Transtorno Obsessivo Compulsivo escrita por Bonnie


Capítulo 2
Baby did you forget to take your meds?


Notas iniciais do capítulo

Capítulo narrado pelo Kouyou.



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O céu ainda estava escuro, coberto pelo azul da madrugada. Eram quatro e meia da manhã quando o relógio despertou e meus olhos se abriram automaticamente. Eram assim todos os dias, até mesmo nos finais de semana.

Não era uma rotina normal como a de um trabalhador que tem de levantar cedo, atravessar a cidade para chegar ao seu local de trabalho e ser submisso a um salário precário e a um chefe com uma vida amorosa fracassada. Era uma rotina a qual você se vê totalmente dependente dela, que nem com todas as suas forças você é capaz de largar. É mais que uma rotina, é um vício, um medo, uma maneira enlouquecedora de viver, uma doença, uma rotina a qual é capaz de te destruir, se for da vontade dela.

As poucas pessoas que passavam pelas ruas pareciam ocupada demais para notarem alguém como eu caminhando por entre elas. O vento frio batia contra o meu rosto, fazendo com que eu me encolhesse contra o tecido grosso do casaco pesado sobre o meu corpo. Embora fossem poucas, elas eram apressadamente rápidas em seu caminhar, sufocadas em suas próprias respirações aceleradas, tropeçando freqüentemente em seus próprios pés.

Todas elas que ali passavam tinham uma própria rotina normal, não exclusivamente suas, mas basicamente iguais as de um mundo todo. Uma casa para cuidar, um emprego, filhos – talvez -, uma família e todas as outras coisas normais que pessoas normais, de um ponto de vista comum, podem ter. Já eu, não tinha nada disso.

Não tenho mais uma família, faz algum tempo, pois ela parecia me temer. Nunca fui capaz de me manter em um emprego por muito tempo, minha “doença” não permite que eu tenha essa “mordomia”. Filhos? Homens não os podem gerar. Tudo que me restou foi uma casa, ela me deixa um pouco mais perto das coisas normais.

Nunca realmente me importei com o fato de estar praticamente sozinho o tempo todo. Por toda a minha vida nunca fui do tipo muito sociável e popular. Não tive muito amigos na escola e dos poucos que tive apenas um ainda lembra-se de mim. Não fico realmente abalado com o fato de a minha família ter me deixado fora das fotos familiares e de nem me ligarem no meu aniversário, de certa forma, essas atitudes são as melhores coisas que eles poderiam ter feito tanto pra mim quanto para eles. Eu nunca me importo com nada, estou acostumado com as perdas.

Eu me permito dar uma volta pelo bairro todos os dias, exatamente as quatro e trinta e seis da madrugada, por pelo menos seis anos. Não é algo cansativo ou incomodo, eu já me acostumei, afinal.

Por mais que eu more em Tóquio, não há nada deslumbrante que me faça dizer que meus “passeios” são sempre diferentes. Não moro no vórtice do furacão, moro na parte onde os estragos já foram avaliados e não podem causar danos maiores em nada realmente útil para o crescimento do país. Em meio da densidade demográfica de Minato, me perco observando os mesmos lugares, reconhecendo os mesmos rostos estranhos e buscando novos ares que eu sei que nunca virão.

Por mais que eu more em Tóquio, não há nada deslumbrante que me faça dizer que meus “passeios” são sempre diferentes. Não moro no vórtice do furacão, moro na parte onde os estragos já foram avaliados e não podem causar danos maiores em nada realmente útil para o crescimento do país. Em meio da densidade demográfica de Minato, me perco observando os mesmos lugares, reconhecendo os mesmos rostos estranhos e buscando novos ares que eu sei que nunca virão.

Olho para o relógio em meu pulso, são exatamente cinco e trinta e seis, e eu estou parado em frente à porta do meu prédio. Pontualidade é o meu forte, modéstia parte, não me permito chegar atrasado e se isso acontece alguma fez acabo entrando em um curto circuito. Mas raramente acontece algum imprevisto que me faça atrasar durante o meu passeio matinal, e quando acontece o meu “curto” sou obrigado a correr pelas ruas, esbarrando em quem ou que atravessar a minha frente, tentando ao máximo recuperar o tempo perdido.

Subo rapidamente a estreita escada e sem nem ao menos ofegar já me encontro no interior do meu pequeno e confortante apartamento. O lugar onde eu realmente posso me sentir seguro e feliz. Simples e perfeito, como a minha vida deveria ser.

Tiro o casaco que cobre meu corpo e jogo sobre o sofá. Dirijo-me a passos lentos até o banheiro. Acendo a luz do pequeno cubículo azulejado, a apagando logo depois, repito essa tarefa três vezes, começando a minha higiene pessoal logo em seguida. Abrir a torneira, escova, pasta, água, escovar, cuspir, escovar, cuspir, enxaguar quatro vezes.

Molhar o rosto, sabonete, massagear, enxaguar, secar, molhar novamente, secar outra vez. Ir até a privada, levantar a tampa, botão da calça, depois o zíper, abaixar a calça, a cueca logo em seguida, segurar, urinar, sacudir. Tirar a calça e a cueca juntas, os sapatos também, dar descarga, ligar o chuveiro, tirar o moletom, desabotoar a camisa – depois tirar -, primeiro o pé direito, depois o esquerdo. Verificar a temperatura da água, entrar debaixo do chuveiro, xampu, cabelo, esfregar, enxaguar, sabonete, ombros, tórax, costas, braços, partes íntimas, pernas, pés, axilas, enxaguar, sair. Primeiro o esquerdo, depois o direito. Enrolar a toalha, ir para o quarto.

Não lembro exatamente quando foi que adquiri esse transtorno, talvez fosse muito pequeno para lembrar, ou desligado demais para me dar conta. Mas mesmo assim existem fatos que eu sempre irei ter armazenado como lembranças. Podem não ser as melhores lembranças do mundo, as mais felizes ou bonitas, porém, são as que eu tenho, são minhas e de mais ninguém, e só eu posso alcançá-las – quando eu bem entender.

Quando eu tinha idade o suficiente para lembrar, não era como se eu não sofresse alguma com alguma doença, era mais como uma mania, uma mania que talvez com o tempo passasse, ou não. Algo que me diferenciava dos demais, quase nunca de uma maneira boa, mas que mesmo assim fazia com que eu me sentisse de uma forma confusa demais, melhor que os outros. Não me sentia mal em não ter muitos amigos, eu gostava de apreciar os poucos que tinham, e isso que era importante, que fora um dia importante.

Cueca limpa, camiseta, meias, calça de moletom cinza, blusão – grande demais pra mim – branco, secar os cabelos, pentear, perfume.

Cada passo era seguido diariamente, sem nenhum erro ou esquecimento. Se adaptando as estações do ano, as trocas de horários e as necessidades. Se adaptando a mim assim como tive de me adaptar a elas. Sendo todas as manhãs assim, todos os dias assim e não seria diferente tão cedo.


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Notas finais do capítulo

Ok, um aviso pra quem for acompanhar a fic (se alguém realmente parar pra ler essa bagaça):
Não garanto várias atualizações na semana, talvez elas só ocorram aos finais de semana. Por mais que eu queria estar em constante desenvolvimento da história, faço duas faculdades e não estou em férias em uma delas.
Mas posso garantir que não serão capítulos curtos, por mais que eu não goste de capítulos longos. E sempre que eu tiver a oportunidade de atualizar, o farei.
Acho que é isso.
AH! Talvez, a princípio, vocês achem o comportamento do Kou meio estranho e exagerado, mas ao decorrer da história você vão entender melhor o porquê disso.
Beijos.



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