Eu puxei as mangas da minha blusa até quase cobrirem minhas mãos. As pontas dos meus dedos continuavam avermelhadas pelo frio intenso, peguei meu casaco e as chaves do carro, talvez se eu saísse agora eu chegasse antes das dez em Beech Montain.

Sim, eu decidi que vou, e agora é pra valer. Vou atrás do Matt, porque eu sei que talvez eu me ferre lá na frente, mas de qualquer forma, eu já to bem ferrada mesmo então tanto faz.

Dirigi a tarde inteira, ouvindo todos os tipos de musicas desgraçadas que fazem você chorar uma cachoeira, e depois refletir amargamente sobre a vida e essas coisas. Avistei a placa de Beech Montain e quase parei o carro no meio da rua pra dar pulinhos de alegria. Tava cansada pra caramba.

Parei em um restaurante qualquer e entrei, um cara que parecia ter uns 50 anos me atendeu, eu pedi um café e quando ele trouxe, o perguntei se conhecia algum Matthew. Ele sorriu e disse que sim, perguntei o endereço e essas coisas e agradeci, dei meia volta e corri pro carro, mas aí me dei conta da subida maldita e do monte de neve, o cara do restaurante gritou que não ia dar pra subir com o carro, então eu fui a pé mesmo.

Andei enfiando meus pés até metade da canela naquela neve toda, acho que eu não sentia mais nenhuma parte do meu corpo de tanto frio que fazia, terminei de subir a rua e avistei a casa branca imensa com os portões abertos.  Entrei quietinha e fui andando até a frente da casa, quando uma mãozinha segurou minha perna,eu quase surtei é claro, típico da Hayley - Droga, to falando de mim em 3° pessoa - virei bem devagar e dei de cara com um menininho com uns 5 anos, os olhos azuis iguais ao do Matt, o cabelo uma baderna ambulante, a pontinha do nariz vermelinha fazia ele parecer um bonequinho.

- Quem é você? Ele perguntou com aquela voz enroladinha que as crianças nessa idade tem.

-  Sou a Hayles e você? eu me abaixei pra ficar do tamanho dele.

- Ah... eu sou o Brian, mas a mamãe me disse pra não dizer meu nome pra estranhos. Ele afirmou balançando a cabecinha fazendo os cachinhos balançarem. QUASE MORRO COM TANTA FOFURA!

- Ah, tá certo. Eu dei uma risadinha estranha e ele me encarou fofinho. - E você sabe se o Matthew mora aqui? (NÃO SUA IDIOTA, ESSE ENDEREÇO É DO T.I)

- Tio Matt tá la dentro, quer que chama ele? OK, eu parei na fofura dele dizendo chama no lugar de chame, que muleque fofo gente, quero um. Mas não agora é claro, fiquem calmas meninas.

- Quero, chama lá ele pra mim. Eu disse ajudando ele a levantar da neve, o guri saiu correndo pra dentro de casa, molhando tudo com neve por onde passava. Eu sentei na fonte que agora estava parada e esperei o garotinho voltar.

- Brian, a garota do olho verde não tá aqui, para com isso, não é a garota do computador. Matt, aquela voz grossa e rouca era do Matt. E como assim garota do computador?

- Tá sim tio! Eu vi e ela me chamo de fofinho! ele falou e de repente surgiram os dois com carinhas emburradas. Eles eram tão mais parecidos assim lado a lado, eu quase tive uma sincope. 

- E cadê, Brian? Cadê? Matt perguntou crusando os braços e fazendo cara feia pro menininho.

- Tá alí ó, bem pertinho dos meus peixinhos. Ele saiu puxando Matt pra onde eu estava, Matt seguia ele com a cabeça baixa, mexendo no ipod, então Brian correu e agarrou minhas pernas, gritando algo como Hale fofinha! Hale fofinha! E Matt ergueu a cabeça, os olhos prendendo nos meus quase me fizeram derreter.

- Hayley? Ele perguntou chegando perto. A fumaça saindo da boca dele quando ele falava, me fazia querer morder ele. Mas eu não ia fazer isso né.

- Oi... Eu disse meio quieta sobe o olhar zangado e ao mesmo tempo com saudade que ele me dava.

- Como chegou aqui? Quer dizer, nem Tyler sabia que eu estava aqui, e ... Porque veio Hayley? Ele parou de tagarelar e me encarou.

- Eu... bom, eu vi o jornal e eu achei que eu fui idiota, então eu quis te ver. Mas se quiser que eu vá... eu posso ir Matthew, sério mesmo, não tem problema. Eu tagarelei mais do que ele, que droga.

- Nãaaaoo, fica Hale fofinha! Brian berrou segurando minhas pernas e eu ri. - Você é quentinha e a mamãe vai me deixar brincar com você, eu juro com o dedinho! Ele fez drama e eu ri mais ainda.

Matt observou a cena calado, e depois sorriu, de um jeito bem Matthew.Perveso e fofo.

- Quero que fique, precisamos conversar. Matt segurou minha mão e com o outro braço pôs o Brian no colo, o garoto reclamou mais acabou apoinhando a cabecinha no ombro do Matt. Eu andei de mãos dadas com ele até a porta da casa, ele colocou o menino no chão e o garoto entrou correndo chamando pela mãe.

- Então... tenho que me explicar, certo? Eu perguntei, sorrindo sem jeito.

- É, você têm. Por que fez aquilo Hayley? Por que não acredita no que eu digo, nunca? 

- É difícil,ok? Eu já me machuquei muito com isso e daí você chega todo cheio de sorrisinhos e dizendo que vai ser fácil e não vai me deixar ir tão cedo e depois vem aquela loira azeda de farmácia, me deu uma coisa tão... ARGHT! Eu não queria ver, nem escutar você. Eu desabafei e tapei meu rosto com as mãos.

- A loira azeda é sim minha ex namorada, Alicia, mas também é minha prima e ela só tinha ido me visitar, mas você levou tudo pra outro lugar nessa tua cabeça e nem mesmo me ouviu. Ele falou enquanto tirava minhas mãos do meu rosto.

- Jura pra mim? Eu perguntei fazendo bico. OK, TENHO 5 ANOS.

- Juro, mas não sei se eu vou ter toda essa gentileza de ficar esperando você se tocar, Hayley. Um dia eu canso de verdade. Ele falou emburrado e eu me joguei nele abraçando ele o mais forte que eu pude.

- Vai voltar quando pra casa? Eu perguntei ainda abraçada a ele.

- Semana que vem. Mas se você me convencer, e se me der um motivo real, talvez eu volte amanhã, não sei. Ele fez manha e eu quase beijei ele, quase, porque o anãozinho do Brian me atingiu na testa.

- Desculpa tia Hale. Ele disse olhando pra baixo e fazendo biquinho.

- Sem problemas gatinho. Eu disse e ele pulou no meu colo, empurrando Matt pra longe de mim. Matt fez uma cara emburrada e ele riu, claro que eu acompanhei né.

- Ele é filho de quem? Eu perguntei baixinho e Matt me disse que ele era filho da irmã mais velha dele, Ágatha, que alias, eu conheci depois e ela é simplesmente linda de morrer. Sério, ela é perfeita, parece uma bonequinha e o pai do Brian então, é outra perfeição, Jared.

Acabei ficando pro jantar, e depois pra dormir, a vó do Matt é uma linda,dona Bárbara, e o vô dele me fez rir tanto que eu pensei que fosse morrer.

Fui pro quarto que a vó do Matt tinha deixado arrumado pra mim, tomei um banho quente e vesti uma roupa que Ágatha me emprestou, me enfiei em baixo das cobertas fofinhas. Já eram quase duas da manhã quando eu ouvi a batida na porta do quarto, levantei levando o lençol junto e abri a porta pra encontrar um Matt com a cara inchada e fofa, arrastando o cobertor com os olhos meio fechados, eu ri enquanto encarava ele que avançou e me beijou. Um beijo cheio de saudade, daqueles beijos que você acha que nunca vai conseguir parar.

- Senti saudades... Ele sussurrou com a testa colada na minha, as mãos frias segurando as minhas, o hálito de menta batendo no meu rosto. Tão meu, tão lindo e tão... perto.

- Eu também. Eu puxei ele pra dentro do quarto, o corpo forte dele batendo no meu, as mãos rodeando minha cintura com força em um abraço apertado.

- Posso dormir aqui? ele sussurrou de novo no meu ouvido, me deixando tonta.

- Uhum... eu acho que falei esse "uhuum" não sei direito.

- Só dormir, Hay. Ele riu e eu ri mais ainda mas ele me calou com outro beijo, dessa vez mais urgente e depois saiu me puxando pra cama, deitou e me abraçou.

E depois eu só me lembro da chuva lá fora, do abraço apertado, do cheiro dele e do "Eu juro que da próxima vez, te busco até no inferno. Não te deixo mais..." sussurrado depois de mais um beijo, então eu dormi.