Gemini escrita por Pop Chan


Capítulo 5
She's never coming back




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She's got a smile like a flower

She looks so fine by the hour

But her mind aches

And her heart breaks

'Cause she's silly

Ela tem um sorriso como uma flor.

Ela parece tão bem por hora

Mas sua mente dói

E seu coração se quebra

Porque ela é boba

Logo que acordei, senti braços fortes me abraçando. Não me surpreendi quando vi Apolo deitado do meu lado. Isso era algo normal; éramos “irmãos”, afinal. Mas, de nada isso impediu minha pele de corar.

Olhei para o relógio. Sete e quinze. As aulas começavam às oito e trinta. Eu ainda tinha tempo, mas sabia que não iria conseguir dormir novamente. Com um suspiro, me livrei de Apolo e levantei, tentando não acordá-lo.

Abri as portas do meu armário e procurei alguma roupa. Entrei no banheiro, tomei um banho gelado, fiz minha higiene e me vesti. Quando saí, Apolo ainda dormia. Decidi que não o iria acordar; ainda era cedo demais. Peguei minha mochila e desci as escadas. Vi que Hera preparando o café da manhã. Zeus estava sentando e lendo um jornal. Eles trocavam algumas palavras carinhosas e outras coisas melosas. Limpei a garganta. Ambos olharam para mim. Antes de ir tomar o café da manhã, joguei minha mala no sofá.

– Acordou cedo hoje, querida. – Hera falou. – Quer bacon e ovos?

– Hãn... Não tem panquecas? – Hera me deu um de seus sorrisos maternais e pôs três panquecas em meu prato. Coloquei um pouco de mal em cima e comecei a comer.

Papai e mamãe continuaram a conversar às vezes me perguntando algo. Antes de sair de casa, tomei um suco de laranja (porque eu detesto café) e dei um aviso a Hera.

– Se for acordar Apolo, ele está no meu quarto.

– Ele ficou com você por causa da tempestade? – Zeus perguntou, tomando um gole de café. Eu dei um pequeno aceno com a cabeça.

– Em fim, vou indo. Preciso chegar mais cedo hoje, vou falar com Héstia sobre o nosso trabalho de Comunicação. – Dei um último gole no suco e peguei minha mochila e saí andando.

Tudo ainda estava muito calmo. Os alunos ainda não tinham saído de casa (até porque, tem gente que só começa a aula pelas nove, dez da manhã) e quem tinha que ir trabalhar já tinha ido. Eu podia ouvir os pássaros cantando e se empoleirando nos fios de luz. Estava bem frio, mas isso não parecia importar pra eles.

Eu peguei meu MP3, que estava em meu bolso e o liguei. Uma loja de vinhos estava abrindo. Eu conhecia o homem que cuidava dela, era um amigo do meu pai, tio de Héstia: Dionísio. Ele era bem legal, embora um pouco mal-humorado e irônico ao extremo – se bem que eu também sou assim.

Eu sorri e acenei para ele e ele fez o mesmo. Continuei caminhando até que cheguei perto da escola. Ainda não estava aberta; tinha ido rápido demais. Sentei num dos bancos da praça, que fica praticamente na frente do colégio.

Comecei a remexer minha mala, apenas para ter algo pra fazer. Encontrei um livro, o que estava lendo na minha aula de literatura. Pensei em ler, mas estava com muita preguiça para isso. Recostei-me no banco de forma confortável e fiquei olhando em volta. A música desligou. A bateria tinha acabado. E os portões da escola tinham sido abertos. Nem tinha reparado. Como eu era distraída.

Rapidamente guardei o MP3 e andei em direção ao colégio. Dei um bom dia para Atlas, o carinha da portaria, um cara forte, com uma cara de mau e humor pior ainda, que odeia o trabalho e é o pior “tiozinho da portaria” que uma escola pode ter. Com essa pequena descrição, creio que você já deve ter notado que ele não me respondeu. Na verdade, ele grunhiu para mim. Com sarcasmo, acrescentei:

– E o bom humor está em alta, hein? – Não me respondeu de novo. Acho que, em outras circunstâncias, ele teria mostrado o dedo do meio e falado muitas palavras... Obscenas.

Sacudi a cabeça em reprovação. Fui logo para a minha sala. E, se você adivinhar quem eu encontrei lá, te dou um pirulito. Dafne. E Órion. Não, eles não estavam se pegando. Estavam conversando normalmente, ambos felizes, tipo comercial de margarina. Que nojo. Quase vomitei, se quer saber. Limpei a garganta levemente.

– Artie! – Dafne exclamou. Trinquei os dentes. Ela não tinha o direito de me chamar assim. Ninguém tinha esse direito, apenas Apolo. Não ela. – Bom dia! – O animo dela me enojava. Não agüento pessoas animadinhas assim. Apenas Afrodite, mas ela é outra situação. Muito menos irritável. Você não vai socá-la, meu consciente gritava.

Artemis. – Corrigi, com a voz dura e agressiva. – Bom dia. E pra você também, Estrela. – Órion deu um sorriso de canto. Admito, eu adorava aquilo. E o apelido estúpido? Culpa da constelação. Às vezes, chamava-o de Ório, mas ele odiava mais que Estrela, então não. Tirando isso, não tinha outros apelidos. Nenhuma opção viável. Quer dizer, eu o chamaria de que? Óri? On ou, só pra sacanear, Off (trocadilho estúpido da vez)? – Chegaram cedo. – Falei com desconfiança.

– Você também. – Órion piscou. – Era nossa vez de fazer a limpeza.

– Sua parceria não era a Tália? – Perguntei. Tália fazia parte do Clube de Música, ela tinha mais oito irmãs (pais com genes de coelhos), que formavam uma “banda”: as Musas.

– Era sim, mas duas irmãs dela se mudaram para essa turma. A professora decidiu que seria melhor as três chegarem antes para fazer limpeza no mesmo dia, então eu fiquei com o mesmo turno da Dafne. – Ele deu de ombros e uma grande desconfiança cresceu em meu peito. Olhei de canto de olho para Dafne. Senti um fogo queimar em meu interior. Raiva. Ela não trairia meu irmão, trairia? Órion não me enganaria, certo? Senti o fogo cessar e o gelo tomar lugar. Seria possível. Seria muito possível. Não duvidava nada de que aquilo pudesse acontecer.  E, mesmo que escrevessem isso na testa, ninguém iria desconfiar. – Artemis? – Ele chamou. Estava muito distante.

– Desculpe, estou meio desligada. – Dei um sorriso amarelo e fui em direção a minha carteira. Joguei minhas coisas em cima da mesa e me sentei. Procurei meu livro dentro da mochila, com sucesso. Era um livro grosso, que misturava fantasia e realidade, e mesclava a aventura com romance. Meu tipo de história. Li-o até Héstia chegar, ignorando a extrema proximidade e intimidade entre Dafne e Ório.

Héstia me falou sobre o que tinha achado para nossa pesquisa. Acabei marcando de ir a casa dela no dia seguinte para começarmos a escrever e organizar o trabalho. As aulas passavam lentamente. Passei o dia todo vendo Apolo e Dafne se agarrando, o que, devo dizer não melhorou meu humor.

Eu estava quase vomitando quando meu irmão e Dafne estavam se despedindo. Até aí, normal. Quando ela saiu de vista, olhei para Apolo, inquieta e aflita. Quando ele viu minha expressão, perguntou:

– O que foi, Artie?

– Eu só... Estou preocupada, sabe? Não consigo... Confiar na Dafne. – Ele suspirou. – Tenho medo que ela te machuque... Como da última vez. – Sussurrei. Ele deu um leve sorriso, e afagou meus cabelos.

– Aquilo foi um tanto quanto culpa de Eros, certo? Ele estava tentando nos separar, você sabe. É diferente agora. – Então ele me abraçou. Eu o apertei forte contra meu peito. Eu estava o perdendo. E isso doía. Senti meu rosto queimar e meus olhos ficarem pesados.

“Não chore”. Minha mente gritou. Não pude evitar uma lágrima escorrer. Estúpida. Patética. Eu era. O Amor era.

Apolo se separou de mim, mas não chegou a perceber meu estado. Puxou-me até seu carro e abriu a porta para mim, como um cavaleiro, mas parecia meio nervoso. Perguntou-me se estava com fome.

– Eu... Um pouco. – Respondi. Numa velocidade um tanto alta demais para o meu gosto, Apolo saiu pela cidade. Eu via tudo passar, correr a minha volta, até que chegamos a algum lugar mais distante do centro, perto da saída da cidade. Um Mc Donald’s praticamente vazio a nossa espera.

Entramos no lugar e sentei numa mesa perto das grandes janelas, enquanto Appy fazia os pedidos – ele sabia o que eu gostava.

– Então... – Eu falei, quando ele se sentou a mesa. – O que você quer falar?

– Quem disse que eu quero falar algo? – O nervosismo era evidente. Tentei ignorar.

– Bem, você não costuma ser legal assim, Apolo. – Ele me lançou um olhar de falsa indignação e eu dei de ombros. Remexendo as mãos, ele começou a gaguejar.

– É que... Eu... Sabe... Tipo...

– Apolo, desembucha.

– Eu disse para o Órion que você iria com ele no Baile da Escola. – Ele falou rapidamente, mas eu entendi sua fala desesperada. Eu não consegui falar. A voz não saia. Eu podia agüentar minha paixão desenfreada – ou amor problemático – pelo meu suposto irmão. Podia agüentar ver ele e Dafne se engolindo pelos cantos. Podia agüentar ser desgraçada no amor. Eu podia agüentar tudo aquilo, mas... Encarar o fato de ser simplesmente jogada em cima de alguém, que eu nem gostava? Pelo meu irmão? Por uma das pessoas que mais gosto no mundo todo? Não. Eu não podia.

Silenciosamente, eu levantei. Esperei profundamente que minha raiva e decepção estivessem claras enquanto olhava dentro dos olhos de Apolo. Sem conseguir dizer nada, girei nos calcanhares e saí, fazendo questão de bater a porta.

Antes que Apolo pudesse vir atrás de mim, saquei meu celular do bolso e liguei pra ele.

– Não venha atrás de mim. – Falei com a voz áspera arranhando a garganta. – Eu sei me virar sozinha, ao contrário do que você pensa. Ah, e, por favor... – O sarcasmo saltou para fora. Definitivamente o melhor meio de por a raiva para fora. – Evite colocar um aviso de “procuro namorado” em meu nome. Grata. – E desliguei.

Saí andando, sem rumo. Sem saber o que fazer.

O sol estava se pondo, misturando o laranja ao rosa, na tela azul do céu. Já podia ver breves contornos da lua. Era uma visão bonita.

Uma lágrima solitária rolou pelo meu rosto, enquanto eu fiquei parada numa rua quase abandonada ao por do sol.

Gonna teach her to steal

'Cause I'm always knowing

how she feels

Livin' on the wrong side of the tracks

And I know she's never

Coming back

Vou ensiná-la a roubar

Porque eu estou sempre sabendo

como ela se sente

Vivendo no lado errado das trilhas

E eu sei que ela nunca está

Voltando


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Notas finais do capítulo

Eu sei que demorei pra postar, desculpem!
Minhas aulas começaram, e 8ª série não é fácil. Deu uns rolos na minha turma, e tal. Estou com uns trabalhos atrasados pra fazer (preguiça, oi!) e estava travada numa parte desse capítulo.
Mas, de qualquer modo, espero que gostem.