Já um dia inteiro tinha passado em Cila desde a passagem do ciclone. Na vila, já quase tudo tinha sido arrumado e apanhado… Além dos trabalhadores, alguns habitantes tinham-se juntado e foram ajudar a apanhar alguns destroços. Felizmente nada de grave tinha acontecido e facilmente conseguiu-se realizar todo o trabalho.

   Nas grutas, Abaddon tinha estado protegido do mau tempo e não dera por nada. Carlota já o tinha deixado a par das informações que trazia e o demónio ficara bastante satisfeito… Tanto que perdoou Lunatik pela sua falha e decidiu ajudá-lo. Desde que chegara, o humano encontrava-se a um canto, envergonhado por ter a sua face nua, à vista… Abaddon sabia a história de Lunatik, então pediu a Carlota pra que chamasse a única pessoa que em tempos ajudara o humano.

   Carlota não gostava daquelas tarefas, não era escrava de ninguém… Mas mesmo assim teve a fazer. Por meio de um telefonema, a metamorfo ligou para o feiticeiro que trabalhava para demónios, em Erídano. Lezard era o seu nome… Em tempos curara uma ferida mortal em Lunatik e agora que recebera um pedido de Abaddon para vir a Cila tratar do mesmo humano, ficou admirado por saber do seu paradeiro.

   Então, quando finalmente chegara à vila onde fora chamado, Carlota esperava-o pra indicar-lhe o caminho até às grutas. Quando lá chegaram, o feiticeiro, Lezard, observava cada canto do local onde estava…

Carlota - Tens mesmo de parar de me pedir pra fazer estes serviços! Aqui está o teu feiticeiro! Nada simpático…

Diz a metamorfo assim que entra com Lezard, no sítio onde habitava com Abaddon e Lunatik. O demónio sorriu…

Abaddon - Vamos lá Carlota… Animo! As coisas não estão a correr assim tão mal! Bem-vindo Lezard!

O mago olhou para Abaddon e fez uma espécie de vénia.

Lezard - É uma honra poder estar aqui a seu serviço!

Diz o feiticeiro de uma forma educada.

Abaddon - Respeito… Há quanto tempo! Já sentia saudades de ser assim tratado!

E olha de seguida para Carlota, como se estivesse a mandar-lhe uma dica indirecta. A metamorfo percebeu e revirou os olhos aborrecida.

Lezard levanta a cabeça e olha para o demónio…

Lezard - Peço desculpa em ser intrometido… Mas há algo de errado consigo… Não há?

O feiticeiro conseguia sentir a energia do demónio e algo não pareceu certo… Estava confusa e parecia desfragmentada, como se algo estivesse ali à força, como se não fosse pertencente ao corpo…

Abaddon - Incrível… Deves ser mesmo bom!

Disse o demónio, admirado. Abaddon sabia da existência de Lezard e dos seus serviços, mas nunca tinha tido a oportunidade de o conhecer, pelo menos até agora…

Abaddon - Sim… Estou com um pequeno problema! Ainda tenho a alma da humana presa a mim… Partilhamos os dois o mesmo corpo. Como uma doença!

Exclama o demónio, um pouco angustiado.

Lezard - Pensei que isso fosse impossível de acontecer! Deve ser doloroso…

Abaddon - Não será problema por muito mais tempo! A minha cura está a caminho!

Lezard - Muito bem! Posso ajudar no que for necessário! Tenciono ficar por Cila durantes uns tempos!

Abaddon - Agora já entendo porque é que os demónios tanto gostam de ti!

Lezard sentiu-se elogiado… Um barulho vindo de um dos cantos daquele espaço chamou-o à atenção. Quando olha para Lunatik, o feiticeiro sorriu…

Abaddon - Falando do que interessa neste momento, foi por causa dele que aqui te chamei!

Lezard - Eu sei! Desde que o tratei nunca mais soube nada dele, nunca mais o vi. Até agora! Tem aqui um bom lutador… Em Erídano todos gostam dele! Como é que ficou neste estado?

Perguntou o feiticeiro bastante curioso.

Abaddon - Não temos a certeza, uma vez que ele não fala! Mas passou um ciclone por Cila e ele foi apanhado, portanto calculamos que tenha sido isso. Eu enviei-o numa missão à qual falhou, o que não ajuda. Trouxeste o que é preciso Lezard?

O mago sorriu para o demónio…

Lezard - Sim, preparei tudo como me foi pedido!

Abaddon - Então vamos ver-te trabalhar…

Lezard aproxima-se de Lunatik.

Lezard - Olá Lunatik! Deves lembrar-te de mim… Estou aqui pra voltar a ajudar-te!

Nas sombras, Lunatik levanta a cabeça, devagar, e olha pra Lezard… Como era de esperar, o humano lembrava-se dele. O cabelo loiro, olhos azuis e a típica roupa preta do feiticeiro, eram impossíveis de não se reconhecer. Lezard parece ter à volta de 35 anos, mas nunca revelou a ninguém a sua idade verdadeira, 127. A sua aparência jovem provinha de poderosos rituais e Magia a que homem tinha acesso e desta forma, podia viver muitos mais anos que qualquer outro humano à face da terra.

Lunatik olhava desconfiado para o homem que conhecera em tempos…

Lezard - Não precisas de recear… Já me conheces!

Lezard tira uma pequena caixa do bolso e abre-a…

Lezard - Communio!

Exclama ao olhar para o interior da caixa… O encantamento que lançara parecia muito simples, mas só um profissional é que o conseguia exercer.

Um género de pasta preta, toda aglomerada, saiu de dentro do objecto que o mago segurava, como se tivesse vida própria… Era idêntico a um verme a deslocar-se. Ao cair ao chão movimentou-se na direcção de Lunatik enquanto o demónio, a metamorfo e o feiticeiro assistiam. Ao chegar, subiu pelo corpo acima do seu destinatário e cobriu-lhe toda a sua face… Lunatik tinha ficado quieto até aquilo chegar-lhe à cara, após isso, caiu pra trás e começou a contorcer-se… Passado uns segundos parou de se mexer. Os três elementos presentes olhavam curiosos…

Carlota - De certeza que isso funcionou?

Quando menos esperavam, Lunatik levantou-se e saiu das sombras com o seu andar pesado… O seu ar estava diferente. Parecia mais firme e tinha perdido aquela reacção perturbada que possuía nas últimas 24 horas. Instantaneamente, todos repararam porquê… Aquele encantamento que Lezard lhe enviou havia resultado. Lunatik tinha uma nova máscara… Desta vez, parecia feita de tecido e cobria-lhe a boca e o nariz, os quais pareciam não existir. Os olhos pareciam ter sido trocados por duas cavidades escuras e vazias, sem vida… O seu aspecto era ainda mais assustador do que antes. Mais uma vez, Lezard salvou o humano.

Lunatik estava novamente activo… E pronto pra continuar a obedecer ao demónio.

Fim