Devoradores escrita por Nayame


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Terça, domingo... Tudo igual e...
Ok, peço perdão x.x Mas esse capítulo é enorme comparado aos outros.



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“- O que foi Patinho? – Lambeu os lábios demonstrando um prazer incontrolável. A lâmina em sua mão roçava o corpo todo de sua vitima. Fazia movimentos circulares leves em contato com a pele, somente colocando força quando se encostava ao tecido que a vestia. Rasgava o uniforme sem piedade alguma, pouco se importando em danificar seu precioso produto – Perdão, eu esqueci que cortei sua língua agorinha mesmo.

Ela gemia terrivelmente. Em suas tentativas de suportar a dor de sua pele sendo rasgada, e o nojo do contato com aquele garoto, sua cabeça batia diversas vezes na árvore que a prendia. Ambas as mãos da pobre garota foram atravessadas por outra adaga enfincada fortemente no tronco, deixando-a sem escapatória. Suas pernas, os únicos membros livres de seu corpo, socavam o ar em uma tentativa falha de se soltar. O corpo enorme do garoto estava encaixado no seu, e apenas suas calças o impedia de tomá-la para si.

- Seus gemidos devem estar excitando todos os telespectadores – Passou sua língua áspera no rosto da garota, enxugando os rastros das lágrimas. Aproximou-se do ouvido de sua vitima e sussurrou – Não vão me impedir. A audiência deve estar eufórica neste momento...

- Não vão te salvar Patinho.”

Ela acordou tão assustada e repentinamente, que assustou o tímido garoto que a observava de pertinho, fazendo-o derrubar o líquido esverdeado que carregava por todo o rosto da garota. A morena se levantou desesperada e iniciou um ataque feio de tosse; O garoto correu de um lado para o outro em completo caos ao notar que havia afogado sua ‘patroa’. Tirou a própria camisa ao ter uma idéia, esfregando no rosto dela para ajudá-la. Claro que não ajudou. O resultado final foi uma Hellins molhada com o rosto todo sujo pelo estado da roupa dele, olhando para o ruivo que parecia bem envergonhado.

Ele riu. Não uma risada alta e escandalosa. Ele ria de um jeito estranho, colocando a mão sobre a boca para disfarçar e não deixar ninguém ver o interior dela. Com isto a morena facilmente descobriu; Ele era um Avox. Rebeldes que desobedeceram a Capital e tiveram a língua cortada, virando escravos. Este pensamento fez ela se lembrar do terrível sonho que tivera. Sentiu um arrepio.

- Mas que porcaria – Exclamou em voz alta, e por ser tão repentino, fez o garoto parar de rir e se encolher, censurado – Não, não você. Porcaria é o sonho que tive.

Ele sorriu meio desacreditado, voltando a ser tímido e reservado como todos os outros Avox. Estava pronta para acalmar o garotinho e dar uma descontraída no clima sombrio, até perceber que sua memória não tinha registros de que lugar era aquele e como chegara lá. Desesperou-se; Aquele magnífico quarto jamais havia sido visto por ela antes. Aqueles lençóis de seda brancos. As cortinas âmbar com desenhos abstratos e de péssimo gosto. O colchão recheado de plumas – ou assim ela deduzira. Nada lhe era familiar.

- Como cheguei aqui? – Perguntou ao Avox. Ela ficou esperando uma resposta, até notar a idiotice óbvia – Ah, foi mal. Sabe escrever? – Ele assentiu.

Revistou o cômodo todo atrás de papel e caneta. A caneta foi até fácil, mas não havia papel em lugar algum. Deu de ombros, pegando uma parte limpa do lençol – Escreve aqui mesmo, tanto faz.

Ele tremeu com aquele pedido; Por um lado, havia sido ordenado por superiores a obedecer todas as ordens da tributo feminina do quatro. Por outro lado, manchar tal tecido seria uma heresia, punida com chicotadas e torturas até piores.

- Vai logo, a coisa verde e gosmenta já manchou mesmo.

Ah, é verdade.

Então ele começou a escrever. Uma letra estranha e tremula. A maioria não entenderia. Sinceramente, aquilo era fácil para Hellins. A letra de Kysei era quinze vezes pior:

“Olá, meu nome é Hends. Sou seu ajudante e tenho doze anos. O senhor Etyn me pediu para chamá-la...” – Hellins notou que ele escreveu o nome do loiro errado, mas relevou – “Terá uma reprise da colheita daqui alguns minutos, assim como um jantar com os mentores.”

Arqueou as sobrancelhas; Não era isso que ela havia perguntado.

“Ah, me perdoe. Sobre a pergunta: Você levou um choque dos guardas por seu comportamento histérico. Alegaram ser um surto provocado pelos acontecimentos de hoje. Ainda estamos no trem rumo à Capital. Esta é sua cabine.”

Cerrou os olhos, incrédula. Haviam a desmaiado como um animal selvagem. Como se estivesse louca, descontrolada. Como se o senso comum fosse sorrir e concordar com as atitudes irracionais da Capital, aplaudindo cada ato ridículo da mesma. Estava pronta para sair dali e bater em cada idiota daquele trem, gritando verdades e outras maluquices mais, porem foi detida com força pelo ruivo:

“Se fizer algo, não tenha dúvidas de que os jogos deste ano começarão com um participante a menos.”

Toda sua coragem desapareceu. Sabia que aquilo era verdade, muitas vezes tivera que assistir aos jogos com um ou dois participantes a menos. Não que tivesse medo da morte; Preferia morrer de um jeito polemico, esfregando verdades e servindo de exemplo, do que com uma flecha no pescoço. Mas ela sabia bem que, se fosse morta, a arena começaria com 22 tributos. Aquele idiota também acabaria morrendo.

- Eu entendi... – Sorriu um pouco mais calma, fazendo-o sorrir também.

“Ainda bem. Vou mostrar o quarto e como tudo funciona. Se você não aparecer no jantar na hora certa eu vou me encrencar.”

Sinceramente, não estava com vontade de aprender ou jantar, mas decidiu cooperar com ele. Sentiu-se extremamente entediada ao vê-lo mostrar cada quadro da parede, cada desenho da cortina. Para quem não queria estragar o lençol, ele escrevia bastante. Quando estava prestes a dormir em pé, se surpreendeu ao visitar o outro cômodo do quarto; Um camarim próprio! Tantos espelhos, gavetas, maquiagens, roupas... saias. Revirou os olhos ao notar que a grande maioria era saias e vestidos. Algo que deixaria as garotas de qualquer Distrito nas nuvens, mas a enojava. O pior era que ela ainda estava vestindo aquela roupa de menininha.

- Não tem calças?

Ele abriu mais uma das milhares de gavetas, revelando um compartimento entupido de calças.

- Agora sim estamos falando minha língua. Sinto que posso derrotar qualquer um com essa belezinha.

“Você é uma garota estranha.”

- Sério? – Deu de ombros – Agora já tá bom. Vou me trocar.

Sentiu-se extremamente decepcionado por ser empurrado. Não que quisesse vê-la se trocar, longe disso. Apenas queria mostrar mais coisas e passar mais tempo com a morena. Caminhou desanimado até a bandeja e o copo quebrado no chão, só então reparando no que fizera; Havia escrito em um lençol de seda, quebrado uma xícara antiga e manchado um colchão caríssimo! Estava prestes a chorar. Morreria, no mínimo. Levaria um tiro assim que chegasse à Capital, e toda sua família também.

- O que foi? – Só então percebeu que estava parado ali por um bom tempo. Hellins já estava vestida, e pelo cheiro, havia tomado um bom banho antes; Vestia uma calça jeans preta, com alguns acessórios em formato de lua decorando o bolso direito. Uma blusa roxa de manga curta com desenhos de flores. Um tênis branco simples, com o cadarço escondido por dentro. Tudo bem básico comparado ao estoque – Tá preocupado com essas manchinhas? Relaxa.

Ela pegou a jarra com o liquido verde e despejou ainda mais por tudo ali – Diga que a garota histérica fez isto – Fez questão de jogar tudo no que ele escrevera, deixando ilegível – Certo?

Ela era incrível. Ele queria dizer isto, mas infelizmente não podia.

- Vamos?

Assentiu mais feliz do que nunca, fazendo-a sorrir também.

--

Quando chegou ao restaurante do trem, Hellins sentiu todos os pelos de seu corpo se arrepiar. Lembrou-se que Eltyn a odiava, e, provavelmente, Kysei também. Sinceramente ela pouco se importava com o loiro; O sentimento era recíproco com prazer. Mas, se o moreno também a odiasse...

Preferia nem pensar nisso.

Direcionou-se até a mesa onde todos estavam sentados, notando que era a última a chegar. Puxou a cadeira e sentou-se o mais longe possível do seu desagradável acompanhante excêntrico, lançando um olhar de reprovação à ele, como sempre. Olhou Finnick, Annie, Hends, que foi logo se distanciando, e quando seus olhos chegaram até seu companheiro de arena, ela voltou a olhar Finnick.

Era mesmo uma idiota covarde.

- Bem, agora que todos estão aqui, vamos começar – O mentor falara. Não com um tom autoritário ou grosseiro, mas sim, alegre – O que vocês sabem fazer?

Essa era a pergunta que ela tanto temia. Por isso aproveitou para virar seu prato, enchê-lo com comida, e deixar sua boca ocupada e indisponível.

- Kysei...?

O garoto pareceu pensar na pergunta, o que deixou Hellins intrigada; Ele era bom em diversas coisas, não precisava ficar relutante. Mas não, ela não se atreveu a olhar para ele.

- Acho que sou veloz, não tenho certeza – Deu de ombros, comendo mais um dos pãezinhos com queijo da mesa – O que acha Henhen?

Ela quase engasgou com a pergunta. Quando olhou para ele, viu a mesma cara preguiçosa e calma de sempre. Não havia nem um pouco de irritação ou ironia em sua voz.

- Não tá bravo comigo? – Precisava ter certeza.

- Não.

- Por quê? – Estava perplexa. Sentia-se ridícula por ele não estar.

- Por que eu estaria?

- Metade do mundo acha que te bati de graça, a outra metade tem certeza disso!

- E você bateu? – Ela negou – Então. Não tem porque eu ficar.

Hellins não sabia se o matava ou ficava alegre, sinceramente.

- A pergunta, por favor... – Finnick estalou os dedos, fazendo a morena voltar à realidade e corar. Teve que repassar tudo em sua mente para se recordar da pergunta.

- Ah, sim. Ele é bem veloz, duvido muito que algum dos tributos ganhe dele neste quesito.

- Tão veloz que levou um soco agorinha mesmo – A conversa, que estava perfeita, se tornou desagradável assim que aquele loiro abriu a boca. Até mesmo Finnick achou aquilo irritante – O que foi? É a verdade.

E então, Kysei parou de comer. Por um momento todos pararam junto com ele. Claro, menos Hellins. A morena deu de ombros e começou a encher um copo de suco. Uma pena, ela adoraria ver a cara do loiro quando tudo ficou em silêncio; Sentiu como se o Ewheart fosse se levantar agora mesmo e quebrar sua cara. Até um dos pacificadores o salvar, ele, no mínimo, levaria alguns socos. Doce engano; Kysei começou a rir. Não uma risada de raiva ou falsa. Uma risada natural, superior. Seus olhos demonstravam que poderia acabar com o loiro agora mesmo, mas não faria absolutamente nada. Não por medo e outro motivo, mas por sentir que não valeria à pena. Aquilo, para ele, foi pior que qualquer agressão física.

- Bem, podemos voltar ao assunto que decidirá suas vidas? – Finnick, que riu um pouco também, voltou ao foco principal. Todos ficaram quietos, prestando atenção – Ótimo. E você, Hellins? Sabe fazer o quê?

Por pouco ela não engasgou outra vez. Sua mente vasculhava a mínima qualidade para que pudesse aumentar, se gabar, e assim escapar dessa. Claro que isto era uma péssima idéia; Quando estivesse na arena, rodeada de competidores capazes de manusear arcos, machados, espadas e outras armas mortíferas, sua mentira apenas serviria para lhe assombrar enquanto se debatia com um furo no peito. Orgulho contra sensatez. É melhor fingir tomar seu suco e enrolar um pouco mais.

- Hellins...? – Tentou o mentor outra vez.

Certo, o suco acabou. E agora? E agora?

- Bem, eu sei muita coisa – Começou avoada, mexendo no canudo recém-usado – Sempre fui boa, melhor do que meu irmão. Sabia que já recebi vários elogios?

- Boa em...?

Abriu a boca o mais lentamente possível, levantando o dedo para enumerar suas extensas qualidades inexistentes. Por sorte, bem no momento em que ela seria obrigada a falar algo, Hends chegara com um bilhete. Entregou para Annie, que leu um tanto demoradamente até se pronunciar:

- Vai começar a reprise... – A voz da garota saiu quebradiça e sutil. Annie também era mentora; havia ganhado os jogos recentemente, e, infelizmente, inúmeros problemas psicológicos também. Uma garota tão frágil e delicada. Finnick com certeza fora o fator chave de sua vitoria, por isto Hellins não podia decepcioná-lo.

E pelo olhar dele, ela já havia.

Todos se levantaram da mesa e partiram até o outro compartimento do trem; Uma sala elegantíssima, com um sofá de couro autêntico e uma televisão luxuosa e exagerada. A morena agradeceu o ruivo silenciosamente antes de entrar, correndo após ver que os espaços estavam sendo ocupados e Eltyn não havia se sentado ainda. Passou na frente do loiro, empurrando-o levemente e preenchendo a última vaga. O rosto irritadiço de Freederic valeu o esforço. Vê-lo em pé lhe satisfez completamente.

Infantil, ela? Talvez.

- Quero que vocês prestem atenção e memorizem os mais perigosos e astutos – Aquele aviso a despertou, forçando-a olhar para a tela – Desconfiem de todos.

Preparou-se mentalmente ao ver o logo da Capital; Era agora.

A primeira colheita era, obviamente, do Distrito um. Diferente dos outros, quando o nome Fenix Trint fora sorteado, todos a aplaudiram com vigor. A morena acenou com entusiasmo; Tinha olhos verdes e corajosos, diferente da encenação de Hellins. Seu sorriso não abandonou seu rosto em momento algum.

- Perigosa – Anotou a Eevee mentalmente.

O tributo masculino também foi muito aplaudido, mas não tanto quanto a garota. Um loiro extremamente forte e carrancudo subiu ao palco; Erick Helbick. Por seu porte ele parecia ter dezoito anos. Tinha cabelos curtos e bem cortados, e também se vestia bem. Bem até mesmo para um morador do Distrito um.

- Este sabe manusear espadas. Olhe suas mãos – Finnick comentou. Todos concordaram, mas, sinceramente, Hellins não viu nada.

- Perigoso.

O Distrito dois foi o próximo; Catherine Forks foi sorteada. Hellins até sorriu ao ver a imagem da garota; Magra, pálida, ingênua. Imaginou a garotinha – que deveria ter doze anos – tentando matar Erick. Quando pensou em comentar isto, viu outra se oferecer em seu lugar. Berenice Forks. Sim, essa sim lhe causou arrepios. A garota de dezesseis anos era completamente o oposto da irmã.

- Perigo, perigo.

Mas a surpresa mesmo foi quando Clark Forks foi sorteado a seguir. A dupla do dois eram irmãos! Um garoto igualmente loiro e forte, praticamente outro Erick. Seu sorriso provocou euforia completa, e Hellins teve certeza de uma coisa; Os patrocinadores já tinham o seu favorito.

- Estou frita com estes dois – A morena comentou por acaso.

Ninguém respondeu, mas concordaram. Hellins tinha certeza disto.

O par do três não foi exatamente memorável ou surpreendente, mas Annie se encolheu ao ver o garoto; Harry Dends e Vivianne Scruld. Ambos aparentavam uma esperteza invejável. Um ruivo e a outra loira. Pouco notórios, mas a morena decidiu guardar seus rostos por segurança. Não podia confiar.

E agora era a vez deles.

Quase morreu de vergonha ao se ver no programa. Sua cara de garota patética e fraca encenando o contrário. Acenos forçados, sorriso ridículo. Sua vontade era a de achar o maldito controle e passar tudo ali rapidamente (Mesmo sabendo que era impossível). Sabia o quão abobalhada ficaria ao ver Kysei ser sorteado. Não queria ver.

- Passa logo. Passa logo. Lá lá lá, não quero ver. Acaba esse mico.

Cantarolou de olhos fechados até ver que seu mico havia acabado. Para falar a verdade, já estavam sorteando o tributo masculino do cinco! Enfim pôde se acalmar. Ou, pelo menos, até ver Denis Queniss subir ao palco. Aqueles cabelos louros, aquele corpo, aqueles olhos. O sorriso cínico e perfeito em seus lábios.

Quase podia imaginá-lo chamando-a de patinho.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? /o/



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