Coisas Devem Fazer Sentido. escrita por Heloisa


Capítulo 1
Volta


Notas iniciais do capítulo

Me desculpe os erros



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São Paulo 22 de Novembro de 2011

O sol estava a pino e o barulho do motor do ônibus era a única coisa em minha a mente, recolhi minhas malas e caminhei em direção ao metrô. São Paulo não mudara nada desde a ultima vez, concreto, pessoas e barulho. Essa era a combinação de uma vida urbana que levava alguns anos atrás.
A saudade e a tristeza da cidade me vieram ao entrar no metrô e me deparar com as pessoas que nunca mudavam: a mulher bonita de confiança baixa, o velho viúvo,    a senhora que cuidava dos netos, os jovens falantes com roupas da moda, e a garota tímida demais para olhar pra vida. Bem, essa ultima sou eu, e... Não tenho medo de dizer que sou fraca, para certas coisas, pelo menos essa é a minha opinião sobre mim, desde que voltei para terra da garoa, a minha vida mudou tanto... E meus pensamentos de jovem menina adolescente agora eram apenas de uma mulher. Talvez alguém diga de uma mulher mal-amada. 
Há alguns anos atrás eu acreditava fielmente no amor, antes que você feche o livro, essa historia não é um romance, no final provavelmente não estarei feliz. Mas voltando, o amor não foi uma coisa que conheci. Não me entenda mal, sempre tive meus pais e a minha família sempre foi muito grande, e o amor deles nunca vou questionar.
Mas quando me refiro ao amor, foi aquele que nunca conheci, no qual minhas colegas de escola diziam sentir ao ter beijado pela primeira vez, ou ter sentido quando passaram pela sua primeira relação amorosa com um cara; aliás, que mal as conhecia. Nessa época me mantinha sossegada em relação a esse assunto, me sentia até superior por pensar que era madura e encontraria a pessoa certa, na hora certa. Foi o que aconteceu? Claro que não. Nenhum conto de fadas existe, não é? Pelo menos ninguém nunca apareceu me dizendo que encontrou o amor de sua vida em uma noite de luar estrelada a beira mar. Você já ouviu? Se sim, tem a permissão de largar estas palavras e continuar a fazer nada. Se não, bem vamos ver o que pode acontecer.
Sai do vagão e parei na estação Vergueiro, onde tem umas da melhores bibliotecas publicas que já fui, subi no terraço do Centro Cultural onde ficava um pequeno jardim, e a vista ali, apesar da poluição, era uma das melhores para pensar. Estava longe de casa, não ligava de ficar apenas observando os prédios ao longe, e os carros que passavam muito apressados para uma vida, na verdade nem sei o motivo para mundo estar com tanta pressa... Mas naquele momento senti que poderia ficar por uma década que não sentiria o tempo passar, não me cansaria. E também não iria me mutilar com os sentimentos que me corroíam, apenas sentei no frio banco de madeira e olhei para o mundo.
Nem sei quanto tempo fiquei ali, só me toquei quando um dos funcionários veio me avisar que estavam fechando, ele chegou mais perto com seu uniforme neutro e sentou-se ao meu lado. Recolhi minha bagagem de mão e comecei a me levantar quando ele me barrou.
 - Não precisa se retirar senhora.
Sorri constrangida e ajeitei o meu casaco. E voltei a me sentar, mas a minha sensação de paz e solidão havia sido quebrada, pois agora o tal funcionário cantarola baixinho a minha musica preferida. Palavras ao Vento. Olhei para ele tentando encontrar alguma resposta ou apenas um sinal de coincidência, apertei o botão lateral do celular e ainda eram 22h30min, ele havia me enganado, faltava uma hora e meia para fechar.
 - Por acaso irão vão fechar mais cedo? – perguntei irônica. Dessa vez pude ver a feição do funcionário, moreno, cabelos pretos curtos, e olhos levemente puxados.
 - Só queria puxar conversa. – disse ele. – A senhora está aqui a mais de duas horas.
 - Não sabia que os visitantes são constantemente vigiados.
 - Só aquelas que me chamam atenção, senhora.
 - Pare de me chamar de senhora, não sou casada e nem sou velha, provavelmente tenho a sua idade ou menos! – me exaltei coisa que raramente acontece, ele ficou quieto com os olhos arregalados enquanto o meu rosto ficava cada vez mais quente. Levantei-me e peguei as malas, mas por muita infelicidade, muita mesmo a rodinha da minha bagagem quebrou, não me pergunte como, mas quebrou. A mala estava pesada, minha cabeça com cerca de cinco minutos doía e uma gargalhada vinha atrás de mim.
Respirei fundo e continuei não iria me entregar, não passei por uma cerca de problemas para me frustrar assim. Virei à bagagem e a peguei pelo puxador, tentei ergue- lá, e percebi o quanto me arrependia por ter comprado uma barata. Caminhei pela extensão do jardim arrastando-a ate me deparar com escada, que tinha mais de três lances, respirei fundo ate ouvir certos passos.
 - Deixe-me ajudar senhorita. – Era ele de novo, e desta vez com um leve sorriso zombeteiro. Pegou a minha mala e desceu escadas abaixo, a minha frente, sinceramente fiquei feliz pela ajuda, e ciente de não comprar tantas roupas durante as minhas viagens. 
Me deixou na porta do Centro Cultural, não pretendia pegar um taxi, mas as minhas condições de viagem estavam péssimas.
 - Obrigado, e me desculpe por ser rude naquela hora. – disse enquanto ele observava o transito a procura de um veiculo. Ele ficou quieto e apenas balançou a cabeça positivamente, o que só aumentou o meu remorso.
 - Tudo bem. – disse – Pelo menos agora sei que não é casada. – O funcionário balançou o braço direito para chamar o taxi, o parou, pegou a minha bagagem e completou: - E nem velha...
Só pude sorrir sem graça, e agradecer novamente. Entrei no carro enquanto ele segurava a porta e me acomodei.
 - Para onde vai senhora? – me perguntou o taxista, não pude deixar de rir pelo tratamento.
 - Leopoldina. – e voltei o rosto para a janela, onde o funcionário estava levemente debruçado na porta me olhando.
 - Seu nome? - perguntei
 - Felipe.
 - Muito obrigado Felipe, e me desculpe novamente.  – Ele sorriu graciosamente, e nossos olhos sem encontraram por tempo demais, quebrei a tensão abaixando os meus, Felipe deu duas batidinhas no carro. O motorista começou dar a vida ao automóvel, e a imagem do homem começou a se tornar apenas um borrão, as luzes apenas um fio colorido e arvores uma só em movimento. Naquele momento pensei que poderia ter pedido seu telefone, ou ate mesmo ter dado o meu. Ter dito o meu nome ou simplesmente ter flertado com ele. Mas como sempre nunca tive a coragem de ser tão impulsiva a assim.
Cheguei ao meu prédio em torno de uma hora, o fluxo das ruas estava devagar e a minha paciência e mente estava concentrada em apenas uma coisa, voltar para minha casa. Moro num pequeno prédio perto da estação Vila Leopoldina. E um antigo prédio de tijolos vermelhos que fora reformado, possuía apenas dez andares e seus apartamentos eram grandes e espaçosos. Dei sorte em encontrá-lo, na época dividia com três colegas de quarto da faculdade, mas conforme minha carreira fora crescendo minhas coisas também. Logo não pude mais dividi-lo e os quartos antes dos meus companheiros acabaram virando depósitos e escritório. Falando em carreira sou Designer, e não é  querendo me gabar acabei crescendo na carreira com muito esforço, já que não vim de família rica, mais sim de uma família batalhadora. Trabalhei na adolescência e guardei cada centavo que ganhava e quando comecei a melhorar nos meus trabalhos, pude sair de casa me tornando independente.
Caminhei pelo apartamento escuro. Acendi a luz e um lençol de poeira cobria delicadamente cada móvel. Coloquei as bagagens no chão observando o meu lar, que por anos não via, apenas nas trocas de viagens ou para deixar algum material em algum canto. Entrei em meu escritório, e olhei os meus desenhos que fiz alguns bem mais antigos com as pontas amarelas e outros com rabiscos tão expressivos, de rostos, animais, paisagens, e amigos... Que me surpreendia ao ver como tinha talento. Um talento sentimental ao observar um sorriso ou linha de expressão de timidez. Fui ao meu quarto e a luz amarela que invadiu os olhos tomou conta do ambiente, fazia tanto tempo que não via as minhas coisas. Passei a mão sobre a TV e uma grossa camada de poeira repousava sobre o aparelho, como se estivesse visitando um museu, olhei os livros poeirentos; as fitas cassetes tão antigas... E fotos, sorri ao vê-las, um sentimento de nostalgia e felicidade me tomou, como se todo aquele tempo  ansiava vê-las e não sabia. Dentre tantas estavam os meus amigos, os melhores , os conhecidos e amores platônicos. Sempre tive azar de virar a amiga de minhas paixões e nunca ter a coragem de declarar o que sinto. Na época me sentia que não tinha direito de estragar uma amizade por um sentimento tão egoísta como o amor. Na verdade penso assim até hoje, com o amor não sou de evoluir. Olhei a minha cama e me joguei, fazia tanto tempo que não dormia nela, mas tirando o leve cheiro de casa fechada, tudo estava perfeito.
●●●●
Acordei com o celular tocando as alturas, levantei apressada com o corpo todo amassado e o atendi. Era a minha amiga Laura, que trabalhava comigo, que provavelmente soube que havia voltado para Brasil, primeiro ouvi um gritinho estridente dizendo meu apelido e gargalhei ao notar que Laura não havia mudado nada.
 - Aninhaaa! – Disse ela pela vigésima vez – Como você está amiga?
 - Estou bem Laura, e você? – disse tentando acordar.
 - Estou ótima, mas quero saber de você. Não te acordei né? Porque seria muito chato! E Paris, Nova Iorque, França, Espanha, me conta! Como foi essa loucura!
Fiquei aproximadamente meia hora falando com Laura, tive que contar os detalhes mais minuciosos dos restaurantes, homens, roupas, homens, sapatos, e homens novamente. Perguntei o porquê de tanto interesse no sexo masculino, e a resposta foi que não conseguiria entender já que nunca havia experimentado um bom homem. Dei graças, ao poder encerrar a ligação, e tratar de desligar o celular, porque se Laura já sabia da novidade provavelmente não iria demorar muito para ate o Presidente ligar perguntando se trouxe alguma lembrança da viagem para ele.
Não me entenda mal, mas a maioria dos meus colegas são interesseiros, não é algo que possa evitar na vida. Gente interesseira é igual pulga de cachorro quando você menos espera, ela está ali, apenas chupando o sangue. Depois da ligação, já não conseguia mais dormir, já se passava do meio dia e o fuso horário do país que fiz conexão era muito diferente. Resolvi limpar a casa e desempacotei minhas coisas, fui ao mercado fiz a compra do mês, que se resumia a macarrão e pão. E fui desfazer a mala, que tinha ficado perto da porta de entrada, vi novamente a roda quebrada e me lembrei da noite passada, e o tal de Felipe, que inevitavelmente veio à mente tão claro como se nos conhecêssemos há muito tempo. Tentei retirar da cabeça esses pensamentos tão estranhos, sabia que novamente poderia ficar imaginando que poderia ter feito ou não.  O que me lembra de uma chata historia de quando era mais nova.
Quando fiz dezessete anos, e todos sorriam em volta da mesa cantando parabéns para mim, prometi a mim mesma que iria retribuir toda aquela alegria e amor que estava recebendo a alguém muito especial. Naquela época havia mudado de período, iria começar estudar a noite e trabalhar de manha, estava empolgada com a nova oportunidade de conhecer gente bacana, ou talvez fizesse alguma amizade mais profunda ou ate encontraria alguém que gostasse de mim do jeito que sou.
Na verdade encontrei tantas pessoas legais que não demorei muito para fazer amizade com todas. Entre elas estava ele. Tinha o sorriso mais bonito de todo o colégio, era inteligente sabia conversar, odiava garotas que se insinuavam vinte quatro horas por dia, e alem de tudo gostava da minha companhia. Logo descobri que era meu vizinho de rua, as minhas chances apenas cresciam ao meu lado, nos pegávamos o ônibus juntos, fazíamos quase tudo um ao lado do outro.
Por outro lado meus sentimentos só cresciam. Em todos os aniversários dele, exatamente três, cheguei ao ponto de dar presentes a ele com pequenas cartas com indiretas. Mas a mente dele era sempre tão confusa para mim, que naquele momento nem sabia onde estava enfiando a minha cabeça. Ele só sabia me agradecer muito e dizer que me amava, mas sabia que era como amigos. E eu, só sabia que estava gostando muito dele, e que queria investir um pouco mais a fundo na relação, e talvez uma hora declarasse o que sentia.
Logo no meio do ano quando estávamos na faculdade, uma diferente da outra, descobri que ele gostava de outra garota, ate então estava com dezoito anos indo para dezenove, e desde que o conhecia, alimentava essa paixão absurda. Logo quando realmente vi nos olhos dele o deslumbre quando mencionava a garota, pude ver que me iludi, ao notar que o brilho, a energia não eram por min.
Fiquei alguns meses sem vê-lo, e quando o reencontrei parecia que não havia mudado muita coisa. Ele me deu abraço apertado, e eu, a trouxa, o retribui passando por cima da paixão e lembrando a amizade. Logo empolgado, me chamou para sair, dizendo que haveria uma festa de uma colega dele e que não queria ir sozinho. Aceitei sem duvida.
21/de Abril de 2005
No dia o fiquei esperando quase uma hora sentada, quando soube que ele já estava na festa, fui ate o local e o encontrei sentado numa mesa com alguns antigos colegas de classe. Matei a saudade de todos, mas o ambiente que estava era tão estranho que fiquei meio quieta. Ele se sentou ao meu lado, pegou a minha mão e perguntou como estava, fiz o mesmo dando risada de suas piadas e ele logo soltou que estava esperando ela, a mesma das fotos, a mesma que o enrolava. Fiquei feliz por ele, parecia tão enérgico e ansioso, que só pude rir para não chorar.
Quando ela chegou, pude então conhecê-la, loira, alta, magra, maquiagem pesada. Logo notei que já havia estudado com ela, oitava seria, ela era a menininha quieta, angelical e doce. Não sabia que havia virado um pequeno monstrinho, usava roupas curtas demais e tinha um cheiro de vinho e álcool. Ela e sua prima chegaram fazendo a festa, beijaram o meu amigo em todas as partes do corpo, o abraçaram o apalparam do jeito que homens gostam. Isso tudo sem pudor algum, tudo na minha frente. Tentei desviar os olhos e pensar em outra coisa. 
Se fiquei com ciúmes? Um pouco, mas o sentimento que mais me corroeu foi a dó. Dó de pensar que ele gostava de garotas fáceis, que mal beijou ele estava com outro se agarrando. Olhei a cena ate com certa graça e tristeza. Me dei valor, peguei minha bolsa e sai. Sai desiludida? Um pouco também, mas principalmente forte. Ele notou a minha saída, disse para esperar que iríamos embora juntos, que não iria me deixar ir sozinha, já que estava tarde. Apenas recusei, e agradeci pela orgia ao vivo com as amiguinhas dele. Ele apenas riu sem graça e pediu desculpas. Em seguida perguntei se ele gostava de mim, porque eu gostava demais dele, mais do que qualquer coisa. Ele ficou quieto e confuso. Sorriu e pediu desculpas, disse que não queria compromisso agora e que queria aproveitar a vida.
Eu poderia ter bebido e ter ficado com ele, poderia ter me insinuado, ter feito coisas que o deixaria louco, mas não sou assim. E de certo modo, muito tempo depois entendi o que ele disse, nos éramos novos, deveríamos aproveitar mesmo, mas fiquei triste em saber que ele não me respondeu se gostava de mim. Naquela sexta à noite comecei a dar mais valor aos meus sentimentos, e não mais jogá-los ao vento esperando que alguém os notasse. Depois disso a agência em que trabalhava me fez uma proposta, de largar um pouco a criação e fazer publicidade. Iriam me mandar em varias agencias pelo mundo para fazer campanha de algumas marcas, seria uma ótima oportunidade de estudar fora, logo aceitei, já não tinha mais nada me segurando. Tinha ganhado um belo de um intercambio, era só a questão de me esforçar e foi isso que fiz.
E agora cinco anos depois voltei a minha casa com as mesmas lembranças de quando sai. Só que agora sei que devo dar importância a aqueles que me querem realmente bem, e não aqueles que tentam fingir que gostam de mim.
A verdade é que tinha o grave problema em depositar todas as minhas fichas em uma única maquina, e sem saber, depositei em uma maquina quebrada. Deu para entender?
Pois então, logo que fui conhecendo um pouco mais sobre a vida acabei ficando fria e distante em relacionamentos. E o episódio da garota e a declaração não foram os culpados, só se tornaram a ultima gota d’água. As pessoas no passado tinham o dom para pisar em meus sentimentos, foram tantas decepções, tantas ilusões que nem gosto de lembrar.
Quando cheguei à Nova Iorque, e o meu estagio em uma agencia estava indo bem conheci um cara muito bacana, eu poderia ter depositado as poucas fichas que tinha, mas não me aprofundei, estava lá para estudar, e tinha que me esforçar já que não teria outra chance como essa na vida.  Por grande trabalho a empresa estava gostando dos meus resultados, então só aumentaram as viagens, e logo o dinheiro que estava recebendo fora do Brasil era três vezes maior do que inicialmente.  Logo senti que tinha sorte nos negócios e azar no coração.


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Notas finais do capítulo

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