlar muito bem Vanda, o que significa por vezes, desaparecer momentaneamente e ficar a própria a comandar o seu corpo novamente ate este conseguir tirá-la do comando.

Por outro lado, Vanda não desiste de lutar, mesmo sozinha e no escuro enquanto o demónio comanda o seu corpo, ela insiste em ficar e querer vencer. Às vezes Abaddon perguntava-se como é que seres tão fracos e repugnantes como os humanos, conseguiam ser igualmente insistentes quando queriam.

Carlota - Melissa e Ísis… Eles ainda não sabem o que é que ela tem!

Abaddon - Ou o que é que ela é… O que é que ouviste?

Carlota - Elas a conversar acerca de como eram confusas estas novas mudanças nela… Humana…

Carlota dá uma risada de desprezo ao acabar a sentença e um terceiro elemento finalmente se faz ouvir dentro da gruta quando soprou de raiva ao ouvir a palavra “Humana”. Um homem, ou pelo menos aparentava sê-lo, apareceu das sombras com cerca de 2 metros de altura, largo e forte, vestido com uns trajes muito sujos e uma máscara tribal que lhe tapava totalmente a cara… Lunatik, como era chamado, era conhecido por ser uma autêntica máquina assassina. Ultimamente, segue Abaddon para todo o lado, se bem que nunca ninguém teve o prazer de o ouvir falar e muito menos de verem o seu verdadeiro rosto, sendo desconhecida a identidade do mesmo. Não mostra sentimentos nem emoções por nada nem ninguém e parece que apenas se diverte quando está a torturar ou a mutilar alguém.

Abaddon - Desprezíveis… Nem mesmo o Lunatik suporta ouvir o nome deles.

Lunatik volta a responder com outro sopro…

Carlota - Em relação ao que me pediste tentei falar com quase todos os demónios que se situam cá… Nenhum deles sabe como te livrares desse corpo inútil.

Abaddon - Este corpo podia desfazer-te em pedaços agora mesmo…

Carlota engoliu a seco quando escutou o tom agressivo e ameaçador que o demónio usou para se dirigir a ela…

Carlota - As miúdas estavam a falar de um novo assassinato estranho que decorreu a noite passada. Pelo que elas comentaram já é o terceiro!

Abaddon - Como é que não sabíamos isto?

Carlota - Parece que só tem atacado à noite. Como sabes, ando à procura de alguém para te ajudar, não posso fazer tudo!

Abaddon desprezou a afirmação de Carlota…

Abaddon - Talvez algo novo tenha chegado à Vila!

Carlota – Algo novo?

Abaddon – Assim que a noite cair vê o que consegues descobrir acerca do nosso novo residente… É melhor não nos escapar nada… Todos o que me possam ajudar são bem-vindos!

Abaddon ri-se com maldade para Carlota e esta rapidamente entendeu o demónio e riu-se da mesma forma em resposta…


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Notas finais do capítulo

Esperamos reviews...deixem a vossa critica, para assim sabermos se estão a gostar ou não... :)
MataSilva Productions agradece



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