Gemini escrita por Pop Chan


Capítulo 3
Pretend




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/189110/chapter/3

Once in a while i act like a child to feel like a kid again

It gets like a prison in the body i'm living in

Cause everone's watching and quick to start talking, i'm losing my innocence

Wish i were a little girl without the weight of the world

De vez em quando eu ajo infantilmente para me sentir como uma criança novamente

Parece uma prisão o corpo no qual estou vivendo

Porque todo mundo está observando e prontos para começar a falar, estou perdendo a minha inocência

Queria ser uma garotinha sem o peso do mundo

Meu choque foi instantâneo.

– Não. Não é óbvio. Todos só pensam que eu sou super ligada ao Apolo. Apenas isso. Você acha que está na cara porque sabe de tudo que está acontecendo. – Falei, fechando a cara.

– Só estou preocupada, Artie. Você está se metendo num jogo perigoso e que não tem saída. – Um arrepio. Ela tinha razão. Ela sempre tinha.

– Tudo bem... Eu vou tomar mais cuidado. – Héstia sorriu para mim e então começamos a andar para nossa sala. Logo que cheguei, procurei meu lugar, me sentei e arrumei minhas coisas. Apolo chegou e sentou-se do meu lado, como de costume. Uma garota falava com ele – se não me engano, era Dafne, a única que o Appy (como ele odeia esse apelido) já se importou de verdade. Minha calmaria foi embora e a raiva subia pela minha espinha numa velocidade incrível.

A garota foi mais para o fundo depois de dar um selinho em Apolo. Senti meu rosto queimar de ódio. Ciúmes. Héstia me olhou com reprovação.

– Então, qual nossa primeira aula, irmãzinha?

– Não sou sua irmãzinha, Apolo. Nossa primeira aula é Matemática. Agora fique quieto aí. – Comecei a remexer minha trança.

– Você está bem?  

– É claro. – Que não. – Mas... Você e a Dafne... Tipo, o que foi aquilo? – Ouvi Héstia dar um suspiro de frustração. Para quem queria ser discreta, eu estava curiosa demais.

– Ah! Nós voltamos. – Pausa para momento dramático. Insira aqui som de tiro no coração. – Não é legal?

– Super. – Respondi com sarcasmo. – Mas, Appy... Ela nunca deu bola pra você. Quer dizer você sempre estava em cima dela, mas ela nunca mostrou gostar de você...

– Ah, qual é, Artie. Ela só não é boa em demonstrar o que sente. Relaxe. – Eu ia contestar, mas o professor entrou na classe, com cara de poucos amigos. Sem escolha, comecei a prestar atenção.

As aulas passaram calmamente. Apolo não me esclareceu nada sobre seu repentino namoro com Dafne, o que me deixou ansiosa o dia todo.

A última aula: Comunicação. Pode parecer uma aula estúpida, mas não é. Nessa aula, debatemos sobre diferentes assuntos, expomos opiniões, ajudamos alunos que estão com problemas. É uma aula opcional, se você não quiser fazer, pode escolher outro curso, ou deixar o tempo reservado para fazer suas tarefas; mas eu nunca deixaria de ir a ela. De jeito algum. E, sim, Apolo faz essa aula também. Mas fui eu que o convenci, no ano passado.

Em fim, o que importa é que as aulas eram tranqüilas e descontraídas.

Mas, naquele dia, foi muito diferente. Tratamos de um assunto muito delicado: suicídio e depressão. Automutilação e Bulling.

Ao final, a Sra. Benson nos passou um projeto em duplas: pesquisar sobre pessoas deprimidas e suicidas. E, no dia marcado, apresentar o trabalho. E, ao final de sua explicação, a voz da professora sentenciou:

– Este trabalho pode não ser muito para vocês. Mas pode salvar a vida de alguém. Entendam, garotos: este projeto não trará muita nota. Este projeto serve para que vocês possam ajudar pessoas que precisam. Pessoas com tendências suicidas e com depressão estão espalhadas por aí aos montes. Vocês precisam aprender a enxergar isso. – O sinal tocou. – Estão dispensados.

Acabei fazendo dupla com Héstia – eu precisava tirar Apolo da minha cabeça. Tirar Dafne da minha cabeça. Tirar os ciúmes de lá, também.

Fui direto para o campo, praticar arco e flecha. Treinei até meus dedos sangrarem (porque eu odeio aquelas luvas de proteção, argh). Enrolei minhas mãos em algumas tiras de gaze e esparadrapo, e fui para o dojo. Fiquei uns quarenta minutos socando tudo que aparecesse na minha frente.

Era hora da saída. Encontrei Tia (apelido que inventei para Héstia) e despedi-me dela e fui procurar o Appy. Achei-o num pré-ritual de acasalamento e desisti de chamá-lo para ir pra casa – na verdade, duvido que conseguiria ir lá na cara dura, separá-los e chamar meu irmão sem dizer para os dois que “tinha um motel barato umas três quadras dali”.

Saí correndo do colégio. Não era por pressa. Acho que era mais pra aliviar. E eu corri tanto que cheguei ao parquinho abandonado. Era num lugar alto, aonde poucas pessoas iam, por ser muito distante de simplesmente tudo. Nem carrinhos de sorvete passavam por ali.

Dava pra ver o por do sol. Ouvir os pássaros cantando. Acompanhar a própria respiração. Pensar em paz.

Zeus costumava nos levar lá quando éramos menores. Nunca tinha ninguém, então podíamos brincar em paz. Eu já tinha até esquecido de como era bonito.

Sentei num dos balanços e deixei o vento bagunçar meus cabelos. Sem preocupações. Como uma criança. E isso é tão bom.

Pena que dura tão pouco.

Remember the times we had soda for wine,

and we got by on gratitude

The worst they could do to you was check your attitude

Yeah when fights were for fun, we had water in guns,

and a place we could call our own

How we lost hold of home i guess i'll never know

Lembre-se dos momentos que tivemos de refrigerante para vinho,

e nós temos a gratidão

O pior que poderiam fazer para você era verificar sua atitude

Sim, quando as lutas eram para se divertir, nós tínhamos água em armas,

e um lugar que poderíamos chamar de nosso

Como perdemos a posse do lar, acho que nunca vou saber


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso! Espero que tenham gostado.