Nos meus sonhos mais remotos eu ainda me vejo sendo a sua rainha e você o meu rei, ainda vejo nossas brincadeiras e nossas caricias, pena que aparece um pesadelo e estraga tudo, o nosso amor, a nossa amizade forte e principalmente nos estraga.

È pedir demais um conto de fadas? Para mim não, afinal a maioria das coisas ruins que podem acontecer já me aconteceram. Minha mãe, a única que me dava atenção, morreu, minha irmã viaja por ai e a mais ou menos um ano não tenho noticias dela, meu “pai” vive no trabalho, sinceramente não sei nem se lembra que tem filha, mas o pior fato que já me ocorreu foi a perda da pessoa mais importante da minha vida, meu melhor amigo, aquele que me ajudava em todas as horas, que me dava conforto e segurança, é uma história muito triste de ser contada, mas acho que preciso desabafar com alguém.

Não faz mais do que dois anos que isso aconteceu, nós tínhamos 15 anos, éramos muito unidos, acho que foi até por causa dessa união tão forte que a vida fez questão de nos separar, como todo adolescente estávamos em uma festa aproveitando a vida, nos divertindo, Justin (melhor amigo) tinha passado da conta, fiquei preocupada, resolvi então levá-lo para casa, estava o procurando, hoje eu acho que eu preferia não ter o encontrado, pois quando eu o vi ele estava conversando com seus amigos sobre como eu era ingênua, chata, arrogante, grossa, que só olha para o próprio umbigo, que não pensa em ninguém, não sabia porque fingia ser meu melhor amigo, achava que talvez fosse por pena, involuntariamente lagrimas escorreram dos meus olhos, fiz questão de entrar no ambiente, ele ficou chocado, lhe disse poucas e boas, meu coração estava em pedaços, sai de lá aos prantos, corri sem destino, quando vi estava em uma praça, sentei no primeiro banco que vi e desabei.

Acordei sentindo o sol bater em minha face, meus olhos estavam inchados, meu estado sentimental estava lastimável, não que a minha aparência estivesse muito melhor, fui andando lentamente até a minha casa, não tinha força nem vontade, mas obriguei-me a pelo menos ir para um lugar “seguro”, quando cheguei meu pai, pela primeira vez na vida se mostrou preocupado comigo, veio correndo e me abraçou com força e foi ali que eu desabei mais uma vez, as palavras simplesmente saiam da minha boca, depois foi tomada a decisão mais difícil e certa, abandonar tudo em Atlanta e ir morar em qualquer lugar bem distante dali, optamos pelo Brasil já que o conhecíamos bem, meus avó moravam lá.

Foram dois anos muito difíceis, agora infelizmente terei que voltar para o lugar de tantos sofrimentos, um lugar que trás de volta todas as imagens horríveis e as lagrimas de dor, não tenho escolha, meu pai tentou resolver as coisas da empresa daqui mesmo do Brasil, mas não deu certo, ele vai ter que voltar para lá e eu, bom, vou ter que ir junto. É minha vida não passa de um simples desastre natural.

Minhas malas estão em cima da minha cama, arrumadas, só esperando o motorista vir pega-las para colocar na mala do carro, eu estou sentada na poltrona perto da estante de livros do meu quarto, olhando tudo ao meu redor, com uma pequena esperança de que ainda possa haver um milagre.

– Filha, já está na hora, o James já está subindo para pegar suas malas. – Não conseguia o encarar, sempre odiei que me vissem chorando, não gosto de me sentir frágil. – Eu sei que ai ser difícil, mas uma hora ou outra você vai ter que superar isso.

– Eu sei... – Suspirei – Já vou descer ok?

– Ok, te encontro lá embaixo. – Ouvi a porta se fechar, dei um ultimo suspiro e levantei, sequei as lagrimas que ainda rolavam pela minha face, desci. Encontrei James subindo para ir pegar as malas, lhe cumprimentei e fui em direção a porta de casa, ou melhor da minha ex-casa.

Meu pai já estava lá, como sempre no telefone, um sorriso brotava em seu rosto, só ele para estar feliz com essa viagem, nunca gostou do Brasil, é lindo, mas ele diz que não é o lugar dele, a casa dele é em Atlanta, sempre fiz questão de ignorar esse comentário.

– O que houve?Nunca o vi tão feliz assim. – Comentei ao perceber que ele já tinha desligado o telefone.

– Nada demais – Ele acha que eu acredito, melhor deixar para lá, o que nós vamos levar já está empacotado, como James vai ficar no Brasil depois ele nos envia, as bagagens já estão no carro, só estava faltando entrarmos no carro.

A ida até o aeroporto pareceu uma eternidade, a viagem então nem se fala, no meio disso tudo acabei dormindo, acordei com o meu pai me cutucando, pois o avião já havia pousado.

Olá dor, decepção, e acho que mais dor. Merda de lugar.

–x-

Chegamos a nova casa, era bem grande e bonita e infelizmente bem perto da casa que morávamos antes, que era perto da casa do falso do Justin. Aff! Eu tenho que esquecer que ele existi, se não nunca vou superar a perda, e isso é tudo o que mais quero, não aguento mais dor.

Subi as escadas, fui em direção da porta que meu pai disse que era a do meu quarto, abri lentamente e fiquei admirada, era lindo, paredes de um amarelo claro, com uns detalhes em branco, uma grande cama no meio com detalhes que pareciam rosas, minha flor preferida, o armário era normal, mas o mais legal era a sacada gigante que tinha, lá havia duas poltronas beges lindas, uma mesa de centro branca, com um vaso lindo de flores, adivinha quais? É, rosas. Já que vou ter que passar parte da minha vida aqui, pelo menos eu teria um canto legal, isso é bom.

Joguei minha bolsa em um canto qualquer e me deitei na cama, na realidade foi mais para um me taquei, mas isso não importa.