– Prefácio –

Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.

Shakespeare

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Os encontros mais importantes já
foram combinados pelas almas antes mesmo que os corpos se vejam...

Autor Desconhecido.

Rascal Flatts – Bless The Broken Road

http://www.youtube.com/watch?v=lZp6pmgbZyU

Desde que o Universo foi arquitetado e construído e o homem surgiu como templo de almas imortais, as almas gêmeas existem. O
Criador, então, criou as almas em forma esférica, partindo-as em duas metades e depositando cada parte em um receptor diferente.

Desta forma, todo ser vivo passa a eternidade de sua alma imorredoura em busca de sua outra metade, no propósito de aplacar o sentimento de vazio e de um coração incompleto, pois somente juntas a solidão teria um fim e a plenitude seria alcançada.

O encontro de almas se dá por meio de vários estágios, antes mesmo que os corpos carnais recebam o sopro de vida e posteriormente podem ocorrer de qualquer modo, até mesmo através de uma grande
amizade...

– x –

Era uma preguiçosa tarde de setembro e as folhas alaranjadas e em tons de marrom caiam lentamente de seus galhos, devido o outono. Apesar da estação o céu estava límpido e tingido de azul bem claro e o sol, apesar de tímido, lançava seus discretos raios de luz sobre o solo forrado de folhas que ganhavam um brilho modesto.

Deitada de bruços sobre o tapete macio de folhagem encontrava-se uma pequena menina, trajando um vestido de malha branco, meias brancas com sapato pretos e um casaquinho de lã lilás, os cabelos castanhos compridos e cacheados ganhavam nuances avermelhadas sob os raios solares, o nariz arrebitado e as maças do rosto estavam discretamente rosados devido a brisa suave, mas gelada que soprava, a pequena boca rosada, formava um bico e os olhos castanho chocolate, emoldurados por pestanas longas, focavam concentrados um bloco de folhas brancas a sua frente, onde a garotinha desenhava uma pequena joaninha, que caminhava lentamente próxima de seu caderno.

Às suas costas encontrava-se um garoto sentado, com as costas recostadas sobre o tronco de uma das grandes árvores que circundavam aquele lugar, ele trajava uma calça jeans escura, camiseta azul, um grosso casaco de malha preta e tênis All Star preto, seus cabelos, em um estranho tom de cobre, eram lisos e desalinhados, com um aspecto sedoso, o nariz reto e as maças do rosto rosados, iguais ao da pequena garota, os lábios finos comprimidos, e os olhos, verde esmeralda,
repousados sobre as páginas de um grosso livro de capa preta. Vez ou outra o pequeno arriscava olhares furtivos para a menina, que permanecia absorta, balançando as pernas dobradas no ar.

Ele não sabia explicar, mas seu coração parecia flutuar toda vez que olhava ou estava próximo da morena, que para ele poderia ser comparada a um anjo. Sua mente estava inquieta e as letras do livro pareciam desfocadas dificultando a leitura, havia vinte minutos que ele não conseguia sair no primeiro parágrafo. Algo muito grave o estava preocupando.

– Eu sonhei com você esta noite. – conseguiu dizer acima de um sussurro, mas mesmo assim as palavras chegaram aos ouvidos da garota, que largou seu desenho se virando para o garoto, com uma expressão surpresa.

– Serio? Foi um sonho bom? – perguntou curiosa se sentando. Suspirando, o ruivo deixou o livro de lado e engatinhou até estar ao lado da morena.

– Na realidade não... – disse abaixando seus olhos para seus tênis. A garota pareceu triste.

– Quer falar sobre isso? – indagou olhando atentamente para o garoto.

– A gente estava diferente... – começou depois de um longo silêncio. – Como os garotos mais velhos da escola. Era de dia, e o sol fazia o seu cabelo brilhar como nunca. – sorriu. – E você estava sorrindo. Estava tão linda! – falou com os olhos brilhando fazendo as bochechas da morena ganharem um tom avermelhada mais acentuado. – Parecia que a gente estava se divertido muito, mas então... – parou sentindo um frio repentino tomar seu corpo ao ter a lembrança de volta a sua mente.

– Então... – incentivou a garota.

– Aconteceu alguma coisa. O céu se tornou escuro e você começou a chorar me olhando com rancor. Quando tentei me aproximar você saiu correndo se distanciando cada vez mais de mim, e sempre que eu estava prestes a te alcançar você parecia mais distante. Até que te perdi completamente. – terminou choroso.

A menina parecia espantada pela angustia do menino, mas de certa maneira conseguia compreendê-lo. A idéia de perdê-lo era aterrorizante e somente em pensar na hipótese sentia seu coração se contraindo em pesar. Em um ímpeto se jogou contra o garoto o abraçando com toda a força que podia.

– Promete que isso nunca irá acontecer? Promete que será sempre minha amiga? – perguntou o garoto com visível angústia, retribuindo o abraço e escondendo seu rosto nos cabelos perfumados da amiga.

– Prometo. Prometo nunca deixar de estar ao seu lado. Para sempre. – jurou afagando os cabelos ruivos que tanto adorava, devido sua cor peculiar.

– É bom que cumpra sua promessa! – desafiou o ruivo, cutucando com as pontas dos dedos barriga da amiga que no mesmo instante soltou uma risadinha de sinos.

No momento seguinte estavam os dois em uma batalha para fazer cócegas no outro, entre risadas e brincadeiras. Como verdadeiros amigos inseparáveis.

No final do dia, quando o sol começava a se recolher, estavam deitados por entre um monte de folhas suave, de mãos dadas e olhando o cair lânguido das folhas no céu e as formas delicadas das nuvens quando ouviram suas mães os chamando para o jantar. A hora de se recolher havia chegado. Desapontados levantaram-se limpando suas roupas, apanhando suas coisas e com sorrisos de satisfação pela tarde que haviam passado juntos se despediram carinhosamente com um singelo abraço.

– Durma bem, B. – disse o ruivo, afagando os cachos castanhos.

– Você também Ed. Tenha sonhos felizes. – desejou a amiga, olhando feliz para os olhos verdes do amigo.

– Terei. – retribui o sorriso. – Até amanhã, Bellinha.

– Até. – riu acenando e começando uma corrida até a porta de sua casa onde sua mãe a esperava.

Satisfeito e feliz, o menino correu até a mãe que o olhava com um sorriso estranho no rosto. Lançando olhares entre ele e a amiga, enquanto lhe estendia a mão para irem juntos para casa. Antes de cruzar o pequeno portão que separava as residências vizinhas, deu uma última olhada para seu anjo, que sorria acenando, e suspirou aliviado. Não havia o que temer, teria sua melhor amiga para sempre ao seu lado...

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Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.