Night Watchers - Primeira Temporada escrita por MS Productions


Capítulo 101
A Cega Vingança (Vol.9) - Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/190391/chapter/101

   O barulho matinal da faculdade de Cila já dava para ser escutado do seu exterior, assim como o som de vários transportes a chegarem ao local. Mais um dia de aulas tinha chegado e quase todos os jovens receavam que o tempo fosse passar muito devagar… O calor que envolvia a vila Cila indicava que aquele seria um óptimo dia de praia, se não tivessem de estar ali enfiados.

   No interior, os corredores estavam cheios e a confusão ocupava cada canto. Melissa Monserrate e Camila Duarte tentavam não ir contra ninguém enquanto caminhavam juntas até à sala onde iriam ter aulas. Ultimamente, Melissa chegava sempre a horas… A jovem decidira que era melhor começar a aplicar-se aos estudos, o máximo que pudesse. Não queria deixar nenhuma cadeira nem disciplina para trás. Era o seu pai que pagava-lhe os estudos e ela tinha noção do quanto ele trabalhava arduamente para ela poder ter uma boa vida. Não podia, de nenhuma forma, desapontá-lo…

Camila - Que animais…

Queixava-se, no seu tom usual.

Camila - Já viste como as pessoas andam por aqui, sem ter nenhum cuidado se vão contra alguém? Mais valia empurrarem-se uns aos outros! Ao menos estariam a ser honestos!

Camila detestava aquele tipo de comportamento, achava as pessoas egoístas.

Melissa - Chamar de animais é um elogio! Nem eles são assim…

Concordou. Melissa ainda vinha meio a dormir. De manhã, o seu mau feitio vinha quase sempre ao de cima, principalmente se houvesse muita agitação.

Camila - De manhã és sempre bem mais divertida!

Elogiou-a. Camila adorava aquele tipo de atitudes.

Melissa - Ainda não viste nada…

Respondeu com um leve sorriso. De repente, um dos jovens que ia a passar foi contra Camila. Como sempre, a jovem trazia um vestido azul bem curto e justo ao corpo e vinha de sapatos altos. Ao lado da amiga parecia uma senhora… A indumentária de Melissa era bastante simples, umas calças de ganga e uma t-shirt roxa era o chegava para a jovem.

Ao ser empurrada Camila desequilibrou-se e para não cair fez um esforço muito grande sob o pé direito… O que não serviu de nada. A rapariga acabou por cair e como se não fosse suficiente, partira o salto do sapato.

Camila - Mas será que ninguém vê por onde anda?

Perguntou para o rapaz que a tinha empurrado, sentada no chão e bastante chateada.

Fábio - Desculpa, não foi por mal! Mas tens toda a razão…

Por coincidência tinha sido Fábio quem fora contra Camila, o jovem que se apaixonara pela Selkie, Jéssica, que visitara Cila.

Camila - Ah, és tu!

Identificou-o sem usar o nome e este ajudou-a a levantar-se. Ambas as jovens ficaram menos stressadas quando viram quem tinha sido o causador daquele pequeno acidente.

Fábio - Sim, sou eu! Camila e Melissa não é?

Recordou-se dos nomes, como era óbvio também ele já as conhecia.

Camila - Ainda te lembras do nosso nome?

Perguntou admirada. Melissa e Fábio olharam um para o outro, sem perceberem a pergunta da jovem. Esta reparou e esclareceu-os…

Camila - Por causa do trauma que ele passou! Se fosse eu, já tinha esquecido!

Afirmou como se eles fossem muito burros. Fábio olhava para ela com alguma curiosidade. Imediatamente, Melissa mudou de assunto…

Melissa - Fábio… Como tens estado? Eu sei que eu e o Hugo dissemos que passávamos pela tua casa para vermos como estavas, mas tem sido muito difícil! O tempo tem sido escasso!

Informou-o e ao mesmo tempo, desculpou-se.

Camila - O tempo tem sido escasso? Vocês têm estado sempre juntos desde que namoram!

Camila envergonhou Melissa e esta ficou sem saber o que dizer. Fábio riu-se com a acusação de Camila, o que mostrou que não tinha levado a mal o que ela dissera.

Fábio - Não faz mal… Na verdade, tenho estado muito bem! A faculdade mantem-me ocupado, assim posso distrair-me e tornar o meu tempo totalmente útil! E vocês? Tudo bem?

Respondeu com sinceridade. Fábio parecia estar a superar tudo muitíssimo bem.

Melissa - O mesmo de sempre, como deves calcular! Mas sim, está tudo bem!

Deu a entender que continuavam o trabalho com a Night Watcher.

Fábio - Imagino as aventuras! Bem, tenho de ir andando para a sala… Estou com um pouco de pressa, antes de entrar para aula tenho de encontrar o meu grupo e discutir umas últimas ideias antes de apresentarmos o nosso trabalho! Foi bom ter-vos reencontrado!

Explicou apressadamente. Em seguida, virou-se para Camila…

Fábio - E mais uma vez, desculpa ter ido contra ti! Prometo que vou passar a andar atento!

Olhou para o chão e baixou-se para apanhar algo…

Fábio - Acredito que isto seja teu…

E passou-se o sapato cujo salto estava partido. Fábio piscou o olho à jovem e afastou-se, deixando-as para trás…

Camila - Pelo menos é simpático!

Disse para a amiga.

Melissa - Cá para mim, ele achou-te piada! Se é que me entendes…

Melissa achou-o demasiado simpático para Camila.

Camila - Todos acham-me piada e depois o resultado é sempre o mesmo! Eu sou daquelas que defende a teoria de que os homens são todos iguais.

Camila mostrava o seu ponto de vista enquanto descalçava-se. Não ia adiantar de nada andar só com um sapato, era preferível andar descalça.

Melissa - Ok… Admito que maioria deles não têm nada na cabeça, mas não podemos generalizar! Existem excepções!

Tentava dar a sua opinião, mas sem qualquer justificação que comprovasse o que estava a dizer.

Camila - Dá-me um exemplo!

Pediu, de sobrolho franzido e sem dar alguma credibilidade ao que Melissa dissera.

Melissa - Os rapazes que conhecemos! Desde que vim para Cila conheci todo o tipo de pessoas... Aqui são todos mais honestos! Acredita… De onde venho as coisas eram bem diferentes!

Melissa tinha namorado antes de vir para Cila. No entanto, era uma relação sem grandes expectativas… Era um namoro por conveniência. Naquela altura, a jovem apenas estava com alguém para não se sentir sozinha.

Camila - Não me convences! Espera mais um pouco e vais ver que tenho razão! E olha que eu moro aqui desde sempre… Sei o que estou a dizer!

Disse, cheia de convicção.

Melissa - Prefiro não ser assim tão negativa! Temos de dar sempre uma oportunidade aos outros!

Continuava a manter a sua visão acerca do tema.

Camila - Pois, então dá e depois queixa-te…

Avisou-a. Ambas estavam a chegar à sala onde iam ter aula e quando aperceberam-se disso, viram que Ísis Rocha já lá estava.

Ísis - Bom dia!

Cumprimentou-as com a sua boa disposição habitual. Como sempre, Ísis possuía um aspecto encantador… Estava com um vestido longo e amarelo e umas sandálias castanhas. A cor que emanava da sua peça de roupa, fazia com que os seus cabelos e olhos chamassem à atenção.

Melissa - Como é que consegues?

Ísis não percebera o teor da pergunta que a sua amiga fizera.

Ísis - O quê?

Melissa - Chegas sempre primeiro que eu! Tenho sido tão pontual e mesmo assim chego sempre depois de ti!

Melissa parecia estar frustrada. Ísis simplesmente riu-se…

Ísis - Espírito académico!

Camila - Espírito académico, uma ova! Se estivesses a faltar às aulas, nos copos ou a fumar eu diria que sim!

Ísis olhou para os sapatos que Camila trazia na mão e viu que ela estava descalça…

Ísis - O que é que te aconteceu?

Camila - Salto partido!

E mostrou-o, como se fosse um assunto muito sério.

Melissa - Ísis, vínhamos a falar de rapazes!

Mudou o assunto.

Melissa - Qual é a tua opinião?

Camila - Sim! O que achas? Eles são todos iguais não é?

Tentou incentivar a jovem a concordar consigo.

Ísis - É um tema um pouco delicado… Não acham? Se procuram alguém que defenda a teoria que vocês têm, aviso-vos já que não vão encontrar! Cada um tem a sua opinião e há sempre algo que difere!

Melissa e Camila ficaram a olhar para a amiga, a explicação que ela tinha acabado de dar era a que fazia mais sentido.

Camila - Bah! Que desmancha-prazeres!

Exclamou aborrecida. Ísis tinha conseguido concluir a conversa sem sequer ter havido uma pequena luta de opiniões.

Melissa - Falando em rapazes, como é que estão as coisas com o Filipe? Ainda nem tivemos oportunidade de falar sobre isso…

Perguntou, bastante interessada.

Ísis - Parece que estou a viver um sonho!

Admitiu, com um ar apaixonado.

Ísis - Mas dou-te toda a razão, ainda não tivemos tempo para parar e pôr a conversa em dia! Até parece que estamos a viver longe uma da outra! Também quero saber tudo sobre ti e o Hugo!

Nas últimas semanas, o único tempo que estavam juntas era quando reuniam-se com a Night Watcher. Desde que ambas começaram a namorar, o tempo era tão curto que não sobrava nada. Ainda nem tinham conversado sobre as novas mudanças que tinham ocorrido nas suas vidas.

Melissa - Subescrevo as tuas palavras! O que é que se passa connosco? Estamos já a viver aquelas horríveis rotinas como os adultos?

Camila - A tua vida sempre foi uma rotina! Assim como a nossa! Só agora é que reparaste?

Interveio, com algum sentido.

Melissa - Tu percebeste o que eu quis dizer!

Frisou a Camila.

Ísis - Eu pelo menos percebi! E concordo!

Ao acaso, Camila olhou para baixo e ficou em estado de choque…

Camila - Ísis, em que é que estás a pensar? Até a trazes para aqui?

Camila referia-se a Mahala… Também a raposa estava ali, despercebida, encostada às pernas de Ísis.

Ísis - Eu sei que parece estranho e dá um pouco nas vistas… Mas ela veio só para acompanhar-me. Quando formos para a aula, ela sabe que não pode vir. Mas certamente ficará por perto à minha espera!

E passou-lhe a mão na cabeça, com carinho.

Ísis - Mas sinceramente, não quero saber… Ninguém tem nada a ver com isso, as pessoas que falem… Se quiserem!

Disse com firmeza. Mais uma vez, Ísis já não aparentou ser a rapariga frágil que antes era.

Melissa - Uauuu… É assim mesmo Ísis! As más-línguas que se lixem!

Deu-lhe força.

Melissa - Mas diz-me, o que é que os teus pais disseram por levares uma raposa para casa?

Perguntou com delicadeza.

Ísis - Oh, nem sabes a desculpa que tive de inventar… Eles devem ter ficado a pensar que estou a começar a enlouquecer!

Nisto, o professor com que iam ter aulas passou por elas e entrou na sala. A aula ia começar…

Ísis - Parece que está na hora! Melissa temos mesmo de combinar um café… Temos tanto para falar! Por mim era já hoje… Mas depois das aulas tenho coisas combinadas com o Filipe!

Explicou. Ísis tinha muitas saudades de estar com Melissa e vice-versa.

Melissa - E eu com o Hugo!

Por alguns segundos ficaram a olhar uma para a outra e aos poucos, começaram a esboçar um sorriso cúmplice…

Melissa - Sempre podíamos dar a volta ao problema…

Começou a idealizar…

Ísis - Desmarcávamos os nossos compromissos e tínhamos uma tarde de raparigas…

Ísis acompanhava-a…

Melissa - Está feito! A seguir falo com o Hugo. E tu com o Filipe. Eles têm de entender que precisamos no nosso tempo! Qual é a piada de existirem tantas mudanças se não as podemos partilhar com a nossa melhor amiga?

Ísis sorriu, Melissa tinha toda a razão.

Camila - Boa! Uma tarde de raparigas! Então para que horas combinamos?

Auto convidou-se, muito entusiasmada com a ideia. Melissa e Ísis olharam uma para outra, atrapalhadas. Camila não constava nos planos, mas não tinham coragem para o dizer. Então, agiram como se nada fosse…

Melissa - Hããã... Não sei! Queres mesmo vir? É que pode ser um pouco aborrecido para ti…

Ainda tentou persuadi-la a não vir, mas não adiantou…

Camila - Estás a brincar comigo, não? Eu adoro sentar-me com as minhas amigas a falar sobre a vida e sobre as fofocas que aí andam! Que tal irmos logo a seguir às aulas? Estou tão empolgada, isto vai ser fantástico! E vamos estar juntas como pessoas normais, sem falarmos de monstros, vísceras e coisas assustadoras!

Camila não parava de falar… Sentia-se emocionada com o que estavam a combinar.

Ísis - Pessoalmente, acho que só as vísceras já são assustadoras!

Camila pareceu nem ouvir o que Ísis dissera.

Camila - Então está mais do que combinado. Vamos ter uma tarde super divertida!

Felizmente para Melissa e Ísis, Leonardo Almeida aproximava-se… Rapidamente fizeram sinal ao jovem.

Melissa - Leonardo! Olá! Pronto para mais um dia de aulas?

Ísis - Já pareces a Melissa… Chegaste a horas!

Melissa olhou para a amiga, num misto de intriga e brincadeira.

Leonardo - Sempre pronto!

Exclamou, sem nenhum tipo de emoção. Havia algo na expressão do jovem um pouco tenebrosa. As três raparigas repararam… Além desse pormenor, o Leonardo que conheciam jamais daria uma resposta daquelas.

Melissa - Está tudo bem?

Perguntou, preocupada.

Leonardo - Claro! Porque é que não haveria de estar?

Logo em seguida, o jovem virou-lhes as costas e entrou na sala. Melissa e Ísis estranharam aquela atitude por parte dele.

Ísis - Algo não está bem! O Leonardo parecia-me… diferente! Repararam?

Ísis ficara muito desconfiada.

Melissa - Sim… Aliás, já tinha reparado antes! Nestes últimos dias ele tem andado estranho! E muitas vezes responde-nos com rispidez! Principalmente para o Hugo…

Confessou às amigas.

Camila - Se querem a minha opinião, ele sempre foi estranho! Não me perguntem porquê…

Melissa e Ísis continuavam a olhar para Leonardo. De onde estavam, conseguiam vê-lo.

Camila - Mas desta vez é óbvio o que está a acontecer… Ele está com ciúmes!

As duas jovens olharam para ela… Queriam ouvir o seu ponto de vista, pela primeira vez na vida.

Camila - Vocês arranjaram namorados e ele não tem ninguém!

Podia ser uma boa hipótese, se Ísis não o conhecesse tão bem. A jovem tinha a certeza que o problema era mais grave… Algo dizia-lhe. Talvez a sua intuição.

Ísis - Não acho que seja esse o problema… O Leonardo é daquelas pessoas que fica feliz quando algo de bom acontece. Ele não é invejoso!

Defendeu-o.

Melissa - Devíamos falar com ele… Se calhar são só saudades nossas! Também não temos estado com ele!

Melissa preferia não ser negativa. Andava numa boa fase e não queria que nada interrompesse isso.

Ísis - Pois, mas ele não vai falar assim tão facilmente. Eu conheço-o muito bem!

Pensava a jovem, a sua melhor amiga. Jamais passava-lhe pela cabeça que Leonardo possuía um segredo gravíssimo.

Camila - Decidam depois! Agora vamos para a aula, senão não adianta de nada termos chegado mais cedo!

Melissa concordou e Ísis estava prestes a fazê-lo, mas avistou Filipe Mendes. O seu namorado tinha chegado…

Ísis - Falamos sobre isto durante a nossa tarde! E podem ir andando… O meu homem vem aí! Vou esperar por ele!

Avisou as amigas. Estas sorriram e entraram na sala. Entre as pessoas, Ísis acenou para Filipe e este apressou-se a chegar à namorada. Assim que o fez, sem trocarem qualquer palavra, mergulharam os dois num beijo profundo e finalmente, também entraram na sala.

Quase ao mesmo tempo, uma outra pessoa conhecida entrou no mesmo corredor onde os jovens tinham estado anteriormente. Pedro Dias decidira fazer uma visita até à faculdade de Cila. O ex-detective continuava incessantemente a sua investigação pessoal. Depois do que vira no dia anterior e depois de ter curado a sua ressaca, queria encontrar Leonardo mais do que nunca. E aquele seria o sítio exacto onde o ia fazer… Disso, ele tinha a certeza.

*

   Tudo o que o Boto tinha a fazer era esperar… Até ao momento o seu plano estava a correr como era suposto. A criatura que fazia passar-se por Emília Almeida, conseguiu despertar todo o espírito de vingança que Leonardo possuía. O jovem estava cego… Não via nada a frente senão o momento em que iria honrar os seus pais.

   Por momentos, o Boto arrependera-se de não ter contado toda a verdade a Leonardo... Ambos tinham o mesmo desejo, vingar as famílias. No entanto, tinha algum receio que o jovem sozinho, não fosse o suficiente para enfrentar os demónios. Estava a depositar toda a sua fé nele… Uma vez que este falhasse, em poucos segundos o casal Zodiev ia perceber que tinha sido traído e o Boto não queria passar o resto da sua vida a ser perseguido. O que realmente o perturbava era o facto de estar a enganar o rapaz… Mas não havia outra solução. A raiva de Leonardo era tão grande que se soubesse a verdade, tudo podia ir por água abaixo… Afinal de contas, quem matara directamente os pais dele fora o Boto.

   A falsa Emília tentava não pensar muito… Não queria stressar antes do momento certo. Mas como estavam vidas em jogo, era difícil focar a sua atenção em outro sítio. A televisão estava ligada e a criatura estava sentada no sofá, a fazer os possíveis para relaxar. As armas e utensílios que Leonardo ia precisar já estavam devidamente organizados e pronto para o jovem.

   O Boto começava a sentir-se cansado de tanta agitação… Ainda não tinha pregado o olho desde o dia anterior e os primeiros sinais de cansaço começavam a surgir. À medida que ia conseguindo relaxar, o seu corpo ia deslizando no sofá e os seus olhos fechavam aos poucos. No momento em que estava prestes a adormecer, alguém bateu três vezes à porta de casa… A criatura despertou rapidamente e pôs-se de pé, no seu “modo” Emília. Devagar, dirigiu-se até à entrada e abrira a porta. Mais uma vez, o cansaço desvanecera-se assim que viu quem ali estava… A sua expressão não podia ter ficado mais alarmada.

Ema - SURPRESA!

E deu um forte abraço a quem pensava ser sua avó. Ema Almeida acabara de chegar a Cila e trazia as suas malas consigo. A jovem, um ano mais nova que Leonardo, possuía os mesmos traços que o irmão físicos que o irmão. Como era óbvio, o Boto reconheceu-a de imediato pelas fotos que já tinha visto. Porém, a rapariga parecia estar bem diferente… Tinha crescido. Ema trazia uma mini-saia preta e apenas um casaco de ganga desabotoado até meio, o que fazia com que os seus seios sobressaíssem bastante. O seu look estava completamente mudado. A criatura também reparara que agora, a jovem tinha um piercing no nariz e numa das suas pernas tinha feito uma tatuagem de duas espadas cruzadas por cima de um escudo muito bem trabalhado.

Ema - Estou de volta, avozinha!

Deu a novidade que ia mudar-se novamente para Cila. O Boto, na pele de Emília, não sabia como reagir. Ema não podia ter chegado em pior altura.

Emília (Boto) - Ema… Minha querida!

Tentou disfarçar, mas claramente, o pânico estava estampado na sua cara. Ambas acabaram o abraço que davam e Ema reparava que a sua avó parecia estar a reagir de uma forma estranha…

Ema - Hum, não pareces muito feliz em ver-me…

Analisou o comportamento do Boto. Este mudou a sua postura radicalmente.

Emília (Boto) - Que disparate! É claro que estou! Admito que estou surpreendida pela tua chegada tão inesperada!

Disfarçou com um grande sorriso e deu espaço para Ema entrar em casa.

Ema - Eu sei que não avisei… Mas achei que seria mais emotivo se aparecesse de surpresa! Já tinha saudades de Cila!

Ema entrou e encostou as malas a um canto.

Emília (Boto) - Tens toda a razão… Quem é que não gostas de surpresas? O Leonardo vai ficar bastante entusiasmado por te ver!

O Boto tentava pensar numa forma de resolver aquele pequeno problema. Porém, nada lhe vinha à mente.

Ema - Sinto tanto a falta dele… Já não nos vemos há muito tempo! Ele está aqui por casa?

Perguntou, com enorme curiosidade. Ema queria muito estar com o seu irmão e recuperar o tempo que tinham perdido.

Emília (Boto) - Não, está pela faculdade… Se calhar era melhor ires até lá, para o encontrares!

Tentou despachar a rapariga. Além de não querer que esta fosse à sala e visse as armas, o facto de ela estar ali em casa podia dificultar os planos que a criatura tinha feito com Leonardo.

Ema - Ah, não faz mal! Eu espero por ele aqui! Estou cansada da viagem… E quero olhar com atenção para esta casa! Tenho de me habituar outra vez, já que venho viver para cá!

Devagar, avançava para a sala de estar e o Boto impediu-a. Tentou fazê-lo da forma mais natural que podia…

Emília (Boto) - Então é da maneira que me ajudas… Vamos para a cozinha, estava a preparar-me pra lavar a loiça!

Ema suspirou fundo…

Ema - Ainda agora cheguei e já me vão pôr a trabalhar!

O Boto colocou o braço à volta da cintura de Ema e dirigiu-a até à cozinha.

Emília (Boto) - Ora, trabalhar não faz mal a ninguém…

Sorriu para Ema e esta cedeu e fez o mesmo. No entanto, continuava a não querer ajudar a avó.

Emília (Boto) - Diz-me uma coisa Ema… Não devias estar a ter aulas?

Tentou fazer o seu papel maternal. Uma coisa era certa, Ema não devia estar ali.

Ema - Supostamente sim…

Respondeu pausadamente. A jovem estava com receio de ouvir um sermão da sua avó.

Ema - Mas decidi não completar o curso! Não era pra mim… Estava farta daquilo!

Já não era a primeira vez que ela fazia isto… Na verdade, Ema já tinha frequentado vários cursos, mas nunca acabara nenhum deles. A jovem não sabia o que queria fazer da vida, então preferia conhecer vários sítios e divertir-se em vez de estoirar a sua cabeça com estudos. A única coisa que ela estoirava era o dinheiro à sua avó… Era esta quem pagava tudo, desde estudos até viagens.

Ema preferia levar a sua vida, descontraída… Ela era o que se podia chamar de bom-vivant, num sentido feminino.

Emília (Boto) - Fizeste muito bem minha querida! Quando não estamos satisfeitos num sítio, temos de mudar-nos!

Ema fez cara de surpreendida… Esperava tudo menos aquela resposta. A jovem estava mesmo a contar que ia ser chamada à atenção, mas isso não acontecera. Então pensou que talvez, a sua avó estivesse diferente, mais aberta a outros estilos de vida.

Ema - Até estava a pensar candidatar-me à faculdade daqui… Desta vez apetece-me ir para artes!

A rapariga tentou a sua sorte, pra ver se Emília se oferecia a pagar-lhe os estudos, como sempre fizera. Se Ema era boa numa coisa, era em manipular as pessoas.

Emília (Boto) - Acho que é uma ideia brilhante!

Exclamou, desatento e dando pouca importância à conversa. Ema voltou a estranhar a mulher… Mas decidiu prosseguir.

Ema - Então e novidades? Como estão as coisas pela nossa pacata vila? Deves ter montes de coisas para contar-me desde a última vez que nos vimos, no teu aniversário! Já faz quase um ano… O tempo passou tão rápido que nem dei por ele! Lembraste de como foi difícil eu ir embora? Queria tanto ter ficado…

O Boto apenas riu-se… De toda a família Almeida, de quem a criatura sabia menos coisas era de Ema.

Ema - Lembraste, certo?

Ema queria uma resposta… Estava com a sensação que a sua avó estava a evitá-la.

Emília (Boto) - Sim… Claro! Passamos todos os meus aniversários juntos!

Afirmou com muita certeza, para parecer convincente do que estava a dizer. No entanto, a jovem Ema apercebeu-se de um pequeno erro e aí teve a certeza que a sua avó estava completamente distraída. Nem todos os aniversários de Emília contaram com a participação de Ema…

Ema - Avó… Por dois anos consecutivos eu não vim à tua festa! Está tudo bem? Não me parece que estejas muito atenta ao que estou a dizer…

A criatura ficou um pouco atrapalhada e tentou justificar-se.

Emília (Boto) - Que disparate, nem sei porque é que disse isto… Eu sei que não vieste por duas vezes! Tiveste dois anos sem pisar a vila!

Mais uma vez, o Boto tinha acabado de dizer um disparate…

Ema - Hã? Dois anos? O que é que estás a dizer? Avó, eu não vim aos teus aniversários, mas nunca faltei a nenhum do Leonardo!

A falsa Emília engoliu em seco. Estava a perder o controlo da conversa.

Emília (Boto) - Eu sei, eu sei… Não ligues ao que estou para aqui a dizer!

Mesmo assim, Ema ficou desconfiada… Tinha a sensação que algo estranho passava-se com a sua avó. E agora, queria saber o que era.

Ema - Quando é que fazes anos?

Perguntou, testando-a. O Boto ficou a olhar para a rapariga, sem uma resposta. Finalmente alguém tinha perguntado algo que ela não sabia… Um pormenor que tinha deixado escapar, as datas de aniversário de cada um deles.

Ema - Avó, quando é que eu faço anos?

Insistiu. Para a jovem, a sua avó parecia estar com algumas falhas de memória.

Emília (Boto) - Querida, estou muito cansada… Desculpa! Podemos continuar a nossa conversa depois? Acho que vou deitar-me um pouco…

Fez-se de vítima. Ema ficara com a certeza que algo não estava certo e decidiu não continuar com o assunto. A sua avó não estava bem e pensou que talvez ela estivesse doente… Parecia ser o começo de Alzheimer. Se calhar o seu irmão sabia daquilo e nunca a informara para não a preocupar. Ema não sabia o que pensar… Sentiu-se triste por ver Emília assim, uma mulher cuja vitalidade era gigante.

Ema - Vai descansar avó… É melhor! Eu acabo de arrumar a cozinha e depois vou pôr as malas no meu quarto. Queres que te leve alguma coisa à cama?

Ema abraçou a sua avó e deu-lhe um beijo no rosto.

Emília (Boto) - Não… Só preciso de me deitar um pouco! Mas obrigado Ema!

Devagar, virou as costas e saiu da cozinha. Ia aproveitar a jovem arrumar a cozinha para esconder as armas que estavam na sala. Finalmente estava livre de perguntas às quais não sabia resposta. Só esperava que a rapariga não viesse a estragar os seus planos…

Ema Almeida ficou a ver a sua avó a afastar-se, com alguma tristeza no olhar. Além de ter ficado a pensar que ela estava doente, não estava a contar que a sua recepção fosse assim tão fraca…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Night Watchers - Primeira Temporada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.