Circulo De Paixões. escrita por Lorys Black


Capítulo 17
Capítulo 16 - Impriting


Notas iniciais do capítulo

CAPITULO EDITADO EM FEVEREIRO DE 2023

Músicas do capitulo.

I've got my eye on you - Lana Del Rey.
Everything - Lifehouse.
Open your eyes - Andrew Belle
Light Me Up - Ingrid Michaelson



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Abri os olhos preguiçosamente, após uma soneca durante a tarde. Os remédios para a dor causam um sono constante. Caminhei até a janela no meu quarto, e senti uma brisa leve ao abri-la por completo. Inspirei profundamente o ar, e deixei meus olhos se acostumarem com a luz. Meus sentidos e percepção estão normais, mesmo com a medicação. 

Há um carro se aproximando, na auto estrada. A alegria se espalhou no ar, quando identifiquei quem está dentro do veículo. Me troquei em segundos, lavei o rosto e desci as escadas para recebê-la, no exato momento em que ela parou diante a entrada da minha casa. 

Infelizmente a sensação de leveza desapareceu  ao abrir a porta, e fitar o rosto inchado e cheio de lágrimas de Kate. Minha última lembrança em relação a ela é cheia de alegria. Embora, tenha a vaga lembrança de ver seu nome no visor do meu celular no dia do meu, “pequeno acidente.”

— O que houve Kate? – a abracei com força e também em alerta caso houvesse algum perigo se aproximando e eu simplesmente não estivesse enxergando por estar sob efeito desses malditos analgésicos ou sei lá mais o que Carlisle tem injetado no meu corpo.
— Ele me deixou Leah. Brian, partiu sem me dizer uma única palavra, ou dar adeus. Covarde. – o choro dela se tornou compulsivo.

Apertei um pouco mais seu corpo contra o meu, sentindo uma tristeza imensa. Infelizmente entendo o que ela está sentindo, e não desejaria essa dor para ninguém, muito menos para alguém que gosto tanto como, Kate!

— Calma Kate… – suspirei profundamente. – Casais brigam, sempre há desentendimentos, é natural. Venha, sente-se e tente se acalmar! – caminhei com ela em direção ao sofá. 

— Ele sequer me disse para onde foi, como está. É como se não fossemos nada um para o outro. Como se, do dia para a noite eu deixasse de ser uma pessoa a quem ele respeita, ama, e tem cuidado para não ferir, e me tornasse um pedaço de nada! – Kate empurrava cada palavra entre lágrimas, uma dor quase tangível.

Não sei o que dizer neste momento. Parece que estou vendo meu reflexo. A decepção nos olhos azuis dela, a dor escapando entre as palavras. Uma sensação horrível e incontrolável de se projetar e ficar paralisada sem saber ao certo o que dizer!

Seth chegou em casa, havia saído para levar Nessie. Assim que abriu a porta, vi uma mala enorme na varanda. Meu irmão entrou sem Kate, sequer notar sua presença.
— Leah, posso ficar aqui alguns dias? Ficar naquela casa, vendo nossas coisas ali… vai me consumir. – ela pediu entre soluços. 

— Claro que pode, e deve inclusive. Kate, sinta-se em casa. Fique o tempo necessário. – apertei suas mãos.

— Como será minha vida agora, Leah?! Sem saber como ele está? Será que está bem, se alimentou, dormiu bem? Sabe Leah, há meses eu sentia algo errado. O vazio da nossa relação cresceu tanto que estava se tornando opressor. Nos amávamos desde sempre, mas de uns meses para cá, esse amor passou a ser diferente. Talvez, assim como eu, ele não quisesse admitir,  ou talvez, fosse apenas uma fase que a convivência contínua acabe provocando. Não sei. Só acreditei que seja lá qual fosse o problema enfrentaríamos juntos, pois, antes de namorar e casar fomos amigos, e segui acreditando que esse tipo de amor prevalece sempre!– ela me abraçou com força e voltou a chorar.

Olhei para Kate e neste momento é o que posso fazer por ela, ser sincera.

— Kate, não sei exatamente o que vai acontecer, não posso garantir que tudo vai passar e se resolver sem custar algo, sem sofrimento. Porém, posso te prometer que estarei aqui, para qualquer situação, a qualquer momento e sempre!

— Ah Leah, eu preciso tanto disso… – Kate voltou a desabar. Chorou por mais de uma hora e adormeceu exausta em meus braços.

Levei-a para o quarto de Seth, que gentilmente cedeu sua cama. A minha é maior e ele ficará bem ao meu lado esta noite. Kate precisa descansar. Após deixá-la no quarto, resolvi tomar um banho. Fiquei algum tempo deixando a água desfazer essa sensação de impotência horrível, que não conseguir ajudar um amigo causa.

Kate, é uma pessoa tão especial, jamais a imaginei nesse lugar de dor. Os pensamentos em Kate, me trouxeram novamente a lembrança de ver seu nome estampando o visor do meu celular no dia da tentativa de sequestro. 

Novamente tento me lembrar de tudo o que aconteceu aquele dia, contudo e mais uma vez, sem nenhum sucesso.

Sai do banho, e caminhei até meu quarto, onde Seth me aguarda deitado na minha cama.

— Esse é o meu lado pirralho. – informei enquanto secava meus cabelos.

— O que está havendo entre você e o carinha lá, o tal Mike? – ele não me olhou, fitava o teto.

A pergunta me pegou de surpresa. Tentei ignorar o frio na barriga, que a lembrança de Mike causa!

— Não há nada Seth, ele é só…. só… uma pessoa que salvei, e que acabou me retribuindo o favor, somente isso. – tentei explicar mais uma vez.

— Só isso é? Sei, sei. Ele não olha você com gratidão, olha com interesse. – minha respiração inexplicavelmente e sem permissão  ficou acelerada.

— Pare de falar besteiras, garoto. Deduzir coisas apenas olhando as pessoas, é feio. – caminhei até a cama. – Chega pra lá pentelho. – esperei ele se ajeitar e deitei.

— Gosto dele, Leah. Não que tenha que aprovar nada, sei o quanto você ignora opiniões às vezes. Contudo, e ainda que ignore, resolvi dar a minha. – Seth ajeitou o travesseiro na cabeça. – Gosto da postura dele. Mike não se intimida facilmente. – ele ficou de lado me encarando.

— Como assim? – mais uma vez a curiosidade falando alto. Quando isso acontece, me sinto como essas mulheres que andam pela reserva colhendo todo tipo de informações, para repassar em rodas de conversas e festas de anciões! Talvez amanhã eu levante querendo assistir novelas.

— A forma que ele agiu enquanto você estava inconsciente. – Seth se calou.

Senti um calor aquecer minhas bochechas com força. 

— Fale de uma vez Seth. – não consegui disfarçar a curiosidade na voz. Seth sorriu satisfeito.

— Bom, ele questionou Carlisle, quando fomos te remover da mata, discordou insatisfeito, pois não estávamos te levando a um hospital, só concordou quando Carlisle, afirmou que você não resistiria até chegar no mais próximo, e garantindo que estava te removendo para um local seguro e equipado. Entretanto, quando percebeu que não seria transferida em momento algum, cravou Carlisle com perguntas. Quando ele fez isso, ignorou Emmett, Jasper e eu, que estávamos ao lado do Dr. O objetivo dele era vê-la bem. Isso é algo bom, não é? – Seth parecia realmente gostar de Mike.

— É sim. Agora vamos dormir Pirralho, pois Kate vai levantar exausta e sem saber como foi parar na sua cama. – apaguei o abajur ao meu lado.

— Eu te amo Leah. – ele beijou minha testa. – Durma bem.

— Também te amo Seth. – fechei meus olhos e dormi.
Uma noite sem sonhos ou imagens desagradáveis. 

Tive a sensação que já dormia a séculos, quando um estrondo arrancou-me do meu sono, me deixando em alerta.
— Eu mato você e essa vadia Seth. Como você pode fazer isso? Como pode? Traidor. – Nessie arremessava coisas por todo o quarto.

— Kate! – em menos de dois segundos estava no quarto.

Seth protegia Kate com o próprio corpo, ele estava apenas com uma toalha enrolada na cintura. Parei por um segundo e a imagem foi estranha, mas o que diabos ele fazia ali enrolado em uma toalha?
— Reneesme me ouça, por favor, isso é um mal entendido. – Outro vaso arremessado, desta vez o peguei e não Seth.

— Pare já com isso Reneesme. – ordenei, parando entre ela, meu irmão e minha amiga!! – Kate é uma amiga minha, é casada e Seth dormiu ao meu lado, na minha cama. Controle-se. – fiquei frente a frente com ela. – Acha mesmo que minha Mãe ou eu permitiremos esse tipo de situação dentro desta casa? Agora olhe para Seth, e responda, acredita que ele faria mesmo uma coisa dessas com você, sabendo o quanto pode te ferir? – Nessie, tentava controlar a respiração, na tentativa de se acalmar!

— Ele estava de toalha e ela deitada na cama dele, eu, eu… – a seu coração batia descompassado.

— Meu amor desculpe, eu vim apenas pegar uma roupa e entrei devagar pois Kate estava dormindo. – Seth usava um tom manhoso, e se aproxima com cautela de Nessie.

— Ai meu Deus desculpe-me, Kate, eu...Eu não sei o que dizer… – Nessie olhava para Kate, envergonhada. – Fiquei cega de ciúmes e sem saber ao certo o que fazer desculpe. – Seth a abraçou.

Me aproximei de Kate que estava ainda mais branca do que já é.
— Comece pedindo desculpas Reneesme. – não estou nada feliz em observar o estado de pânico da minha amiga.

— Claro! – Nessie se aproximou. – Kate, desculpe-me, por favor!!! Estou realmente envergonhada. Perdão. Eu... – Kate a interrompeu.

— No seu lugar eu teria feito o mesmo com a diferença que estaria com um bastão de beisebol nas mãos. A surpresa de ser jogada da cama me assustou, só isso. Os batimentos cardíacos de Kate, já estavam normalizando.
— Venha Kate, para o meu quarto, lá você ficará segura todas as noites. – a levei para o meu quarto. – Desculpe por isso. Eu devia ter colocado você aqui Kate.

— Não se preocupe, mulheres apaixonadas às vezes se tornam ciumentas e agressivas. – ela riu das próprias palavras.

— Do que está rindo? – sentei ao seu lado na cama.

— Eu nunca senti isso pelo Brian. Nunca. – ela se ajeitou na cama e cobriu o corpo com a manta. – Você sentia ciúmes dele, Leah? – meu coração acelerou. Kate fez a promessa de jamais mencionar o nome de Jacob novamente.

— Sim. Muito. – empurrei as palavras.

Kate me encarou séria. Permaneceu assim por alguns segundos.

— Você está diferente Leah. Há um brilho nos seus olhos. – ela analisava meu rosto.

— Não seja boba. – deitei ao seu lado e ajeitei meu travesseiro.

— Não serei, mas há um brilho diferente no seu olhar. – ela sorriu se ajeitando na cama. Seus olhos fecharam. Segundos depois ela estava dormindo novamente.

Pensei em ficar na cama, porém, o cheiro de ovos e bacon, fizeram meu estômago reagir.
Vesti um shorts e uma blusinha de manga comprida, pois com Kate em casa… andar de regata será totalmente estranho com um clima frio como o da reserva.

Desci as escadas até a cozinha, onde Nessie e Seth estão.
Meu irmão  está cortando algumas fatias de carne, Nessie está lavando algumas louças, e os dois estão se divertindo, enquanto Seth, zomba dessa nova faceta que acabaram de descobrir nela, o lado ciumenta desconhecido até o dia de hoje!

Fiquei observando os dois alguns segundos. Eles estão tão distraídos e felizes ali, que não notaram minha presença durante alguns segundos. Seth sorrindo olhou para trás.

— Leah, venha deixar Nessie, um pouco mais envergonhada. – meu irmão brincou.
Ao notar minha presença, Nessie se virou, já se desculpando.

— Leah, mais uma vez, me desculpe por favor!!! – Nessie, tem uma expressão de alguém realmente constrangida com a situação. – Eu sou uma estúpida mesmo.

— Eu sei disso. – sentei na bancada na cozinha com o olhar fixo nos dela. 

A expressão divertida de Seth, se dissipou um pouco.

— Felizmente não aconteceu nada, acalme-se amor. – Seth, consolou Nessie, e a abraçou depositando um beijo em seu pescoço.

— Mas poderia. E sabemos disso. – me aproximei deles. – Eu amo vocês, mas não passo a mão na cabeça, quando coisas erradas acontecem, assim como vocês, não passam na minha. Nosso momento de fúria pode matar uma humana comum como Kate. Então precisamos ter o dobro de atenção. Felizmente não aconteceu nada, e vamos nos focar nisso, sem esquecer o cuidado que devemos ter. – voltei a sentar na bancada.

— Leah, tem razão. Minha estupidez poderia ter prejudicado alguém. Não sei lidar com esse tipo de sentimento, é a primeira vez que o vivenciei desta forma. Não é justificativa óbvio. E vou cuidar para filtrar minhas emoções. – Nessie sentou ao meu lado.

— Por favor, eu gosto dos vasos no meu quarto. – Seth tentou descontrair, porém olhou sério em direção a Nessie. – Brincadeiras a parte. Nessie agora tem a consciência do quanto essa situação poderia ter saído do controle, não só por machucar Kate, que é nossa grande preocupação, mas poderíamos ter arrumado um problema ainda maior entre as matilhas, então vamos conversar sobre o que aconteceu, e ter cuidados redobrados para esta situação não se repetir. – Seth parou ao lado de Nessie na bancada. – Depois conversamos sobre essa história de desconfiar de mim.

— Perdão gente. É a única coisa que consigo pedir. – Nessie está realmente envergonhada.

Assentimos sem dizer mais nada.

— Podemos comer agora? – Seth pediu seu estômago roncando alto.
— Devemos. – conclui.

Enquanto estávamos jantando, fiquei observando Seth. E um orgulho sem tamanho, me dominou. Sorri satisfeita por tê-lo como irmão. E ter o prazer de participar da sua evolução.

Jantamos entre risos e conversas leves. Gargalhamos com a relutância de Nessie em tomar suco de Tomate.

— Ah esqueci de falar, esta manhã o Newton esteve aqui, enquanto você dormia, não quis te acordar. – Seth, colocou mais uma garfada de ovos na boca.
— Seth! – Nessie e eu dissemos em uníssono.
— Céus, o que eu fiz? – ele se assustou. – Você teve uma noite agitada.
— Pelos céus!!! – levantei indo procurar meu celular. – Porque não me disse nada Seth? – cruzei os braços irritada.

—  Como disse, eu esqueci. – ele caminhou colocou o prato na pia, sorrindo travesso. – Nossa quanto escândalo, Leah! Achei que ele era só um cara que você salvou, e ele retribuiu o favor  nada demais. – ele pronunciou cada palavra pausadamente. – arremessei um copo, torcendo para acertar sua cabeça, porém, é claro ele segurou o copo. – Acalme-se mulher.

— Além de salvar a minha vida, ele está trabalhando no meu lugar Seth, pare de brincar pelos céus. – avistei meu celular no sofá. Caminhei até o telefone, e liguei. 

O telefone chamou, até cair na caixa postal. Fiquei ali tentando decidir o que fazer.

— Vou até a loja. – falei em voz alta, peguei a chave em cima do móvel, contudo, antes de abrir a porta da sala em direção ao meu carro, Seth me interrompeu.

— Você não vai encontrá-lo na loja irmãzinha. Ou em casa. – ele tomava seu suco calmamente.

Me virei para encará-lo, sentindo uma irritação sem explicação me dominar.

— Seth!!! Pare com isso!!! – Nessie o encarava indignada. 

— Fale logo, e de uma vez, o que conversaram!!! – tentei calcular as palavras para não transparecer minha irritação e também minha ansiedade. 

— Ele veio aqui bem cedo. Queria saber de você, se está bem, como anda sua recuperação. Parecia ansioso para vê-la. Entretanto, não me deixou te acordar, pois não quis incomodar. – Seth, parou de falar, deixando o silêncio preencher o ar, e  me observando atentamente. Ele estava provocando as perguntas, e para minha total infelicidade, terá sucesso em seu plano.

— Okay… e como você sabe que ele não está na loja, ou em casa? – minha paciência evaporou. – Sem enrolações, por favor, sua expressão de imbecil, está me tirando do sério. – Seth gargalhou.  

— Ele me disse, amada irmã. – Seth cruzou os braços e olhou o relógio na parede da sala. – Mas, para o seu alívio, em duas horas ele estará na loja onde vocês trabalham, então, poderá ligar e agradecer. – mais uma vez, o tom superior de quem tem a certeza de que não vou aguardar duas horas, porcaria nenhuma. 

— Seth pare com essa brincadeira. – Nessie o repreendeu.  

— Não há motivos para ansiedade, ele também afirmou que virá mais tarde, após o expediente. – ele sentou no sofá e ligou a tv.

— Chega Seth, pare já com isso ou vou arremessar você para fora!!! Diga, onde ele está? – a curiosidade ganhando voz!

Meu irmão se levantou e parou a centímetros do meu rosto.

— Admita de uma vez, que ele não é apenas um desconhecido que a salvou, assuma que está tão interessada nele, quanto ele está em você!! Faça isso, e se liberte de uma vez por todas. Olhe no espelho e veja que você está viva, e seu coração segue vibrante. Deixe o que há entre vocês fluir, pelos céus!!

— Seth… – queria dizer algo, mas minha voz falhou.

— Mike disse que caso, você estivesse bem, quando acordasse  ele estaria onde vocês se conheceram, desta tentaria ficar com a cabeça fora da água. – sorri sincera conseguindo visualizar Mike, dizendo essas palavras ao meu irmão.

— Obrigada!! – depositei um beijo na testa de Seth.

Subi as escadas rapidamente. Peguei uma roupa no armário do corredor, não quero acordar Kate. Parei diante o espelho. Céus estou uma bagunça. Escovei meus cabelos e os prendi em uma rabo de cavalo, em seguida os soltei, analisei, e com dúvidas preferi deixá-los soltos. Lavei o rosto e desci.

Enquanto chegava à porta de entrada, pude ouvir a aproximação de Embry, que ainda estava na mata.

— Por favor, fique até mamãe voltar, não quero deixar Kate sozinha, diga a ela que volto em breve. – pedi ao meu irmão. 

— Claro, não se preocupe. – Seth caminhou em minha direção com a tipoia nas mãos, sem dizer uma única palavra a encaixou com facilidade no meu braço. 

— Obrigada. – o encarei, por algum motivo extremamente aliviada. Seth apenas assentiu, com emoção nos olhos.

Ao sair de casa, Embry já estava próximo a minha varanda.

Sua expressão cautelosa me incomodou, e me deixou ligeiramente irritada. Não quero resolver nenhum problema, não neste momento.

— O que houve? Aconteceu algo na matilha? – a preocupação acabou dominando meu tom de voz.
— Acalme-se Leah. Está tudo bem com a matilha, prometemos nos comportar até a sua volta, e faremos isso. Se você não demorar muito, é claro! – ele tem um sorriso descarado nos lábios. – Brincadeira. Está tudo calmo. Bom, pedi algo a Sam, mas na verdade gostaria da sua autorização, já que é minha alfa!  – a palavra autorização me deixou desconfortável.

— E desde quando eu mando em qualquer um de vocês, Embry? – cruzei os braços.

— Não manda, e justamente por esse motivo, estou aqui. è simplesmente o respeito pela minha liderança! – ele cruzou seus braços também.

Assenti sorrindo.

— Ótimo, não quero mandar em nenhum de vocês, como já sabem. Enfim… Desembucha antes que eu volte atrás, resolva começar a usar o famoso tom alfa, e diga não sem querer ouvir suas palavras. – brinquei. 

Embry sorriu e continuou…

— Bem, meu tio está doente, e minha mãe quer ajudar o irmão. Gostaria de acompanhá-la neste momento. Mas, meu tio mora na capital, e caso eu vá, teria que me ausentar alguns dias…  – ele voltou a ficar cauteloso.

— Embry, você deve ir, ficar ao lado da sua mãe, apoiar a sua família neste momento é extremamente importante. Não se preocupe com nada aqui, ficaremos bem. – continuei caminhando em direção ao meu carro. 

Embry permaneceu parado fitando a minha casa. Parei sem entender o que estava acontecendo. 

— Tudo bem? – fiquei observando na mesma direção onde os olhos dele estavam fixos. Ele demorou alguns segundos para responder, parecendo um pouco angustiado.

— Tudo sim, é que… sei lá meu coração ficou apertado de repente. – ele massageava o peito.

— É a saudade antecipada da sua matilha. – debochei.

— Deve ser. – ele gargalhou. – Obrigado Leah. Voltarei em alguns dias.

— Vai partir quando? – perguntei entrando no carro.

— Se tudo correr conforme o planejado, vamos partir hoje mesmo. – Embry continuava olhando em direção a minha casa.

— Tudo dará certo. Mande noticias, por favor. E faça uma boa viagem. – desejei verdadeiramente. 

— Obrigado Leah. Assim que chegar, mando notícias. – entrei no carro, e fiquei observando ele caminhar lentamente em direção a mata, fitando minha casa.

Saber que a minha opinião é importante para a matilha, me preenche de uma forma estranha. Tenho orgulho, por ter assumido a matilha, dar apoio aos meninos. Sinto que fiz a escolha certa.

Dei partida no carro e dirigi até o limite do acesso para a praia. Desci do carro e apressei meus passos. Em segundos senti meus pés afundando nas areias brancas da praia. Caminhei até o ponto onde antes o observava, sentado em sua prancha. Não o avistei.  

— Seth eu mato você. – murmurei irritada.

Fechei meus olhos.

Um sorriso preencheu meus lábios. Senti o aroma leve e suavemente mentolado que a pele de Mike, exala. As batidas tranqüilas de seu coração, são totalmente relaxantes.

Abri os olhos, olhando diretamente onde ele estava.

Mike estava sentado em um ponto um pouco mais distante na praia. Seus olhos estavam fixos no mar, exatamente como os meus enquanto o observava sobre aquela prancha por horas durante várias manhãs!

 

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Caminhei em sua direção, e a cada passo, uma discussão acirrada acontecia entre meu coração e minha mente. Um tentando me convencer de sair dali antes que ele me note, e talvez, essa seja a atitude certa. Talvez esteja aqui somente pela curiosidade em saber o porquê ele permanecia horas sozinho em alto mar. Qual a razão, a motivação, o sentimento? Poderia existir alguma história por trás disso, ou  absolutamente nada. Afinal pessoas podem apenas gostar de refletir, junto a própria companhia sem motivo algum. Ou talvez ... esteja aqui por milhões de motivos, e a curiosidade seja o último deles.

Resolvi deixar meu coração me guiar. Deixar de lutar contra ele ao menos um minuto, Tenho feito isso há tanto tempo, que se tornou um hábito.

Estava há poucos metros de distância. E ele estava tão absorto em seus pensamentos, que relutei em tirá-lo de lá.

— Bom dia, Mike. – ele inspirou profundamente, não parecia surpreso. Ou assustado. 

Mike se virou em minha direção, um sorriso encantador preenchendo seus lábios. Seus olhos azuis misteriosos, invadiam os meus com uma força inexplicável. 

— Fico feliz por vê-la aqui, bem e sorrindo. – não havia percebido o sorriso em meus lábios, acho que foi um reflexo do sorriso dele.

Dei alguns passos, parando ao lado dele. Ficamos alguns minutos apenas fitando o mar, e sua força inexplicável e maravilhosa.

Parada aqui, não sei ao certo o que dizer, nem como agir. Mike parece exercer sobre mim, a mesma atração que o mar exerce nele.

Resolvi quebrar o silêncio!

— Mike. – olhei em sua direção. – Quero agradecê-lo por salvar a minha vida. - respirei fundo.

Ele fez um gesto com a cabeça, me chamando para uma caminhada. Começamos a andar pelas areias brancas da praia.

— Bom, aceito, caso eu possa fazer o mesmo. Você também me salvou, e até agora não consegui verbalizar meu, muito obrigado! – ele parou na minha frente, a imensidão azul dos seus olhos, mergulhando nos meus. – Muito obrigado por me salvar, Leah!

Por um minuto senti minhas bochechas arderem, e o frio na barriga que não consigo conter, quase me fez gaguejar… quase.

— Acho que somos bons salva-vidas afinal. – tento dizer qualquer coisa, para tentar disfarçar meu embaraço.

— Ou somos apenas dois desastres, que não deveriam andar sem supervisão! – ele deu um sorriso leve. Um som gostoso de ouvir.
— É uma possibilidade, que devemos levar em consideração. – sorrimos juntos, antes que o silêncio ganhasse força, continuei. – Minha Mãe, contou sobre o trabalho na loja do Sr. Webber. E sinceramente, não tenho palavras para expressar minha gratidão, por essa atitude. Contudo, registro meu, muito obrigada Mike, de coração!! – tento fugir do olhar penetrante dele.

— Está parecendo uma disputa, de agradecimentos. – ele brincou. – Leah… Eu conheço cada canto daquela loja, fui criado naqueles corredores, correndo junto com a Ângela, e enlouquecendo o Sr. Toshiro. Consegui em uma única tacada, ajudar duas pessoas a quem tenho um sentimento de afeto genuíno… você e ele. – meu coração disparou frenético. – E te devo mais um agradecimento. – ele me encarou com um sorriso leve nos lábios.

— Agora tenho certeza, é uma disputa. – afirmei divertida. Mike gargalhou. Um som que tenho certeza, preenche qualquer distância entre ele, e qualquer pessoa no mundo. Um som que me atrai mais a cada segundo. 

— Você tinha dúvidas? – ele respirou fundo ao meu encarar, demorando alguns segundos para retomar o raciocínio. – Você me salva diariamente, então talvez, você não tenha a menor chance de vencer nosso campeonato. – sua voz tinha um tom sério, misturado a uma falsa descontração que tentei ignorar.

Cruzei os braços. Então ele continuou com um sorriso divertido nos lábios.

— Todos os dias eu me salvo da playlist selecionada a dedo para tocar e desagradar os funcionários na Newton’s. Consigo ler, escolher minha comida e a quantidade, sem ter minha Mãe, bancando a nutricionista particular, ou tentando ler meus pensamentos, de cinco em cinco segundos. Eu só não te agradeço por tirar uns dias de folga, pois isso significa que não posso vê-la com facilidade. E definitivamente gostaria de te ver bem mais. – o tom de brincadeira de alguns segundos atrás, desapareceu.

Senti um milhão de borboletas invadirem meu estômago. 

Não são apenas as palavras ditas por ele, que mexem comigo, e elas por si, já causam algum tipo de reação… entretanto, a forma intensa como ele as pronuncia, não me  permite ficar alheia a elas.

Fiquei completamente paralisada, sem saber sequer qual a minha expressão. 

Tenho a impressão, quase uma certeza neste momento… que Mike, entendeu como suas palavras me afetam de alguma maneira, e só não sabe como agir em relação a isso.

— Mike, eu… – tentei dizer algo, contudo desisti. Então ele preencheu o silêncio.

— Nossa, temos que comemorar algo quase inédito entre nós. – sorri com a intimidade nas palavras “ entre nós”. – Essa é a primeira vez que estou ao seu lado sozinho, não estou em perigo, estamos conscientes, minha mãe está distante, e estou conseguindo ver de perto seu sorriso. – assenti completamente envergonhada.

Engoli qualquer tipo de frase que pudesse tirar o sorriso nos lábios dele, e nos meus também!

— Bem, é a primeira vez que conseguimos conversar sem que algum de nós estivesse correndo perigo. – a cada frase que trocamos, fico mais à vontade na presença dele.

— Verdade. Ou com medo de soltar alguma frase que faça com que outras pessoas saibam tudo aquilo que estou tentando preservar. – assenti sabendo exatamente o que ele tenta esconder. – Aliás, mais um agradecimento, que deixa você completamente sem chances de vencer nossa pequena disputa… – ele disse convencido, em seguida me encarou sério. – Obrigado, por mais essa. Você não fazia ideia quem eu era, e mesmo conhecendo minha Mãe, não pronunciou uma palavra sequer quando se deparou comigo na loja. Você foi discreta em relação ao meu incidente. – ele pareceu aliviado.

— Jamais faria algo desse tipo Mike, não gosto de intervir na vida alheia. – fui taxativa, tentando tranqüilizá-lo de certa forma.

— E sigo agradecendo por essa atitude, afinal estou cercado de pessoas que pensam exatamente o contrário. – Mike suspirou pesadamente.

— Infelizmente as pessoas gostam de opinar sobre tudo, inclusive coisas que desconhecem! – entendi exatamente o peso que essa frase carrega, e como é cansativo ter as pessoas achando, supondo e opinando em nossa vida.

Mike apenas assentiu, e sacudiu a cabeça, deixando claro, que este assunto o incomoda.

— Enfim, como está a recuperação? – ele me observou cauteloso, com a preocupação estampada nos olhos.

— Muito bem obrigada, e se tudo der certo, volto ainda esta semana. – respondi animada. – Então o seu retiro de paz, longe da adorável playlist da Newton's… está para acabar.

— Bem, se for para conseguir te ver todos os dias, eu posso aguentar as músicas, e digo mais, vou até cantar algumas. – Mike, diz cada palavra tão confiante, sem medos ou ressalvas.
Meu coração disparou e senti meu rosto ferver novamente. Baixei a cabeça para tentar disfarçar.

— Preciso ir agora, tomar alguns remédios, não quero que nada atrapalhe minha recuperação. – acelerei os passos, ficando um pouco à sua frente. – Até breve Mike.

Antes que a distância entre nós ficasse maior, Mike segurou minha mão. O contato com a pele macia de suas mãos, fez meu coração acelerar.

— Espere. Deixe-me te levar. – seu tom de voz fez um arrepio percorrer meu pescoço.

— Estou de carro, não será necessário. – puxei sutilmente minha mão, e empurrei as palavras. Por um segundo, apenas um milésimo de segundo, me arrependi de ter vindo até aqui dirigindo.

— Então vou te levar até o seu carro. – ele apressou os passos ficando ao meu lado.

— Não é necessário. O caminho até meu carro é bastante seguro. – afirmei em tom de brincadeira. Mike sorriu.

— Eu sei que é, mas quero aproveitar esses últimos minutos ao seu lado, sua presença me deixa tranquilo, minha mente fica em paz quando estou ao seu lado. – o coração dele acelerou ao me dizer essas palavras. E mesmo desejando de coração não me sentir assim, Mike acabou de descrever como  me sinto ao seu lado.

— Certo. – não consigo dizer mais nada.
Caminhamos até meu carro, e para não correr o risco de dizer algo precipitado, no calor de um momento que nem sei ao certo o que significa, cobri Mike de perguntas sobre a rotina da loja. Graças aos céus, ele pareceu não notar minha estratégia, e respondeu a cada uma delas como sua animação de costume.

Chegamos ao meu carro, e a verdade é uma só, não notei esse trajeto, pois, gostando ou não, admitindo ou negando qualquer assunto se torna agradável com ele.

— Obrigada Mike. – uma sensação estranha ameaçou me dominar, quando entrei no carro, sob os olhos atentos dele.

Dei a partida no carro, entretanto, antes de sair…

— Hey Leah, se estiver tranquila e quiser, posso ir até você mais tarde. Levar um café. Ou algo para comer, enquanto conversamos um pouco mais. – seu tom de voz contém nervosismo, misturado com animação. – Posso levar um café mais tarde? Depois que sair da loja. – ele parece ligeiramente envergonhado.

Suspirei, e finalmente o bom senso me alcançou. Refleti alguns segundos, sobre todas as implicações do que está acontecendo aqui. Mike, não faz parte do meu mundo, e não tenho nada a ver com o dele. De repente, senti um medo real de alguma forma, ser a razão desse sorriso lindo que estampa o rosto dele desaparecer. Sou uma pessoa quebrada, e pessoas assim, machucam e ferem todos ao seu redor.

— Mike… – respirei fundo, e empurrei as palavras. – Escuta, não sei qual o sentimento que ficou, em relação ao que aconteceu entre nós. Espero que não tenha nenhum sentimento de dívida. Ou preocupação. Você não me deve nada, absolutamente. Tivemos a sorte de nos cruzar em situações difíceis. Você também me salvou, e estamos em pé de igualdade, então… – Mike colocou a mão no meu braço, interrompendo a frase que viu se formar nos meus lábios.
— Leah, Leah, não! Não tem nada a ver com isso. Óbvio, que o motivo de admirá-la inicialmente foi exatamente por isso, a maneira corajosa e destemida a qual você salvou minha vida, arriscando a sua inclusive. – tentei interromper. – Escute, só um minuto, por favor. – sua voz contém uma súplica, apenas assenti, sem coragem para não ouvir. – Não é isso que me faz voltar, querer desfrutar sua presença. Isso tem a ver exclusivamente com o que eu sinto estando ao seu lado. Sinto paz, minha mente não voa para lugares onde eu gostaria de estar, pois, quando estou perto de você estou exatamente onde quero. Tenho a sensação e a liberdade de ser eu mesmo, sem atender a uma expectativa, já que você não espera nada de mim. E esse sentimento, me traz um alívio imenso, então… Esse é o motivo. Agora se isso a incomoda vou entender. Não se trata só de mim e como me sinto. Se preferir, mantenho distância. – apenas assenti. Com um embrulho incômodo no estômago.

Ele ficou ali, durante alguns segundos aguardando alguma reação….

— Mike, só… eu só. – não sei o que dizer.

— Leah, tudo bem. Você não me deve explicações. – ele suspirou completamente desanimado, e quase, quase me desculpei… quase. Mas as palavras dele ainda estão circulando em minha mente, e impedindo qualquer reação. – Bem, nos vemos na sua volta à loja, tudo bem? – assenti novamente não faço ideia de como reagir neste momento. – Descanse. Até logo.

Mike caminhou de volta para a praia… enquanto o observava quase abri a porta do carro, corri até ele, aceitei o café, a amizade, as conversas, e a forma como me sinto ao lado dele, contudo… não farei isso.

Dei partida no carro e sai pela auto estrada. Mesmo distante, consigo escutar as batidas cadenciadas e leves em seu coração. 

O caminho até minha casa foi infinitamente mais longo. Angustiante e desagradável. 

Entrei em casa tentando sufocar essa sensação de tristeza e perda, que parece querer dominar meu peito. Mike e eu somos de mundos opostos, não faz sentido algum levar essa situação adiante, por uma curiosidade quase mórbida. Me manterei distante, acreditando no mistério que a imensidão azul nos olhos dele possui!! Logo esquecerei essa história… 

Uma semana depois....

Os dias têm sido cansativos, e completamente maçantes. Apenas Kate, e sua presença calorosa salvam alguns momentos e não deixam as horas se arrastarem sem fim. Mesmo não estando em um bom momento, Kate segue trazendo paz para todos ao seu redor. Ela tem se ocupado em cuidar de cada detalhe da minha recuperação, mesmo acreditando que me acidentei realizando uma escalada sem os equipamentos corretos!

Minha rotina está voltando ao normal lenta e calmamente.
Tenho acompanhado a matilha de perto, mesmo sem me transformar, corro mata adentro ao lado dos meninos em algumas rondas.
Nessie e eu temos treinado muito nos últimos dias. São treinos mais leves, sem maiores esforços. E ainda sim ela não consegue me alcançar em uma corrida!! 

Não usar a transformação como maior recurso, está me obrigando a conhecer melhor minhas habilidades. É interessante se redescobrir desta forma! Mesmo alguns anos após minha transformação.  

Tenho me focado em treinar e ampliar minhas percepções, para tirar meu foco de outros assuntos. Por exemplo. Consegui resolver minha situação com Mike. Desde o dia em que nos despedimos na praia, ele não ligou, não apareceu e bem menos esteve na praia. 

Por um instinto inexplicável, diariamente vou até o local onde ele costumava ficar… observo um bom tempo o ponto exato  onde o via sobre a prancha. Não podemos ser amigos, mas não quero vê-lo em apuros. 

— Esse prato vai furar se continuar passando a bucha nele como está fazendo, Leah. – a voz suave e tranqüila da minha Mãe, arrancou-me dos devaneios na minha mente. 

— Nossa nem percebi que estava lavando ele ainda. – minha atenção estava voltada para as reações de Kate ao telefone do lado de fora.

— Kate parece triste. – minha Mãe, observou enquanto Kate, andava de um lado para o outro na varanda, com o telefone na orelha. Dona Sue, está tão preocupada quanto eu. 

— Ela está triste, mas por mais inexplicável que pareça, também está aliviada. Conseguimos sentir tantas coisas ao mesmo tempo, não é? – fiquei refletindo sobre isso.

— Com certeza. Podemos amar e odiar a mesma pessoa ao mesmo tempo. Conseguimos amar uma história, querer ela para nós, mas iniciar outra. Somos um leque repleto com milhões de emoções. – minha mãe pendurou o pano de prato, me encarando sugestiva. Entendi exatamente o que ela está tentando dizer, contudo, antes de formar uma resposta… Kate desligou o telefone e respirou fundo antes de caminhar até o sofá que fica na varanda.

— Vou ver como ela está! – encerrei o assunto com Dona Sue, me aproximei da varanda cautelosa, encostei no batente da porta. – Como estão as coisas?!

— Acabou oficialmente Leah, Brian tirou todas as coisas da nossa casa. Bem… agora a casa é só minha. – as lágrimas desciam pelo seu delicado rosto. – Ele não quis falar comigo, ou me deixar um recado, Aliás, ele nem perguntou por mim. Apenas avisou meus pais que em breve enviará os papéis legalizando a separação. E partiu.

Sentei ao lado dela.

— Kate, ele está magoado, ferido... – não sei  ao certo o que dizer neste momento. Kate anda evitando o assunto.

— Eu sei. No fundo Leah, eu sempre soube que havia algo errado, mas nunca consegui explicar ao certo o que. Quando conheci Brian me apaixonei, porém, sempre desejava algo a mais da nossa relação. Quando nos beijávamos esperava mais paixão, no abraço mais calor. Eu queria aventura, perigo e sei lá mais o que, jamais conseguia dar nome a minha expectativa. Depois sentia uma inquietação agonizante, pois achava que estava fantasiando, tentando alcançar amores impossíveis como nos livros, em seguida convencia a minha mente sobre os sentimentos e amores reais, durante um tempo me achava patética, e por fim e ciclo se repetia. Agora admitindo que tudo isso sempre esteve ali, tenho certeza…. todos esses sentimentos, eram apenas uma justificativa para mascarar algo que eu sempre soube. – Kate dizia entre lágrimas, e eu posso sentir sua dor. – Não era ele Leah. Eu só desejava que fosse, com toda força no meu coração, tentei fazer ser ele, o máximo que pude. Ignorei e continuaria fazendo isso, caso ele não partisse. Algumas vezes parecia terrivelmente errado ficar ao seu lado, mas eu o amava, não da forma que ele precisava e merecia ser amado, contudo, assim mesmo era amor.

Fiquei ali absorvendo essas palavras, e de certa forma, dão sentido para a minha história. Eu amei tanto Jacob, e não quis enxergar como ele se sentia.

Jacob provavelmente me amou, ou tentou. Mas não da forma ansiada por mim, foi algo parecido com a situação de Kate e Brian… foi da forma que ele pode naquele momento, e não da forma que eu mereço.

— Não se culpe Kate. Não controlamos muitas coisas, e sentimentos é a principal delas.  – vendo a verdade nos sentimentos de Kate, começo a entender os motivos de Jacob partir.

— Eu deveria ter feito algo antes, tentar minimizar o sofrimento, a dor e sua angústia. Mas deixei o vazio das faltas que ele jamais conseguiria suprir,  nos engolir. Esse foi meu erro Leah, e a culpa por essas atitudes serão meu castigo. Perdi uma pessoa especial, que antes de tudo era meu melhor amigo. Brian, está sofrendo, magoado e pior… com raiva. E esses sentimentos não vão permitir um perdão, jamais! – a cada palavra dita, e mesmo sendo visível a tristeza nelas, há também uma aceitação. Kate aceitou o erro, assumiu a culpa. Essa atitude, por mais dolorosa que seja, ensina e liberta.

— Diga-me, existe algo que possa fazer para te ajudar? Farei qualquer coisa! – me sinto totalmente inútil nessa situação.

— Preciso da minha melhor amiga. – Kate desabou num choro compulsivo, a abracei com força. Meu desejo é aquecê-la por dentro, tanto quanto consigo fazer por fora.

Contudo, infelizmente ela precisa abraçar esse momento, para ter a chance de seguir adiante um dia.

Kate permaneceu assim até adormecer, ela está exausta. Sem nenhuma chance de acordar, a levei para cima, coloquei confortavelmente na cama, amanhã direi que Seth o fez.

Desci as escadas pensando em cada palavra dita por Kate. Cada sentimento e como ela também não conseguiria evitar absolutamente nada, mas neste momento ela também não pode evitar sentir-se desta forma.

Estranhamente começo a entender os sentimentos de Jacob. Talvez aceitá-los antes, tivesse sido menos doloroso, ou não, provavelmente a intensidade do meu sentir jamais me permitiria algo diferente. Então aceito a responsabilidade…. 

— Chega de voltar a esse assunto Leah. – me repreendi.

Subi, tomei um banho e fui deitar, amanhã será minha volta ao trabalho, após toda essa confusão, e quero estar descansada e apta! Estou ansiosa para retomar minha rotina.
Deitei e dormi tranqüilamente. 

Sonhei com as ondas do mar em La Push. 

…….

Acordei com um aroma delicioso de panquecas, invadindo meu quarto. Levantei em um salto. Abri a janela e deixei o sol da manhã inundar o ambiente. Caminhei pelo corredor escutando as risadas no andar de baixo. Sorri agradecendo por desfrutar de um ambiente caloroso como é o da minha casa.

Tomei um banho tão rápido que visto por um humano comum seria assustador. Desci as escadas sorrindo com as piadas de Kate sobre Seth, não colocar roupas nunca.

Parei na soleira entre a sala e a cozinha.

— Ele quer ver a namorada arrancar cabeças na reserva Kate, e ela em breve fará, caso ele demore a se vestir. – debochei.

— Pelos céus!!! Ela é forte, e bem nervosa. Seth, pelo bem das mocinhas indefesas em La Push, tenha bom senso e coloque uma camisa. – Kate, encarava meu irmão divertida.
— E por falar em coisas pequenas e nervosas onde ela está? – perguntei curiosa. Nessie acorda Seth todas as manhãs.
— Em casa. Hoje tenho um compromisso muito importante. – olhei sem entender. 

— Compromisso? Do que você está falando? – desconfiei.

Seth se aproximou colocando a camisa.

— Com você!! – fiquei boquiaberta. – Eu a levarei e a pegarei no seu trabalho, nos próximos dias, até você voltar a se transf... – ele engoliu as palavras a seco, Kate estava atenta à conversa. – Até você se recuperar completamente. – fiquei incrédula com a ousadia dele.

— Você não ousaria, Seth Clearwater. – ameacei. – Nunca precisei de babá, ou monitoria e não  vou começar a esta altura da minha vida. – ainda estou incrédula com a ousadia dele.

— Nunca é tarde para aprender algumas coisas minha filha. – minha Mãe me encarou séria. – Seth, atendeu a um pedido meu, devido algumas escolhas, que colocaram sua segurança em risco, nesses primeiros dias ele vai te acompanhar. Isso não está em discussão. – minha mãe informou decidida.

Me aproximei.

— Você está me castigando? – quase sussurrei.

Minha mãe se afastou e parou ao lado de Kate, colocou as mãos nos ombros delicados da minha amiga.

— Pode ser, não havia pensado desta forma. Mas após suas escolhas interessantes, prefiro não arriscar, então que te sirva como lição, para não se repelir. – ela disse tranquilamente.

Fiquei boquiaberta novamente. Incrédula.

— Vamos Leah, estamos ficando atrasados!! – Seth abriu a porta, me aguardando, com um imenso sorriso nos lábios.
Trinquei os dentes.

— Isso é completamente ridículo. você vai me levar e me buscar? – cruzei os braços irritada.

— Falei com o Sr. Toshiro, e ele não viu nenhum problema em Kate, te acompanhar nessa readaptação. Expliquei que ela é amiga da família e ficará na reserva durante algum tempo, e me sentiria mais tranquila com a presença dela te auxiliando no seu retorno. – minha mãe soltou as palavras enquanto ajudava Kate a colocar o casaco.

Acredito que vou passar a semana boquiaberta, com toda a situação. Antes que pudesse retrucar, lembrei da expressão de Dona Sue, quando despertei. Respirei fundo.

— Hey Leah. Não é nenhum problema ajudar, E sua mãe, está fazendo isso para te proteger, pois se preocupa. – Kate se aproximou tentando me tranquilizar.

Apenas assenti. Sabia que minha mãe iria me castigar de alguma forma. Aceito as consequências dos meus erros.

Kate pegou a bolsa e saiu feliz e tranqüila em direção ao carro.

—Vamos maninha, ou chegaremos atrasados! – Seth seguia segurando as chaves e me aguardando.

— Não me provoque Seth, ou o tom alfa será utilizado pela primeira vez, e o sortudo será você. – ameacei irritada.

Meu irmão gargalhou.

— Sim senhora! Prometo me comportar. – passei por ele pisando duro, completamente irritada.

Entramos no carro e partimos. Ainda estou incrédula, que estou sendo supervisionada, mas resolvi aceitar, até porque minha mãe não me deixou muitas opções.

Kate e Seth, seguiram tagarelando durante todo o trajeto até o centro. Eu só consigo pensar em como vou me desculpar com Mike, pelas últimas grosserias.

Chegando ao centro de Forks, me senti menos ansiosa. Sr. Toshiro nos aguardava em frente a loja com um sorriso simpático estampando seu rosto. Descemos do carro e ele caminhou em nossa direção.

— Leah!!! – ele me deu um abraço tímido. – Estou feliz com o seu retorno, mas desejo sua recuperação total, então responda com sinceridade, se realmente está apta para trabalhar? Estou achando cedo esse retorno. – sua preocupação sincera me emocionou. 

— Mesmo se eu quisesse voltar antes da minha recuperação total, minha mãe não permitiria, e mesmo liberada pelo médico, ela resolveu ter certeza da minha segurança. – olhei para trás em direção a Kate e Seth. Sr. Toshiro,  entendeu meu olhar sugestivo em direção a eles. – Estou bem, já retirei a tipóia, e finalizo meus remédios em poucos dias. – quase confessei não aguentar mais um minuto em casa, porém, vou tranquilizá-lo. – Como você e minha mãe conversaram, Kate estará me auxiliando até me acostumar com a rotina novamente, sem contratempos. – Kate se aproximou e estendeu a mão, para cumprimentar o Sr. Toshiro.

Após as apresentações oficiais de Kate, para a equipe da loja, fui atualizada sobre os novos produtos, as mudanças no sistema, o que temos em estoque, e a reforma na loja filial.

Haviam planilhas que Mike criou, para me atualizar do passo a passo de coisas que ele implantou para acelerar alguns procedimentos na loja. Após as atualizações, o Sr. Toshiro saiu apressado para encontrar a filha Ângela, em Port. Angels.

Acomodei Kate em um lugar confortável, a deixei escolhendo um livro. Parei para prestar atenção na extrema organização da loja. Inspirei profundamente e pude sentir o aroma mentolado e o perfume de Mike pairando no ar sutilmente.

Senti um frio na barriga, só imaginando os dias dele aqui dentro.

Meus sentidos focados na loja ao lado. Ainda não há movimentação. Eu chego às oito, e a Newtons, abre após às nove.

Verifiquei algumas atividades dos funcionários, dei baixa em algumas notas, contudo infelizmente o tempo não passa.

— Ansiosa Leah? – Kate, questionou com o livro nas mãos. – Você não para de olhar para a entrada, está aguardando algo, ou quem sabe, alguém?! – seu olhar é perspicaz.

— Só estou um pouco ansiosa com as novidades na loja. O novo sistema, funcionários, e produtos. Muitas coisas para assimilar em um único dia. – disfarcei.

— Huumm, entendi. Vá aos poucos, você não está em uma maratona. – Kate aconselhou, ligeiramente desconfiada.

— Pode deixar. – tomei um copo d’água, para disfarçar o nervosismo, enquanto Kate falava, consegui captar a aproximação de Mike e Karen. Eles estavam entrando na avenida principal, mas já os ouvia como se estivessem em frente à loja.

Comecei a mexer no computador, para tentar não escutar o que estavam dizendo, contudo, a curiosidade foi maior.

A voz de Karen contém uma certa impaciência, nos conselhos, o que está fazendo o coração de Mike bater irregular.

— Tanto tempo de relacionamento, e não posso achar sem cabimento, você aqui há tantos dias, e ela não ter ligado uma única vez? Houve alguma traição para terminarem desta forma?— Karen questionou ligeiramente irritada.

Meu coração acelerou desconfortável, com certeza eles estão falando de uma mulher, Será essa a razão pela qual Mike, voltou?
— Pessoas não se falam após términos, Mãe. Não há nada estranho com a situação. E já disse a você o motivo pelo qual terminamos, não tem nenhum mistério. Não temos nada a ver um com o outro. Ponto. Entenda de uma vez, e vamos encerrar este assunto. — Mike respondeu, seu tom de voz inegavelmente irritado.

Um sorriso involuntário escapou dos meus lábios.

Relacionamentos são complicados meu filho, óbvio que vocês são diferentes. Somos de excelente família, claro… entretanto, ela é filha de um Senador, e para serem felizes juntos, é necessário ceder, realizar alguns ajustes na relação.  Faça um esforço, seu futuro pode ser brilhante ao lado dessa moça.— Karen insistiu.

— Mãe! Chega, já conversamos milhões de vezes desde a minha chegada, está se tornando exaustivo. Por favor. — havia uma súplica em seu tom de voz. 

O carro estacionou em frente a Newton’s. Karen desceu e Mike seguiu em frente, indo guardar o carro.

Sua inquietação me deixa inquieta também, e isso é ligeiramente irritante. 

— Leah! – a voz de Kate, me sobressaltou. – Céus, por onde essa cabecinha tem estado? Aqui certamente não é. – Kate arqueou a sobrancelha esquerda. Não tive tempo sequer de responder, e a porta da loja abriu, deixando o perfume extremamente doce de Karen, impregnar todo o ambiente.

Com Kate, na minha frente não consegui simplesmente desaparecer.

— Bom dia Leah!!! Vim desejar boas vindas. – a voz estridente dela, não me irritou, confesso que estava sentindo falta.

— Obrigada Karen. – agradeci sincera.

Karen mediu Kate, da cabeça aos pés.

— Funcionária nova? – ela estendeu a mão na direção de Kate. – Prazer me chamo Karen. 

Kate apertou sua mão, com um sorriso simpático nos lábios. 

— Prazer me chamo Kate, e só estou acompanhando Leah. Sou uma amiga. – Kate parou ao meu lado.

— Ufa, fiquei realmente preocupada com seu incidente Leah, porém confesso, estou aliviada. Agora meu filho poderá voltar a suas atividades normais, e começar a organizar seu retorno a Nova York. – ela suspirou aliviada. – Bem meninas, é um prazer conversar com vocês. Leah ótimo recomeço, muito prazer Kath. Agora vou inspecionar a abertura da loja. Até mais tarde. – Karen ajeitou sua bolsa e saiu sem olhar para trás.

— É Kate, não Kath… – Kate resmungou desgostosa. 

— Será que ela vai cumprir a ameaça? – perguntei séria a Kate.

— Qual? – Kate perguntou confusa.

— A de voltar mais tarde. – respondi fingindo medo. Kate gargalhou.

Faria o mesmo, mas o sorriso fugiu dos meus lábios, quando o aroma levemente mentolado na pele de Mike, invadiu minhas narinas, ele se aproxima da loja rapidamente

— Vou checar o estoque. – olhei ao redor e a saída mais rápida é, realizar uma boa contagem. Caminhei rapidamente para o estoque, deixando Kate confusa, me observando fugir. 

Meu coração disparou quando ele abriu a porta da loja. Droga!

— Bom Dia. – Mike desejou simpático.

— Bom dia. – Kate respondeu com sua habitual voz feliz.

— Você deve ser Kate, certo? – revirei os olhos, antes de deduzir o motivo dele saber quem é Kate… – O Sr. Toshiro me falou que viria para ajudar Leah.

— Sou eu mesma. Você seria… – A voz curiosa de Kate, me irritou um pouco.

— Desculpe-me a falta de educação. Sou Mike Newton, trabalho aqui ao lado.

— Então você é o Mike, da Leah. – Kate gaguejou. – Quero dizer, não o Mike da Leah, no sentido romântico, ou algum sentido de pertencer ou algo do tipo. Nossa, a explicação ficou pior que a própria frase, que já não estava boa.

Quase uivei. Vontade de arremessar Kate até ela alcançar a reserva.

O som da gargalhada de Mike, me fez sorrir junto.

— Eu entendi. Sou o Mike da Leah, sim. Sem ser nada romântico, é claro. Agora, você pode me dizer onde, “minha” Leah está? – quase gargalhei, levei a mão até a boca, abafando a risada que ameaça escapar. – Minha no sentido, de salvadora. Quero ressaltar novamente, que esse termo não tem nada romântico. – ele sussurrou em tom de brincadeira. 

Kate riu.

— “Nossa, Leah”… – Kate ressaltou. – Está no estoque. Vou chamá-la. – me escondi enquanto ouvia Kate, me entregar.

— Não é necessário Kate, sei exatamente onde fica o estoque, vou até lá falar com ela. – Mike deu dois passos. – Foi um prazer te conhecer Kate.

— Igualmente Mike. – Kate respondeu satisfeita.

Droga, não tem como sair daqui sem quebrar uma parede.

Comecei a olhar as caixas com os novos livros para tentar disfarçar. O perfume na pele dele preencheu o ar. Prendi a respiração por alguns instantes, para tentar conter as reações involuntárias do meu corpo.

— Bom dia, Leah. – ele parou em frente a porta do estoque.

Engoli a seco. Me virei tentando parecer tranquila.

— Bom dia Mike, como vai? – nossos olhos se cruzaram por um breve instante, baixei o olhar. E continuei mexendo nas caixas.

— Tudo tranquilo. Nossa, como é bom vê-la aqui novamente. – ele foi direto, céus Mike não consegue ser menos direto? 

— Obrigada Mike. Estou feliz em te ver também. – soltei as palavras sem controle, quase um reflexo. 

Um sorriso largo se espalhou em seu rosto angelical. Os olhos azuis penetrantes me fitando intensos como sempre.

— Fico feliz em ouvir isso, não sabia exatamente como seria nosso reencontro, após nossa última conversa e… – ele está completamente envergonhado.

Me senti péssima ao vê-lo agir assim, quem deveria se envergonhar aquele dia… sou eu.

— Mike, quero te pedir desculpas por aquele dia. Eu só… só… – não consegui explicar, ou encontrar palavras para mentir.

— Sem problemas Leah, eu fui precipitado realmente. – ele suspirou pesadamente. Enfim, cá estamos sendo desastres novamente. – ele sorriu sem humor. –Bem, vou deixar você trabalhando em paz. – Mike, me fitou durante alguns segundos. – Até breve.

— Até breve. – gostaria de ter coragem, e esticar o assunto  ficar ao lado dele alguns segundos mais, contudo não farei.

Mike deu alguns passos. E voltou até a porta do estoque.

— Mais tarde podemos tomar um café, o que acha ? – ele perguntou sorrindo.

Foi impossível não sorrir junto. Mike tem algo que me relaxa de uma forma tão natural.

— Mike… – ia verbalizar um não, educadamente, mas não tive tempo, ele me interrompeu antes.

— Okay, okay, não vou me apressar desta vez. Mas não vou desistir, só quero informar isso. – Mike partiu em direção a porta de saída decidido, contudo, antes de fechar as portas de vidro da loja, ele parou e me encarou, com um sorriso nos lábios. Sorri de volta, mesmo tentando conter. Já estou quase desistindo de conter minhas emoções em relação ao que acontece entre nós. 

Quando ele partiu, fiquei ali observando, tentando entender onde o deixei entrar desta maneira, e qual motivo ele mexe tanto comigo. Me sinto estúpida e quase infantil por estar assim.
— Ele parece ser um cara legal, Leah. – a voz de Kate me puxou de volta à realidade. – Além de ser muito bonito.

— Ele é legal sim. É bonito também. – Kate me encarava ansiosa. – Somos apenas amigos, nada mais. – voltei a mexer em nada, no sistema da loja.

— Não é o que parece, quero dizer, vocês não se olham como amigos. – Kate soltou as palavras, me deixando completamente desconcertada.

— Temos um sentimento mútuo de gratidão, só isso. Não temos nada a ver um com o outro. – venho tentando me convencer disso o tempo todo.

— Você realmente acredita nas palavras que está dizendo? – Kate se aproximou. – Quando está perto dele, você sorri sem esforço algum, um sorriso tão leve Leah. – meu coração acelerou com as palavras dela. – E a forma intensa como ele te olha, contém muitos sentimentos, mas tenho certeza… gratidão não é um deles. 

— Kate, eu só não quero esse tipo de complicação agora. – respondi sem entender ao certo o que quero dizer.

— Você me disse algo há uns dias atrás. Que não controlamos muitas coisas na vida, e os sentimentos são uma delas. Então pare de querer controlar o seus, ou todas as situações. Vá se aventurar, amar, sorrir, viver!!! Só não quero vê-la fugindo para sempre, que é exatamente o que estou vendo você fazer agora.

Apertei os olhos, tentando conter algo, sem saber ao certo o que. Céus,  todas essas emoções e não chegamos nem no horário do almoço.

— Vamos fazer algo que posso controlar neste momento, que é trabalhar!!! – quase pedi. – Ocupar nossas mentes. Deixar nossos sentimentos de lado algumas horas.  e já que está aqui, vamos trabalhar, nos distrair. Depois encontramos algumas respostas, pode ser?

Kate assentiu sorrindo.

— Vamos lá. – ela prendeu os cabelos animada.

Respirei fundo, deixando de lado, por algumas horas, todo sentimento que não posso controlar.


......

 

Uma semana interessante, essa é a frase certa para definir os últimos dias. 

Kate torna meu dia no trabalho agradável e leve. Mike misterioso e intenso.

Todos os dias desde o meu retorno ele nos traz café da manhã. É observador, e atencioso. 

Para Kate ele traz chocolate com cobertura extra de creme e pães de mel, para mim sempre chocolate com canela e pão de canela. Como ele soube exatamente o que gostamos? Observando. Por exemplo, notou em um dia de almoço, onde ele, Kate e eu, sentamos para comer, minha aversão por comidas exageradamente doces, e meu fascínio por gostos mais peculiares. Sua teoria consiste em nossas expressões.

Mike afirma que, minha expressão mais séria, minha postura mais agressiva, diz que não sou o tipo de garota devorando coisas adocicadas demais. Já Kate, que tem até o tom de voz mais doce, se identifica com a doçura excessiva em todas as coisas. Chegamos a conclusão, que ou ele observa nossas compras na padaria, ou simplesmente tem a teoria mais estranha e assertiva do mundo. Para não dar a ele um crédito extremo, prefiro acreditar na primeira opção sempre.

Eu também ando observando Mike, por mais que tente não fazer isso. E já não tento mais entender os motivos. Restam apenas algumas perguntas, para sanar essa curiosidade em descobrir os motivos dele omitir a data real de sua chegada a cidade, até para os pais.

Com a minha volta ao trabalho tenho notado algumas atitudes interessantes, que o tornam ainda mais misterioso. Todas as tardes Mike, senta-se no mesmo banco mais afastado na praça e fica por lá. Às vezes ele leva o notebook, mas passa o tempo todo sem digitar absolutamente nada, ele fica ali, apenas observando algo, e não faço a menor ideia do que. Minha vontade é perguntar: o que está havendo? Ou simplesmente, sentar ao lado dele e ficar ali, pois, o martelar do seu coração torna-se tão tranquilo, parece uma música que você pode ouvir milhões de vezes, e jamais vai cansar. Nesses momentos agradeço ser uma loba, e poder ouvir esse som, que o torna cada dia mais especial.

— Você deveria ir até lá. – a voz de Seth, me sobressaltou.

— E você deveria cuidar da sua vida. – cortei os conselhos irritada. – Aliás, o que está fazendo aqui, se designei você para a ronda desta tarde? – perguntei irritada. 

— Existe alguém acima de você, que não ouso desobedecer, óh minha suprema Alfa. – cruzei os braços. – Esta pessoa é a minha Mãe, e desculpe, prefiro enfrentar cinquenta Leah’s irritadas, do que uma Dona Sue brava. – sorri com o argumento mais que válido. – E te garanto uma coisa, você sentirá falta amanhã. – ele disse convencido.

— Certamente ela sentirá falta, principalmente da nossa alegria contagiante. – Nessie completou animada.

— Pronto, temos um casal de convencidos aqui, é isso mesmo? – debochei.

— É herança na família de vocês, serem convencidos, e teimosos como mulas. – Nessie respondeu. Cerrei meus olhos ao encará-la. Kate se divertia.

Antes que eu pudesse responder ouvi os passos de Mike em direção à loja. Meu coração disparou, Seth olhou na direção da praça, e quando viu Mike se aproximar, sorriu.

— Vamos dar uma volta, meninas? Comprar mais comida.  Afinal a festa de boas vindas que Emily, vai organizar para o Embry é hoje, e toda comida para nós é bem vinda. Vamos. – Seth, se encaminhou até os fundos da loja. Nessie e Kate sabem o motivo. Nessie por ouvir meus batimentos acelerados e conseguir ver a aproximação de Mike, mesmo a distância! E Kate, por simplesmente já conhecer minha expressão corporal, com a aproximação de Mike! 

Agradeci mentalmente vê-los partir, afinal não controlo as batidas aceleradas no meu coração quando o Newton, se aproxima, e meu irmão e Nessie, escutam claramente Não que ocorra sempre, talvez aconteça uma vez ou outra apenas.

Ainda conseguia ouvir risos e palhaçadas do meu irmão com Nessie e Kate, quando Mike abriu a porta da loja.

— Ola Leah. – comecei a realizar a contagem do caixa, tentando não ficar tensa com a presença dele, ou ao menos não demonstrar. 

— Oi Mike. Estou fechando o caixa. – tentei mostrar a ele que estou ocupada, entretanto e sem perceber contava as notas tão rápido que vou finalizar em segundos.

— Eu espero sem problemas. – ele parou e passou para o lado da loja onde havia o café, pegou um livro da prateleira e começou a folheá-lo.

Terminei de fechar o caixa e enrolei mais um minuto, que pareceu uma maldita eternidade.

— Me diga como posso ajudar? Se é que está ao meu alcance… – tentei parecer natural, e sorri tentando descontrair. 

— Você não vai ajudar caso, escolha não fazê-lo. – ele apoiou os cotovelos sobre o balcão parando há alguns centímetros do meu rosto. – Vim te convidar para sair hoje. Sei o quanto você é contra isso, porém, somos  adultos, eu não mordo, você aparentemente também não. – ele sorriu do próprio comentário, claramente nervoso. – Eu quero fazer isso desde o primeiro instante que a vi. Bem desde os segundos instantes se pudermos esquecer o afogamento, é claro.

Se não fosse o que sou, estaria gelada, pois sei o que ele fará.

Não sei como agir, quero impedi-lo, e ao mesmo tempo anseio por isso. 

— Mike, escute... Eu... Olha… – droga não consigo encontrar as palavras, e fico parecendo uma garota tola e indefesa, e odeio me sentir desta maneira.

— Leah, só me ouça, okay? Faremos algo leve, com muitas testemunhas, eu provavelmente vou te irritar na primeira hora, pois falo muito quando estou nervoso, e fico nervoso na sua presença às vezes. Então, só me dê uma chance. Permita-me aproximar um pouco mais, farei isso com cautela. Ou vou tentar. – sorri sincera.

— Você não me parece cauteloso Mike Newton. – brinquei.

— Vou te falar o que tenho em mente. Você verá que não há maldade alguma no meu convite. – ele respirou fundo. – Hoje terá uma sessão de cinema antigo ao ar livre no parque. Podemos ir, o número de  testemunhas é razoavelmente grande. – a voz dele pareceu desaparecer…

Foi inevitável. A lembrança me atingiu como uma faca afiada rasgando meu peito, arrancando o sorriso nos meus lábios. Eu sabia que um dia essa lembrança iria se virar contra mim.

Me virei apoiando uma das mãos no balcão, a outra imediatamente no meu peito, tentando conter a dor que se espalha rapidamente pelo meu corpo. 

Comecei inspirar profundamente, tentando cortar as imagens que estão invadindo minha mente. Contudo elas são tão nítidas e me atingem com uma intensidade impressionante. 

— Não. – sussurrei.

 

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— Hoje é dia de cinema no parque Leah. O filme em cartaz é antigo, não sei se você já foi algum dia. Eu nunca, mas achei legal, e interessante.

A surpresa estampou meu rosto.

— Não, nunca fui. – soltei as palavras.

— Ótimo, vamos agora. – ele estendeu a mão e entrelaçou seus dedos nos meus, me puxando em sua direção.

— Vai chover, Jake. – quase sussurrei.

— Não somos feitos de açúcar Leah. – gargalhei e o segui até a bilheteria. 

Fiquei ali parada completamente apreensiva, e não estou conseguindo sequer controlar esse sentimento. Jacob me analisava, parecia tentar entender o motivo da minha apreensão. Percebi que ele lutava para não me perguntar. Está aqui diante meus olhos tentando achar as palavras para fazer isso.

— Pergunte Jacob. A pergunta está parada na sua garganta. – acabei com o drama, agora, talvez, pudéssemos continuar a noite.
—  Você não gostou da idéia, de irmos no cinema ao ar livre? Tem lembranças ruins, sei lá? Notei sua apreensão. – ele parou na minha frente. Coração em ritmo acelerado.

— Não é isso. E nunca estive aqui, como já disse. Vamos é bobeira minha Jacob.  – tentei seguir em frente, ele segurou meu braço.
— Não é bobeira se está te incomodando Leah. Fale. Confiança lembra?! Você confia em mim, eu em você. – Jacob me abraçou. – Quer fazer outra coisa, pode falar, vamos sem problemas, sou novo nesse negócio de encontro.

—  Não é isso. Eu quero muito estar aqui, só… – respirei fundo buscando coragem para falar a verdade a ele. – Esses pequenos acertos, como irmos ao cinema ao ar livre, juntos pela primeira vez, criam lembranças. Geralmente inesquecíveis. E eu tenho medo dessas lembranças, pois elas se viram contra mim depois. Só isso. – confessei. Jacob respirou fundo me encarando sério.

—  Escuta, vamos tornar essas pequenas coisas, em momentos comuns e nossos. – continuamos a caminhar com nossas mãos entrelaçadas.

— Eu e você aqui… já não é algo comum Jake. – disse entre risadas.

— Então vamos tornar comum, nós aqui e em qualquer outro lugar. Certo? – assenti satisfeita. – Agora vamos ver se esse cinema é legal mesmo. – Jacob está visivelmente animado.

Assenti afastando o medo, e gravando todo momento feliz ao lado dele. Fomos até o guichê, Jacob comprou os ingressos, e de mãos dadas caminhamos pelo parque no centro de Forks.”

Sorri com cada momento dessa lembrança, quase posso tocar as nuances no rosto moreno de Jacob, aquela noite caso estique as mãos.

Um vazio opressor ameaçou dominar meu peito. Bloqueei essa lembrança por tanto tempo, a enterrei tão profundamente… e após anos, Mike a puxou tão rápido sem me dar chance de impedir.

— Então o que acha, posso te pegar a que horas? – a voz grossa e ao mesmo tempo suave dele trouxe-me de volta.

Senti uma fúria desconhecida e incontrolável lamber cada pedaço da ferida no meu peito. Ela parece ter sido aberta… exposta, segue ferindo meu peito.

— Não. – me virei para ele, o sorriso que há poucos segundos estampava seu rosto, desapareceu. – Escuta Mike, não vamos sair hoje, e nem nunca. Somos completamente diferentes. Nos salvamos mutuamente, e existe essa gratidão entre nós e ela vai existir enquanto estivermos vivos, mas é só. Pare de ser gentil, grato ou algo mais. – minha respiração acelerou, pois a lembrança ainda preenche minha mente.

— Novamente essa conversa de gratidão. Céus. Qual o motivo de achar uma desculpa para o que estou sentindo? O que a leva a viver na defensiva desta forma? – seu tom de voz é quase incrédulo.

— Não importa, não quero sair com você, ou me relacionar com alguém que não faz parte do meu mundo… – um tom raivoso dominou minha voz. Mike me interrompeu neste momento.

— Como assim somos de mundos diferentes? Está escutando as besteiras que está dizendo? Você, não me conhece direito Leah, pois, toda vez que tento uma aproximação, sou empurrado para longe. Você sempre nomeia meus sentimentos, e tenha certeza, está fazendo errado. O que sinto está longe de ser preocupação ou gratidão, estou aqui não pelo por ter sido salvo, e sim pela pessoa que está diante meus olhos!!! Qual é o seu problema, Leah? – seu tom de voz não se alterou.
— Você é o meu problema Mike. – meu tom de voz subiu um pouco mais, o coração dele disparou. – Eu não quero deixar você se aproximar. Não conversamos muito, porém eu o conheço. Rico criado debaixo da saia da mamãe, sempre foi o número um para tudo, a criança linda depois o adolescente maravilhoso, atleta, se tornou advogado famoso. Um filho perfeito. Vai casar com a chefe de torcida, rainha do baile, filha do senador… o casal perfeito. Tenho absoluta certeza da perfeição dos filhos que terão. Não foi tão difícil assim te descrever, não é? Eu sou muito diferente da sua vida perfeita, nasci e cresci aqui, não tenho planos de sair, sou explosiva, irritada, nunca fui líder de torcida ou rainha do baile, e definitivamente não seria bem vinda em um jantar com mais de dois talheres a mesa e guardanapos de pano no meu colo, agora me responda com sinceridade… por qual motivo eu iria me aproximar de você, que em breve vai voltar para a sua vida perfeita longe daqui? 

A decepção nos olhos dele poderia ser uma faca afiada cortando minha língua ao meio.
— Você está certa, Leah Clearwater. – ele se afastou do balcão e caminhou até a porta segurou a maçaneta com força, sua respiração era irregular.
Tentei controlar minha respiração. Não acredito em nenhuma palavra dita aqui…. Droga, o que eu fiz?

A sensação de tranquilidade que a presença de Mike traz, me alcançou novamente. 

Porcaria de lembrança, nem amiga dele poderei ser, após dizer todas essas asneiras. Parabéns Leah, o mérito de imbecil do ano é todo seu!!! 

Mike abriu a porta, saiu e respirou fundo, sem sair da entrada da loja. Segurava a porta sem permitir que ela fechasse.

— Mike, me perdoe. – sussurrei, em um tom impossível dele ouvir. Minha respiração irregular. Os pensamentos, totalmente fora de ordem, uma verdadeira bagunça. Dei um passo em direção a porta, mas não tive coragem de seguir.

Mike entrou na loja novamente se aproximando do balcão.

— Eu realmente pensei que você fosse diferente. Me desculpe por este engano. Acreditei de coração que fosse diferente das pessoas nesta cidade. Todos por aqui, tem uma opinião sobre mim, meus desejos, sonhos, o que devo ser ou fazer! Sabe Leah, você acertou em cheio algumas partes da minha biografia perfeita. Vou preencher algumas lacunas, já que você as deixou de fora. Realmente, fui um filho brilhante a minha vida toda. A criança perfeitamente doutrinada, o adolescente sem direito a opinião ou desejos próprios, que praticava esportes, excelente aluno. Todos me achavam perfeito e fútil. Minha vida adulta não foi tão diferente, você mesma a está detalhando tão bem não é, mesmo? Mesmo não me conhecendo, uma especialista!!! – seu tom de voz poderia congelar a loja toda. Senti uma tristeza imensa por ter provocado isso.

— Mike, eu… – ele não me permitiu finalizar a frase.

— Por favor não, você falou, escutei, então agora peço o mesmo respeito. – sua respiração é tranquila, porém pesada. – Bom, aparentemente tenho que desenhar quem eu sou para as pessoas, pois elas têm uma expectativa surreal em relação a quem devo ser desde meu nascimento… Não sei explicar os motivos e nem tento mais alterar esse comportamento… Contudo, pela forma que nos conhecemos, e não sei explicar ao certo a razão, acreditei por um momento ter encontrado uma pessoa que me viu, enxergou quem eu realmente sou. Talvez a força nos seus olhos tenha me dado essa impressão. – seu tom de voz mudou, ele adotou uma postura séria, formal. – Então peço desculpas por este engano, que acabou nos trazendo até este momento… mas, prometo a você essa situação não irá se repetir. – ele apoiou as mãos no balcão e baixou a cabeça. Me aproximei alguns milímetros inalando o cheiro em seus seus cabelos.

— Mike, eu realmente, de coração, não quis te magoar… – minha voz parece ter fugido, restando apenas esse sussurro.

— Algumas últimas verdades, só para esclarecer… – Mike levantou a cabeça, a imensidão azul dos seus olhos invadindo os meus. – Eu fiz esgrima na minha infância, mesmo sem ter ideia do que diabos faria com essa habilidade um dia. Me pergunto, qual criança faz esgrima hoje em dia… enfim. Fui escoteiro, mesmo odiando dormir no mato, e ter zero simpatia para arrecadar fundos para os pescadores da região. Eu sei falar japonês, mesmo nunca tendo planejado ir ao Japão, ou fazer algo onde usaria o idioma, fazia milhões de cursos extras nas minhas férias de verão, perdendo a chance de estar descansando ou viajando com meus amigos, fui obrigado a praticar esportes quando só queria fazer isso na Educação Física! Eu realmente fui brilhante e obediente Leah, namorava garotas que agradavam a minha mãe, e não tinham nada a ver comigo, pois, precisava já no colegial planejar meu futuro magnífico. Eu fiz uma faculdade que eu detesto, fiquei noivo de alguém que sequer sabe qual a minha comida favorita, ou a banda que eu mais ouço. Dividia o teto com essa pessoa, e estou até agora, sem saber se ela notou a minha ausência, ou entendeu os reais motivos sobre o fim da nossa relação.

Senti uma vergonha dominar meu corpo todo.

— Mike, eu ... – tentei me desculpar. Ele me interrompeu.

— Eu sempre odiei praticar esportes, gostava de dormir ao invés de acordar cedo e ir jogar basquete, nunca falei uma palavra em Japonês fora daquele curso, meu sonho era ter estudado Administração em Port Angels, pois odiei cursar direito, e só amei me afastar de todos, e viver longe de expectativas em Nova York, mas elas me acompanharam mesmo assim. Detesto golfe, prefiro milhões de vezes ficar em casa ou ir pescar. Meu sonho é cuidar e fazer a loja do meu pai crescer. Não tenho a menor vocação para ser político, ou ter um futuro brilhante casado com a filha de um senador. Voltei há dias e ninguém na minha família pareceu notar a pequena mudança que trouxe. Minha mãe está muito ocupada tentando adivinhar em qual vôo partirei, para retomar a vida perfeita em Nova York, criada na mente dela.  Passei a minha vida toda vivendo sonhos de outras pessoas Leah, vi a minha vida como se fosse um filme onde eu não era o diretor. Fui apenas um figurante. Porém, eu cansei disso. Quero distância de pessoas deduzindo e jogando expectativas nas minhas costas, em relação aos meus passos, ou quem sou.

— Me expressei mal Mike, usei palavras erradas, e … – nem sei ao certo como começar a me desculpar.

— Desculpa interromper, mas não, não é sobre como se expressou, é o que pensa em relação a minha pessoa. Mas tudo bem, houve um engano com disse antes, pensei sinceramente ter encontrado alguém diferente. Cuja a opinião sobre mim, fosse formada por me observar, ou simplesmente me conhecer melhor. Alguém com opinião própria, porém, acabo de ver o quanto você é como os outros desta cidade, e por esse motivo concordo com você… somos completamente opostos. Jamais formei uma opinião baseada em achismos, então não se preocupe, me afasto a partir de agora, já tenho um número suficiente desse tipo de pessoas na minha vida, e não preciso de mais. – ele se endireitou, endureceu o olhar. – Obrigado por salvar minha vida, sigo grato, eternamente. Adeus. – Mike, saiu num rompante. Saiu com a expressão carregada estampando seu rosto angelical.

Não consegui sequer impedir, cada palavra dita por ele, está afundando rapidamente na minha mente, no meu coração, me paralisando e causando uma vergonha mortal. Como eu pude julgar alguém desta forma? 

Mike tem razão, fiz como as pessoas que tanto odeio. Julguei,  antes mesmo de conhecê-lo melhor. E o pior, minha opinião é completamente diferente das palavras ditas a ele aqui hoje! Respirei fundo, tentando me recompor.

— Seth você pode soltar a respiração agora, você também Nessie. – sussurrei, eles estavam mudos nos fundos da loja.

— Esquecemos a carteira. – Kate se justificou.

Kate me olhava sem graça. Seth tinha um olhar indecifrável.

— Bem, vocês ouviram tudo, acredito eu, então já sabem que Mike e eu não somos mais amigos. – Estou tentando manter a calma, contudo, as palavras de Mike, seguem afundando na minha mente como chumbo.

— Leah, eu sinto muito. – Kate, disse tristonha. – Ele disse coisas lindas Leah, sinceras. – Kate emendou. – Fico pensando como deve ser triste e solitário viver com as expectativas alheias em relação a nossa vida. – senti meu peito se comprimir dolorosamente com as palavras dela.

Eu mais do que ninguém sei como foi difícil me sentir sozinha. Sendo taxada de rabugenta, tendo a vida completamente virada do avesso, com uma transformação indesejada, sendo a única fêmea de uma matilha, sofrendo pelo abandono de um namorado  tendo ele como Alfa, e vendo-o ser feliz com alguém que eu amava, que foi minha amiga.

Durante muito tempo fui sozinha. Sofri e fiz todos ao meu redor sofrerem, fui indesejada por todos. Vivia amargurada, e presa em uma vida totalmente diferente da idealizada por mim um dia, por ter uma obrigação no meu DNA. Sim eu sei como é triste sentir-se só, fazendo algo que não é seu sonho, ou algo desejado de coração. Sentia que estava vivendo para agradar as pessoas e falhando miseravelmente nisso.

— Como você está, Leah? – Nessie se aproximou séria, analisando minha expressão.

— Só quero ir embora, por favor! – encerrei o assunto.

Ela assentiu, e nós quatro fechamos a loja.

O caminho de volta foi silencioso e torturante. Eu queria correr e explodir nas minhas roupas, porém, e por cautela, terei que esperar até amanhã.

Chegamos à reserva. Entrei e passei direto para o meu quarto, sem trocar uma palavra com minha mãe, que estava na cozinha.

Entrei no banho, e deixei a água morna cair sobre meu corpo, tentando levar essa sensação horrível que impregnou em mim. Não só as palavras de Mike estão me incomodando, é a lembrança no olhar antes, sempre caloroso e a pouco, frio como gelo. 

Estou tentando compreender em qual momento me tornei alguém com essas idéias maldosas, usando palavras apenas para ferir e afastar pessoas? 

Fui para o meu quarto, me troquei, e sentei na cama. Levantei, fiquei um tempo andando de um lado para o outro.

— Vai furar o chão do quarto. – Nessie observava de braços cruzados sentada na janela. Sua expressão é impassível. Nessie, não teceu uma palavra sequer sobre o que ouviu Mike dizer.

— Vamos, diga logo o que está pensando. – sentei na cama me sentindo derrotada, cansada e triste.

— Não sei se é certo dizer o que estou pensando Leah. – Nessie se aproximou e sentou ao meu lado na cama. Eu nunca tenho nada a dizer sobre essa situação, ou sobre Jacob. – ela fitava o chão. – Afinal eu sei o quanto sou culpada pela partida dele.

— Você não é culpada por nada Nessie, Jacob partiu, pois preferiu se afastar. Foi uma escolha dele. – suspirei pesadamente.

— Pare, por favor, nós aqui neste quarto sabemos a verdade. Tanto eu quanto minha família, somos responsáveis pelo que houve com ele. – suspirei derrotada. – Eu vi ódio nos olhos dele em Santiago. Jamais esquecerei o olhar de espanto ao ver minha mãe, diante seus olhos. Como ele poderia voltar para casa e para a própria família após isso? – Nessie olhava o nada diante seus olhos.

Senti uma tristeza imensa só em imaginar o que ele passou anos, sem saber a verdade sobre Bella. 

— Todos estão bem agora. Pare de pensar sobre coisas que jamais esteve ao seu alcance controlar Nessie – levantei e parei diante a minha janela.

— Você não consegue seguir adiante Leah, então as coisas não estão bem. Você engana a todos dizendo que superou, mas está mentindo. – Nessie parou ao meu lado.

— Nessie, eu realmente não tenho energia para essa conversa. Não hoje. – apoiei os meus cotovelos na sacada da varanda no meu quarto.

— Pare, de fugir quando não consegue encarar algum assunto, Leah! Veja o que houve entre você e Mike, esta tarde. Não é preciso ser um gênio para entender que alguma lembrança relacionada a Jacob, a perfurou tão profundamente que Mike, foi o alvo mais próximo. – minha respiração acelerou.

— Não teve nada a ver com Jacob. – menti.

— Não!! Você não mentirá aqui. Não neste espaço, não entre nós. E mesmo que tente, eu a conheço bem o bastante. – sorri concordando derrotada. 

Respirei fundo. Após alguns segundos em silêncio ... deixei as palavras fluírem! 

 

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— Alguns anos atrás… – me virei para ela. – Jacob me convidou para sair, estávamos tentando iniciar algo... Jacob me chamou para ir ao cinema ao ar livre, no parque no centro de Forks. – fechei meus olhos. 

— Leah… – abri os olhos, constatando o entendimento na expressão dela. – Eu sinto tanto.

Ignorei as lágrimas preenchendo seus olhos.

— Eu sabia, que após aquele momento, eu não poderia mais mentir, não para o mundo eu nunca liguei para a opinião alheia, mas eu sabia que mentir para o meu coração, se tornaria impossível.… Jacob, já havia penetrado na minha alma. Caminhei até a bilheteria sabendo o significado daquele momento. Não se tratava do convite em si, pois, era algo tão comum entre casais. Aquele momento se tratava do brilho nos olhos dele, durante toda aquela noite. A forma como ele me olhou antes, durante, e após a sessão. A esperança que ele também viu em mim. Desde o momento do convite, eu tinha uma certeza… não conseguiria fazer aquilo novamente. Não com outra pessoa. – me senti leve. Pela primeira vez em anos.

— Pare de lutar contra sua história com Jacob, Leah. Quanto mais você enterra, com mais força ela te fere. – Nessie dizia entre lágrimas, a voz embargada pelo choro. – Não os vi juntos, contudo entendo a força do sentimento entre vocês. Pare de lutar, deve ser cansativo. Simplesmente deixe essa batalha de lado, não crie outras similares.

— Não sei, ao certo, onde você quer chegar… – confessei confusa.

— Você ama Jacob, e por mais ferida que esteja, não é possível viver lutando contra isso, vai perder sucessivamente essa batalha. – entendi o que ela está tentando dizer. – E pare de tentar compensar suas derrotas, em situações similares. – Nessie enxugou as lágrimas me encarando séria.

— Não estou fazendo isso. – soltei as palavras sem acreditar nelas.

— Sim você está. – ela afirmou decidida, cruzei os braços pronta, para protestar essa teoria. – Seu interesse por Mike, é nítido Leah. A forma como você olha para ele, como sorri naturalmente ao lado dele, mas, ainda que tenha reações naturais, essa batalha que você travou para não admitir, ou deixar esse sentimento fluir é mais fácil de vencer. Então, cá está você, tentando afastar o único homem que conseguiu se aproximar minimamente após esses anos. – bufei irritada. – Nunca a vi se proteger tanto, como faz com Mike. Você sente algo diferente. – Nessie, está empenhada em me tirar da negação. 

Ela está certa, por mais que eu tente é cansativo não admitir o que realmente sinto, sempre!

Ficamos em silêncio por alguns segundos, ela me olhava atentamente.

— Eu sabia exatamente o quanto estava me arriscando com Jacob. E eu simplesmente não consegui fazer absolutamente nada diferente, nada! No fundo Nessie, e mesmo com tudo que aconteceu, amar Jacob mudou quem eu fui, e  quem estava me tornando na época, pois ele me enxergou como ninguém havia feito. Contudo… tenho marcas, e não tenho a menor ideia se elas vão desaparecer, então viver algo que realmente não tenho certeza se posso controlar, é um passo que sinceramente tenho medo em dar. – confessei.

Nessie assentiu. Enxugou as lágrimas que estavam molhando seu rosto. 

— Preciso ir. – ela caminhou até a porta do meu quarto, segurou a maçaneta, e antes de abrir se virou novamente em minha direção. – Você me disse uma vez, que sentimentos muitas vezes fogem da nossa compreensão, ou controle. Todas as vezes que esse medo de viver algo novo ameaçar falar mais alto em você, feche os olhos e pense, como esse desejo invadiu seu pensamento burlando suas defesas, a ponto de fazê-la questionar se vale a pena ou não correr o risco. Faça isso de peito aberto Leah, e só desta maneira terá a sua resposta. – Nessie abriu a porta e saiu.

Fechei os olhos e fiquei ali na sacada durante um tempo apenas  sentindo o vento em meu rosto, tentando deixar tudo que houve hoje partir. Depois caminhei até minha cama e deitei. Ajeitei minha cabeça no travesseiro, deixando o cansaço me alcançar. As palavras de Reneesme pareciam, dançar com as de Mike na minha cabeça. Fechei os olhos, e uma imagem preencheu minha mente…
Mike, em sua prancha no mar. Senti uma tranquilidade imensa, e uma paz maravilhosa… em pouco tempo adormeci.
....

— Leah, minha filha acorde. – o toque delicado e inconfundível da minha mãe, foi me trazendo de volta aos poucos. Abri os olhos sem a mínima vontade em mantê-los assim. – A fogueira vai começar em pouco tempo. Todos estão se aprontando. 

— Nossa, esqueci totalmente disso. – me espreguicei, querendo voltar a dormir.

— O que houve para você se trancar aqui, Leah? – ela me conhece muito bem, e sabe que há algo errado. 

Sentei na cama. E ajeitei meus cabelos. O corpo pesado demais para mentir, ou fingir naturalidade e leveza.

— Eu estraguei tudo com Mike, mãe. – ela me olha com carinho, e como se já soubesse sobre qual assunto vou falar. – Fui desnecessária, usei palavras que sequer acredito, e magoei Mike, tão profundamente que pude ver a dor, e decepção nos olhos dele.

— Você admitir que errou já é o primeiro passo. Vá até ele, peça perdão, e seja sincera. – ela passava as mãos em meus cabelos.

— Não sei, mãe. Usei palavras duras. Acredito não ter o direito de falar em arrependimento para ele. Mesmo me sentindo profundamente arrependida, envergonhada e tendo certeza do quanto errei, as palavras ditas não mudam seu curso ou desaparecem pois me arrependi em arremessá-las nele. – levantei e peguei a toalha deixada por ela na cama.

— Pense então no que é certo fazer, minha filha. Mesmo não apagando absolutamente nada dito, ou curando qualquer tipo de mágoa. Mike merece saber o quanto você não acredita nas palavras ditas. Ele merece entender sua visão real em relação a ele, ou a situação e como está verdadeiramente envergonhada em deixá-lo pensar o contrário. – minha mãe levantou e caminhou até mim, ficando na ponta dos pés para me dar um beijo na testa.

Suas palavras me invadiram, causando uma onda de calma no meu corpo.

Tomei um banho quente, relaxando completamente ali.

Toda essa situação parece querer me engolir. Fechei os olhos, lembrando da figura dele na prancha. O sorriso poucos instantes antes de decepcioná-lo. Sua gentileza, bondade, e por fim o som das batidas leves em seu coração que me tranquilizam sempre. Nessie tem razão, escolhi uma batalha mais fácil de vencer. Negar meu interesse nele, é algo mais controlável, menos intenso e doloroso em relação ao que sinto por Jacob. Porém, até quando farei isso? Há anos alguém não chama a minha atenção desta maneira leve, e gostosa. Sai do banho apressada. Entrei no meu quarto de olho no relógio na minha parede.

Vou até Forks me desculpar com Mike. O horário de fechamento da Newton’s, se aproxima e sei que ele finaliza sozinho.

Me troquei rapidamente, e sai tentando não chamar atenção. Kate já estava no banho, e minha mãe já havia saído para levar comida até o local da fogueira.

Desci as escadas e dei de cara com Seth, que ficou de braços cruzados me analisando durante alguns segundos.

— Prometo tentar. – foi a única coisa  que consegui dizer.

Ele se aproximou. 

— Você está a um passo de conseguir. Mas ninguém pode dar esse passo por você. Mesmo todos ao seu redor desejando de coração que faça isso. – Seth segurou minhas mãos e colocou a chave do carro nelas. – Estarei aqui, sempre.

Puxei Seth para um abraço, totalmente emocionada. Sai sem olhar para trás. Acelerei o máximo que pude. Chegando ao centro, minha respiração se tornou ainda mais irregular. 

Parei o carro do outro lado da praça, respirei fundo. Já podia ver a Newton’s apagando as luzes externas.

— Acalme-se Leah. – desci do carro, escutando o coração de Mike, e seu martelar inconfundível. A cada passo em direção a ele, minha respiração tornava-se mais calma. Sorri ao vê-lo no fundo da loja.

Abri a porta e o barulho do sensor de movimento ecoou pelos corredores, Mike estava de costas.

— Estamos fechando hoje. Abriremos amanhã às nove. – ele se virou com um sorriso no rosto que desapareceu assim que ele deu de cara comigo ali parada. – Leah, o que está fazendo aqui? – a confusão estampava seu rosto.

— Eu precisava vir. Te devo a verdade Mike. – minha garganta secou.

— Leah, você não me deve nada, e após… – seu tom de voz contém um cansaço imenso, o interrompi.

— Eu jamais pensei que você é perfeito, ou imaginei seu futuro baseado na sua aparência, ou nas histórias contadas pela sua mãe, sobre o adolescente brilhante que você foi, ou o advogado nova iorquino bem sucedido que se tornou. – Mike baixou a cabeça, e respirou fundo. – Jamais pensei em nada disso. Por mais estranho que pareça, eu sei exatamente quem você é. Mesmo sem te conhecer direito, tenho a certeza da distância existente entre o homem descrito pela mãe, e alguns nessa cidade, e a pessoa diante dos meus olhos neste momento. Eu vejo quem é você. Então, por favor me perdoe. Do fundo do meu coração, com toda a sinceridade que posso oferecer a alguém, te peço… perdão. – pedi emocionada.

Mike levantou o rosto, os olhos marejados, o olhar intenso.

— Eu não poderia te culpar se realmente pensar assim Leah… – ele me encarou sincero, como se fosse pedir desculpas.

— Não. Jamais fiz nenhum julgamento ou dedução, sobre o que desconheço. – dei um passo à frente. – Passei momentos difíceis um dia, justamente por ter pessoas ao meu redor deduzindo, ou achando coisas sobre a minha vida. Eu sei o que é se sentir sozinha, sendo expectadora da própria vida. Por isso te peço perdão, Mike! Esta tarde eu usei palavras unicamente para te afastar. E eu me arrependi no momento que as disse, mas simplesmente estava envergonhada demais para te pedir perdão, fiquei sem reação com a minha própria atitude. – confessei. 

A cada palavra dita a ele, começo a me sentir mais leve.

— Eu forcei a barra, você alertou antes sobre minha aproximação, que certamente não teria acontecido, caso não tivéssemos nos conhecido da forma como nos conhecemos! Então… – é a vez dele falar sobre o que não sabe.

Neguei com a cabeça.

 

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— Eu sabia que nos conheceríamos, de alguma maneira. Você nunca se perguntou como cheguei, aquele barco tão rápido no dia do seu afogamento? – libertei as palavras e o sentir, quando percebi a intenção dele em se afastar de vez.

— Não achei relevante diante a magnitude da sua ação aquele dia. – Mike deu de ombros, um novo brilho em seu olhar penetrante.

— Eu sabia que você estava na cidade há dias, quando nos encontramos na frente da loja, após seu afogamento. Eu só não sabia seu nome antes daquele incidente, e bem menos quem era a sua família, contudo já o conhecia. – a cada palavra me sinto mais livre.  

Mike me olhou curioso e confuso ao mesmo tempo, continuei…

— Eu sentava na praia todas as manhãs, e observava um homem sobre a prancha em alto mar. – o olhar curioso, desapareceu e a surpresa tingia a imensidão azul nos olhos dele. – Não conseguia ver seu rosto, ou ouvir sua voz, contudo, sentia uma tranquilidade imensa com a sua presença ali. Então ficava um bom tempo te observando. – Mike sorriu, a expressão leve novamente estampando novamente seu rosto. – Quando fomos apresentados eu sabia que todas as histórias contadas sobre quem você era, não condizem com a realidade. E por esse e alguns outros motivos, estou sentindo tanto pelas palavras sem sentido e horríveis que lancei esta tarde.

Senti um alívio e uma alegria difíceis de tentar explicar.

— Qual motivo, de tentar me afastar, estou te constrangendo? – Mike fitava os próprios pés ao fazer essa pergunta.

Respirei fundo, e fiquei pensativa durante alguns segundos.

— Eu sou uma pessoa complicada e difícil Mike. – engoli a seco, senti um nó na garganta, ameaçando me calar. – Não consigo ser receptiva com facilidade. Um dia eu fui diferente, porém, sofrer muda quem fomos e nos torna diferentes. Tenho medos difíceis de explicar, e acabo afastando principalmente pessoas, que despertam em mim, o mínimo de interesse e entusiasmo. E fazer isso me causa uma irritação incontrolável. – o coração dele disparou. – Sou impaciente, mau humorada, e não controlo nenhuma dessas emoções. Acho que me acostumei a usá-las como autodefesa, e por isso acabo me tornando inacessível a aproximação de novas pessoas. Ser assim, às vezes me traz a sensação que sou invisível. 

Mike caminhou em minha direção. E parou a poucos centímetros de distância. 

— Eu passei horas remoendo o que me disse hoje. – seu coração acelerou as batidas.

— Sinto muito por elas. – pedi novamente.

— Não foi o que me disse, e sim você dizer, pois simplesmente não era a pessoa que minha alma enxergou dizendo aquelas palavras, meu coração não quis reconhecer você naquele momento hoje a tarde. – Mike, se aproximou ainda mais e segurou minhas mãos. – Você nunca foi invisível aos meus olhos Leah, desde o primeiro momento. Seu olhar iluminou meu caminho de volta naquele barco. – lágrimas escaparam sorrateiras dos meus olhos. – Mesmo se nunca mais a visse, jamais a esqueceria. Entretanto, e para a minha felicidade eu tive a sorte de te reencontrar. Tentei encontrar uma explicação para todas as sensações em mim, quando estou perto de você e desisti, e só deixei o sentimento invadir meu peito. Gostaria de tentar fazê-la entender, como sua presença tranquiliza minha alma, como seu sorriso me sacode como um vendaval, e o som da sua voz tornou-se minha música favorita, mas não consigo dizer tudo o que eu sinto por acreditar que palavras não farão jus às minhas emoções quando estou com você. – Mike deu mais um passo, ficando a milímetros do meu rosto. 

Nossas respirações se confundindo. 

— Mike… – só consigo prestar atenção nos lábios dele, tão próximos aos meus, que se me esticar um pouco, consigo alcançar com um beijo. 

— Não ficarei tentando encontrar palavras para algo tão bom, não é justo comigo, nem com você. – ele envolveu as mãos nos meus cabelos, de uma forma tão suave, seu olhar penetrante invadindo meu corpo. 

Senti meu coração disparar quando os lábios dele tocaram os meus. Minhas pernas tremeram e um arrepio forte envolveu meu corpo. Minhas mãos deslizaram sem controle. O abracei.

Me senti pisando em nuvens. Deliciosamente ciente das mãos macias enroscadas nos meus cabelos, segurando meu rosto e maravilhada com o gosto suave e mentolado dos lábios dele.

Por um segundo, e por algum motivo estúpido qualquer, pensei em afastá-lo… mas aqui sem nenhuma luta interna ou fingimento posso admitir, como estou completamente envolvida. Sentindo seus lábios explorando os meus, tentar negar meu interesse, é impossível!!  
Senti nossos lábios se separando, só quero trazê-los de volta e sentir novamente o sabor inebriante que Mike Newton tem.

— Me dê uma chance, Leah. – ele sussurrou nos meus lábios, ainda com meu rosto em suas mãos. – Prometo não partir seu coração. – a imensidão azul nos seus olhos, penetrantes nos meus. Minhas mãos tocaram as dele. Inspirei o aroma daquele momento, em seguida dei um passo para trás.

— Mike, eu… – apertei meus olhos, tentando definir as sensações percorrendo meu corpo e mente. – Preciso ir. – não consigo definir nada neste momento.

Dei alguns passos para trás, até sentir a porta da loja tocar minhas costas.

Mike ficou com os olhos fixos em mim, e sorriu.

—Vá, vou esperar. Quando resolver voltar, estarei aqui. – assenti sorrindo.
Sai da loja sem olhar para trás. O coração batendo frenético no peito. Entrei no carro, tentando controlar a euforia, a felicidade  e a vontade esmagadora de voltar e me lançar nos braços dele. Percebi que estou ofegante. Dei a partida no carro para sair o mais rápido possível dali. Antes de arrancar com o carro, fechei meus olhos, e o martelar acelerado nos batimentos de Mike, em uma sincronia perfeita com os meus, me arrancou um sorriso sincero.

— Eu consegui. – a risada histérica e bobas, nem parecem vir da minha garganta. – Estou seguindo em frente. Continuo viva. – coloquei as mãos em meu coração. –
Há muito tempo não sentia essa leveza. Não me sentia totalmente feliz.

Dei partida no carro e quando dei a volta pela praça, para pegar a saída em direção a auto estrada, Mike fechava a porta da loja.

Acelerei e em frente a loja freei bruscamente. O barulho chamou atenção de Mike, que se virou. Um largo sorriso se espalhou em seus lábios quando ele me viu. Me aproximei rápido e sem o menor receio o beijei.

Suas mãos circularam em minha cintura e ele colou nossos corpos.  Suas mãos macias passearam da minha cintura até uma delas parar no meu rosto. Senti o toque suave dele no meu rosto.
Descolei nossos lábios. Permaneci alguns segundos com os olhos fechados. Mike roçava o nariz no meu carinhosamente.  A respiração de ambos completamente ofegante. Abri meus olhos, e ele me fitava maravilhado. Um sorriso lindo e largo iluminando seu rosto. Como sentir esse frio na barriga, causar esse tipo de reação… sentir e interessar realmente por alguém, é bom.

— Seja paciente Mike. Sou uma pessoa quebrada,  apenas tente não desistir facilmente, okay? – confessei. 

Estou cansada de evitar pessoas.
— Eu não desisti antes, quando não sabia se tinha alguma chance, não farei agora. – ele segurou meu rosto entre suas mãos novamente. Você vale cada segundo de espera, Leah. – Mike me deu um beijo rápido, em seguida me abraçou envolvendo meu corpo em seus braços. Me senti tão normal nesse espaço. Essa sensação é boa.
— Preciso ir. – dei um beijo demorado nele. Não quero mais resistir ao impulso de beijá-lo.

Com muito esforço me afastei.

— Até amanhã Leah! – Mike continuava com um sorriso imenso nos lábios.
Entrei no carro com a certeza de um primeiro passo dado, sem saber ao certo onde isso me levará. Com medo de me machucar, mas feliz por seguir em frente. 

Segui para a reserva, sem notar o caminho, minha mente está no centro de Forks, nos olhos de Mike. 

Tudo está entrando nos eixos novamente, amanhã assumo minha matilha, volto a me transformar. Estou animada.

Ao chegar em casa notei um silêncio quase total, exceto por Kate, se movimentando no andar de cima.
Nessie e Seth não estavam. E minha mãe provavelmente já esta na praia. Subi até meu quarto, e parei na porta,  observando Kate, se arrumar, e ficando ainda mais parecida com uma boneca. Ela sorriu ao se virar e me ver ali.

— Está perfeita. – afirmei, ela sorriu.

— Obrigada. – Kate, se aproximou me analisando, um sorriso largo se espalhou em seus lábios. – Mike Newton.

Assenti. Foi minha vez de sorrir.

— Eu consegui. Ao menos perder o medo de tentar… – dei de ombros, tentando conter a estranha felicidade dominando meu peito. 

— Eu sabia. Tinha uma certeza nesse moço. A forma como ele te olha, como a faz sorrir de uma forma tão natural, que não te dá tempo de barrar. – ela estendeu a mão em minha direção. – Seus olhos estão brilhando tão intensos.

— Me sinto leve novamente. – é a única explicação que consigo dar neste momento.

— Isso é muito bom Leah, significa muito. – Kate me abraçou. 

— Bom, agora vamos deixar Mike Newton de lado, e vamos mudar completamente… e aí, pronta para conhecer um bando de homens famintos, e ouvir músicas Quileute? – perguntei debochada.

— Já estou com a roupa de ir. – Kate deu uma rodopiada teatral, exibindo a roupa.

Sorri, me sentindo feliz, por vê-la mais leve, se recuperando a cada dia. 

— Me sinto mais tranquila, te vendo recomeçar aos poucos, Kate. – confessei otimista. Ela assentiu.

— Minha melhor amiga, certo dia me disse, que existem coisas no mundo que não podemos de forma alguma controlar, estão fora do nosso alcance. Só o tempo trará uma solução, ou simplesmente as deixará no passado! – ela suspirou ao final da frase. – Hoje Leah, também estou me sentindo mais leve. Conversei com a felicidade, disse que em breve vamos estar juntas novamente. – ela sorriu. – Mesmo com toda bagunça em minha vida causada por essa situação, sinto como se estivesse exatamente onde devo estar. – Kate soltou um longo suspiro aliviado. – Agora vamos, quero logo encarar a dança dessa reserva, enquanto vejo os tais homens famintos lutando por sua refeição. – rimos juntas da frase. – Vou terminar de ajeitar meu cabelo. – assenti.

— Vou ligar o carro. – avisei.

Enquanto descia as escadas já podia ouvir a movimentação de Seth e Embry se aproximando.
Certamente vieram buscar mais comida. Abri a porta e ao ver Embry, se aproximando percebi como senti falta do enxerido.

— Ora, ora, vejam só, quem resolveu voltar. – brinquei, Embry deu risada.

— Sim, vai que você tente morrer novamente, e eu não esteja aqui para ver sua mãe te trazer de volta aos tapas. – ele debochou.

Gargalhamos em uníssono com a piada.

— Viemos buscar mais pratos, e o restante dos doces. Mamãe, já separou ambos. – Seth entrou com Embry, e enquanto retirava os doces da geladeira, Embry e eu colocamos no carro.

— Agora só faltam os pratos. – Embry entrou me seguindo, enquanto Seth, ajeitava duas grandes pilhas na bancada da cozinha. 

O aroma do perfume de Kate preencheu o ar, enquanto ela descia as escadas tranquilamente. Seth e Embry ajeitaram as pilhas de pratos nos braços.

— Vamos. Embry apague a luz da cozinha. – Kate, descia o último degrau. Seth e eu passamos para a sala na frente.

 – Kate, será a sensação nessa temporada aqui na reserva. – Seth brincou.

— Que besteira. – Kate respondeu envergonhada.

Ouvimos um barulho agudo… olhamos no exato momento que a pilha de pratos se espatifava no chão.

— Droga Embry, você deve estar de brincadeira der… – a frase morreu quando meus olhos foram dos pratos no chão, para o olhar dele.
— Meus Deus!! – Seth, quase derrubou a pilha em seus braços.

Tapei a boca horrorizada com o que estava presenciando.
Embry estava paralisado diante dos nossos olhos. Seu olhar fixo, quase congelado na direção dela… Kate! Ela parecia hipnotizada. Como se estivesse sendo seduzida por um canto que só ela pode ouvir. 

Não!!!! Não!!!! Não!!!!!!

Me virei na direção de Seth… o choque, misturado com pânico pareciam reflexos em nossos olhares!!!

Embry, olha na direção de Kate, como se não houvesse nada além dela na terra, como se ela fosse o Sol, iluminando cada parte do seu mundo. Embry está tendo um Imprinting diante os meus olhos. Ele deu um passo na direção de Kate, e ambos desmaiaram. Seth amparou Embry. Eu segurei Kate antes que ela tocasse o chão.

— Droga!! Seth, o que vamos fazer, o que? – o desespero dominando meu corpo. Seth colocou Embry em um lado do imenso sofá na minha sala. Eu segui segurando Kate. Ninando-a, como se isso pudesse blindá-la.

Seth respirou fundo, passou a mão entre os cabelos nervosamente.

— Em relação ao que aconteceu, não podemos fazer mais nada, Leah! – Seth se aproximou olhando diretamente para Kate. – Só podemos dar a eles, todo suporte necessário nesses primeiros momentos, que são os mais complicados.

Assenti. As lágrimas rolando pelo meu rosto.

— Ah Kate… Sinto tanto! – disse, enquanto alisava os cabelos ruivos dela. 

— Não sinta, Leah. Kate estava exatamente onde ela deveria neste momento. – Seth, ajeitou a cabeça de Embry em uma almofada.

Fiquei olhando Embry, voltando o olhar para Kate, quando as palavras dela invadiram a minha mente.
O vazio que sempre a acompanhou na relação com Brian. O sentimento de inquietação, insatisfação e angústia que ela sentia. A culpa sempre presente por não saber sequer nomear os próprios incômodos. Kate não conseguiu se sentir completa em momento algum ao lado de Brian, e neste momento entendo o motivo. Ela não estaria feliz e completa em parte alguma do mundo jamais… Até este exato momento!

Kate poderia ter vivido feliz, ela já o fez. Mas a plenitude ansiada por ela, não viria nunca, pois sempre esteve aqui.
Embry Call, é o preenchimento daquele vazio estranho no peito dela, com certeza!

Por um segundo me senti feliz por ela, um único segundo… O sentimento leve, deu lugar ao receio, tentando imaginar qual será a reação dela ao saber a verdade… sobre mim, Jacob. A situação a qual a conheci aquele dia na aldeia.

Um desconforto invadiu meu peito. São tantas questões envolvidas nessa situação, e sinto receio imenso. E se Kate, não me desculpar por esconder a verdade dela?

Porcaria!! Quando uma parte da minha vida se ajeita a outra vira uma bagunça.

Respirei fundo afastando meus receios, e focando na minha melhor amiga, que está desacordada em meus braços. Quando ela despertar, terá uma nova e estranha realidade para enfrentar. E estarei ao seu lado dando apoio e ajudando em tudo que ela precisar!!!


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Notas finais do capítulo

CAPITULO EDITADO EM FEVEREIRO DE 2023

Músicas do capitulo.

I've got my eye on you - Lana Del Rey.
Everything - Lifehouse.
Open your eyes - Andrew Belle
Light Me Up - Ingrid Michaelson