Meu Bê escrita por ARTEMIZ


Capítulo 1
Gizes quebrados




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Oi, meu nome é Mari e eu tenho 6 anos. Eu moro com a minha mãe e meu pai numa casa grande e amarela, não aquele amarelo ovo, um amarelo claro, muito lindo. Minha mãe se chama Rosa e meu pai se chama Marcelo. Eu sou loira de olhos verdes e minha mãe também, meu pai tem cabelos castanhos e barba tão grande que cada vez que eu ia dar oi para ele, a barba fazia cosquinha no meu rosto. Eu estava na primeira série na escola, e lá eu tinha uma amiga chamada Amanda. Ela é morena de olhos pretos, acho ela linda. E lá eu também conheci um menino chamado Bernardo. Ah, o Bernardo. Mas ele não liga para mim, nem me olha quando eu tento chamar a atenção dele. Ele era o menino mais bonito da escola. Mas toda vez que eu pensava em falar com ele, a vergonha era maior. Amanda dizia que era bobeira, mas eu tinha medo dele mandar eu embora e nunca mais falar com ele. Isso acabaria comigo.

– Vai lá falar com ele Mari! - disse Amanda.

– Não quero! Eu tô com vergonha. - eu disse.

Amanda olhou para mim e revirou os olhos.

– Desse jeito ele nunca vai gostar de você. Você tem que ir lá e falar com ele.

Eu fingi que não a ouvi. Continuei fazendo minha tarefa de artes. A professora Roberta tinha dado um desenho para pintarmos. Meu desenho era um pônei, que pintei de azul. Eu não gostava muito de rosa. Só gostava do sorvete rosa.

Minutos depois o sinal bateu e eu saí correndo para fora, mas eu não queria brincar hoje. Peguei uma caixinha de giz e fiquei sentada na calçada desenhando nela. Então alguém tropeçou na minha caixinha de giz.

– Desculpa! Acho que quebrei seus gizes. - a pessoa disse.

Eu olhei para cima e senti meu rosto corar. Era Bernardo! Bernardo falou comigo! Eu estava feliz, mas não conseguia dizer nada.

– Você ficou vermelha. - ele riu. - Não tá com raiva de mim, tá?

– N-não! Tá t-tudo bem. - eu disse com dificuldade.

Bernardo então colocou os gizes quebrados de volta na caixinha e saiu. Fiquei olhando para ele com cara de boba. Eu fiquei pensando no que tinha acontecido por alguns minutos e então o sinal tocou de novo e todos entramos para sala.

– Amanda! - cutuquei a menina que sentava em minha frente.

– Que foi? - ela perguntou.

– Olha aqui! - eu disse.

Ela se virou para mim.

– Bernardo falou comigo! Eu nem tive que ir falar com ele. Ele veio falar comigo Mandy! Eu acho que ele só chutou minha caixa de giz para que eu falasse com ele. Mas eu não consegui. - eu disse muito rápido.

Amanda olhou para mim com curiosidade e surpresa.

– É? E o que ele falou pra você? - perguntou ela empolgada.

– Ah... - eu pensei bem e então desanimei. - Ele não falou nada de mais...

Amanda ficou confusa.

– O que aconteceu de verdade? - perguntou ela.

– Ele quebrou meus gizes e quando vi que foi ele eu fiquei com vergonha, e então ele disse que eu tinha ficado vermelha e riu de mim. Eu gaguejei! Ah meu Deus. Ele deve me odiar. - eu disse meio chorosa.

– Calma Mari, não fica assim. - Amanda disse.

Eu olhei para Bernardo do outro lado da sala e ele conversava com Susana. Eu não gostava dela. Semana passada eu tinha levado uma boneca linda de porcelana para escola que eu tinha ganho da minha vó, e ela quebrou. Ela disse para a professora que foi sem querer, mas eu tenho certeza que foi de propósito. Por que Bernardo não falava comigo como falava com ela? Eu tinha ciúme dela. Ela era minha vizinha e minha mãe sempre tentava com que a gente virasse amiga. Eu também já tentei, mas ela era má comigo. Bernardo olhou para mim e virei o rosto rapidamente.

– Ele olhou para mim! - eu disse à Amanda.

Amanda olhou para ele e sorriu. E então olhou para mim.

– Tenta disfarçar, ele está vindo para cá. - ela disse.

Meu coração batia rápido agora. E tão forte que eu podia ouvi-lo. Será que ele vai vir falar comigo? Eu ficaria tão feliz. Mas o que eu iria falar para ele? Eu tinha tanta vergonha. Mas eu tinha que lutar contra isso.

– Oi Amanda. Bonita essa sua fita no cabelo. - eu olhei para Bernardo quando ele disse isso.

Meu coração apertou. Ele não quer falar comigo. Eu sou uma boba! Claro que ele não quer falar comigo. Nunca quis. Nunca ligou para mim.

– Ah! Minha mãe que me deu. - disse Amanda, arrumando a fita vermelha que prendia seu cabelo.

Ver aquela cena me deixou muito triste. Levantei rápido da carteira e fui falar com a professora sobre meu desenho. Tentei inventar algum assunto com ela até que Bernardo saísse de perto de Amanda. Com a minha melhor amiga? Ele queria mesmo me deixar magoada. Eu observava os dois enquanto falava com a professora e Amanda me olhava às vezes. Depois de uns 5 minutos eles conversando, finalmente Bernardo sai de lá. Eu já não tinha mais assunto com a professora, então voltei para o meu lugar.

– Por que saiu daqui? - Amanda perguntou.

– Nada. - eu disse, amargurada.

Depois disso não conversamos mais. Tocou o sinal para irmos embora e então eu esperei minha mãe chegar no portão da escola. Vi Bernardo passando e dando tchau para Amanda, depois passou reto por mim. Aquilo cortou meu coração. Ele não gostava de mim. Então por que eu gostava dele? Era tão injusto! Me senti um lixo.

Poucos minutos depois, mamãe chegou com o carro e encostou na frente da escola e eu entrei rápido no carro.

– Como foi a aula minha anjinha? - ela perguntou.

– Foi legal. Pintei um pônei de azul. - eu disse.

Mamãe me olhou pelo espelho do carro. E então ergueu a sobrancelha.

– Aconteceu mais alguma coisa? Você está com uma carinha tão triste. - ela disse.

Lembrei de Bernardo passando reto por mim. E então senti um aperto no coração de novo.

– Não aconteceu nada. Tá tudo bem. - eu disse.

Chegamos em casa e eu ainda não tinha parado de pensar no que aconteceu. Aquilo me deixou tão triste. Horas depois eu fui dormir e olhei para minha mesinha de cabeceira e lá tinha um chaveiro que Bernardo deixou cair há 1 mês atrás quando estávamos indo embora da escola. Eu não queria mais ver ele na minha frente. Mas queria. Eu não estava mais me entendendo. Então peguei no sono olhando para o chaveiro de pikachu que ele havia deixado cair, e que eu, com muito carinho, havia guardado para o dia que ele viesse falar comigo, eu devolver. Parecia que aquele dia nunca ia acontecer.


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