Depois de duas semanas que esta naquela cidade, estava quase mofando em casa. Devo ter engordado alguns kilos, mas nem ligava pra isso. Queria sair, espairecer, mas só conhecia o Pedro. Ele me chamava pra ir na pista de skate, eu ia e acabava aí.
-Vó, vô, vou arranjar um emprego. - disse convicta, parando na frente do dois com as mãos na cintura.
-Oh, sério? Então hoje é um belo dia. Aproveite que sábado é um pouco mais movimentado.
-Beleza, tchau - Disse correndo pra fora, enfiando meus fones atolados no ouvido tocando Someday do The Strokes, que eu era apaixoonada por.
Andava no ritmo da música, e ás vezes fingia umas batucadas no ar com os olhos fechados. Sim, tinha todo o feeling.
Passei por várias lojas, e não via nenhuma plaquinha de "precisa-se de ajuda". Estava quase desistindo, quando ví uma loja de artigos pra pets que tinha aquela placa. "Vai ser aqui mesmo" Entrei, desliguei o iPod e falei com um homem que estava lá lendo jornal e falando no telefone. Era um senhor não muito senhor, aparentava uns 40 anos ou mais, sei lá. O cara me viu, desligou o telefone e abaixou o jornal.
-Posso ajudar? - Abaixou os óculos que já estavam quase na ponta de seu nariz, af.
-Na verdade, eu que pergunto isso pra você. - Ele me olhou confuso.
-Olha, vou ser bem direta. Você quer uma pessoa pra ficar aqui, e eu quero um emprego. - Fui direta, e acho que se assustou.
-Bem, bem, na verdade preciso te avaliar.
-Deixa te fazer uma pergunta: faz quanto tempo que aquela placa tá ali?! - Apontei pra porta.
-Be-bem alguns dias.
-Ótimo, se você tivesse que me avaliar, sinal que tinha mais candidatos. Se tivesse outros candidatos, você já teria tirado aquilo dali. Olha, sabemos ambos que você vai me dar o emprego, então ótimo. Começo quando?
Ele me olhava abismado, e quando ia dizer algo o interrompi.
-Tá, eu começo segunda. Que horas abre aqui mesmo? - olhei pra loja procurando algum banner e vi que eram as 9h. - 9h, segunda ás nove estou aqui, ok? A propósito, me chamo Sophie.
Sorri e saí da loja, e o cara no final das contas só concordava com o que eu dizia. Voltei pra casa tão rápido, e alegrei meus avós com a notícia. Quem estava mais feliz era eu, pois não iria mofar e ganharia por isso. há.
Peguei uma maçã na fruteira e saí em direção a pista de skate. Sabia que Pedro estaria por lá, então fui enxer seu saco. O avistei na piscina e sentei-me na borda. Tinha alguns outros garotos com ele, inclusive um loirinho de olhos claros, aba reta e xadrez que me olhava. Eu até que dei mole pra ele nos olhares, e Pedro viu isso, nem veio falar comigo enquanto olhava pro garoto.
Comecei a rir sozinha e acabei de comer minha maçã. Vi que Pedro estava muito putinho porque eu ficava paquerando o loiro. Qual é, ele era gatinho! Não podia evitar. O garoto parou de manobras e finalizou a piscina sentando do meu lado.
-Vem sempre aqui é? - Disso colocando o skate do seu lado. Observava Pedro e parei pra respondê-lo.
-É, tecnicamente todos os dias.
-Eu te vejo aqui as vezes.
-Então sabe que venho aqui sempre ué. - Disse meio óbvia.
-Era só pra começar um xaveco. - Ri com aquilo. Coitado do gatinho, não colou amigo.
-É, desculpa informar mas não deu certo! Não sou desse tipo.
-Tô sabendo... Eai, quer sair hoje a noite? - Colocou a mão na minha cintura, que estava descoberta nas costas.
-Wow, wow wow. Não vamos negar que sua mão é gelada. - Dei uma desculpa só pra ele tirar a mão dali. Odeio que me coloquem a mão, de verdade. Olhei pra frente e vi Pedro indo pra outra pista, com uma cara de bravinho.
-Bem, eu tenho que ir ali... é... atender o telefone! - Coloquei a mão no bolso
-Mas ele não tocou - O gatinho disse me encarando e apontando pro meu bolso.
-É que, que está no vibratório. Tenho que ir, tchau - Sorri e saí em disparada fingindo atender o telefone. Olhei pra trás e vi que o garoto tinha voltado pra pista. Guardei o celular, murmurei um "idiota". Como podia acreditar naquela desculpa esfarrapada tão velha assim? Nossa.
Fui atrás do Pedro, afinal tinha vindo irritá-lo né. Sentei na pista do lado da que ele estava. Enquanto ele ficava deslizando nas bordas eu falava com ele. Só nas bordas do meu lado, assim ele me ouvia.
-Ué, não vai me falar nada hoje? - Ele ia pra lá, e quando voltava eu falava outra coisa.
-Hoje eu vim aqui por sua causa e você nem me dá moral.
-Queria te contar uma coisa, mas parece que você tá tãaao ocupado e preocupado com isso que nem olhar que estou aqui, olha. - Foi e voltou.
-Eu arrumei um emprego -Disse sorrindo e vi ele se esburrachar na pista.- PEDRO?! - Vi que estava bem e comecei a rir desesperadamente. O garoto veio e sentou do meu lado.
-Você tá falando sério? Sério mesmo? - Era tão difícil assim acreditar? Porra...
-Sim, em uma loja de Pets. Legal né? - Eu incrivelmente estava feliz de verdade com aquilo. Tudo que eu falava, falava sorrindo. Coisa estranha pra mim, é.
-Ahn isso é... isso é bom pra você né. - Ele sorriu e logo fechou a cara, olhando pro nada e depois pro shape. - Vai sair com o Hugo hoje? - Olhou pro nada. Se recusava a cruzar olhar comigo.
-Quem é Hugo? - Eu realmente não sabia quem era, mas enfim.
-O cara que você tava paquerando ali na piscina. - Aponto rapidamente e começou a balançar as pernas.
-Ah...- ri abafado - Não vou sair com ele.
-Ahn... legal.
-Por que é legal eu não sair com ele? - O garoto ficou meio sem jeito de responder.
-Sei lá, ai você fica em casa, segura né. Longe de perigos e... sabe lá né quem tipo... pode fazer alguma coisa na rua. O governo aconselha ficar em casa sabe? Então é tipo... ahn, melhor, acho. Então é legal que, você fique em casa pra ficar segura longe dos bandidos e não se machuc... - Comecei a rir da enrolação que ele estava fazendo.
-Fala sério Pedro.
-Eu tô falando. Te proteger é sério, tá bem? Quero tirar essa ideia de suicídio da sua cabeça, ela me assusta. - Droga, ele tinha que falar nisso. Odeio esse assunto, ele só diz respeito a mim!
-Pra mim já chega. - Levantei e saí dali andando não sei pra onde. Escutava Pedro gritar meu nome, e quando já estava um pouco distante, pude sentir ele puxar meu braço. Eu realmente estava brava por ele ter dito aquilo.
-Desculpa, tá bem?
-Desculpa? Desculpa? Você diz as coisas que eu falei que não vou mudar de ideia, e disse pra você não falar mais disso comigo porque é coisa que só diz respeito a mim. Mas você não soube me respeitar. Olha Pedro, esse negócio de me proteger foi a pior coisa que você poderia ter pensado que conseguiria fazer.
-Por que a pior? Eu quero te proteger, beleza? Eu quero cuidar de você, como nunca cuidei de ninguém. Ninguém nunca esteve tão próximo a mim durante tão pouco tempo. Eu falo mais coisa com você do que com a minha mãe. Você me conhece mais do que muitas pessoas que cresceram comigo aqui nessa joça, tá legal? Você tem os olhos lindos, uma boca de dar inveja em qualquer garota e uma personalidade forte que faz qualquer um se apaixonar por você. - Ele estava alterado e falava tudo de uma vez só. - Se matar, vai ser a pior coisa que você poderia pensar em fazer. Você pode ter uma vida incrível, mas só você que pode decidir isso. É você que vai fazê-la ser incrível ou não.
-Pedro eu... - Não tinha palavras. O garoto havia acabado de dizer várias coisas sobre mim que nem eu mesma me tocava que tinha aquilo. "Você tem os olhos lindos, uma boca de dar inveja em qualquer garota e uma personalidade forte que faz qualquer um se apaixonar por você." Será que ele estava apaixonado por mim? Será? - Eu preciso pensar. De verdade. Preciso processar tudo isso que você acabou de me dizer então... Ai... Eu preciso ir. - Ia andando com as mãos na cabeça, toda desnorteada.
-Sohpie! Sophie espera! - Ele me puxou pelo braço me fazendo ficar frente a frente com ele. - Quer ir lá em casa? Preciso montar um shape novo e, não tenho ideia de como fazer. Quer me ajudar? - Ele agora falava e sorria entre as palavras. Ai droga eu estava percebendo cada detalhe dele, saco!
-Tá bem eu vou. Mas que fique claro que não sei montar um shape! - Seguimos rindo pra sua casa.
-Mãe, essa daqui é a Sophie - Visualizei uma mulher loira de olhos claros, linda e super simpática ao me cumprimentar. Me chamou de "famosa Sophie". Deus!
-Beleza mãe, a gente vai subir. Qualquer coisa chama tá? - Fomos e UAL aquela casa era incrível. Era no quarto dele, atrás de uma cortina, tinha uma parede cheia de adesivos de marcas e uma mesa com um shape liso. Passei a mão por ele maravilhada com o que via. Uma madeira gostosa e macia. Me dava vontade se subir nela. Fechei os olhos e continue com a mão. Ele colocou sua mão sobre a minha enquanto estava atrás de mim. Pude sentir sua respiração em meu pescoço. Curvei o mesmo para o lado contrário que seu nariz estava. Pra falar a verdade, estava gostando daquilo, tanto é que deixei rolar. Permaneci de olhos fechados e senti um braço dele em minha cintura. Pedro beijou levemente meu pescoço e sorri abafado com aquilo. Afastou meu cabelo solto com alguns dedos, e me virei bruscamente de frente pra ele, agora cara a cara. Era incrível como ele conseguiu amolecer meu duro coração. Destrancou as 7 fechaduras que tinha aquele pedaço de músculo vazio e o encheu de vontades. Vontade de tê-lo, vontade de abraçá-lo por um tempo indeterminado.
-Pedro a gente tem que...
-Shhh - Ele me calou com o dedo indicador sobre minha boca. - Não fala nada só... só me beija Sophie. Só, só me beija.Correspondi seu beijo e me deixei levar pela sincronia de sua língua. Era uma coisa incrível. A maneira que ele me segurava, e passava a mão por meu rosto como se estivesse me acariciando eram, incríveis. Envolvi meus braços por seu pescoço e me sentei na mesa. Pedro procurava uma maneira de se encaixar entre minhas pernas. O puxei pra mais perto e percebi que ele sorriu, com os lábios ainda colados aos meus. Aquele garoto estava fazendo minha cabeça. Puxei algumas mechas de seu cabelo e ele acariciava minhas costas. Estava realmente envolvida com aquilo tudo. Finalizei o beijo com alguns puxões no seu lábio inferior. Me olhou carinhosamente.
-Sabia que isso ia acontecer, só não sabia quando. - Idiota, tinha tudo planejado.
-Preciso te falar uma coisa. Só que você não pode se assustar de fugir de mim.
-Fala. - Sua voz quase não saiu, isso me fez sorrir.
-Eu acho que tô gostando de você, de verdade. - Falava baixinho, enrolando uma mecha de seus cabelos lisos e escuros em meu dedo. Pedro beijou a extensão de meu pescoço até meu ombro.
-Por que eu haveria de fugir da garota que eu tô apaixonado desde o dia que a vi naquela pista? Você já é importante pra mim de uma maneira que não pensei que alguém um dia poderia ser, marrenta.
Sorri e o abracei forte, deixei por acidente algumas lágrimas escorrerem de meus olhos. Acho que ele sentiu, pois olhou pra mim rapidamente, querendo cuidar de mim.
-Ei, tá chorando? - Limpou meu rosto - Calma, ei, calma. Eu tô aqui e disse que não ia fugir de ti, não disse? - Assenti - Então por que tá assim?
Respirei fundo pra dizer aquilo pra ele. Mas, ah, já havia dito tanta coisa, já podia considerá-lo meu melhor amigo.
-Depois de tanto tempo, você, logo você, conseguiu fazer com que meu coração de pedra sentisse algo por alguém. O que você tem, hein garoto? Que faz com que eu me sinta totalmente livre pra te contar todos meus segredos?
Ele sorriu e acariciou meu rosto com 2 dedos. Fechei os olhos para apenas sentir seu toque macio.
-Eu tenho um coração aberto pra você, Sophie. Sabia que você não era toda marrentinha átoa, claro. Olha pra mim - Abri os olhos - Eu não vou te deixar, tá bem? Não vou.