ABRIL 2010

- Hey, Liam – ela parou na minha frente e eu levantei o olhar até parar em seus olhos absurdamente verdes.

- eu... eu sinto muito, não devia ter jogado isso tudo em cima de você de uma só vez e... – disse meio gaguejando e me sentindo um bobo.

- ei, ei – deu uma risadinha e colocou as mãos em meu rosto – pode ficar calmo, ok? Não é como se eu fosse te morder ou alguma coisa assim... – soltei uma risada pelo nariz e olhei para baixo mais uma vez – não vou fazer nada disso, aliás, porque acho que também estou apaixonada por você... – disse meio sussurrando e voltei meus olhos em sua direção, sem acreditar no que estava ouvindo.

- verdade? – disse colocando minhas mãos em sua cintura e franzindo a testa.

- o que? É tão difícil assim que me deixei levar pelo seu charme, Payne? – fingiu de brava e colocou as mãos na cintura, bem acima das minhas.

- não – dei uma risada – é só que eu nunca imaginei que eu pudesse te ganhar fácil assim com essa minha lábia toda – ela deu uma gargalhada e eu me aproximei dela, deixando nossos rostos a apenas alguns centímetros de distância.

- é, você conseguiu – disse rindo um pouco ainda e então selou nossos lábios.

SAMANTHA’S P.O.V

Encontrei com Scar em seu armário depois da aula de matemática e agradeci mentalmente por ela estar sozinha.

- oi – forcei um sorriso

- oi – disse um pouco confusa – eu esqueci alguma coisa na sala?

- não, não – soltei uma risada pelo nariz – só queria conversar com você, não posso?

- claro que pode, oras – fechou seu armário e abriu um sorriso para mim – só segura esses cadernos aqui pra mim enquanto eu procuro uma folha na minha mochila?

- claro – ela colocou três cadernos pesados em meus braços e seguimos pelo corredor.

- mas que droga! Aonde foi que eu coloquei esse diabo de folha?  - remexia no interior de sua mochila como louca.

Levantei meu olhar quando chegamos na porta do refeitório, e percebi cinco pares de olhos me encarando da mesa do canto.

- er... Na verdade eu queria perguntar se eu podia almoçar com você hoje, Scar... – disse meio sem jeito e ela levantou o olhar da bagunça de sua mochila, seguindo até onde o meu estava parado.

- hm... Problemas no paraíso? – concordei com a cabeça e soltei o ar pesadamente.

- nem me fale...

- quer conversar sobra isso? – me encarou por alguns segundos e eu finalmente neguei com a cabeça.

- é muita coisa pra pouco tempo de almoço...

- tudo bem, mas sabe que pode me contar quando quiser não é?

- sei sim e obrigada. Por tudo – dei um sorriso.

- vem, Clary já está lá na mesa – demos alguns passos e ela deu um pulo – ahá! Graças a Deus achei a folha! – dei uma risadinha e ela pegou os cadernos desajeitadamente de meus braços.

Sentamos – fiz questão de pegar um lugar de costas para os outros – e Scar me apresentou sua amiga, uma loirinha engraçadinha que usava óculos, e que deu um enorme sorriso na minha direção.

- pode sentar com a gente quanto tempo precisar, ok? – Clary disse depois que eu resumi, bem rapidamente, o motivo de nossa briga.

- obrigada – sorri em sua direção – mas vamos falar de outro assunto, antes que eu exploda de tato pensar nisso – sorri forçado (eu estava fazendo muito isso hoje) e  Scar deu de ombros.

- e então... vocês viram Pretty Little Liars ontem?

***

O despertador de meu celular tocou e eu esbravejei, rolando pela cama enquanto amaldiçoava a voz de Katy Perry por falar sobre coisas tão banais sobre uma sexta-feira anoite na minha preciosa manhã.

Ela parou assim que apertei furiosamente um botão do celular e eu me sentei na cama, soprando o cabelo que caía em meu rosto.

A semana tinha passado mais divagar do que eu imaginava ser algum dia possível, trazendo uma sexta-feira acinzentada e triste, sendo que  nada de bom tinha acontecido nesses quatro dias. E quando eu digo “nada”, quero dizer nada mesmo!

Quer dizer, eu ainda continuava sem conversar com os meninos e Ellie. E, por algum motivo não aparente (cof cof), eles mal apareceram aqui em casa essa semana, ou, quando apareceram, era exatamente na hora em que eu estava saindo, sendo que quando eu voltava encontrava a casa em silêncio.

Coincidência, talvez...

Vi Liam ainda menos: ele sempre saia de perto (quase discretamente) quando eu tinha que falar alguma coisa importante com Harry na escola e sempre me esperava estar bem longe de casa para ir até lá.

Levantei preguiçosamente e cheguei a pensar  em mandar uma mensagem à Eleanor, perguntando como tinha sido sua noite de aniversário de namoro com Lou. Tirei o pensamento rapidamente da cabeça e fui em direção ao armário, pegando a primeira calça jeans que vi na frente e uma blusa listrada.

Joguei todo meu material dentro da bolsa de escola junto com o que eu julgava necessário, que no caso era meu celular, iPod, um resto de pacote de chicletes e dois absorventes, porque sim, para melhorar tudo eu estava de TPM e não sabia quando meu corpo iria decidir dar início ao meu (YAAY!) ciclo.

Por ultimo, peguei um exemplar de “A Hospedeira”, que eu estva lendo (pela segunda vez, já que não me lembrava da primeira, se é que você me entende) e desci as escadas lentamente.

Sentei na mesa da cozinha e escutei Harry me dar bom dia. Dei um pequeno sorriso em sua direção e enchi meu copo de leite, misturando com achocolatado logo depois. Puxei outra cadeira e coloquei meus pés em cima dela, abrindo o livro onde o marcador indicava que eu tinha parado. Dei uma longa golada em meu leite e voltei meu olhar para o livro.

“Ian nos fuzilou com um olhar de tal fúria que Sunny tremeu de pavor”. Foi o que tudo o que consegui ler antes da voz estridente de Harry ecoar.

- dá pra parar com isso? – levantei os olhos do livro e levantei uma sobrancelha.

- o que? Quer se sentar aqui? – perguntei confusa tirando a perna da cadeira da minha frente.

- não! Com isso! – aponteou para o livro e passou as mãos no cabelo, nervosinho.

- o que tem meu livro? – observei a capa tentando encontrar alguma coisa.

- não é esse livro, Samantha... é, você e os livros – fiz uma cara confusa e ele bufou, como se eu fosse idiota de mais para entender o que quer que ele estivesse falando – você lê em todo lugar: na hora do café, na hora do almoço, na ida pra escola, quando mamãe te obriga a ficar no mesmo lugar que eu por mais de dez segundos...

- e isso está te incomodando tanto assim? – continuei com a sobrancelha levantada

- não! É o fato de que já se passou cinco dias, cinco dias Sam, e você ainda não voltou ao normal comigo e com o pessoal.

“Foi uma coisa estranha – como se Kyle e Ian tivessem trocado de cara. Só que o rosto de Ian continuava perfeito. Bonito mesmo estando enfurecido”. E então sua voz soou novamente, mais desesperada do que antes. Pelo jeito eu não ia conseguir acabar esse parágrafo agora...

- viu? Está fazendo de novo... me ignorando!

- ah, por favor! – marquei o livro com o dedo – você quer que eu te ache o coitadinho da história agora?

- não, eu só quero minha irmã de volta!

- ah, por favor, Harry...

- é sério Sam... quantas vezes eu tenho que te pedir desculpas até você aceitar?

- será que você não entende? Eu preciso de um tempo para assimilar tudo, Harry...

- eu posso te ajudar com isso se você quiser. É só você... é só você me perdoar

- eu só preciso de um tempo... – repeti e me levantei, pegando minha mochila no chão e decidindo ir a pé sozinha para a escola.

 LIAM’S P.O.V

- eu não acredito que ela vai se sentar com aquelas duas de novo – Eleanor continuava reclamando ao meu lado – ela me trocou – estalou os dedos – simples assim...

- Eleanor, ela trocou a todos nós, então para de drama ok... – Zayn disse tirando os olhos do celular por alguns segundos.

- cala a boca. Todos vocês... não sabem o que é ter morado com ela nesses últimos dias. Se é que posso chamar de morar com ela... – Harry disse pensativo e Niall lhe deu um tapa.

- chega! Chega de fossa, gente! Eu também sinto falta dela, eu também estou me sentindo um idiota por ter feito isso com ela, mas a vida anda...

- o que quer dizer com isso? Que ela nunca vai nos perdoar?

- claro que não, Eleanor! – Harry deu um gole preguiçoso em seu suco – alguma hora ela vai ter que perdoar.

- vamos fazer uma aposta – me pronunciei pela primeira vez desde que tínhamos nos sentado – eu aposto que eu vou ser o ultimo a ser perdoado... – dei de ombros.

- Liam, sem piadas sem graça, ok? É muito cedo para isso... – Eleanor revirou os olhos e vi Sam se levantar da mesa no outro canto do refeitório.

Scott Ramond estava indo na sua direção, olhando diretamente em para Sam, enquanto ela andava com a cabeça baixa, muito preocupada em escrever algo no celular.

Dois segundos depois, seus corpos se chocaram e ele pediu desculpas, dizendo não ter visto ela indo em sua direção.

- babaca – disse baixinho, mas todos da mesa escutaram e seguiram meu olhar.

- ah, tudo bem – pude escutar Sam dizer ficando vermelha.

Ele abriu a boca para dizer alguma coisa para ela, quando Zayn gritou seu nome.

- te vejo por aí – ele disse depositando um beijo em seu rosto e saiu andando.

Sam veio andando em nossa direção e Zayn ficou boquiaberto com a atitude dela. A verdade era que nos últimos dias Sam agia como se não nos conhecesse.

- eu tenho que correr para falar com a professora de química... seja lá o que for você me fala mais tarde, ok?

 Ficamos calados olhando enquanto ela corria até a porta do refeitório.

- ok – Harry disse arrastando o ‘o’ – o que foi isso?

SAMANTHA’S P.O.V.

Eu não sabia porque eu tinha feito aquilo. Na verdade eu sabia sim: eu sentia falta deles. Muita falta.

Mas era aí que a coisa ficava ruim. Era pra eu estar com raiva deles, tanta raiva que não suportasse olhar em seus rostos, mas, pelo fato de sermos tão ligados desde pequenos, eu simplesmente não conseguia me sentir assim.

E aí tinha Liam. Eu ainda estava com raiva dele, mas sabia que se quisesse me aproximar dos outros novamente, teria que falar, ver e suportar ele viria como consequência, pois, assim como tinha escutado Harry conversando com ele no telefone um dia depois de eu ter descoberto tudo, eles não deixariam de ser amigos por causa disso e que Liam era como um irmão para ele e blá blá blá.

Viu? Tudo seria mais fácil se ele... sei lá, mudasse de país.

Entrei finalmente na sala de química e encontrei minha professora terminando de comer um sanduiche natural.

- eu posso voltar mais tarde – disse com um sorriso sem graça e ela fez sinal que eu me aproximasse.

- não se preocupe, Samantha. Eu que disse para você vir correndo aqui antes da quarta aula – sorriu e então apoiou os cotovelos na mesa – mas então... Sua nota caiu muito nessa ultima prova, Sam... e também no trabalho...

- eu só estou tendo uma semana difícil, só isso -  olhei para baixo.

- eu acho que está mais para você estar com dificuldade na matéria.

- talvez seja isso também – dei de ombros e ela seu uma risadinha.

- bom, eu posso te indicar algum aluno bom na matéria... ele ou ela serviria de professor.

- claro – disse com um sorriso falso me lembrando o verdadeiro motivo de minhas notas de química caindo: Liam. De novo essa peste. Não pelo fato de ter brigado com ele, mas pelo fato de que era ele quem estava me ajudando antes.

- ótimo, então – sorriu – acho melhor você correr para a próxima aula

****

O sinal para o ultimo horário bateu, e eu já ia comemorar quando me lembrei que o ultimo horário era educação física, e que estávamos no atletismo.

Segui para o vestiário e andei até onde Ellie estava parada, amarrando o cadarço de seu tênis.

- oi – disse jogando minha mochila em cima do banco, e procurando minha camisa e short dentro dela.

Eleanor ficou parada, quase de boca aberta, me olhando por alguns segundos até algo sair de sua boca.

- o-oi! – sorriu de lado.

- e então, como foi sua noite com Lou ontem?

- hm... foi maravilhosa nos divertimos muito... – falava pausadamente e eu finalmente olhei-a, encontrando seus olhos semicerrados em minha direção – me desculpa, Sam... Mas isso – fez sinal com o dedo entre nós duas – quer dizer que não está mais brava?

- bom – dei de ombros – você sabe que não é meio impossível ficar brava com a sua melhor amiga – ela deu um gritinho e pulou em cima de mim, me fazendo rir – droga, Ellie, você não deixa eu ficar brava com você – fiz um biquinho brincando e ela me abraçou de novo.

Parecia que eu iria ganhar muitos abraços até o final do dia, já que eu tinha resolvido, entre uma explicação e outra na aula de biologia, que não ia deixar que minha briga com Liam estragasse uma das coisas de mais valor na minha vida: minha amizade com Eleanor e os meninos.